• Nenhum resultado encontrado

CONCURSO DE PESSOAS 1 Introdução

No documento APOSTILA DE DIREITO PENAL MILITAR (páginas 44-48)

Os crimes podem ser classificados em unissubjetivos ou plurissubjetivos. Nos crimes unissubjetivos, basta um único sujeito ativo para a realização do tipo penal. Entretanto, pode ocorrer que reúnam-se duas ou mais pessoas para a prática da infração penal. Nesse caso, há o concurso eventual de pessoas. Os crimes plurissubjetivos exigem a presença de duas ou mais pessoas para a configuração do tipo penal, ou seja, são crimes de concurso necessário. Nesse caso, não há que se falar em concurso eventual de pessoas, pois a conduta plural é tipicamente obrigatória. Temos como exemplos, os crimes de motim e revolta, previstos no artigo 149, CPM.

2. Teorias acerca do concurso de pessoas

a) Teoria Monística (ou monista, ou unitária ou igualitária)

A teoria monista pura é consequência da Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais (conditio sine qua non) e da tratamento igualitário para todos concorrentes. Segundo a teoria unitária, o crime é uno e indivisível e mantem essa unidade em razão da convergência objetiva e subjetiva das ações dos concorrentes. Portanto, há um crime único atribuído a todos os que contribuem para ele.

A participação não é entendida como acessória: o partícipe é considerado coautor e responde inteiramente pelo evento. O Código Penal Militar, ao dispor em seu artigo 53 que “quem, de qualquer modo concorre para o crime incide nas penas a este cominadas”, adotou a teoria monista. Mas o fez de forma matizada ou temperada, já que estabeleceu algumas exceções, como, por exemplo, a atenuante para a participação de menor importância. O Código Castrense consagrou o princípio constitucional da individualização da pena, ao estabelecer que a “punibilidade de qualquer dos concorrentes é independente da dos outros, determinando-se segundo a sua própria culpabilidade”.

b) Teoria Dualista

A teoria dualista distingue o crime praticado pelo autor daquele praticado pelo participe. Não é a regra do sistema penal militar, mas pode ser identificado em algumas situações excepcionais em que o legislador optou por romper com a regra monista. É o caso por exemplo, do crime de incitamento em que a conduta típica é “incitar à desobediência, à indisciplina ou à pratica de crime militar”. Assim quem incita o motim responde pelo crime do artigo 155, CPM enquanto que o amotinado responde pelo artigo 149 do mesmo Código. c) Teoria pluralista De acordo com essa teoria, haverá tantas infrações penais quantos forem os concorrentes. Os crimes de corrupção passiva e ativa, previstos respectivamente nos artigos 308 e 309, CPM, configuram exceção pluralista à regra monista do Código Castrense.

3. Requisitos do concurso de pessoas de acordo com a teoria monista.

a) Pluralidade de pessoas e de condutas: deve haver uma pluralidade de agentes praticando diversas condutas.

b) Relevância causal da conduta: exige-se um nexo causal eficaz de cada conduta para a produção do resultado.

c) Liame subjetivo ou psicológico entre as pessoas: deve haver um vínculo psicológico entre os concorrentes, que traduz na comum resolução para fato. A convergência subjetiva corresponde à consciência e à vontade que devem ser comuns, ou seja, na unidade de desígnios para todos os concorrentes e contribuir para uma obra coletiva. Não há necessidade de ajuste prévio entre os concorrentes.

d) Identidade do ilícito penal: o delito deve ser idêntico ou uma unidade jurídica para todos. Os agentes, unidos pelo liame subjetivo, concorrem para a realização da mesma infração penal.

4. Comunicabilidade e incomunicabilidade das condições pessoais

De acordo com o art. 53, § 1º, CPM, “não se comunicam, outrossim, as condições ou circunstancias de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime”.

