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A cidade de Franca situa-se ao nordeste do Estado de São Paulo, a cerca de 400km da capital do Estado. O município abrange uma área de 606Km2

. Os primeiros resultados do Censo 2010 apontam 318.785 o número de habitantes, dos quais 155.539 são homens e 163.246 são mulheres. O total da população urbana, no ano de 2010, foi de 313.128; e a população rural foi de 5.657 pessoas (IBGE, 2010).

O relevo da área urbana de Franca é composto por três colinas, separadas por cursos d´água como o Ribeirão dos Bagres e o Córrego do Cubatão: a colina mais alta é a da Estação,

seguida pela colina Central e a mais baixa é a colina de Santa Rita. A zona urbana de Franca aparece na parte mais elevada do município que corresponde à Serra de Franca. Essa área mais alta do relevo de Franca, conhecida também por Espigão, foi aproveitada para o estabelecimento de ferrovias e rodovias, antigas e modernas, devido à facilidade de construção das estradas em áreas quase planas.

Na economia da Região Administrativa (RA) de Franca, destaca-se a indústria de calçados. Este município responde por parte significativa da produção nacional de calçados. Boa parte dessa produção é destinada à exportação. A indústria de calçados também mobiliza outras atividades importantes relacionadas a insumos, máquinas e equipamentos para as empresas. A economia regional também é movida por outras indústrias de transformação, como metal-mecânica, moveleira, de alimentos e bebidas, de produtos elétricos, de confecções, de açúcar e álcool e de fertilizantes. Na agricultura, Franca se destaca no cultivo da cana-de-açúcar (FUNDAÇÃO: SEADE, 2011).

A cidade de Franca é destaque na fabricação de calçados masculinos de couro, conhecida como a capital do calçado. É sede de importantes indústrias de pequeno a grande porte.

Para entender a história do calçado de Franca, é de suma importância fazer um resgate histórico da produção coureiro-calçadista na cidade.

Muitos autores, como Chiachiri Filho (1986), destacam a localização em que o município se encontra. Na chamada Estrada dos Goyazes, encontra-se a primeira fase do povoamento, em relação a mineração no século XVIII.

Cortando o Sertão que se achava entre os Rios Pardo (a oeste), Grande (ao norte) e os indecisos limites da Capitania de São Paulo com a de Minas Gerais (a leste), a “Estrada dos Goyazes” possibilitava a afluência de viandantes, mineradores, e negociantes em direção ao ouro de Vila Boa e seus arredores. Ao longo da Estrada iam florescendo os pousos. Colocados estrategicamente para facilitar a caminhada dos “andantes” por aquele sertão, os pousos constituíram a primeira forma que assume o povoamento da região. São eles modestos núcleos populacionais cuja esperança de desenvolvimento fenece à medida que decai a produção das minas de Goiás. Esta primeira fase de desbravamento e povoamento é obra dos paulistas (CHIACHIRI FILHO, 1986, p.16).

Guiraldelli (2006) destaca que essa estrada correspondia à rota de passagem mercantil que interligava São Paulo ao sertão de Goiás e Mato Grosso. A sua importância se deu por meio da circulação de produtos e de gado entre os Estados. E ainda porque pelo Caminho dos

Goiases, também conhecido como Estrada do Sal, foram surgindo diversos núcleos populacionais.

Tosi destaca que “[...] ao longo da estrada de Goiás; à medida em que os transportes foram evoluindo da tropa para a boiada e, destas para os carros de bois, a Estrada Real passou a ser denominada a Estrada do Sal” (TOSI, 1998, p. 37).

Palermo (1980) também afirma que Franca também tinha uma abundância em gado e isso pode ter levado a uma iniciativa econômica que permitisse que Franca se transformasse em um centro industrial de couros, como também um centro leiteiro, com a criação de gado e, por seguinte, como o maior parque industrial de calçados, devido à abundância da matéria- prima, como o couro.

Navarro (2006) afirma que, apesar da grande importância dessas atividades, o comércio de sal e a atividade criatória não são suficientes para explicar o surgimento e a expansão da atividade coureiro-calçadista de Franca.

A história de Franca remonta ao povoamento do Sertão do Capim Mimoso, no século XVIII, quando a produção aurífera começa a declinar, com a criação de gado (NAVARRO, 2006).

