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2.2 SUJEITOS

2.2.2 Organização Internacional

O segundo sujeito mais relevante do Direito Internacional são as Organizações Internacionais (OI). Após a Primeira Guerra Mundial e a instauração da Liga das Nações, foi reconhecido o papel importante dessa instituição internacional. Em vista disso, Schrijver (2010, p. 15) discorre que é a partir do século XVIII, que as relações internacionais pautadas pelo princípio da balança de poder dos Estados levaram filósofos e pensadores49 a construírem ideias inovadoras sobre a paz universal, no qual as OIs são originalmente mecanismos para contenção de guerra.

Accioly, Casella e Silva (2012, p. 242) explicam que durante cerca de 300 anos, de Vestfália até Viena e depois Versalhes, o Direito Internacional ocupava-se exclusivamente dos Estados. Mas a partir do fim da Primeira Guerra Mundial ocorre a introdução de elementos novos, com

resultantes do Direito consuetudinário e dos tratados concluídos com o consentimento do Estado obrigado (BROWNLIE, 1997, p. 309).

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No original “[...] the challenge for international law in the world of sovereign states is to reconcile the fundamental independence of each state with the inherent and fundamental interdependence of the environment.” (SANDS, 2003, p. 14).

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Exemplos são: Grotius, Abbé de Saint Pierre, e Rousseau (SCHRIJVER, 2010, p. 15).

o surgimento e a difusão das Organizações Internacionais e crescente atuação destas nos mais variados campos da vida internacional.

E assim se reconheceu a abundância de funções que uma OI pode desempenhar nos ares da cooperação internacional, e elas se multiplicaram. Principalmente quando se reconhece a quantidade de problemas internacionais em que os Estados sozinhos são impotentes e carecem de operação coordenada (ACCIOLY; CASELLA; SILVA, 2012, p. 636-638).

Uma OI, de acordo com a precisa definição de Piero Sereni (MELLO, 2000, p. 601), é uma associação voluntária de sujeitos de Direito Internacional, constituída por ato internacional e disciplinada nas relações entre as partes por normas de Direito Internacional, que se realiza em um ente de aspecto estável, que possui um ordenamento jurídico próprio e é dotado de órgãos e institutos próprios, por meio dos quais se realiza as finalidades comuns de seus membros, mediante funções particulares e o exercício de poderes que lhe foram conferidos.

Em resumo, seus requisitos e características atuais podem ser arrolados em: a) Associação Voluntária de sujeitos do DI; b) O ato institutivo da organização é internacional; c) Personalidade Internacional; d) Ordenamento Jurídico Interno; e) Existência de Órgãos e poderes Próprios; f) Necessita manter relações com os demais sujeitos de DI.

Ao longo do século XX, as OIs desempenharam um papel fundamental no que diz respeito ao desenvolvimento do Direito Internacional. Por conseguinte, o marco factual da configuração da Organização Internacional como um sujeito do Direito Internacional se deve ao Caso Bernadote, de 194950. Trata-se de uma opinião consultiva na Corte Internacional de Justiça solicitada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que resultou na decisão da Corte de que uma Organização

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O caso é sobre o conde sueco Folke Bernadotte, o negociador chefe das Nações Unidas que foi morto em um ataque terrorista na nova cidade de Jerusalém em uma viagem diplomática. Sem saber como proceder quanto à morte do agente, a Assembleia Geral da ONU solicitou opinião consultiva da Corte, questionando se: “No caso de um agente das Nações Unidas no desempenho de seus deveres sofrer dano em circunstâncias que envolvam a responsabilidade de um Estado, tem as Nações Unidas, como uma organização, a capacidade de postular uma causa internacional contra o responsável (de jure) ou de fato contra o governo responsável em vista a obter a reparação devida pelo dano causado? a) para as Nações Unidas b) para a vítima ou seus representantes” (ICJ, 1949, tradução nossa).

Internacional é um sujeito do Direito Internacional, e tem capacidade de postular e buscar responsabilização diante dos Estados51.

Claro que diferente dos Estados, que possuem personalidade plena no DI, as OIs possuem um alcance da personalidade jurídica limitada, cuja abrangência se restringe aos fins específicos e poderes limitados no seu instrumento de criação. São os instrumentos constitutivos das OIs que atribuem a elas suas características e competências. Portanto, as funções, poderes e estrutura são variáveis e mais limitados que os dos Estados.

Posteriormente, em 1986, a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais reconhece às OIs o direito de celebrar tratados, conforme recomendado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, já em 1969.

Hoje, praticamente todas as Organizações Internacionais possuem competência ou responsabilidade pelo desenvolvimento, aplicação ou execução de obrigações internacionais de cunho ambiental, seja administrativa, legislativa ou judicial (SANDS, 2003, p. 73). Claro que as diferentes funções decorrem dos poderes concedidos pelos instrumentos constituintes ou tratados firmados, assim como a prática das organizações. Assim também observam Birnie, Boyle e Redgwell (2009, p. 104), ilustrando que apesar das OIs não terem sido sistematicamente integradas, seus esforços ambientais se complementam notoriamente, e suas conquistas decorrem, sobretudo, de ações para expandir preocupações governamentais, melhorar o ambiente contratual internacional e auxiliar no aumento da capacidade política e administrativa dos Estados. Por último, Sands (2003, p. 76) ressalta que é fundamental a participação dos Estados nas atividades das Organizações Internacionais para consulta,

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Em resposta a essa pergunta, a Corte não só definiu que uma OI é um sujeito do Direito Internacional e tem capacidade de postular, mas ainda: a) Os danos contra a Organização são aqueles contra a máquina administrativa ou contra sua propriedade e valores, nos interesses dos quais a organização é guardiã. b) Para a questão B, deve ser considerado se no curso de se postular uma ação dessa espécie, a Organização pode cobrir “a reparação devida ao dano causado à vitima”, a regra tradicional sobre o dever de proteção diplomática do Estado nacional implica em uma resposta afirmativa. Dever de proteger. c) Dever diplomático de proteger agentes das OIs em serviço. d) Dever da Organização de arcar com a indenização por danos causados aos agentes. E e) O que enseja responsabilização dos Estados perante as OIs (ICJ, 1949, tradução nossa).

debates e informações que contribuam para a construção de um consenso nas ações ambientais.