3. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
3.7. RECOLHA E ANÁLISE DA EVIDÊNCIA
Embora existam diversos manuais de procedimentos metodológicos para investigação em ciências sociais, o estudo de caso segue uma perspetiva metodológica própria, não sendo somente um método para recolha de dados (Ryan et al., 2002). Neste sentido e tendo por base o protocolo do estudo de caso e as questões de investigação, a recolha da evidência deve ser orientada por três regras cruciais, isto é, pela utilização de várias fontes de evidência, pela criação de uma base de dados do estudo de caso e por assegurar a existência de um encadeamento da evidência (Yin, 2009).
Estas regras foram aplicadas à Sojitz Beralt Tin and Wolfram (Portugal), S.A. o caso em estudo. Desde logo, através da preparação da recolha de evidência, visto que foi necessário identificar as pessoas a entrevistar e o tipo de informação pretendida dos mesmos, e obtenção de documentação externa. Na recolha da evidência, e seguindo Yin (2009) recorreu-se a várias fontes. Segundo este, existem seis fontes fundamentais de evidência – documentação, registos de arquivo, entrevistas, observações diretas e participantes, artefactos físicos; neste estudo caso foram utilizadas apenas quatro – observação direta, entrevistas semiestruturadas, documentação e artefactos físicos. A diversidade de fontes permitiu a triangulação de dados. Finalmente, procedeu se à criação de uma base de dados própria para o caso e procurou se a aplicação de uma lógica encadeada na elaboração do estudo de caso.
Em suma, as fontes de evidência são primárias e foram utilizadas as seguintes:
Entrevistas semiestruturadas: Estas são as mais utilizadas na investigação qualitativa sobre esta temática, através delas tentou se recolher o máximo de informação dos entrevistados (Silva e Silva, 2013);
47 Observação: Esta técnica foi aplicada em simultâneo com a realização das entrevistas in loco, em que se observou a reação dos entrevistados às questões colocadas (Silva e Silva, 2013);
Documentos escritos e registos, como relatórios internos, procedimentos e normas escritas, relatórios de auditoria, legislação, sites da internet, entre outros (Silva e Silva, 2013). Yin (2009) concluiu que a existência de documentos formais como fontes de informação para anexar às entrevistas são adequadas a um estudo de caso.
Artefactos físicos (publicações em jornais e revistas)
Em termos concretos, obtiveram-se as seguintes fontes de evidência (tabela 8):
Tabela 8 - Fontes de evidência Documentos
Decreto-lei nº 54/2015 e nº 10/2010; Lei 88/1990;
Legislação da APA, suportada por DL e Portarias várias; Organograma de 2015 do grupo e da subsidiária; Documentos de prestação de contas de 2007 a 2015; Reportings internos para o grupo de 2007 a 2015;
Documento interno emitido pelo grupo com o SCG implementado;
Documento interno emitido pelo grupo com as políticas contabilísticas seguidas; Procedimentos internos para fecho de fim de período;
Resumo da reunião internacional do grupo sobre controlo e auditoria interna;
Questionários sobre políticas de controlo interno enviados pelo grupo e respetivas respostas pelos quadros locais da subsidiária referente ao ano de 2014;
Documento do DRH com a descrição de funções dos quadros locais da subsidiária e respetivos currículos;
Código de ética e conduta;
Documentos emitidos pela administração relativos a CSR, ética e conduta, política de segurança e ambiente de trabalho. Missão, visão e estratégia;
Plano para encerramento da mina; Site do grupo Sojitz Corporation; Site da APA;
Site da DGEG; Site do STIM;
Comparação das políticas contabilísticas do grupo com as do SNC; Carta de recomendações de auditoria de 2014;
Entrevistas
Total de entrevistas na Sojitz Beralt Tin and Wolfram (Portugal), S.A.: 9 Sindicato;
Direção Geral de Energia e Geologia; Artefactos
Artigos publicados em revistas e jornais;
“Desafios atuais e nova visão para o futuro da industria extrativa” – Ordem dos Engenheiros -
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A leitura dos documentos e os artefactos obtidos junto da direção administrativa e financeira da Sojitz Beralt Tin and Wolfram (Portugal), S.A., permitiu conhecer pormenorizadamente o caso em estudo. O acesso a esta documentação é importante dada a relevância deste suporte documental para corroborar as entrevistas (Yin, 2009). As entrevistas foram realizadas em dezembro de 2015 com a deslocação do investigador às instalações da Sojitz Beralt Tin and Wolfram (Portugal), S.A.