Em relação a essa atividade, Tomazini destaca

[...] a pecuária ia, aos poucos, ganhando preponderância econômica. A criação de gado suíno, eqüino, ovino, caprino e, sobretudo, vacum - além de gerar pujante comércio de intermediação, propiciou, em virtude da abundância de couro, o desenvolvimento de atividades artesanais de curtimento, a instalação de selarias voltadas à confecção e conserto de arreios para tropeiros e viajantes, bem como a implantação de oficinas produtoras de calçados artesanais: botas, chinelos, sandálias de couro cru e “sapatões”. Aqui reside o germe da produção calçadista francana (TOMAZINI, 2003, p. 114; 115).

Com a expansão do município, Franca torna-se a "Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Franca e Rio Pardo", em 1805; e em 1824 é elevada à condição de Vila Franca do Imperador. Para Chiachiri Filho (1986), Franca, na verdade, já teria nascido freguesia, pelo motivo da expansão de seu povoamento residencial e o crescimento do número de estabelecimentos comerciais, pelo Sertão, na Estrada de Goyazes. Aí forma-se o arraial, sede da Freguesia.

A importância do significado econômico da pecuária, do comércio, também fez surgir em Franca outras atividades e, de acordo com Chiachiri Filho, os sapateiros, carpinteiros, etc.

[...] em 1813, por exemplo, surgem os alfaiates [...]. [...] O aumento e desenvolvimento econômico da população propiciam, em 1820, o estabelecimento no arraial (ou nos seus arredores) de um cirurgião, de um “funcionário”, de um “artista” e de dois mestres de primeiras letras. Todas essas profissões, dependentes da sociedade rural, dão à Freguesia um certo ar urbano. Carpinteiros, tropeiros, seleiros etc., completam o quadro (CHIACHIRI FILHO, 1986, p. 169).

De acordo com Tosi (1998), baseado em Deffontaines37 (1945), a criação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Franca ocorreu em 1805, no período em que Antônio José de Franca e Horta governou São Paulo – 1802 a 1811.

Tosi (1998) também destaca que em 1816 apareceu a Vila Franca Del Rey e em 1824 essa Vila acabou sendo denominada de Franca do Imperador. A Franca do Imperador é elevada à categoria de cidade em 1856.

Até a década de 1850, Franca era um simples entreposto comercial, por onde passavam as mercadorias e o comércio era à base de troca, mas nos anos seguintes, a partir de 1854, a situação começa a mudar e a pecuária e a condição de entreposto de sal passam a coexistir com os engenhos de cana, que permitiram um crescimento da produção mercantil, a produção como valor de troca. Nas décadas seguintes, expandem-se as lavouras de café, a agricultura destinada à exportação. Em consequência, começava a se expandir a produção de mercadorias e a se desenvolver a divisão social e espacial do trabalho nos municípios onde a cafeicultura se alastrava, como foi o caso de Franca (NAVARRO, 1998, p. 26; 29).

[...] a Fazenda agrícola de produção em escala [...] chegou à região apenas com a cafeicultura, no último quartel do século XIX e adquiriu sua maior expressão com a chegada da ferrovia em 1886 em Batatais e em 1887 em Franca. Até então, as comunicações e os transportes eram executados por meio de tropeiros, com os seus comboios de mulas, dos boiadeiros, que tangiam rebanhos inteiros, e dos carreiros, com suas juntas de bois (TOSI, 1998, p. 33).

Os trilhos seguiam os cafezais daquela região, produto com grande importância na economia brasileira a partir da segunda metade do século XIX.

Paralelamente à expansão cafeeira, começava a prosperar em Franca, a indústria de curtumes.

Suzigan destaca que, ao final o século XIX, a expansão ferroviária foi um estímulo à atividade artesanal local de artigos de couros, por proporcionar o atendimento do mercado de 37 DEFFONTAINES, Pierra. Regiões e paisagens do Estado de São Paulo: primeiro esboço da divisão regional.

trabalhadores rurais, prósperos com a cultura cafeeira. Porém, a produção ainda guardava as características de uma atividade tipicamente artesanal (SUZIGAN, 2000).

A expansão das atividades artesanais, decorrentes da acumulação cafeeira, pode ter impulsionado o florescimento da indústria calçadista, pois utilizava o couro como matéria- prima. Assim, nas últimas décadas do século XIX, proliferaram os curtumes, as sapatarias e oficinas artesanais no local.

O primeiro curtume instalado na cidade foi denominado “Cubatão”, construído em 1885 pelo Padre Alonso Ferreira de Carvalho, às margens do rio Cubatão (NAVARRO, 1998, p. 31; 32). De acordo com Navarro (2006), os artigos de couro para uso próprio e alguns dos comercializados ou mesmo trocados, elaborados com couro cru por trabalhadores pouco qualificados, começam agora a ser produzidos com couros curtidos, de vários tipos, e como mercadorias, por trabalhadores que tendem a se especializar no ofício e a exercê-lo no âmbito urbano (NAVARRO, 2006, p. 54).

