• Nenhum resultado encontrado

CONDIÇÕES DE TRABALHO NA FÁBRICA E NO DOMICÍLIO E OS EFEITOS À SAÚDE DO

Na indústria de calçados de Franca muitos riscos se encontram associados com o trabalho e podem desencadear prejuízos à saúde dos trabalhadores. Esses riscos estão presentes dentro do espaço fabril assim como no trabalho domiciliar na cidade.

Laurell (1981) destaca que a análise do processo de trabalho envolve o próprio trabalho, o instrumento e o objeto. O objeto de trabalho deve levar em conta as suas propriedades físicas, químicas e biológicas, podendo provocar sérios riscos à saúde.

Em relação às cargas físicas, podem-se citar os ruídos e o calor dentro do ambiente de trabalho. As cargas químicas são exemplificadas pelo pó, fumaça, fibra, vapores, líquidos e as cargas biológicas, os microorganismos.

Laurell (1981) também destaca as cargas fisiológicas e psíquicas e que são diferentes das citadas anteriormente, pois não têm uma materialidade visível externa ao corpo humano. As cargas fisiológicas poderiam ser um esforço físico pesado ou uma posição incômoda, a alternância em turnos. Já as cargas psíquicas podem abranger dois grupos – tudo aquilo que provoca uma sobrecarga psíquica, ou seja, situações de tensão prolongada. Destacam-se as características do processo de trabalho capitalista, como a atenção permanente, a supervisão com pressão, a consciência da periculosidade do trabalho, os ritmos de trabalho. A outra se

refere à subcarga psíquica, ou seja, à impossibilidade de desenvolver e fazer uso da capacidade psíquica, por exemplo, a perda do controle sobre o trabalho ao estar o trabalhador subordinado ao movimento das máquinas, a desqualificação do trabalho, resultado da separação entre sua concepção e execução, a parcelização da tarefa, que redunda em monotonia e repetitividade (LAURELL, 1981, p. 112; 113).

De acordo com o Manual de segurança e saúde no trabalho, a atividade na indústria calçadista expõe os trabalhadores às condições ambientais de risco. No que tange à saúde e segurança no trabalho, os riscos ou cargas podem ser identificados em determinados fatores ambientais que possam causar danos à saúde do trabalhador, acidentes ou doenças relacionadas ao trabalho. Destacam-se os riscos físicos (ruído, calor, vibração, radiação ionizante, umidade, temperaturas extremas, pressões anormais); os riscos químicos (produtos químicos para a confecção dos produtos, como a cola e adesivos para a aderência na montagem do calçado, além de solventes orgânicos para dissolver essa matéria-prima, como acetado de etila, acetona, álcool etílico, ciclohexano, metil-etil-cetona, n-hexano, n-pentano, tolueno, xileno, etc); os riscos biológicos (detectados na atividade de limpeza de sanitários pelo possível contato com material biológico [fezes e urina]); os riscos ergonômicos (inadequação ergonômica do posto de trabalho, como o levantamento de peso, ritmo excessivo de trabalho, monotonia, repetitividade, postura inadequada de trabalho, etc) e os riscos de acidentes (instalações e distribuições inadequadas das máquinas e equipamentos, o que dificulta a circulação dos trabalhadores; pisos irregulares; instalação elétrica inadequada; falta de sinalização da localização de extintores em caso de incêndio; matéria-prima e produtos armazenados de forma inadequados; maquinário sem manutenção preventiva; máquinas e equipamentos sem proteção nas partes móveis ou de operação; falta de uso de equipamento de proteção individual) (SESI, 2002).

Os gases, as poeiras, os produtos tóxicos, o ruído, que são formas de agressividade ao trabalhador, podem estar na forma de organização do trabalho, acarretando diversas doenças relacionadas ao trabalho. Todas essas circunstâncias podem contribuir para a fonte de tensão e desgaste emocional para o trabalhador, pois, muitas vezes, estão em constante exposição ao barulho, ao calor, a posturas incômodas entre outras situações.

Segundo Marziale; Robazzi (2000), para a ergonomia, as condições de trabalho são representadas por diversos fatores interdependentes que atingem, direta ou indiretamente, a qualidade de vida das pessoas e o resultado do próprio trabalho.

Dentre as cargas físicas, reveladas pelos trabalhadores das indústrias calçadistas francana, destaca-se o ruído excessivo48, devido ao barulho das máquinas dentro das fábricas, bem como barulho também dentro das bancas.

