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Conclusões sobre o uso de políticas públicas para o desenvolvimento e fomento à tecnologia

CAPÍTULO II POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E A VARIÁVEL

2.3. Conclusões sobre o uso de políticas públicas para o desenvolvimento e fomento à tecnologia

No início deste capítulo lembramos a dicotomia capitalismo versus socialismo e abordamos o conceito de “destruição criativa” de Schumpeter (1942) e da teoria dos sistemas de Bertalanffy (1950), que propõe a idéia da incorporação gradativa de elementos de um sistema ao outro. Esta ótica Schumpeteriana ou sistêmica pode também ser estendida essa dialética do modelo intervencionista estatal (Keynesiano na origem) e não intervencionista (liberal na origem), permitindo um paralelo entre a evolução da teoria da Administração Pública e da Teoria Econômica.

Como vimos no Capítulo I, o Estado liberal do século XIX foi tomado gradativamente pelo maior intervencionismo do Estado-providência e das premissas keynesianas, que atingem um ápice no cenário após a segunda grande guerra. Nos anos 1980, emergiram o NPM na Administração Pública e o Consenso de Washington na economia, que preconizava, em linha com a NPM, que o Estado deveria ser mínimo, pouco regulamentado, com disciplina fiscal e comercialmente aberto, um certo retorno às premissas liberais. Neste pensamento, o desenvolvimento seria conseqüência deste ambiente estimulante ao setor privado, e as políticas públicas ativas voltadas para o desenvolvimento, apenas um gasto desnecessário. Era o auge do neoliberalismo, e a ótica de mercado predominava.

Surge então uma discussão na economia que, como vimos, permeou também o debate na administração pública. Seriam nações e empresas similares a ponto de utilizarmos os mesmos valores para dirigi-las ? Como nos alerta o premio Nobel Paul Krugman (1994), na realidade as nações não competem como empresas139. Diferentemente da busca de aumento da participação

139 Não obstante, a competição entre estados pode levar a resultados tecnológicos positivos. As grandes

navegações, financiadas pelas coroas portuguesa e espanhola, trouxeram avanço nos sistemas de navegação. Quatro séculos depois, a corrida espacial, financiada pelos tesouros soviético e americano, nos trouxeram externalidades tecnológicas como lentes resistentes a arranhões, sistema de purificação de ar e água, melhores

de mercado por empresas (que muitas vezes leva à aniquilação do concorrente), o aumento do bem-estar econômico e social de um país não deve se dar em detrimento do outro140. Como visto no capítulo anterior, esta idéia está em consonância com um dos princípios básicos do NPS, que também defende que a extrapolação do modelo de mercado (defendido pela NPM, como também visto), não é adequado ao desempenho ideal das funções de Estado.

Na Administração Pública, no início deste milênio sobressai o NPS que prega que a intervenção estatal ativa traz resultados positivos, tal como o keynisianismo e o Estado- providência pós-guerra. No lado econômico, nesta mesma época, houve interessantes debates entre Williamson (que cunhou o conceito do “Consenso”) e Joseph Stiglitz141, conhecido por defender as imperfeições do mercado (e.g. Stiglitz, 2000). Finalmente, a crise financeira de 2008 dá lugar ao aumento da regulação e injeção de capital governamental mesmo nos estados mais liberais (Krugman, 2009). Como indicou o então primeiro ministro britânico Gordon Brown, “The old Washington Consensus is dead” (Wall Street Journal, 2009). Mas na realidade, como lembra lembra Hood (1995), a discussão sobre a teoria da administração pública é pendular, e o mesmo parece permear a Teoria Econômica. Nas palavras de (Rodrick, 2008):

“Government has a positive role to play in stimulating economic development beyond enabling markets to function well. This view is to be contrasted with two alternative perspectives. One of these, the public-choice or rent-seeking perspective, thinks of the government as the malign tool of private interests. When the government interferes, it does so only to enrich supporters, cronies, or the intervening bureaucrats themselves. From this perspective, the more we can restrain government action, the better. The second perspective, that of the political-economy school, does not take an ex ante position on whether government is a positive or negative force, but fully endogenizes the behavior of government, and in doing so leaves it with no room to do anything (whether good or bad) that has not already been foreordained by long-standing structural determinants”

Um insight brilhante de como acomodar este problema veio de Solow (1997: 594), ao se recordar de seu contemporâneo Swan (vide modelo Solow-Swan descrito anteriormente) lembrou da natureza keynesiana do colega que concebeu um modelo neo-liberal “one can be a sapatos de atletismo, uso da energia solar, cirurgia à laser. Todos os anos, de 40 a 50 produtos são lançados no mercado baseados no desenvolvimento de tecnologia espacial (NASA, 2010).