4.1 Incomunicabilidade das circunstâncias de caráter pessoal

Circunstâncias são dados periféricos que gravitam ao redor da figura típica básica, somente interferindo na graduação da pena. A existência da circunstância não altera a

definição do tipo-base, mas apenas reflete no aumento ou diminuição da pena. Assim, as circunstâncias podem ser classificadas como qualificadoras, privilegiadoras, causas de aumento ou redução de pena, agravantes ou atenuantes. As circunstâncias subjetivas ou pessoais são aquelas que atuantes na medida da culpabilidade. Trata-se de condições ou qualidades que se referem a à pessoa do agente, nada tendo a ver com a materialidade do delito. Elas seguem a regra da incomunicabilidade.

4.2 Circunstâncias objetivas

As circunstâncias objetivas (reais ou materiais) relacionam-se com o fato delituoso em sua materialidade e atuam sobre a magnitude do injusto, como por exemplo, os meios e modos de execução, o uso de determinados instrumentos, espécie, lugar, tempo, ocasião, qualidade da vítima.

Por serem objetivas, tais circunstâncias comunicam-se a todos que concorrem para o crime, se ingressarem na sua esfera de conhecimento. É necessário verificar se a circunstância pode ser havida como materialmente causada pelo concorrente e se é abrangida por seu dolo (direito ou eventual).

5. Autoria

5.1 Conceito de autor

De acordo com a teoria objetivo-formal, adotada pelo Código Penal Militar, autor é quem realiza a figura típica, já participe é aquele que comete ações fora do tipo, limitando-se a instigar, induzir ou auxiliar e vinculando-se ao fato por meio da norma de extensão do concurso eventual de pessoas – art. 53, CPM.

5.2 Distinção entre autoria mediata e imediata

Autor direto (imediato) é aquele que tem o domínio do fato, na forma do domínio da ação, pela pessoal (de mão própria) e dolosa (consciência e vontade) realização da conduta típica. É quem pratica o faro típico pessoalmente e diretamente.

Autor direto pode ser o executor, se realiza pessoalmente (direta/materialmente) a ação típica, ou o autor intelectual, se a domina dolosamente por completo, delegando ao coautor a sua realização material. Autor indireto (mediato) é aquele que, possuindo o domínio do fato, pelo domínio da vontade, para a realização material do delito, serve-se de terceiro, geralmente inculpável, que atua como mero instrumento.

Se na instigação ocorre a corrupção do homem livre e, portanto, há concurso de pessoas, na autoria mediata, há o abuso do homem não-livre e, através deste abuso, o autor mediato controla o fato. O autor mediato sofre a incidência da agravante prevista no artigo 53, §2º, CPM.

Ex.: utilização de inimputável (doente mental, menor de dezoito anos, ou embriaguez voluntária e completa), coação irresistível e estrita obediência hierárquica.

Obs.: não se admite autoria mediata nos crimes culposos, de mão própria e nos crimes omissivos.

5.3 Autoria colateral ou acessória

A autoria colateral não integra o concurso de pessoas, em face da ausência de vínculo subjetivo (liame psicológico) entre os concorrentes. Tal situação de dá quando duas ou mais pessoas, simultaneamente, contribuem para a produção de um evento típico de modo independente, sem atuarem conjunta e conscientemente. Diz-se que a autoria colateral é incerta quando não é possível identificar quem foi o produtor do resultado. Assim, ambos os agentes respondem pela tentativa. Quando sequer se sabe quem são autores, diz-se que há autoria desconhecida.

6. Participação 6.1 Conceito

É a contribuição dolosa (livre e consciente), sem o domínio do fato, em fato punível doloso alheio. Conforme já registrado, para a teoria objetivo-formal, partícipe é aquele que comete ações fora do tipo, limitando-se a instigar, induzir ou auxiliar o autor.

A participação requer um elemento objetivo, que é o comportamento no sentido de auxiliar, contribuir com o crime alheio, bem como o elemento subjetivo, evidenciando na vontade livre e consciente de concorrer com a própria conduta, na ação delitiva de outrem. 6.2 Punibilidade da participação

De acordo com a teoria da promoção, o fundamento da punibilidade da participação está simplesmente no desvalor intrínseco da colaboração prestada a um fato socialmente intolerável. Mesmo não realizando o comportamento descrito no tipo penal, o partícipe promove o delito, induzindo, instigando ou auxiliando.

