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Relativamente à primeira questão de investigação: Como é que a empresa-mãe influencia o SCG da subsidiária (nas dimensões culturais e organizacionais)?

Conclui-se que a empresa-mãe exerce influência no SCG da subsidiária, uma vez que conseguiu implementar controlos contínuos (diários), quer financeiros, como de exploração. Por outro lado, a colocação de um expatriado como administrador teve como propósito o exercício dessa influência, contudo, o controlo exercido por este não teve em consideração as diferenças culturais entre ambas as partes, originando tensões dinâmicas. Como é evidente, a distância cultural entre a empresa-mãe e a subsidiária é elevada e, esta situação é agravada por não existir linguagem comum. Primeiro constatou-se que a distância cultural, a inexistência de linguagem comum e a tensão dinâmica têm uma relação positiva com a realocação de expatriados na subsidiária. Segundo, verificou-se que a subsidiária não é dotada de autonomia, embora os quadros locais se sintam legitimados para o exercício das suas funções operacionais e que a empresa-mãe não se adaptou á cultura organizacional/local, incluindo o expatriado permanente, o que implicou o aumento do grau de controlo exercido pela empresa-mãe e influenciou as características do SCG. Terceiro, o não funcionamento em rede, também, influenciou essas características, nomeadamente pelo aumento dos controlos pessoais, de saída e burocráticos. Por último, os controlos culturais não foram totalmente eficazes nesta subsidiária, tendo se verificado alguns conflitos entre o expatriado permanente e os gestores da subsidiária (aculturação).

Quanto à segunda questão de investigação: Que outros fatores influenciam o SCG da subsidiária (entidades externas, CSR, preço, risco, estratégia)?

Constata-se que os fatores externos e as entidades externas não influenciam diretamente o SCG, mas sim a estratégia da subsidiária, materializada no seu planeamento estratégico somente de curto prazo, embora seja defendido no meio académico que a sustentabilidade da estratégia assenta no SCG. Assim, a empresa-mãe mãe não conseguiu implementar uma estratégia sustentável a longo prazo para a subsidiária (nível de cultura organizacional), pois não conseguiu gerir o risco dos fatores externos (e.g. evolução do preço) e das entidades externas, ou seja, do ambiente organizacional da subsidiária. Esta situação permite concluir que o SCG não foi um veículo para sustentar a estratégia e para gerir as oportunidades e ameaças. Nas relações com o ambiente institucional, a empresa- mãe delegou essas funções nos quadros locais, com o objetivo único de cumprir a legislação, ou seja, não pretendeu criar qualquer valor acrescentado, nomeadamente ao nível da política de CSR. Refira-se que a CSR na subsidiária se limitou ao apaziguamento das questões ambientais, mais uma vez de acordo com lei e nada mais.

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Este estudo de caso baseou-se na premissa de que a organização é um sistema aberto, com influências internas (empresa-mãe) e externas (fatores e entidades externas). Confirma-se que as práticas de controlo de gestão adotadas pela subsidiária são o resultado das exigências da empresa-mãe (e.g. colocação de um expatriado permanente), tendo efeito no comportamento dos quadros locais. Relativamente aos conceitos de isomorfismo e loose coupling associados à nova sociologia institucional, pode-se argumentar que estes são ilustrados neste estudo de caso, em que as práticas associadas ao SCG sofrem influências culturais, pressões externas e internas, em que a empresa-mãe sempre buscou a sua legitimidade interna, através do exercício do controlo e externa, pela aplicação da legislação. Releva-se assim a importância da nova sociologia institucional, enquanto corrente da teoria institucional, para a análise e estudo das multinacionais, o que vai de encontro a estudos de outros autores (Aguilera-Caracuel et al., 2013; Dabic et al., 2014; Ronda-Pupo e Guerras- Martin, 2012).

Face ao SCG existente na subsidiária e aplicando o modelo escolhido, pode-se concluir que existe um sistema de controlo central, que permite à empresa-mãe exercer o seu controlo em todos os departamentos através dos inputs exigidos a esses, a jusante, e para que o departamento financeiro responda às exigências desta, a montante. A estrutura organizacional é vertical e adequada ao grau de controlo exercido pela empresa-mãe, refletindo a cultura hierárquica da empresa-mãe. A cultura organizacional da subsidiária não se alterou, mas os seus quadros locais tiveram que adaptar o seu comportamento em função da cultura do país de origem da empresa-mãe. No entanto, a estratégia definida para a subsidiária reflete a cultura de mercado da empresa-mãe, mas não conseguiu contornar as incertezas inerentes ao ambiente organizacional. Pode-se, assim, concluir que este modelo é passível de ser aplicado nesta subsidiária com a introdução de algumas melhorias, como sejam, a implementação de um sistema integrado de informação, entre outras.

