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O Superior Tribunal de Justiça utiliza em suas decisões os termos regressão e progressão da medida, referindo-se a primeira quando o adolescente deixa uma medida mais branda para uma medida mais rígida e o inverso quando se trata da progressão.

O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a possibilidade de mudança da medida aplicada para outra mais grave caso o adolescente que cumpra sentença em meio aberto reitere a prática de infrações graves ou descumpra, reiterada e

injustificadamente, a medida imposta.72

Nessa última hipótese, a “internação-sanção”, assim denominada pela doutrina, não poderá ultrapassar o período de três meses, e obedecerá dois requisitos: reiteração e ausência de justificativa plausível, que deverá ser analisada conforme critério do magistrado que acompanha a execução da sentença. Assim tem entendido o Tribunal de Justiça de São Paulo, conforme julgado AI 24.538-0/0,

de ilegalidade. Face à gravidade dos crimes praticados, fato análogo ao previsto no art. 12 da Lei 6.368/76, equiparado a hediondo, e art. 10, § 2º da Lei 9.437/97, deve o Juiz aplicar medida sócio-educativa mais adequada à reeducação e reabilitação social do menor infrator. Resultado: Ordem denegada. 71 MARÇURA, Jurandir Norberto; CURY, Munir; PAULA, Paulo Afonso Garrido de. Estatuto da Criança anotado. 3. ed. ver. e atual. São Paulo: Editora Revistas dos Tribunais, 2002. p. 111.

72 Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando: II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;

III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. § 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior a três

que indeferiu conversão da medida de semiliberdade em liberdade sem a

demonstração inequívoca de reiteração no descumprimento injustificado.73

Ainda, deverão ser observados nas duas hipóteses, no cometimento reiterado de faltas graves e no descumprimento da medida em meio aberto, o devido processo legal, qualquer que seja a ampla defesa e o contraditório, para que a partir daí seja aplicada uma medida mais grave.

João Batista da Costa Saraiva afirma ser cabível a regressão com a aplicação da internação-sanção frente ao descumprimento reiterado e injustificado da medida em meio aberto, tanto para as medidas aplicadas mediante sentença em processo de conhecimento, como nas homologadas após a concessão de remissão

pelo Ministério Público.74

Os artigos 127 e 128 do Estatuto da Criança e do Adolescente referem-se expressamente à opção em aplicar qualquer das medidas sócio-educativas em meio aberto, com exceção da semiliberdade, ao adolescente favorecido pela remissão, proposta pelo representante do Ministério Público e homologada pelo Juiz, medida mais grave; e ainda, a possibilidade de revisão judicial a qualquer tempo, mediante pedido expresso do adolescente ou de seu representante legal, ou do Ministério Público.

Logo, a concessão da remissão não impede a aplicação das medidas sócio-educativas de advertência, prestação de serviços à comunidade, reparação do dano, liberdade assistida e medidas protetivas previstas no artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

73 TJSP AI 24.538-0/0, relator Des. Nigro Conceição. Recurso do Ministério Público contra decisão do magistrado que determinou o reencaminhamento de adolescente que cumpria medida de semiliberdade. Inviabilidade de conversão em internação com base no art. 122, III do ECA, sem demonstração inequívoca de reiteração no descumprimento injustificado. Pesquisa feita no site www.tj.sp.gov.br em 04 de abril de 2007.

74 SARAIVA, João Batista Costa. Direito Penal Juvenil: Adolescente e o ato infracional: Garantias Processuais e Medidas Sócio-educativas. 2. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002. p. 62.