A participação é sempre acessória, dependendo de um fato principal. Para a teoria da da acessoriedade limitada, adotada pelo Código Penal Militar segundo a orientação dominante da doutrina, entende que é suficiente que a conduta do autor seja típica e ilícita para que o partícipe seja responsabilizado.

6.3 Impunibilidade da participação

Nos termos do artigo 54, CPM, o “ajuste, a determinação, ou instigação e ao auxilio, salvo disposição em contrário, não são puníveis se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.

O ajuste é o acordo ou pacto celebrado entre pessoas, enquanto que a determinação é a decisão tomada para alguma finalidade.

Instigação é a sugestão ou estimulo à realização de algo e o auxilio ajuda ou assistência material ou intelectual dada a alguém.

A impunibilidade da participação diz respeito ao fato e não ao agente. Trata-se de causa de atipicidade, que afasta incidência da norma de extensão do art. 53, CPM. Como a participação tem caráter meramente acessório, sua punição sempre dependerá da conduta do autor.

De acordo com o princípio da executividade, é necessário que, pelo menos, o autor inicie os atos executórios, não havendo punição do participe, se aquele apenas ficou na cogitação ou nos atos preparatórios. O artigo 54, CPM faz a ressalva em relação aos delitos de fusão, quando há previsão de crime autônomo nucleado em condutas que originariamente seriam de participação. São as hipóteses, por exemplo, de favorecimento pessoal (art. 350, CPM) e de favorecimento real (art. 351, CPM).

7. Punibilidade no concurso de agentes (sentido amplo)

7.1 Atenuante da participação de menos importância (53, §2º, CPM)

A pena é atenuada com relação ao agente, cuja participação no crime é de somenos importância. Trata-se de atenuante obrigatória de pena somente aplicável na participação em sentido estrito, não alcançando a coautoria. Assim, o partícipe que pouco tomou parte na empreitada criminosa, colaborando minimamente, deve receber a pena atenuada obedecendo- se aos parâmetros do artigo 73, CPM (1/5 a 1/3).

O artigo 53, §2º, CPM aponta quatro situações no concurso de pessoas em que a pena é agravada. Se o agente promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes ou coage outrem à execução material do crime. A aplica-se também a agravante a quem instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade, ou não punível em virtude de condição ou qualidade pessoal ou se executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa (torpeza).

7.3 Cabeças

Nos parágrafos 4º e 5º do artigo 53, o Código Penal Militar apresenta uma nora explicativa, definindo o conceito de “cabecas”

a) Crimes de concurso necessário (plurissubjetivos) – cabeça é aquele que dirige, provoca, instiga ou excita a ação, seja ele oficial ou praça.

b) Em qualquer hipótese (crime de concurso necessário ou eventual) – cabeça é o oficial, quando delinquir junto com inferiores. Estes últimos também são considerados cabeças, se exercem função de oficial (ex.: sargento comandando pelotão).

7.4 Cooperação dolosamente distinta (participação em crimes menos graves ou desvio subjetivo de conduta)

Embora o CPM não tenha feito menção expressa à cooperação dolosamente distinta, prevista no artigo 29, §2º do Código Penal Comum, boa parte da doutrina entende que seria cabível a aplicação subsidiária dessa disposição comum na esfera militar, sob pena de operar- se odiosa responsabilidade objetiva.

A expressão “concorrente” tem sentido amplo, aplicando-se à coautoria e à participação. Na hipótese, há divergência entre o elemento subjetivo de um dos concorrentes e a conduta realizada pelo outro. Se um dos intervenientes queria participar de delito menos grave, sua culpabilidade deverá ser mensurada individualmente, com a aplicação proporcional da pena daquele delito. A luz do artigo 29, §2º do Código Penal Comum, há uma mitigação da teoria monista em que o coautor/participe responderá pelo crime menos grave e não pela concretização do crime mais grave pelo comparsa. Se previsível objetivamente o resultado mais grave, mesmos assim responderá com a pena do crime menos grave, que será aumentada até a metade.

CAPÍTULO VI- PENAS E MEDIDAS DE SEGURANÇA

No documento APOSTILA DE DIREITO PENAL MILITAR (páginas 44-48)