Segundo Barbosa (2004),

Para atender as necessidades dos tropeiros e mercadores que transitavam pela afamada “Estrada de Goiases”, um dos mais importantes caminhos de boiadas, os artesões locais, desde a década de 1820, já produziam arreios, sapatões de atanado, sandálias, coberturas para carros de bois, bainhas para facas, lombilhos, silhões, badanas e canastras, entre outros artigos de couro. Certamente, foi o fluxo intenso de couros por esta estrada que estimulou o surgimento de curtumes em Franca já na década de 1880 (BARBOSA, 2004, p. 19).

Em 1906, é criado o segundo curtume, conhecido como curtume Progresso. E em 1910, a cidade de Franca já contava com três curtumes.

Até 1908 não eram muitas as fábricas de calçados na cidade, o trabalho era todo manual, para o qual se utilizavam de instrumentos como o prego e a banqueta. Além disso, produziam chinelos, calçados grosseiros, utilizados por trabalhadores rurais, conhecidos como sapatões, botas e outros tipos de calçados (NAVARRO, 1998, p. 32).

Segundo Tomazini (2003), em 1918, Carlos Pacheco de Macedo, um antigo carreiro natural de Formiga (MG), adquiriu o Curtume Progresso, remodelando seu maquinário importado da Alemanha. Juntamente com um sócio, instalou, em 1921, a “Calçados Jaguar”, primeira indústria de calçados da cidade a utilizar máquinas e a produzir em larga escala.

O início do século XX marca o aparecimento da atividade manufatureira em Franca. Em 1910 já havia 18 fábricas de calçados na cidade, que produziam

basicamente os “sapatões” utilizados na zona rural. Em 1921, é fundada a empresa pioneira na cidade, a Calçados Jaguar, que diferentemente das outras fábricas já existentes possuía um processo altamente mecanizado, com maquinário oriundo da Alemanha. Porém, a Jaguar veio à falência logo em seguida, em 1926 (SUZIGAN, 2000, p. 25).

Tosi (1998) destaca que para a montagem da “Jaguar” foram necessários novos equipamentos, que exigiram uma reestruturação das empresa. A partir disso, a Jaguar não deixara de ser selaria e comércio de matéria-prima e insumos para ser tão somente fábrica de calçados, porém verificou-se um significativo investimento em maquinário, que posteriormente acabou conduzindo a uma especialização das atividades da empresa voltada para calçados.

Um filme sobre a “Calçados Jaguar”, com cerca de 10 minutos de duração, revela aspectos do funcionamento dessa empresa. É possível observar como o processo de trabalho era estruturado, destacando a produção seriada com o uso de máquinas e a divisão do trabalho dentro da fábrica. Navarro (1998) destaca que a produção já estava organizada em seções na “Jaguar”. A fábrica incorporava a mão de obra feminina e de forma discriminatória, conforme ressalta a autora em relação à seção de pesponto, “[...] essa seção empregava pelo menos 30 trabalhadores, em sua maioria mulheres. Apesar de executarem as mesmas tarefas que os homens, as mulheres recebiam uma remuneração inferior" (NAVARRO, 1998, p. 38).

Essas formas de trabalho visam ainda mais ao prolongamento da jornada de trabalho e à própria intensificação do trabalho dentro das fábricas.

Com relação ao maquinário, Tosi (1998) baseado nesse filme, sobre a “Calçados Jaguar”, percebeu que o maquinário embora fosse vultoso, parecia um tanto obsoleto para o ano de 1920. “Basicamente, tratavam-se de duas fileiras de máquinas, estando cada qual posicionada em função de um eixo único movido por motor elétrico de grandes proporções para a época [...]. Ao eixo estavam atadas correias que movimentavam as máquinas” (TOSI, 1998, p. 164).

Ferreira destaca que o processo de trabalho na Jaguar,

[...] vai permitir a apropriação de força de trabalho suplementar, como o trabalho feminino, que a Jaguar vai empregar em grande escala, o prolongamento da jornada de trabalho e a própria intensificação do trabalho, pois o ritmo da produção passa a ser ditado pela máquina (FERREIRA, 1989, p. 51).

