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Piso 4: Ginecologia, Diagnóstico pré-natal, Ecografia Obstétrica e

13. CONCLUSÕES E SUGESTÕES

O tema deste trabalho final de mestrado, o erro de medicação na prática dos cuidados de enfermagem, foi desde sempre, no decorrer da sua elaboração, um factor estimulante, por ser controverso e ainda pouco explorado e por gerar dúvidas e receios nas pessoas. Constituiu um desafio para mim enquanto investigadora, quer pela dificuldade de abordagem do tema aos participantes, quer pelos obstáculos criados por instituições nas quais gostaria de ter realizado o estudo, o que não veio a ser possível. Os constrangimentos habituais para a realização de um estudo desta natureza foram progredindo, bem como a minha vontade de consumar o trabalho e de obstar todas as contrariedades.

Considero que esta investigação pode ser de algum modo útil, mesmo que permita apenas que os enfermeiros prestadores de cuidados e os que gerem esta actividade, vejam no erro um desafio de controlo, um alvo das suas práticas ou um problema que deve sobretudo ser acautelado.

Posso dizer que foram encontradas diferenças nas entrevistas realizadas aos enfermeiros da prestação de cuidados e aos enfermeiros gestores, mas também alguma aproximação de perspectivas. De facto, em relação às práticas tendentes ao erro, os enfermeiros prestadores de cuidados atribuem-nas principalmente às características ambientais, como à sobrecarga de trabalho, meio stressante sujeito a constantes interrupções, localização inadequada dos medicamentos em stock e menos às características pessoais que motivam o acontecimento do erro. Os enfermeiros gestores, por sua vez, enfatizam os factores inerentes ao enfermeiro como pessoa, como influência importante para a ocorrência de erros, embora considerando também a relevância dos factores perturbadores ambientais. Os grupos estudados aproximam-se na opinião sobre o modelo organizacional de trabalho pelo método individual, o qual segundo eles, favorece o conhecimento do doente e suas

necessidades, facilitando a articulação de procedimentos e evitando erros. Para os enfermeiros gestores, os sistemas de relato não punitivos são vistos como sistemas de despenalização e abertura enquanto que para os enfermeiros ligados à prática de cuidados, este sistema não se justifica pela grande abertura que existe actualmente no serviço, em grande parte pelo contributo da chefia. Por outro lado há referência ao facto destes sistemas não trazerem benefício para os cuidados, pois os enfermeiros procurariam sempre saber quem tinha cometido os erros relatados, incentivando-se ainda mais a omissão desses erros. Para alguns enfermeiros da prática, os problemas devem ser discutidos no contexto dos serviços e não fora deles, o que não significa que este sistema de relato não faça sentido e não seja considerada uma boa ideia com fundamento válido materializando a sua prevenção futura. No entanto, considera-se que estes profissionais de saúde não estão preparados para o integrar. Para a maioria, os erros são problemas dos serviços e reflectem muitas vezes necessidades de formação dos enfermeiros. Assim, a discussão dos factores causais e dos erros em si pode ser inserida em formações de serviço.

Como medida de segurança para a prevenção do erro figura com maior peso a prescrição electrónica para os enfermeiros com cargos de gestão na instituição estudada. Os enfermeiros prestadores de cuidados também salientaram este recurso importante, por diminuir os erros de transcrição e as dificuldades de interpretação das prescrições médicas. Para os enfermeiros gestores a regulação do erro deve ser feita através da sua compreensão multifactorial e adopção de medidas de correcção, bem como pela formação e pela minimização das consequências para os doentes. Os enfermeiros da prática referem que as chefias têm uma conduta positiva ao procurarem trabalhar o erro e activar medidas para limitar as suas consequências, despenalizando o erro. A penalização pode traduzir-se na avaliação do enfermeiro quando os erros resultam na perda de confiança no trabalho desempenhado, quer por eles próprios enquanto líderes, pelos colegas e doentes.

A aproximação face a alguns aspectos ligados à prevenção e regulação do erro nestes dois grupos de enfermeiros estudados, pode estar relacionada com o espírito assertivo ressalvado pelos enfermeiros na prestação de cuidados em relação aos elementos gestores do serviço. Este é um aspecto importante para a prevenção do erro, pois ajuda os enfermeiros a dar importância ao seu trabalho e a não relativizarem os erros que cometem, contribuindo desta forma para a sua revelação e discussão, mais que não seja, no seio da equipa de enfermeiros do serviço. A postura da chefia face à adversidade é construtiva e salvaguarda os interesses dos doentes quanto à segurança dos cuidados que lhe são prestados.

Posso concluir que a prevenção do erro de medicação deve ser uma prioridade de todos, nomeadamente daqueles que regularizam a profissão. Esta discussão actual tem ficado muito aquém das necessidades reais dos serviços e hospitais. A Ordem dos Enfermeiros tem a responsabilidade primária de sensibilizar continuamente todos os profissionais que representa e criar condições institucionais de discussão e relato livre e anónimo dos erros.

A mudança de mentalidades, a divulgação criteriosa e o conhecimento destas matérias e da sua relevância no panorama actual dos cuidados de enfermagem, a articulação entre organismos, instituições e profissionais, e a disponibilização dos recursos adequados, parecem-me ser os alicerces indispensáveis para a criação e desenvolvimento de uma cultura de segurança nas organizações de saúde.

Não falar sobre este assunto, escondê-lo, remetê-lo apenas ao domínio dos serviços parece-me redutor e não ajuda ao tratamento ímpar e isento do erro. Mantém os serviços separados entre si, não favorece a discussão dos problemas, que são de todos e não pertencem aos serviços, isoladamente. A percepção que fica relativamente aos participantes sobre a discussão aberta e anónima dos erros configura a falta de preparação e o medo de punição e julgamento em “praça pública”. Os enfermeiros não compreendem ainda a importância da implementação