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7 AS CARACTERÍSTICAS DOS ADOLESCENTES AUTORES DE ATOS

7.3 CONDIÇÕES DOS ALOJAMENTOS

As Unidades do Centro de Atendimento Sócio–Educativo ao Adolescente – CASA apresentam-se díspares daquilo que determina a lei referente à estrutura predial. Chegando ao local percebe-se uma estrutura típica de presídios, muros altos, pouco arejados e escassos locais para práticas esportivas, limitando-se a uma quadra de futebol e pátio (que por vezes é a própria quadra esportiva) para permanência do jovem nos períodos em que não está em atividade.

Apesar do estatuto prever que as entidades devem oferecer instalações físicas em condições de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança, bem como objetos necessários à higiene pessoal, não foi isso que verificamos nas visitas in

loco.

A limpeza dos espaços de convivência dos jovens em algumas Unidades é realizada pelos próprios adolescentes, o que não está errado partindo-se da idéia que cuidar da limpeza do local em que convivem faz parte da formação educacional, bem como a prática da higiene, tanto individual como coletiva.

Alguns adolescentes chegam à Febem sem o hábito diário de escovar os dentes e tomar banho. O local onde moram, alguns oriundos de favelas e morros,

não possui saneamento básico, nem condições mínimas de salubridade, sendo necessário incutir no jovem a noção de lugar e pessoa saudável.

A Unidade deve fornecer ao adolescente condições de higiene contrárias a que ele está habituado, sendo seu papel manter as condições mínimas de habitabilidade, além de educá-los para a saúde.

A maioria dos quartos possui porta inteiriça (chapa de aço) com uma janelinha apelidada pelos jovens de “robocop”, uma janela pequena e alta, sem ventilação, com piso e cama de cimento, colchão, um único lençol e travesseiro. Alguns quartos possuem banheiros, o que torna o local ainda pior, com forte cheiro de esgoto.

A maioria dos adolescentes, 45%, considera ruins as condições de higiene dos alojamentos e locais em que convivem, 26% designou como média a qualidade da higiene e apenas 29% dos entrevistados acham boa as condições de higiene da Unidade. Vejamos o gráfico abaixo:

Gráfico 3: Condições de higiene dos alojamentos

Condições de higiene dos alojamentos

29% 26% 45% 0% Bom Médio Ruim Sem informação

Tabela 13 - Condições de higiene dos alojamentos Considera o alojamento em condições de

higiene % Nº de adolescentes entrevistados Bom 29% 104 Médio 26% 93 Ruim 45% 162 Sem informação

Fonte: Elaborado por Naíma Worm, com base na pesquisa realizada.

Quando cumprem sanção disciplinar de reclusão nos quartos a situação se agrava, freqüentemente os jovens são acometidos por doenças de pele como escabiose e micoses em geral, e que não são tratadas adequadamente. Nestes casos, os jovens necessitam trocar as roupas, toalhas e lençóis diariamente, além do banho de sol e uso de medicamentos, sendo que isso ocorre precariamente. Estas informações também foram verificadas in loco pela pesquisadora, na Unidade 37 Araucária e no Complexo Raposo Tavares, em 06 e 07 de junho de 2006.

Os adolescentes queixam-se que o tempo destinado ao banho é insuficiente, e que a demora na troca de toalhas e roupas agrava ainda mais as situações infecciosas.

Em média, os internos recebem uma única muda de roupa por semana, na véspera da visita de seus familiares o que é insuficiente diante do fato de que estes adolescentes jogam bola, tomam, no máximo, dois banhos por dia e possuem forte atividade hormonal. No verão o mau cheiro entre os internos é ainda mais forte.

Em algumas Unidades os adolescentes além de exalarem forte cheiro, apresentam-se com roupas velhas, algumas rasgadas e manchadas. Informaram possuir uma única cueca, que é lavada durante o banho e permanece para secar à noite.

