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O sistema composto por dois capacitores, embora a princípio seja muito simples, foi fonte de diversas abordagens físicas distintas. Em cada uma delas, buscamos levar explorar as con- sequências de levarmos ao limite considerações usuais, como por exemplo considerar que os fios do circuito são condutores perfeitos. A partir deste problema conseguimos estudar aspectos tanto da Teoria eletromagnética, como a radiação de um dipolo e o princípio de funcionamento de antenas e a resistência de radiação, quanto da Termodinâmica, ao enfatizar a irreversibilidade de um processo de descarga capacitiva. Uma possibilidade interessante para estudos posterio- res consiste na investigação mais detalhada do processo de radiação emitida por um circuito arbitrário, num enfoque em termos dos campos eletromagnéticos na região próxima ao circuito.

Capítulo 4

Divulgação Científica nas redes sociais

"Science has a simple faith, which transcends utility. Nearly all men of science, all men of learning for that matter, and men of simple ways too, have it in some form and in some degree. It is the faith that it is the privilege of man to learn to understand, and that this is his mission. If we abandon that mission under stress we shall abandon it forever, for stress will not cease. Knowledge for the sake of understanding, not merely to prevail, that is the essence of our being. None can define its limits, or set its ultimate boundaries."

Vannevar Bush

Antes de descrever as ideias e apresentar os resultados obtidos através do canal do Física em Cena, convém descrever, ao menos parcialmente, um pequeno panorama do Estado de arte atual da Divulgação Científica no mundo, e mais particularmente no Brasil. Não pretendemos discutir a fundo os aspectos teóricos e práticos desta recente, porém vasta área do conhecimento, mas sim apresentar alguns elementos básicos para enfim situar o Física em Cena dentro do cenário atual. Para uma discussão mais aprofundada à este respeito indicamos a série Terra Incógnita [53, 54, 55, 56], lançada pela Editora da Casa da Ciência, da UFRJ.

4.1

Uma digressão sobre Divulgação Científica

Pode-se perceber uma crescente preocupação das nações desenvolvidas e em desenvolvi- mento com relação à formação de seus cientistas e pesquisadores, o que pode ser entendido tendo-se em mente a importância de revoluções científicas e tecnológicas como a Revolução In- dustrial, por exemplo. A Educação Científica passou a assumir um papel de grande importância estratégica. Dentro desses estudos e discussões, vale à pena destacar a área chamada CTS (de Ciência, Tecnologia e Sociedade), que surge com força a partir dos anos 60 inicialmente nos EUA e no Reino Unido. Atribui-se a Thomas Kuhn [57] grande responsabilidade como pioneiro dos estudos CTS [58]. Isso se deve à leitura social que o referido autor faz do empreendimento científico. Este tipo de perspectiva levou outros autores a estabelecer relações entre aspectos sociais, políticos e culturais de uma determinada sociedade e a sua respectiva produção de Ci- ência e Tecnologia. Os estudos CTS partem da perspectiva de uma visão integrada da produção de Ciência e Tecnologia junto a aspectos socioculturais, no lugar da visão clássica de um fazer científico neutro e imparcial.

A visão tradicional da Ciência e da Tecnologia nos induz a pensar que existe uma relação linear entre o desenvolvimento científico-tecnológico e o social. Dentro desta perspectiva, os problemas sociais podem e devem ser resolvidos dentro de uma lógica científica. A ideia cen- tral é a de que a Ciência e a Tecnologia seriam capazes de resolver não apenas os problemas sociais, mas em última instância todos os males existentes, e assim conduziriam naturalmente a uma melhoria na qualidade de vida de um povo. Os estudos CTS problematizam esse tipo de perspectiva, salientando que não existe relação direta entre desenvolvimento Científico e Tecnológico e Desenvolvimento Social.

Também na esteira da relevância do conhecimento e do saber científicos e tecnológicos na sociedade contemporânea, surge, a partir dos anos 80, no Reino Unido e nos EUA, o que os pesquisadores e educadores designaram Alfabetização Científica (que abreviaremos por AC. É uma tradução do termo em inglês Scientific Literacy). A AC estaria relacionada ao nível de co- nhecimento e instrução científica de uma determinada população [56]. Embora pareça simples, não há uma concepção fechada do que seja Alfabetização Científica, embora possamos delinear três definições principais. A dificuldade reside basicamente no fato de a área de pesquisa ser

um tanto quanto recente, mas envolve também em última análise questões epistemológicas do fazer científico.

Uma das possíveis definições de Alfabetização Científica é um tanto quanto literal e di- reta. Parte-se da premissa que o cidadão cientificamente alfabetizado seria aquele que possui de cabeça um grande repertório de jargões e termos científicos de forma enciclopédica. Uma refe- rência que ilustra muito bem esta perspectiva é o livro Cultural Literacy: What Every American Needs to Know[59], de autoria de E. D. Hirsch, que junta cinco mil verbetes num objetivo já denunciado pelo título da obra. A obra de Hirsh é um glossário cultural que engloba termos científicos e não científicos, de modo que a obra, além de bastante abrangente, também possui um objetivo um tanto audacioso. Em última análise, a obra se propunha a definir os conheci- mentos culturais mínimos necessários para que um cidadão pudesse ser considerado culto ou bem letrado. De maneira mais restrita, em Science Matters: Achieving Scientific Literacy [60], os autores Robert Hazen e James Trefil elaboram um glossário voltado especificamente para o conhecimento que um cidadão deveria possuir para ser considerado cientificamente alfabeti- zado.

