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2.1 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO NA SOCIEDADE CAPITALISTA

2.1.1 GERÊNCIA CIENTÍFICA: TAYLOR E FORD

O movimento de gerência científica é iniciado por Frederick Winslow Taylor nas últimas décadas do século XIX. O taylorismo pertence à cadeia de desenvolvimento dos métodos e organização do trabalho (BRAVERMAN, 1981, p. 82).

Os objetivos de Taylor eram a racionalização da organização do trabalho. Taylor percebeu que os problemas de baixa produtividade das fábricas se deviam à enorme variação

de tempo e de rendimento no trabalho individual dos trabalhadores. Dessa forma, envolveu-se em buscar normas ou procedimentos possíveis para simplificar as operações, eliminar os movimentos desnecessários, lentos e ineficientes e encontrar um modo melhor, o movimento certo e mais rápido em todos os ofícios (MERLO; LAPIS, 2007).

Taylor percebeu que a capacidade produtiva de um trabalhador de experiência média era sempre maior que a sua produção “real” na empresa. Verificou também que a destreza adquirida com o tempo aumentava a sua produtividade, porém, parte desta era perdida na troca constante de operações, de ferramentas e no deslocamento dentro das fábricas (PINTO, 2007, p. 29).

Para Pinto (2007), essa queima de tempo não se devia somente às condições técnicas em que eram realizadas as tarefas, mas também porque os trabalhadores desenvolviam macetes, junto ao deslocamento no espaço fabril, como forma de controlar o tempo em que trabalhavam e, assim, proteger seus conhecimentos e seus salários, frente a uma produtividade em expansão advinda do emprego crescente da maquinaria e que, pouco a pouco, tornava cada vez mais escassa a necessidade de trabalho humano na produção.

Em relação a essa situação do tempo de trabalho, Taylor chegou à conclusão de que deveria dividir as diferentes atividades em tarefas simples, passando então a ser mediado pelo cronômetro, cujo resultado seria a determinação do tempo real gasto para realizar cada operação.

Para Braverman, um aspecto distintivo do pensamento de Taylor era o conceito de controle, pois antes de Taylor os estágios do controle gerencial sobre o trabalho incluíam

[...] a reunião de trabalhadores numa oficina e a fixação da jornada de trabalho; a supervisão dos trabalhadores para garantia de aplicação diligente, intensa e ininterrupta; execução das normas contra distrações (conversas, fumo, abandono do local de trabalho, etc.) que se supunha interferir na aplicação; a fixação de mínimos de produção etc. (BRAVERMAN, 1981, p. 86).

Porém Taylor, de acordo com Braverman (1981), elevou esse conceito de controle. Para ele a gerência seria um empreendimento frustrado se deixasse ao trabalhador qualquer decisão sobre o trabalho.

De acordo com Pinto (2007), a divisão do trabalho já se encontrava polarizada para poder haver uma separação de funções e interesses entre a administração e a produção. Assim, colocava-se a necessidade de uma subdivisão das funções e suas correlativas atividades, tanto

na esfera da produção quanto da administração, que possibilitaria a cada responsável o seu cumprimento completo.

Volpato (2003) salienta que o taylorismo está baseado em três princípios de organização, que é a separação programada da concepção e da execução das tarefas, ou seja, o administrador se apossa do conhecimento do operário, com o objetivo de acumulação do capital. A intensificação da divisão do trabalho, através do estudo de tempos e movimentos, torna possível a decomposição do trabalho em parcelas elementares e simplificadas, encontrando maneiras mais rápidas de executá-las. O último princípio seria controlar todo esse tempo e movimento, eliminando a porosidade na jornada de trabalho, que seria o tempo não dedicado às tarefas produtivas.

Rago; Moreira (1984) destacam os quatro princípios básicos da administração científica de Taylor. O primeiro princípio era desenvolver para cada elemento do trabalho individual uma ciência que substituísse os métodos empíricos do trabalho, isto é, era necessário reduzir o saber operário. Isto seria permitido através do cronômetro nas oficinas, que avaliaria o tempo e produtividade.