Barbosa (2004) atesta que as empresas que impulsionaram a consolidação do parque industrial calçadista da cidade, passando pelas décadas de 1930, 1940, 1950 e 1960, inserem- se dentro de um contexto da falência da “Calçados jaguar”, em fins dos anos 20 e início dos anos 30, isto é, no momento da crise cafeeira.

Em 1926, é decretada a falência de Carlos Pacheco, mas a sua importância foi de grande destaque ao desenvolvimento das indústrias, conforme afirma Ferreira,

[...] trouxe em seu bojo a rica potencialidade dos novos métodos produtivos para o desenvolvimento industrial e para a definitiva ascensão das formas capitalistas de produção, com a substituição das importações e a criação de um mercado interno capaz de absorver a produção calçadista em escala ampla, que os novos métodos e processos de trabalho proporcionaram (FERREIRA, 1989, p.141).

Tomazini (2003) destaca que já na década de 1930 a mecanização já dava grandes saltos. Além da Honório & Cia, que posteriormente tornou-se a Calçados Peixe, surge outra importante indústria de calçados na cidade, de propriedade de Antônio Lopes de Mello, que existia desde 1921 e passa em 1936 a importar máquinas da Alemanha.

O processo de industrialização em Franca começou a se intensificar por volta dos anos de 1930, “[...] utilizando máquinas e a produção fabril, substituindo os artesãos do couro, detentores dos meios de produção e fabricantes do produto em pequenas escalas” (FARINELI, 2003, p. 82).

Assim, segundo Tosi (1998), vão surgindo novos grupos econômicos na cidade, como a Samello e a Amazonas. Para Farinelli,

O início da produção em larga escala e o advento da divisão do trabalho transformou o artesão do couro, que em sua atividade acompanhava todo o processo de confecção do calçado, em “oficial do sapato”, instalando e intensificando a fragmentação e a desqualificação das tarefas. Substitui-se o artesanato pela manufatura (FARINELLI, 2003, p. 82).

Navarro (2006) destaca que nesse período ocorreu a crise de 192938, que fez diminuir a demanda por calçados e, nesse quadro recessivo, a indústria de calçados alegava estar em superprodução.

38 A crise de 1929 é também denominada como “A Grande Depressão” e foi a maior de toda a história dos EUA. A Crise atingiu o mercado de ações e em 24 de outubro de 1929 ficou conhecida como a “quinta-feira negra” em que ocorreu o crack da Bolsa de Valores de Nova York. Essa crise foi marcada pela superprodução e pelo consumo, propagando-se dos países centrais para a periferia do mundo capitalista. Ela se distinguiu das outras

Nos anos de 1929, a situação das indústrias de calçados já era decadente, e entre os anos de 1933 e 1934, segundo Tosi, a situação parece ter ficado mais aguda para as indústrias. De acordo com Tosi,

Os produtos passavam a ser classificados como sapatos de couros, de lona, chinelos de tecido, chinelos de couro, sapatos para homens e meninos, botinas para homens e meninos, sapatos para senhoras e meninas, sapatinhos de crianças, sandálias, tamancos, botinões, etc. Assim, verificava-se um esforço na busca de matérias-primas mais baratas, como tecidos e lonas, uma produção destinada a mercados e clientelas específicos e o surgimento de produtos extremamente baratos, fazendo com que o acesso aos produtos fosse aberto àqueles segmentos que, anteriormente, só de forma esporádica tinham o hábito de calçar os pés (TOSI, 1998, p. 220).

Pouco depois, desse período, a economia brasileira começa a se recuperar da crise. “O setor calçadista, estimulado pela retomada da tendência expansionista do mercado interno [...] beneficiou-se também do acordo firmado entre o Brasil e a Alemanha, em 1937, que permitia a importação de maquinaria para a produção de calçados” (NAVARRO, 2006, p. 69; 70).

Outro ponto importante que a autora destaca também é acerca da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que pode ter se tornado também um obstáculo ao progresso técnico, dificultando a reposição de peças para a maquinaria, principalmente a de origem europeia, e maiores dificuldades encontravam aquelas empresas que utilizavam máquinas alemãs ou tchecas. Por outro lado, a Guerra também trouxe um aumento da demanda, que estimulou a produção do país.

Seguindo essa conjuntura, Navarro (1998) destaca que, tempos mais tarde, dentro desse âmbito competitivo, a empresa norte-americana United Shoe Machinery Corporation (USMC) adquiriu as máquinas importadas por Lopes de Mello, substituiu-as por maquinário

crises por ser muito mais ampla e com maior gravidade. Atingiu partes do mundo de forma tão violenta que provocou uma desorganização geral do sistema econômico capitalista (PEREIRA, 2006).