De acordo com Araújo (2002), o ruído é um tipo de som que provoca efeitos nocivos nos homens, sendo uma sensação auditiva desagradável que interfere na percepção do som desejado.

A perda auditiva induzida pelo ruído é uma patologia cumulativa e insidiosa, que cresce ao longo dos anos de exposição ao ruído associado ao ambiente de trabalho. É causada por qualquer exposição que exerça uma média de 90dB, oito horas por dia, regularmente por um período e vários anos. A perda auditiva induzida pelo ruído é uma doença irreversível e de evolução progressiva passível totalmente de prevenção (ARAÚJO, 2002, p. 48).

Os trabalhadores revelaram essa questão do alto barulho dentro das fábricas. Eles se queixaram do barulho alto e intenso e da sensação de incômodo que sentem quando realizam suas atividades.

No balancim mesmo, por ele ser antigo, ele faz bastante barulho na hora que a gente aperta ele (...) ele faz muito barulho e não é só um balancim ligado durante a noite, são sete, oito balancins ao mesmo tempo (P. H. R.). Às vezes é forte, mas sem protetor. Mas é alto, mas como você usa o protetor não abala muito sua audição, mas dá para aguentar porque tem o protetor. (...) Na esteira é barulho, porque tem máquina, tem correria, tem carreta, eles usam aqueles fones grandes (T. B. S.).

(...) cada máquina faz um barulho, então, tem máquina que é muito barulhenta, tem umas que você nem ouve o barulho (...) as máquinas de corte também (...) então, é tudo barulhento, sempre dentro de uma fábrica, por isso que a gente até usa aquele protetor auricular (H. C. S.).

Muito barulho. Chega em casa e o ouvido está assim “zum zum”. É horrível. Aquele monte de máquinas, usa protetor, mas não ajuda tanto. Muitos não gostam de protetor, o chefe chega e eles colocam. Você sente menos, mas o barulho é o mesmo (F. E. S. A.).

É estressante. Tem barulho de compressor, de revolvinho de cola, barulho de motor de máquina, de pesponto, de rachadeira. Cada um faz um barulho diferente. Tem umas que fazem um barulho que estressa mais. Tem umas lá que eu acostumei com o barulho. Toda vez que eu passava perto dela, eu assustava (...) ela solta um barulho mais forte, e eu assustava muito, incomoda mais (N. S. S.).

48 “As condições de saúde auditiva no ambiente de trabalho tem sido objeto de muitos estudos no campo da saúde pública, uma vez que, a exposição a elevados níveis de ruído pode provocar danos irreversíveis à audição como a Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevado (PAINPS). Além da alteração na função auditiva devido à exposição ao ruído ocupacional, o ruído e a PAINPS comprometem a comunicação e a qualidade de vida dos trabalhadores” (LOPES et al., 2009, p. 50).

Barulho. A gente usava aquele protetor, porque o ruído é muito forte. Tem hora que você não aguenta trabalhar com aquele barulho (I. I. G.).

Eu não trabalho sem protetor de ouvido. Eu acostumei de tal maneira. A máquina em si já é barulhenta (...) a de pesponto, mesmo que seja nova, sempre tem um barulhinho que te irrita. Eu tenho muita dor de cabeça, eu não consigo trabalhar em lugar com muita bagunça (C. K. F. L.).

Bastante. A gente tinha que usar aquele protetor porque chega à tarde, você fica com aquele barulho na cabeça (A. A. G. B.).

Ao estudar as perdas auditivas de origem ocupacional, deve-se levar em conta que “há outros agentes causais que não somente podem gerar perdas auditivas, independentemente de exposição ao ruído, mas também, ao interagir com este, potencializa os seus efeitos sobre a audição”, podendo ser citada a exposição a produtos químicos, as vibrações e o uso de alguns medicamentos (BRASIL, 2006b, p. 07).

Segundo Almeida et al. (2000), a palavra ruído é derivada do latim rugito que significa estrondo. “Acusticamente é constituído por várias ondas sonoras com relação de amplitude e fase distribuídas anarquicamente, provocando uma sensação desagradável, diferente da música” (ALMEIDA et al., 2000, p. 153).

O ruído é reconhecido há muito tempo como agente nocivo à saúde, principalmente nos últimos 100 anos, devido ao avanço industrial e tecnológico. Os problemas decorrentes desses agentes foram mais conhecidos socialmente, tornando-se objeto de atenção pública (BERBARE; FUKUSIMA, 2003).