140 Afinal, a época de um povo saquear o outro para obter riquezas já passou e o crescimento econômico de um país

hoje pode até significar mais mercado para o outro.

Keynesian for the short run and a neoclassical for the long run, and this combination of commitments may be the right one”. Extrapolando a questão para a seara da administração pública, Majone (1997) nos dá o insight adicional que o estado é cada vez menos intervencionista (no sentido positivista) e mais regulador. Assim, tanto o “Consenso de Washington”, como muitos preceitos do NPM talvez não esteja exatamente mortos, mas schumpterianamente incorporado aos novos tempos.

Estamos em uma era que o foco da administração pública deixa de ser puramente eficiência e mercado para voltar-se para o bem estar do cidadão, agora participativo (a là Denhardt e Denhardt, 2007). O prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz (2002) incorpora esses elementos à questão do desenvolvimento econômico (e agora social) ao dizer que:

“We now know more about how to manage an economy than we did 75 years ago. We can hope that in the coming decades, we will make use of this knowledge, our broad understanding of the development process, and new opportunities afforded by the changing economy to strengthen and extend development through comprehensive strategies. In this vision, the development strategies will incorporate social as well as economic development, arrived at through open, transparent, and participatory process, that extend the fruits of development in a sustainable way to all citizens of the developing world.”

Ao final das contas, vimos, em resposta à pergunta final do capítulo anterior e a inicial deste, que a teoria da Economia do Desenvolvimento comporta políticas ativas voltadas para o desenvolvimento, o que pode-se dar em um amplo leque de ações (econômicas, institucionais e sociais), inclusive o objeto deste trabalho, as políticas de fomento à inovação, que possui, como também foi visto, lugar de destaque. Talvez o pensamento de Mozzicafreddo (2007) resuma bem sob a ótica sociológica o que observamos pela ótica econômica até o momento:

“A coincidência entre o bem-estar individual e o colectivo pode ser visto, hoje, como o critério que define, ainda a este nível abstracto da dimensão sistémica, o que é a boa sociedade: o investimento em tecnologias e em novas formas de produção e mercado, nesta era da competitividade, os sistemas de protecção social, bem como o investimento em políticas educativas – qualificação técnica e profissional na população activa e qualificação cognitiva geral na trajectória dos indivíduos. As políticas familiares de apoio à inserção no mercado de trabalho, e as políticas de inclusão social em parte desligadas da esfera do trabalho (as políticas de cidadania), podem serem vistas como um investimento social que acrescenta produtividade ao sistema, para benefício de todos.”

Neste cenário, as políticas públicas deverão, como indica Bilhim (2008) incorporar os elementos de definição regulatória em que os atores irão atuar; voltar-se para a proteção do interesse econômico, incentivando mais que dirigindo e finalmente, assegurar que os princípios de equidade e coesão social sejam atingidos142. Os elementos dessas políticas, como indicaram de Ferranti et al (2003) para o Banco Mundial devem visar os principais lacunas (gaps) que são os mais importantes gargalos de desenvolvimento: Produtividade, Habilidades e Tecnologia.

Este trabalho tem como foco este terceiro “gap”, onde dentro do arcabouço teórico, Hausman e Rodrick (2002) encontraram especificamente que políticas públicas que incentivam a inovação são fator de desenvolvimento, respondendo de forma contundente nossa indagação feita ao final do capítulo anterior. Havendo esta validade teórica para as políticas públicas de fomento à inovação, podemos seguir adiante. Assim, o próximo capítulo procurará descrever as ações públicas voltadas para a inovação tecnológica, dentro do escopo geográfico (Brasil) e Temporal (1999-2008) que foi definido para este trabalho.

142 Como bem lembra o autor, os três elementos assinalados são vindos das três escolas de administração:

CAPÍTULO III - AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FINANCIAMENTO À INOVAÇÃO