No caso da DGEG e do Sindicato, o guião foi enviado por mail por intermédio do Diretor Administrativo e Financeiro, a pedido destes organismos, por uma questão de indisponibilidade temporal do mesmo para receber o entrevistador. Esta situação também é referida por Gillham (2005), que colocou esta situação como plausível e válida, embora não permita o desenvolvimento das questões, podendo a resposta dos entrevistados ser demasiado abreviada.
Nas tabelas 9 e 10 apresenta-se a caraterização dos entrevistados e das entrevistas.
Tabela 9 - Caracterização dos entrevistados e entrevistas (unidades de análise: empresa e quadros locais)
Entrevistados Entrevistas finais Experiência Experiência Duração Texto Função Nº % Anterior Sojitz Média (mn) palavras) (nº Membros do Conselho de Administração (b) 3 33 88 (c) 10 (c) 290 6640 Diretor Administrativo e Financeiro 1 11 15 10 180 4563 Diretor Lavaria e do Planeamento 1 11 4 (a) 12 40 1076 Diretor de Trabalhos Subterrâneos 1 11 13 5 50 1624 Diretor de Geologia e Prospeção 1 11 8 4 80 2163 Responsável pelos Recursos Humanos 1 11 23 5 60 3083 Responsável pelo Ambiente 1 11 4 3 135 2352 Total 9 100 835 21501
Fonte: Elaboração própria a) de 1981 a 1990; de 2013 a 2015;
(b) anos acumulados dos três administradores; um dos administradores executivos é expatriado;
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Tabela 10 - Caracterização dos entrevistados e entrevistas (unidades de análise: entidades externas)
Como se observa, todos os quadros locais da Sojitz Beralt Tin and Wolfram (Portugal), S.A. possuem uma experiência profissional significativa e uma experiência apreciável na empresa, contudo, somente o Diretor Administrativo e Financeiro cobre todo o período de detenção japonesa, pelo que o seu contributo se revelou de extrema utilidade como fonte de evidência.
As entrevistas não foram gravadas a pedido do Conselho de Administração e das entidades externas, tendo as mesmas sido posteriormente transcritas pelo investigador. O documento escrito com as entrevistas foi enviado e validado in loco pelos entrevistados, para que estes procedessem á sua leitura, a eventuais correções e validação final. O texto final das entrevistas foi uma fonte de evidência crucial para o estudo de caso. Por último, foi criada uma base de dados para permitir uma adequada análise da evidência e finalmente procedeu se à redação do caso, construindo uma cadeia de evidência que inclui a informação referida na tabela seguinte (tabela 11).
Tabela 11- Assuntos na base de dados finais do estudo de caso
Relativo a documentos Relativo a entrevistas Síntese da legislação oficial;
Organograma; Descrição de funções;
História do grupo e da subsidiária Descrição do SCG implementado; Resumo dos questionários de controlo
interno enviados ao grupo;
Dados de informação financeira anual;
Resumo dos documentos internos emitidos pela administração;
Descrição da função da DGEG, APA e STIM;
Descrição do apuramento do preço do volfrâmio e do risco cambial das transações
Descrição da política do ambiente (CSR);
Carta de apresentação e respetiva resposta;
Protocolo da entrevista;
Caraterização dos entrevistados e entrevistas;
Versão inicial das entrevistas; Versão final das entrevistas Entrevistados Entrevistas
Texto Função Nº % (nº palavras)
Sindicato 1 50 0 Direção Geral de Energia e
Geologia 1 50 257 Total 2 100 257
50
A cadeia de evidência resumida no tabela 11 está em conformidade com o defendido por Yin (2009), isto é, a referida cadeia deve ser orientada pelas questões de investigação suportada pela literatura, pelo protocolo do estudo de caso e pela base de dados criada para o efeito para sustentar a narrativa final da investigação, de modo a dotar o estudo de caso da maior credibilidade e qualidade.
A análise da evidência baseou-se na interligação do modelo de análise definido com as questões de investigação/proposições, respetivas variáveis em consonância com os guiões das entrevistas (apêndice 4), de modo a não se perder de vista o objetivo final deste estudo de caso, tendo sempre em mente a fiabilidade dos procedimentos, a transferência de resultados para outros estudos e a triangulação de dados, para, mais uma vez, garantir a validade e a credibilidade do caso (Ryan et al., 2002).
Nos estudos de caso, o investigador é o analista principal, e a narrativa da evidência tem que ter principio, meio e fim (Yin, 2009). A análise da informação obtida através das entrevistas realizadas e dos documentos recolhidos e introduzidos na base de dados construída para o efeito, permitirá considerar uma dupla fonte de evidência dos resultados, cujas interpretações serão sustentadas pela revisão da literatura do ponto 2 e dos pontos 3.5. e 4.1., de modo a se obter a máxima qualidade possível, pois esta é a fase mais difícil nos estudos de caso (Yin, 2009).