De acordo com o Ministério da Saúde,

Quando o ruído é intenso e a exposição a ele é continuada, em média 85dB(A) por oito horas por dia, ocorrem alterações estruturais na orelha interna, que determinam a ocorrência da PAIR49 (CID 10 – H83.3). A PAIR

é o agravo mais freqüente à saúde dos trabalhadores, estando presentes em diversos ramos de atividade, principalmente siderurgia, metalurgia, gráfica, têxteis, papel e papelão, vidraria, entre outros (BRASIL, 2006b, p. 10). Os trabalhadores relataram que o barulho alto das máquinas de costura e do compressor, dos motores das máquinas, além de outros ruídos na fábrica causam irritações e dores de cabeça e esses problemas não são apenas encontrados dentro das firmas. Há também o trabalho terceirizado das bancas, dentro das residências dos trabalhadores, que acabam se apropriando de máquinas mais antigas, que fazem barulhos, acarretando consequências à 49 O PAIR significa perda auditiva induzida por ruído.

audição desses trabalhadores. Eles revelaram que o ruído das máquinas é amenizado com o protetor auricular, porém alguns afirmaram que esse equipamento apenas ameniza um pouco o barulho. Várias máquinas, juntas no ambiente de trabalho, segundo eles, intensificam ainda mais o ruído dentro das fábricas, por isso há muitas queixas de dores de cabeça, irritação devido ao ambiente de trabalho onde o ruído é extremamente alto.

Além dos sintomas auditivos frequentes, sejam eles perda auditiva, dificuldade de compreender a fala, zumbido nos ouvidos e intolerância a sons intensos, o trabalhador portador de PAIR também apresenta outras queixas, como cefaleia, tontura, irritabilidade e problemas digestivos (BRASIL, 2006b).

Visto que a perda auditiva é uma doença passível de prevenção e sua prevalência ainda é muito alta no meio de trabalho, esta perda auditiva pode prejudicar a qualidade de vida, essa perda da audição afeta as relações sociais, de comunicação e de trabalho. Desta forma, evidencia-se a importância de ações preventivas e coletivas que visem à conservação da audição e da saúde como um todo (LOPES et al., 2009).

Outro problema dentro do ambiente de trabalho é a alta temperatura, que também é uma das cargas (riscos) que mais se destaca nos relatos dos trabalhadores, devido à atividade laboral ser executada em ambientes sem ventilação e em um lugar fechado.

Eles colocaram um temporizador lá por causa do calor. É muito quente lá dentro. Eles colocaram um jatinho de água, tipo um temperador (T. B. S.). (...) quando você trabalha perto daquelas máquinas quentes, terrível. Eles brigavam muito por causa dos ventiladores, porque nossa é muito quente, tem vez que fica muito quente (...) (H. C. S.).

A temperatura depende do trabalho que a gente faz lá na firma. Tem lugar que é quente, tem lugar que é bem ventilado, é perto da porta. Mas em termos de ventilador dentro da firma, não resolve, às vezes refresca um pouco, às vezes não (...) ali dentro de um barracão, 100 pessoas trabalhando ali, eu acho que é mais pelo oxigênio que a gente tem; 100 pessoas respirando o mesmo ar, fica bem abafado. E um ventilador ali para trocar o ar, não vai trocar o ar do lugar no tempo necessário para todo mundo respirar, então, acaba sendo mais quente por causa disso (N. S. S.). Muito quente. Pouco antes de sair, eles colocaram um ventilador pequeno, mas não resolvia nada; o bafo era muito grande; não ajudava em nada (A. L. S.).

Lá a gente sofria muito, porque é um barracão muito grande, tem várias partes e não tinha ventilador lá. E a gente sofria demais com aquele calor, na época do calor tinha gente que passava até mal. (...) eles colocaram outro formato, no telhado, uns tubos grandes (I. I. G.).

Nossa, é um forno. O dia que está frio, é frio. No dia que está calor é um forno. (...) pode colocar ventilador a vontade que não adianta. E nesse lugar que eu trabalhei, não tinha ventilador (C. K. F. L.).

É boa; não tem uma máquina em cima da outra. Aonde eu trabalhava, nossa, era horrível; era uma máquina colada na outra; era muito calor. Faz um pouco de calor porque a telha é um pouquinho baixa (V. P. B.).

