• Nenhum resultado encontrado

INTERNACIONAL DA BIODIVERSIDADE

A conservação da biodiversidade provavelmente apresenta maiores desafios regulamentares ao Direito Internacional do que qualquer outra questão ambiental. As ameaças à biodiversidade vêm de uma multiplicidade de fontes, exigindo uma abordagem global da regulamentação de uma ampla gama de atividades humanas. Além disso, a conservação da biodiversidade ilustra claramente a série de dificuldades que existem no desenvolvimento e aplicação de normas de Direito Internacional de recursos, que frequentemente não respeitam fronteiras nacionais ou são encontrados em áreas fora da jurisdição nacional, e que exigem uma atenção integral a ser dada aos valores sociais, culturais, ecológicos e econômicos que diferentes pessoas colocam em espécies diferentes (SANDS, 2003, p. 615).

Como visto, enquanto as demais convenções e documentos limitavam-se à conservação de espécies específicas e espaços, ou à restrição do comércio, a complexidade dos temas tratados nas diversas convenções que regulamentam a biodiversidade demonstram como a proteção da biodiversidade não somente está ligada a outros campos do Direito Internacional, mas ainda com problemas sociais, econômicos e tecnológicos. O simples fato de que a biodiversidade corre muitos riscos e é essencial de tantas formas, faz a matéria pender de forma mais acentuada para o debate acerca da necessidade concreta de ações (ACCIOLY; CASELLA; SILVA, 2012, p. 1061).

A experiência derivada das tentativas primeiras para conservar essas espécies estabeleceu três condições prévias para garantir a

efetividade das convenções internacionais para essa finalidade: primeiro, a exploração, quando permitida, deve ser conduzida em uma base racional, isto é, com, os objetivos razoáveis e conscientes, tendo em conta o conselho científico; segundo, as espécies em causa devem ser tratadas como uma unidade biológica, ou seja, através de toda a sua gama; e em terceiro lugar, todos os fatores ambientais relevantes que afetam a conservação de uma espécie e do seu habitat devem ser considerados. Para estes, agora foi adicionada a necessidade de conservar a diversidade biológica, afim tanto de conservação in situ e ex situ dos ecossistemas e habitats naturais, como de manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies no seu meio natural, os quais devem ser protegidos contra degradação indevida (BIRNIE; BOYLE; REDGWELL, 2009, p. 601).

A própria conservação no passado não era um problema, até que o nível de ameaça a uma espécie colocava-a em perigo de extinção. A ideia de conservação das espécies para o seu próprio valor – e não simplesmente como recursos exploráveis pelo homem – é de origem relativamente recente e ainda controversa em alguns aspectos (BIRNIE; BOYLE; REDGWELL, 2009, p.589). Assim como a concepção que a proteção de uma espécie não era suficiente encaminhou as regulamentações recentes para conservação de ecossistemas e habitats, em uma concepção mais ampla (SANDS, 2003, p. 616).

A Convenção sobre a Biodiversidade é, portanto, a primeira tentativa de lidar com as lacunas decorrentes do sistema antigo, através do estabelecimento de um regime mais abrangente e inclusivo para a conservação da biodiversidade como tal. Embora reconhecendo o valor intrínseco da biodiversidade para a humanidade e sua sobrevivência futura, ao mesmo tempo, ele também permite o uso sustentável dos recursos biológicos e incorpora muitos dos novos princípios e estratégias de conservação que se desenvolveram em direito ambiental contemporâneo. É ela que cria um quadro conservatório equilibrado com desenvolvimento social e econômico (BIRNIE; BOYLE; REDGWELL, 2009, p. 613).

Uma conservação eficaz dos recursos vivos, não só pelo seu valor para a biodiversidade, mas para outros valores, exige que a proteção das espécies em geral – principalmente daquelas em extinção – ocorra com sustentabilidade. Isso significa regulamentação por uma base flexível, de modo que espécies possam ser adicionadas às convenções, habitats e ecossistemas sejam preservados, controle de espécies exóticas, áreas protegidas e reservas sejam concretizadas, e que o comércio seja limitado quanto à espécies ameaçadas de extinção e seus produtos. É nessa base

que a CDB foi criada, para ser trabalhada em parceria com os outros documentos internacionais ambientais mais específicos, como a CITES e a Convenção de Bonn.