Antes da Primeira Guerra, os EUA haviam se tornado o maior credor, emprestando dinheiro a outros países para que adquirissem produtos norte-americanos. Isto fazia com que a população consumisse cada vez mais. “Além da escalada na produção e no consumo, o galope dos Estados Unidos rumo à liderança econômica do mundo fora acompanhado – desde 1927 – por uma febre incontrolável de especulações com ações” (BRENER, 2002, p. 07). A economia dos EUA presenciava uma fase de superaquecimento, porém em 1929, a especulação nas Bolsas não mais podia ser acompanhada pelo crescimento da produção, pois não havia mais mercados. O juro alto tornava o dinheiro mais caro e inibe os empréstimos às atividades produtivas. Em outubro de 1929, as ações da Bolsa de Nova York haviam perdido 40% de seu valor. Milhares de especuladores estavam na miséria. Com essa crise, os norte-americanos perderam grande parte de sua capacidade de importação de produtos, por exemplo, do café brasileiro, que representava 70% dos negócios com o exterior. Assim, a quebra da Bolsa de Nova York bloqueou, por muito tempo, o maior mercado do café brasileiro que eram os EUA, e como consequência disso foi o enfraquecimento da oligarquia cafeeira (BRENER, 2002).

norte-americano, com sistema de leasing39. Assim, a USMC monopolizou o mercado de máquinas para calçados na cidade de Franca, o que levou a um salto na produção de pares de calçados.

A calçados Samello S/A foi constituída em 1953, por Miguel Sábio de Mello e de acordo com Navarro,

A Calçados Samello S/A é, certamente, a empresa calçadista brasileira que mais incorporou a orientação da United Shoe na confecção de calçados. Essa empresa tornou-se referência para o setor calçadista brasileiro e latino- americano, desde meados de 1950, por incorporar e propagar aquelas diretrizes produtivas, e essa ação propagadora integra sua filosofia (NAVARRO, 2006, p. 81).

Juntamente com seus familiares, Miguel Sábio de Mello realizou uma viagem aos Estados Unidos em 1947, visando conhecer os avanços tecnológicos da produção de calçados. Nessa viagem trouxe o conhecido mocassim40, que revolucionaria os processos convencionais de confecção de calçados (BARBOSA, 2004; NAVARRO, 1998).

Assim, em meados da década de 1940, é que se começa a desenvolver a indústria calçadista de Franca, processo iniciado pouco antes, com o advento do Estado Novo e beneficiário de sua política econômica. E no ano de 1950 é que a produção de calçados assume o comando da economia do município.

Nas décadas de 1950 e 1960 o parque industrial calçadista francano se expande e esse estímulo à industrialização que o país vivenciava, traduziram para o setor calçadista o incremento da produção nacional, possibilitando, contudo, a importação da maquinaria. Isso favoreceu a ampliação do número de empresas na cidade.

A produção francana de calçados se expandiu. Ferreira (1989) revela que nos anos de 1950, esta representava 48,7% do total da produção industrial desse município. E em 1960, o valor já correspondia a 52,7% da produção realizada na cidade de Franca e esse percentual se elevou para 61,2% em 1965.

39 Arrendamento mercantil. Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos da Lei 7.132, de 26 de outubro de 1983, “o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta” (LEI 7.132 de 26 de outubro de 1983. BRASIL, 1983b).

40 Este produto era artesanato indígena norte-americano, o modelo representava uma inovação, por ser montado de baixo para cima, a partir do solado e era mais leve do que o palmilhado que era até então produzido nas indústrias de calçados de Franca (TOMAZINI, 2003, p. 120).

Essa facilidade para obtenção de máquinas e o crescimento do mercado consumidor permitiram que algumas das fábricas de calçados francanas ampliassem as suas instalações. Para Navarro,

A incorporação cada vez mais de maquinaria à produção permitiu que as empresas calçadistas que se expandiam passassem a ampliar a produção dos calçados tradicionalmente confeccionados em Franca, como as botas, os ‘sapatões’ e os sapatos montados que passaram a ser produzidos em diferentes sistemas de produção (NAVARRO, 2006, p. 91).

Com a intensificação da mecanização da produção calçadista, nos anos de 1950, várias operações utilizadas na produção dos ‘sapatões’ e na produção do sapato montado, como o corte de aviamentos e o pesponto, passaram a ser realizadas no interior das fábricas que se ampliavam. Até então, a maioria dessas operações era realizada manualmente em domicílio ou bancadas (Idem, p. 94).