Embora ainda exista quem acredite nesta definição enciclopédica do que venha a ser um ci- dadão cientificamente alfabetizado, hoje parece consensual afirmar que simplesmente fornecer e estimular a memorização de diversos jargões científicos enciclopédicos desconectados entre si e desprovidos de conexão prática é contraproducente. A maioria dos pesquisadores e cientistas da área concordam que a AC estaria relacionada, por outro lado, mais em dar sentido e em apre- sentar a própria lógica do Método Científico, em oposição à lógica enciclopédica. Entretanto, a definição do que vem a ser a AC ainda não é consensual, e envolve discussões epistemológicas a respeito do real funcionamento da Ciência. De todo modo, podemos definir operacionalmente que o cidadão considerado alfabetizado cientificamente seja capaz de ler criticamente notícias científicas divulgadas pelos meios de comunicação e ao menos ter uma boa ideia da ciência envolvida nestes casos. Esperamos também que o cidadão seja capaz de entender as limitações e as questões sociais e políticas relativas aos avanços e às descobertas científicas.

Já a Divulgação Científica, embora também tenha como ideia inicial contribuir para a for- mação e a divulgação de notícias e informações científicas para o grande público em geral,

possui uma diferença crucial da sua irmã (ou prima?), a Albetização Científica. Esta diferença deve-se essencialmente ao fato de que, enquanto a AC seja em certo sentido conteudista, bem definida quanto a maior importância relativa da transmissão do Método Científico do que o for- mato da própria Divulgação em si, a DC esbarra na linha epistemológica entre o fazer científico e a própria produção literária. Isto acontece na medida em que a DC tem caminhado na direção da divulgação e circulação de informações relacionadas ao desenvolvimento científico, sem ter no entanto uma preocupação excessiva com a devida transmissão e decodificação de saberes específicos [54]. Uma possível analogia entre ambas teria a AC tendo como representante uma aula convencional de uma determinada disciplina, enquanto que a DC corresponderia à apre- sentação de seminários referentes às novidades descobertas pelo pesquisador. Esta analogia não é perfeita na medida em que eventualmente tanto a DC quanto a AC cruzam essa fronteira.

Dentro desta lógica, toda a área de ficção científica pode ser considerada como DC. Muitos atribuem à obra Frankenstein de Mary Shelley o papel de primeira obra de ficção científica da história [61]. Outro autor pioneiro e bastante característico é Júlio Verne, autor de A volta ao mundo em oitenta dias e Vinte mil léguas submarinas. Julio Verne tem um simbolismo muito importante na medida que ilustra particularmente as interrelações entre a imaginação humana expressa em obras de ficção e o desenvolvimento de conceitos e aparatos tecnológicos reais, uma vez que anteviu a criação do submarino e concebeu a ida do homem à Lua, dentre outros exemplos. Cabe ressaltar que esta é uma via de mão dupla, que ilustra muito bem a famosa frase “a vida imita a arte”: da mesma forma que a ficção científica influencia a criação e a descoberta de novidades científicas e tecnológicas, a ficção científica também contribui fornecendo elementos para as histórias fantásticas que não eram antes concebidas, como o caso da clonagem [56]. Ainda dentro do universo literário, vale à pena destacar os trabalhos de Philip K. Dick, cujas obras apenas no cinema foram adaptadas em Blade Runner, O Vingador do Futuro, Minority Report, dentre outros, Arthur Clarke, autor de 2001: Uma Odisséia no Espaço e Encontro com Rama, Isaac Asimov, muito conhecido pela série Fundação e pelas leis da Robótica que levam o seu nome e Douglas Adams, autor de O Guia do Mochileiro das Galáxias, apenas para ficar em nomes amplamente conhecidos.

encontra presente em outras formas de mídia, tais como TV, rádio, filmes, jogos de vídeo game e Histórias em Quadrinhos (HQs). Além do aspecto ficcional, a DC também conta com canais de divulgação com um compromisso maior com o desenvolvimento científico e tecnológico real. É o caso de revistas de DC tais como a Scientific American [62] e a Superinteressante [63], que incluem periódicos mais específicos como a Ciência Hoje [64], mas que não deixam de explorar o público infanto juvenil através da revista Ciência Hoje das Crianças [65] num formato mais lúdico. Há uma grande variedade de trabalhos de DC em diferentes mídias.

De um ponto de vista histórico, até por conta das datas de invenção das diversas tecnologias de mídia, após o surgimento de romances de ficção científica e textos especializados, seguiram- se programas de rádio, TV, Cinema e HQs. Estas iniciativas eram relativamente raras na medida em que tornavam-se mais técnicas e se afastavam da ficção. Já no final do século XX, o advento e a posterior popularização dos video games e finalmente da internet possibilitaram uma maior interatividade do público junto à DC em si.

No caso da internet isso se dá na medida que a rede possibilita que o usuário não seja mais apenas um “ouvido” no jogo da comunicação, mas que possa assumir também um papel de protagonista, ganhando voz. Isto ampliou os canais de comunicação e possibilitou que diversos autores, mesmo sendo considerados amadores ou não cientistas, pudessem desempenhar um papel ativo na produção da DC [66]. Isto significa que além de difundir o conhecimento cientí- fico, a DC na internet (e talvez até mesmo fora dela) também deve estar empenhada em receber retorno do seu público, de modo a tornar a comunicação mais efetiva. Esta perspectiva tem sido fortemente potencializada com o advento dos blogs e das redes sociais.

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