O conceito de dignidade na adolescência deve ser encarado inserindo também a aparência, fator de elevação da auto-estima e confiança. Ademais, se o analisarmos quando fora do Centro de Atendimento Sócio-Educativo ao Adolescente – CASA percebemos sua preocupação com a aparência no uso de roupas caras e de marca.

A Instituição deve investir em hábitos de higiene, incluindo o fornecimento freqüente de uniformes, limpos e asseados, não devendo permitir que familiares levem roupas, pois isso criaria castas sociais dentre os jovens, o que prejudicaria a integração e a interação coletiva.

Ressaltamos a necessidade de cuidar da aparência do jovem, fornecendo- lhe uniformes limpos e com uma freqüência de, no máximo, um jogo a cada dois dias. É importante fortalecer a auto-estima do jovem, inclusive no tocante à sua aparência e higiene.

Com relação aos produtos de higiene pessoal, as famílias são autorizadas a levar sabonetes, desodorantes e até xampu, tudo dentro dos padrões estabelecidos pela Direção da Unidade, como marca, cor do sabonete e quantidade. Os adolescentes reclamam da escassez de produtos e o fato de não serem utilizados, com exceção das escovas de dente e barbeadores, individualmente, referindo-se principalmente ao uso coletivo do sabonete, que passa micose de um para o outro.

Gráfico 4: Freqüência dos produtos de higiene fornecidos pelas Unidades

Freqüência de produtos de higiene pessoal fornecidos pela Unidade

53% 0%

19% 28%

Uma vez por semana

Duas vezes por semana A cada 15 dias

A cada 30 dias

Tabela 14 - Freqüência de recebimento de objetos necessários à saúde Freqüência com que recebe objetos

necessários à sua higiene pessoal

% Nº de adolescentes

entrevistados

Duas vezes por semana

Uma vez por semana 53% 191

A cada 15 dias 19% 69

A cada 30 dias 28% 100

Total 100% 360

Fonte: Elaborado por Naíma Worm, com base na pesquisa realizada.

As Unidades que apresentam melhores condições de higiene são as localizadas fora dos grandes complexos, a exemplo dos Internatos visitados.

É necessário a implementação de uma política pela Unidade voltada à higiene e à limpeza do local de convivência, como parte da formação educacional e cultural do jovem.

O novo modelo de Unidades de internação apresentado pela Febem em 2005, dentre os quais já foram construídos em vários municípios, como: Campinas, Sorocaba, Botucatu, entre outros, com capacidade para quarenta adolescentes apresenta algumas falhas visíveis até para leigos, no que diz respeito à arquitetura e à engenharia.

As Unidades são verticais, com três pisos, de maneira que a área de lazer dos jovens fica localizada na parte superior, os quartos no piso intermediário e as salas de aulas e oficinas na parte inferior. Ocorre que o jovem não tem contato com o solo, um espaço em que possa respirar fora de quatro paredes. A sensação de prisão é sufocante até para quem visita o local.

Além do que, em caso de rebelião, os funcionários ficam em situação complicada, pois as salas destinadas a eles localizam-se no fim do corredor dos quartos dos adolescentes, ou seja, os mesmo facilmente impedirão uma rota de fuga dos funcionários em caso de emergência.

Por outro lado, deve-se destacar a solução encontrada para os setores administrativo e técnico, localizados fora do prédio dos adolescentes. Isto acontece em razão das constantes perdas de arquivos e documentos em ocasião das rebeliões, onde os internos queimam todos os setores das Unidades. Desta forma a parte documental estará protegida de qualquer eventualidade.

A manutenção do arquivo contendo o histórico do adolescente é importante para o registro de suas atividades, de atos indisciplinares, notas escolares, cursos profissionalizantes, estado físico e mental e quaisquer outros registros que mereçam destaque.

Além do mais, nas ocasiões em que ocorrer a sua transferência, seu histórico o acompanhará e assim possibilitará à nova equipe interdisciplinar tomar conhecimento do adolescente e da sua trajetória dentro da instituição.