O trabalho nas fábricas é realizado, muitas vezes, em barracões, que não possuem ventilação necessária para os trabalhadores. Eles alegaram ser um calor excessivo e insuportável, até mesmo quando o trabalho é realizado durante a noite. A alta temperatura, dentro das fábricas, traz também prejuízos à saúde do trabalhador, pois este transpira muito no exercício de seu trabalho, devido aos movimentos repetitivos e também pelo ambiente quente na fábrica, o que provoca um choque térmico no fim do expediente ao voltarem para casa, resultando em fortes dores de garganta e resfriados. Muitos alegaram que passam mal, por causa do calor. Para compensar esse calor, há em algumas fábricas ventiladores que são ligados na máxima potência e mesmo assim não aliviam a sensação de calor no ambiente de trabalho e, ligados diretamente contra o trabalhador, também poderão causar efeitos negativos em sua saúde.

A noite é bastante calor, a gente sua. É bom que tem uns ventiladores lá, mas (...) é calor [...] mas você tem que ligar no último, eu mesmo, quando eu cortava, quando eu comecei, eles ligavam o ventilador no último (...) eu passava mal, ficava com dor de garganta, porque (...) meu serviço por ser pesado, por movimentar demais, eu suava demais, então, aquele ventilador gelado vindo direto em mim é onde eu passava mal (P. H. R.).

Onde eu trabalhava era muito quente. Podia fazer o frio que fosse, que você não trabalhava de blusa de frio. (...) a temperatura era muito alta por causa das máquinas, eu vivia com o meu rosto cheio de alergia (L. L. M.).

As máquinas quentes também contribuem para que o ambiente tenha uma temperatura elevada. São várias máquinas ligadas ao mesmo tempo, e muitos desses equipamentos soltam vapor quente, indo diretamente no trabalhador que a maneja.

A temperatura é 315º graus [...] não tem ventilador. Hoje, estava 215º e na máquina de trás da minha estava 415º. Minhas costas estava toda molhada e na frente sequinha (...) é barracão, tem janela, mas ela não é muito alta não (M. A. O. S.).

Os trabalhadores, tanto aqueles que executam seus trabalhos dentro de fábricas como em domicílio, acabam sofrendo com a precariedade das condições de trabalho. A alta temperatura pode trazer falta de ar, além de uma desidratação no trabalhador.

Diante de todos esses relatos, percebeu-se que o ambiente de trabalho tem uma temperatura muito elevada nas indústrias. Além de o ar não circular, não há ventilação. Os trabalhadores sofrem com a temperatura alta das máquinas que faz com que muitos fiquem indispostos devido ao calor excessivo.

Dentro dos riscos físicos tem-se a questão das queixas em relação à iluminação no local de trabalho. Muitos trabalhadores se incomodam com a luz dentro das fábricas, conforme os depoimentos abaixo.

Eu acho onde eu trabalho escuro. Escuro, calor demais. É barracão muito fechado. Não tem ar, o telhado é muito baixo, nossa é um calor tremendo (S. A. B.).

A gente não pode deixar a luz muito acessa, por causa do calor. A máquina já é muito quente e se deixar a luz acessa, vai esquentar mais ainda. Aí com a luz, você pode queimar o forro do sapato [...] A noite é outra luz que eles põem lá, só precisa da iluminação da máquina mesmo, que tem uma luz azul para você pôr o forro (M. A. O. S.).

Para mim não era boa. Eu já tinha problema de vista, achava que a iluminação era fraca (A. L. S.).

Tudo clarinho, muito boa. A gente tem que ter certa claridade em volta da gente (...) mas tem que ter uma iluminação bem clara, porque senão dá reflexo com a luz da máquina com o reflexo do ambiente. Um ambiente escuro com a máquina, te dá muito reflexo (...) se eu estou no escuro, mas estou no claro com a máquina, dá sombra na agulha e eu não consigo ver direito (C. K. F. L.).

Ali era um ambiente escuro, pelo menos aonde eu trabalhava, por ser muito grande, é escuro. Eles põem a iluminaria no meio bem baixa e aquilo lá acaba dando calor na gente. Mesmo eles querendo ajudar, colocando a iluminaria, mesmo assim acaba esquentando (T. A. S. N.).

Atrapalhava um pouco, porque a gente ficava em mesa, eu achava ruim, porque eu já tinha acostumado a trabalhar sozinha numa mesa. Ele colocou uma mesa bem grande e aquele monte de mulheres, um monte de coladeiras numa mesa só e a lâmpada ficava bem em cima da mesa, bem baixa (...) tinha vez que a vista até ficava meio embaçada de tanto que a lâmpada vinha (...) era ruim (A. D. C.).