De forma mais específica, a aplicação do modelo de Flamholtz et al. (1985) e Flamholtz (1983, 1996) a este estudo de caso permite corroborar o propósito do SCG, através do nível de sistema de controlo central, como definido por Henri (2006) e Widener (2007). Também se verifica a influência no comportamento dos quadros locais face à cultura da empresa-mãe (Berry et al., 2009), através da colocação de um expatriado permanente (controlo social) na estrutura organizacional da subsidiária, que também é uma das premissas do modelo e, deste modo, influenciar o SCG e ganhar legitimidade interna (Brenner e Ambos, 2013) . Assim, conclui-se que este modelo permitiu estudar o SCG da subsidiária, tendo em consideração parâmetros formais (controlos) e informais (cultura e comportamentos) legitimados pela empresa-mãe (Flamholtz et al., 1985; Flamholtz, 1983, 1996).

97 Por outro lado, o controlo exercido pela empresa-mãe na subsidiária, refletido nas características do SCG desta não permite concluir que existiu uma adequada e efetiva integração de ambas as partes (Hoppmann, 2008; Kostova e Zaheer, 1999), com reflexo nas relações interpessoais com o expatriado permanente.

Em suma, a empresa-mãe teve influência no SCG da subsidiária e alterou o modo como o controlo era exercido nesta, mas não soube lidar com a instabilidade macroeconómica, incerteza ambiental e estratégica e, consequentemente, com o risco de gestão envolto na atividade mineira, nomeadamente, por esta subsidiária explorar uma mina de filão e ter desconhecimento sobre a mesma, pois a Sojitz Corporation é, essencialmente, um grupo económico de trading.

No entanto, este estudo de caso não está isento de limitações. A primeira refere-se ao fato de se ser um caso único, pois as restantes subsidiárias detidas por multinacionais japonesas a operar em Portugal, não mostraram abertura para participar neste estudo. Segundo, o caso escolhido pertence a um setor muito específico, que em conjunto com a primeira limitação, não permite a generalização das ilações retiradas. Terceiro, não foi possível realizar nenhuma entrevista com o responsável superior da empresa-mãe e não se obteve resposta do STIM, embora tenham sido efetuadas diligências nesse sentido. Apesar das limitações ressalvadas, também se identificam alguns contributos. O primeiro respeita à utilização do modelo de análise de Flamholtz et al. (1985) e Flamholtz (1983, 1996), pois grande parte dos estudos sobre o tema utiliza o modelo de Simons (1995). Para além desta nuance, o modelo utilizado permitiu analisar o ambiente organizacional como parte de um SCG como vimos, o que com o modelo de Simons não seria possível, pois os níveis de controlo definidos por este não incluem, de forma direta, o ambiente organizacional e/ou institucional, que neste estudo de caso é crucial. O segundo relaciona-se com o fato de se ter estudado uma indústria extrativa, cujo produto final é estratégico para a europa e para o mundo, nomeadamente para o Japão. O terceiro tem a ver com a possibilidade de se ter estudado a CSR numa indústria com grande impacto ambiental. O quarto relaciona-se com o fato de se ter estudado o SCG tendo em consideração a história e as práticas da subsidiária e se ter assumido que a contabilidade é uma das premissas desse controlo. O quinto, e mais genérico, é a apresentação de um estudo sobre a indústria extrativa na área da gestão em Portugal, uma vez que todos os trabalhos académicos existentes incidem sobre a área de geologia e exploração propriamente dita.

Para investigações futuras, sugere-se um estudo da CSR na indústria extrativa em Portugal, um estudo somente sobre a influência cultural no SCG e um estudo que analise o efeito/relação das variáveis estudadas neste estudo de caso, face às alterações que ocorreram no capital social da empresa em virtude da nacionalidade dos acionistas.

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Também se sugere um estudo de caso múltiplo sobre o SCG nas principais minas portuguesas (três), de modo a se poder efetuar uma análise comparativa do mesmo. Por último, um tema interessante de investigar será aplicar todas as proposições de investigação definidas para este estudo de caso, a todas as explorações mineiras dispersas geograficamente pertencentes à atual multinacional detentora da Sojitz Beralt Tin and Wolfram (Portugal), S.A.

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No documento O controlo de gestão nas multinacionais (páginas 113-117)