Nesse sentido, coordenação tornou-se a necessidade mais urgente e fundamental da vida selvagem terrestre e habitats, se ambientes relacionados e sua biodiversidade, como definido e previsto na Convenção da Biodiversidade, devam ser conservados (BIRNIE; BOYLE; REDGWELL, 2009, p. 697). Um dos maiores méritos da CDB sobre isso é que fornece uma estrutura para suporte aos países em desenvolvimento, para que possam suportar as obrigações assumidas (BIRNIE; BOYLE; REDGWELL, 2009, p. 584).

Outro aspecto importante é que a regulamentação da biodiversidade reflete a estreita relação entre proteção ambiental e desenvolvimento econômico, e a maioria das leis ambientais implicam repercussões na economia e comércio. Não é de surpreender, portanto, que nos últimos anos as preocupações ambientais têm se tornado interconectada com considerações econômicas. Afora a questão da potencial utilização de instrumentos econômicos para atingir objetivos ambientais, duas questões tornaram-se particularmente pungentes em recentes negociações. Os países em desenvolvimento têm procurado fazer a sua aceitação das obrigações ambientais dependentes da prestação de assistência financeira, e em alguns países desenvolvidos, a fim de evitar que as vantagens econômicas competitivas que resultem da não conformidade , têm se esforçado para garantir que os tratados ambientais criem instituições eficazes para verificar e assegurar que as partes contratantes cumprem as suas obrigações ambientais (SANDS, 2003, p. 09).

Historicamente, o acesso a espécies da biodiversidade de diversos países tropicais e, sobretudo, daqueles com alta biodiversidade, foi realizado sem a devida anuência oficial destes acessos e, nos casos em que houve desenvolvimento de produtos comerciais, sem a devida contrapartida por sua utilização. Se existe o que se falar de regulamentação de acesso a recursos genéticos e repartição de benefícios é com base na fragmentação e no conflito Norte X Sul, originado pela soberania permanente sobre os recursos naturais. Hoje, há amplas evidências que a maioria dos Estados aceita seus deveres internacionais: cooperação na proteção de recursos vivos, boa-fé, uso equitativo dos recursos vivos em comum, boa-vizinhança e outros princípios estabelecidos pelas convenções (BIRNIE; BOYLE; REDGWELL, 2009, p. 700).

Ainda assim, claramente há espaço para melhorias nas estruturas existentes dos tratados. É claro que a adoção de regulamentos e a aplicação de técnicas de regulamentação inovadoras irão, por si só, conservar a biodiversidade. As obrigações contidas nos tratados devem ser aplicadas em conjunto por cidadãos, governos, ONGs e OIs (SANDS, 2003, p. 617).

Além disso, há uma necessidade de reforçar os mecanismos de aplicação existentes e, se necessário, desenvolver novos arranjos que podem ser modelados sobre os regimes estabelecidos e aplicados pelos tratados.

É aqui que o Protocolo de Nagoya é essencial e é alvo de trabalho no capítulo 4.

4 O PROTOCOLO DE NAGOYA E O CERTIFICADO INTERNACIONAL DE CONFORMIDADE

Após se compreender a área do Direito, os sujeitos, fontes e todo o contexto de criação da regulação internacional da biodiversidade, assim como o tratado “guarda-chuva” que possibilitou os avanços na matéria (Convenção da Diversidade Biológica), finalmente se aproxima do cerne do presente trabalho.

Neste capítulo, para devida articulação do problema, primeiro se apresenta o Protocolo de Nagoya, ressalta-se seu objetivo, suas especificidades e o sistema ABS que ele propõe. Posteriormente, explicam-se todos os aspectos do certificado internacional de conformidade.