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Políticas públicas de desenvolvimento e a questão da inovação

1.4. Políticas Públicas e a questão do desenvolvimento

1.4.2. Políticas públicas de desenvolvimento e a questão da inovação

No mundo, há o extremo de países como a Somália onde a pobreza e a anarquia imperam e o outro, da igualdade social e participação popular ativa, casos da Finlândia e Suíça. No meio termo, a gestão do Estado necessita evoluir rapidamente para acompanhar de perto a evolução da administração pública nos países desenvolvidos, de modo que não se aumente o degrau – já elevado – da diferença de qualidade de gestão, que se traduz na prática em insatisfação social perante o Estado, o que é inibidor de reformas (Mozzicafreddo, 2007). No campo institucional, é necessário garantir os direitos e liberdades fundamentais, ou seja, consolidação de instituições fortes, para que o ambiente possa ser propício ao desenvolvimento econômico e social. Os meios para isso são a ajuda internacional61 e as políticas públicas locais. Mas exatamente com que objetivos devemos tentar traçar essas políticas ? Nas palavras de Rondinelli e Ruddle (1978):

“The essence of development is expansion of participation in economic activities through the creation of social and economic systems that draw larger numbers of people into processes of production, exchange, and consumption, that involve greater numbers in enterpreneurship and employment, that increase levels of income for the poorest groups and reduce disparities between rich and poor so that a larger majority of people obtain basic goods, save and interest and gain access to services necessary to enrich the quality of their lives.”

Temos nesta definição vários elementos que levam a uma melhor qualidade de vida e que podem ser objeto de políticas públicas. Em linhas gerais, aparenta ser necessária a busca da estabilidade econômica e da igualdade social, o que como vimos, somente pode ser feito dentro de um ambiente institucionalmente igualitário e estável, com o Estado funcionando em prol do cidadão. Este, aliás, era o cenário que, como vimos no decorrer deste capítulo, já

61 No mundo contemporâneo, a questão do desenvolvimento não se trata mais de um problema meramente local,

uma vez que não é possível ficar indiferente a cenas de fome ou miséria em qualquer parte do mundo. Assim, as Nações Unidas (ONU) também procuram atuar nesse sentido, e o marco maior foi a fixação, no ano 2000 das oito metas para o milênio que então chegava (ONU, 2000): 1) Erradicar a pobreza extrema e a fome; 2) Atingir o ensino básico universal; 3) Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; 4) Reduzir a mortalidade infantil; 5) Melhorar a saúde materna; 6) Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; 7) Garantir a sustentabilidade ambiental; e 8) Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento, estabelecendo-se uma ajuda dos países desenvolvidos de 0,7% de seu PIB. Praticamente todas essas metas são relacionadas com o Estado-providência clássicas, incluindo a novidade ambiental que não era outrora problema no topo da agenda, e a menção que o desenvolvimento necessita de cooperação internacional.

estava cristalizado nos países industrializados após a segunda grande guerra, pois na realidade, atingir um nível adequado em todas as dimensões envolvidas (econômica, social e política) é exatamente o que podemos chamar de desenvolvimento, ou bem-estar (em inglês welfare, termo que originou welfare-state ou Estado-providência)62. Vemos ainda na definição de Rondinelli e Ruddle uma questão específica, o empreendedorismo, o que está ligado ao cerne deste trabalho, a inovação. Para formar empreendedores/inovadores é necessário, além do talento individual, a existência de um ambiente catalizador e estável, no qual novamente essas amplas dimensões econômica, social e política estão envolvidas. Não à toa, a maior parte das inovações e patentes é produzida em países desenvolvidos (WIPO, 2009). Por outro lado, os países em desenvolvimento, ao melhorarem seu “macroambiente”, estão inovando mais63. Essas pistas serão melhor exploradas no próximo capítulo.

Há que se considerar ainda que analisar um conjunto de políticas públicas genéricas (como as sociais e econômicas) é uma tarefa complexa: é possível até ver a resultante das mesmas (Bovaird e Löffler, 2003), mas pela interconexão e complexidade das variáveis, a análise de políticas públicas específicas é o instrumento que proporciona resultados mais controláveis. Quanto mais restritas em tempo e espaço, mais factível torna-se uma análise válida. Neste trabalho, foi feita, portanto, a opção de analisar especificamente as políticas públicas de financiamento à inovação no Brasil no período 1999-2008.

A opção por esta variável se deu entre outras razões porque como salienta Mozzicafreddo (2007). “a questão da reorientação da atividade econômica, na senda da economia do conhecimento e da inovação tecnológica, implica apostar nos setores mais produtivos e inovadores, capazes de obter ganho de competitividade, de forma a obter um crescimento da economia e do emprego sustentável”. Na Teoria da Gestão Privada, inovação produz ou redução de custos ou produtos diferenciados, chave do que Porter (1980, 1985) denomina “Vantagem Competitiva”. A questão da inovação também é chave de desenvolvimento à luz da Teoria Econômica, como também será explorado no próximo capítulo.

A qualificação é uma das chaves-mestras para obter conhecimento e inovação. Vimos neste capítulo que há problemas inerentes a esta questão no Estado Providência (Esping- andersen 2002; Mozzicafreddo, 2007). Por outro lado, países menos desenvolvidos devem chegar a este estágio antes de pensar o passo adiante, pois o homem faminto e analfabeto

62 Relembrando Mozzicafreddo (1997), o que caracteriza a arquitetura institucional do Estado-providência é

exatamente a coordenação entre essas dimensões.

63 Em 2007, residentes chineses foram os líderes em patentes de desenho industrial, com 24% do total mundial

também não pode produzir conhecimento. Isto passa pelo paradigma do desenvolvimento, que de forma recursiva, tem a inovação como um de seus componentes.

Também foi verificado que a NPM cristalizou o paradigma da responsabilidade fiscal na administração pública, limitando os gastos do governo, e por conseguinte, a aplicação de políticas públicas. Esta questão está relacionada ao surgimento da dicotomia entre a necessidade de intervenção estatal (o keynesianismo, de certa forma ligado ao estado providência clássico) ou não (liberalismo, de certa forma ligado à NPM) no funcionamento da economia. Este dualismo tem fortíssima ligação com a aplicação de políticas públicas de desenvolvimento, já que na ótica liberalista pura elas não são necessárias. Esta questão, finalmente, remete à grande pergunta a ser respondida no próximo capítulo: a aplicação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento (e para a inovação em particular) é válida ou não? Para tentar obter a resposta, será utilizada a base teórica da Economia do Desenvolvimento, escola que explorou esta questão sistematicamente no século XX64.

64 Este embasamento teórico adicional torna-se necessário antes de proceder à análise empírica do objeto de pesquisa,

CAPÍTULO II - POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E A