Para Taylor, isso deveria ser feito através de controles rígidos, da divisão do trabalho, da desqualificação dos operários, ordenando a repetitividade e a monotonia das tarefas, pois Taylor havia constatado que os trabalhadores possuíam um controle considerável sobre seu próprio trabalho e, assim, não se esforçavam para produzir mais. E isso foi uma resposta às próprias contradições do modo de organização do trabalho dominante até esse momento, no qual os dirigentes das empresas ignoravam os conhecimentos empíricos detidos pelos trabalhadores. O que permitia que os trabalhadores não produzissem o quanto poderiam (MERLO, 2000, p. 272).

Assim, esse trabalho parcelado, repetitivo era o fruto da apropriação de seu saber, retirando uma parcela de conhecimento sobre seu trabalho e também a sua criatividade.

Taylor de fato exprime, com cinismo brutal, o fim da sociedade americana; desenvolver no trabalhador, no máximo grau, atitudes maquinais e automáticas, despedaçar o velho nexo psicofísico do trabalho profissional qualificado, que exigia uma certa participação ativa da inteligência, da fantasia, da iniciativa do trabalhador e reduzir as operações produtivas ao seu único aspecto físico maquinal (GRAMSCI, 1978, p. 328).

O segundo princípio que Rago; Moreira (1984) destaca seria selecionar cientificamente, depois treinar, ensinar e aperfeiçoar o trabalhador. O trabalho foi

decomposto em parcelas cada vez mais simplificadas, ou seja, cada tarefa passou a corresponder a um posto de trabalho, que deveria ser ocupado por um homem certo. Isto deveria ser feito através das práticas de recrutamento.

Heloani (2002) também destaca as práticas de seleção, dentro desse contexto,

A formulação 'científica' das práticas de seleção e treinamento reflete a consolidação do padrão tecnológico da Segunda Revolução Industrial. Esse padrão passa a exigir formas de administração mais sofisticadas, que aprofundam as exigências de adestramento. Como conseqüência, a seleção deve ser individualizada, e a antiga forma de recrutamento 'em massa' deve ser abandonada nos principais ramos (HELOANI, 2002, p. 30).

O terceiro princípio abordado por Rago; Moreira (1984) consistia em cooperar cordialmente com os trabalhadores para articular todo trabalho com os princípios da ciência que foi desenvolvida, nos outros princípios. Assim, deveria controlar os mínimos detalhes de sua execução.

O quarto princípio, a fase final dessa administração científica, manteria a divisão equitativa do trabalho e das responsabilidades entre a direção e o operário, estabelecendo a divisão do trabalho. Esses quatro princípios formulados por Taylor foram aplicados em todo o mundo industrial, que concentra o poder de decisão nas mãos da direção, excluindo os produtores diretos da participação da concepção e do planejamento da produção, cabendo ao operário apenas realizar as instruções, submetendo-se às ordens impostas pela hierarquia. Assim, à direção cabe dirigir, controlar e vigiar o trabalhador, impedindo que ele se comunique no interior da fábrica (RAGO; MOREIRA, 1984, p. 22; 23).

Seria então “[...] uma radical separação entre o saber e o fazer; entre a concepção, o planejamento das tarefas e a execução; entre o trabalho manual dos operários e o trabalho intelectual das gerências” (MERLO; LAPIS, 2007, p. 20).

Dessa forma, a essência desses princípios de Taylor era garantir a máxima produtividade.

A partir de 1910, a organização científica do trabalho expandiu-se, e a difusão e a consolidação do taylorismo e seus princípios foram utilizados pelo norte-americano Henry Ford. Ford criou a esteira rolante “que desfilava entre os trabalhadores, colocados lado a lado na linha de montagem, unindo tarefas individuais sucessivas, fixando uma cadência regular de trabalho e reduzindo o transporte entre as operações” (MERLO; LAPIS, 2007, p. 22).

Ford, segundo Gounet (1999), choca-se com o antigo regime de trabalho. No antigo sistema, os trabalhadores eram especializados, sendo que no conjunto das operações que este

efetuava, tomava um tempo enorme, por exemplo, procurar a peça certa para colocá-la no lugar certo e modificá-la, adaptá-la ao uso no automóvel. Ford muda isto, utilizando-se dos princípios tayloristas.