A iluminação não agrada aos trabalhadores que trabalham nas fábricas, ou seja, muitas vezes, ela acaba interferindo em seus trabalhos, seja por estar forte demais, dando reflexos

com o ambiente, e também devido às máquinas, que já deixam o ambiente quente. A luz acaba contribuindo para esquentar mais o local de trabalho ou, às vezes, por ela ser fraca, também acaba prejudicando a vista do trabalhador e o manuseio com as máquinas e agulhas, já que às vezes, a vista deles fica embaçada, podendo até sofrer um acidente de trabalho com a agulha da máquina de costura.

Além de trabalharem em lugares com um ruído excessivo, alta temperatura e terem problemas com a iluminação, os trabalhadores também sofrem com os riscos ergonômicos. Eles não têm nenhum conforto dentro de seu ambiente de trabalho, não apenas em relação à organização do local de trabalho, mas também quanto ao desconforto em relação ao trabalho realizado em pé, à falta de liberdade para executarem o seu trabalho, seguindo padrões e regras que têm que ser cumpridos, ao uso de equipamentos de proteção, que, muitas vezes, incomodam na hora do exercício das atividades laborais, como pode ser observado nos depoimentos abaixo.

Em trabalho é difícil você ter, porque você trabalha o dia inteiro em pé, não pode sentar. Na parte que você trabalha com pó químico, a respiração fica difícil, trabalhar com máscara o dia inteiro, às vezes com óculos de proteção, luva. Então, o conforto não era bom (R. E. S.).

Acaba nem tendo conforto, porque não tem liberdade. Tem trabalho que você faz, se sente bem, tem liberdade; agora tem trabalho que você chega que aquilo parece uma prisão, é regra, é horário, tem que ser cumprido, é pessoa te vigiando, é aquela pressão (I. I. G.).

Faltavam algumas coisas para melhorar o ambiente. (...) Eu tinha que trabalhar em pé, não tinha outro jeito, mas por causa do meu problema também, eu achava melhor, porque doía menos a minha coluna (L. L. M.). Totalmente desconfortável. Você trabalha de boné, de óculos, um respirador, uma luva, um avental e calça, meias grossas e de bota de segurança. Imagina trabalhar 12 horas com tudo isso. E ainda tinha muita poeira, muito barulho e pouca iluminação (A. S.).

O desconforto também se relaciona à falta de um lugar adequado para a realização do trabalho. No depoimento abaixo, uma trabalhadora revelou a impossibilidade de se trabalhar em seu local de trabalho quando chovia, improvisando com latas para que as goteiras não caíssem sobre o couro e o manchasse. Assim, nesse depoimento, ficou esclarecido que, além das más condições de trabalho, os trabalhadores ainda são obrigados a se responsabilizarem pelo cuidado para com as peças do sapato, mesmo quando essas condições não são favoráveis a um ambiente de trabalho saudável, organizado e confortável.

Não, porque quando chovia (...) tinha um muro e atrás desse muro tinha um barranco, então, a água ia entrando pelo tijolo e ficava aquela inundação no chão. Em cima de nós, no telhado pingava. Às vezes, a gente precisava colocar latinha, parar de trabalhar porque na maioria das vezes, a gente trabalha com couro e se manchar, os donos da fábrica vêm em cima da gente (A. D. C.).

A maioria das atividades com calçados é executada em pé, devido ao manuseio com máquinas grandes e pesadas. Quase todas as funções dentro da fábrica são feitas em pé, o que também pode trazer prejuízo ao trabalhador, pois este não pode sentar durante a jornada de trabalho. Os depoimentos abaixo revelam os trabalhos que são realizados em pé nas fábricas.

São os cortadores de aviamento, cortador de vaqueta é em pé. Todas que eu conheço assim, revisão é em pé, revisor de corte, auxiliar de produção. Quem trabalha na esteira também é em pé, alguns ficam em pé, outros não, tem lugar que não precisa, mas a maioria das esteiras é em pé. [...] a maioria das funções é em pé (P. H. R.).

Os cortadores são em pé, a revisora do corte é em pé. Na esteira só os montadores que trabalham sentados. Quem trabalha em Molina é em pé, quem trabalha naquelas fôrmas quentes, quem passa o halogem, o