Gounet (1999) destaca os passos dessa transformação. Ford atira-se à produção em massa, que seria a racionalização ao extremo das operações efetuadas pelos operários, no sentido também de combater os desperdícios, principalmente do tempo. Uma segunda transformação foi o parcelamento das tarefas, isto é, o trabalhador faz os mesmos gestos repetidos durante a jornada de trabalho. Isto significa que o trabalhador não precisa ser um artesão especialista em mecânica. Assim, acontece a desqualificação do trabalhador.

Outro componente de transformação é a esteira rolante, que permite aos operários, colocados lado a lado, realizarem as operações que lhes cabem. Isto permite uma produção fluida que limita ao máximo os estoques e o transporte entre operações.

A quarta transformação que Gounet (1999) destaca foi reduzir o trabalho do operário a alguns gestos simples e evitar o desperdício de adaptação do componente ao automóvel. Assim, padronizam-se as peças. Desta forma, o mesmo elemento é montado em um mesmo modelo. Depois dessa transformação, Ford poderia automatizar suas fábricas.

Com o fordismo, a divisão e a parcelização das tarefas foram intensificadas. A divisão de atividades entre os trabalhadores já estava bem avançada na indústria, devido ao sistema de Taylor e a novidade introduzida por Ford, com a linha de produção em série

[...] foi a colocação do objeto de trabalho num mecanismo automático que percorresse todas as fases produtivas, sucessivamente, desde a primeira transformação da matéria-prima bruta até o estágio final (como o acabamento do produto, por exemplo). Ao longo dessa linha, as diversas atividades de trabalho aplicadas à transformação das matérias-primas ou insumos, foram distribuídas entre vários operários fixos em seus postos, após terem sido suas intervenções subdivididas em tarefas cujo grau de complexidade foi elevado ao extremo da simplicidade (PINTO, 2007, p. 42). Heloani destaca que “o fordismo reformula o projeto de administrar individualmente as particularidades de cada trabalhador no exercício dos tempos e movimentos [...]”. Desta forma, almeja limitar o deslocamento do trabalhador dentro da fábrica, onde o trabalhador será dividido por meio de esteiras, ou seja, a administração dos tempos se dará de forma coletiva, pela adaptação do grupo de trabalhadores ao ritmo que é imposto pela esteira (HELOANI, 2002, p. 45).

Assim, a busca da diminuição dos tempos ociosos levou os trabalhadores a um ritmo muito mais automático, executando várias vezes os mesmo movimentos repetitivos dentro da linha de montagem.

O fordismo consolidou um novo modelo de desenvolvimento, através da produção em massa e pelo consumo de massa. Para Harvey, o inovador em Ford foi

[...] seu reconhecimento explícito de que a produção de massa significava consumo de massa, um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista (HARVEY, 1992, p. 121).

O modelo taylorista/fordista, com suas particularidades, prevaleceu como modo de organizar o trabalho e a produção nos países capitalistas desenvolvidos até meados dos anos 1970, que era a conhecida “era de ouro” do capitalismo, com crescimento econômico e relativa redistribuição de renda, que já estava chegando ao fim. O modelo de produção em massa exigia crescimento estável em mercados e consumos constantes.

Dessa forma, os países capitalistas vivenciaram, na década de 1970, um período de crise, em que se viam as lutas dos trabalhadores diante desse trabalho parcelado, repetitivo, especializado, com um controle rígido.

O taylorismo, modernizado pelo fordismo, é o método de administração do trabalho aplicado durante mais de meio século, entre 1920 e 1970, no mundo inteiro. Sua crise começou a surgir com a revolta do operariado, articulado com o movimento estudantil, nos idos de 1968. Nesse período, começam a encontrar seu fim os chamados “trinta anos gloriosos” [...] (DAL ROSSO, 2008, P. 61).

2.1.2 A CRISE DO PADRÃO TAYLORISTA – FORDISTA E A EMERGÊNCIA DO