O Superior Tribunal de Justiça reiteradamente tem mantido as decisões de primeiro grau que determinam a regressão do adolescente nas hipóteses previstas em lei, não vislumbrando constrangimento ilegal na sua utilização, a exemplo do

Habeas Corpus 36436 – SP, relatado pela Ministra Laurita Vaz, da Quinta Turma,

tendo em vista que o adolescente descumpriu reiteradamente a medida imposta, bem como praticou novos atos infracionais: furto e tráfico de drogas, justificando-se

a rigidez da decisão a quo.75

O Tribunal de Justiça do estado de São Paulo tem manifestado pela possibilidade da regressão, como verificado no julgado AI 40.544-05, relator Des. Carlos Ortiz, que considerou inteligência do art. 122, III do ECA a aplicação da internação-sanção para o adolescente que apenas descumpre a medida em meio aberto, afastando a internação por tempo indeterminado, que somente deverá ser aplicado no caso de nova prática infracional.

Ainda, o mesmo Tribunal julgou procedente a aplicação de medida de internação a adolescente autor do ato infracional equiparado ao tráfico de entorpecente antes mesmo da apresentação do laudo toxicológico, havendo outros meios probatórios suficientes, como ocorrera no julgamento da Apelação Cível n. 117.833-0/0 – São Paulo relatado pelo Desembargador Mário A. Silveira, acarretando sua aplicação também ao adolescente que descumpra a medida em

meio aberto em caso análogo.76

Com relação à progressão da medida de internação, essa é inerente ao próprio instituto, uma vez que a internação deverá obedecer aos princípios da excepcionalidade e brevidade, não justificando a permanência do adolescente

75 No mesmo diapasão os julgados STJ - HC 35059-SP, HC 26216-SP, HC 24026-SP. Consulta realizada no site www.stj.gov.br em 04 de abril de 2007. 76 O magistrado não está obrigado a aguardar a vinda do laudo toxicológico, em razão dos princípios que norteiam o Estatuto da Criança e do Adolescente, bastando a comprovação por outros dados, no caso, o laudo de constatação. Elementos de prova suficientes para o acolhimento da representação e aplicação da medida sócio-educativa de internação. (Apelação Cível n. 117.833-0/0 – São Paulo - Câmara Especial – Relator: Mário A. Silveira - 11.07.2005. Consulta realizada no site www.tj.sp.gov.br em 04 de abril de 2007.

privado de liberdade mais tempo que o necessário, tendo em vista que a segregação do jovem é, como já mencionado, medida excepcional.

Ademais, este é o fundamento da indeterminação do prazo de internação na sentença, para que o Magistrado possa, com regularidade e zelo, avaliar a necessidade da medida rígida de privação de liberdade. Quando desnecessária, poderá aplicar desde logo, a progressão para as medidas em meio aberto.

Verifica-se o mesmo raciocínio nas medidas em meio aberto, podendo o Juiz aplicar a progressão na medida, como por exemplo, da semiliberdade para a liberdade assistida, frente ao quadro fático positivo de integração e melhoria do adolescente.

5 PROJETOS DE LEI EM TRÂMITE NO CONGRESSO NACIONAL ATINENTES AO CUMPRIMENTO DA MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA DE INTERNAÇÃO

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A morte do menino João Hélio em 07 de fevereiro de 2007 no Rio de Janeiro causou comoção geral e fez com que sociedade e o Poder Público retomassem a discussão acerca da inimputabilidade do menor de dezoito anos e das regras especiais de punição do Estatuto da Criança e do Adolescente após o episódio.

Estão em trâmite no Congresso Nacional vinte e seis Projetos de Lei propondo alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente no tocante às regras de tempo de internação, sua fixação na sentença, reincidência, adolescentes com doenças mentais, incomunicabilidade e outros. São eles os projetos: Projeto de Lei nº 2847/2000, Projeto de Lei nº 3362/2000, Projeto de Lei nº 3700/2000, Projeto de Lei nº 5035/2001, Projeto de Lei nº 5036/2001, Projeto de Lei nº 5037/2001, Projeto de Lei nº 6923/2002, Projeto de Lei nº 852/2003, Projeto de Lei nº 904/2003, Projeto de Lei nº 2523/2003, Projeto de Lei nº 2588/2003, Projeto de Lei nº 2628/2003, Projeto de Lei nº 102/2007, Projeto de Lei nº 109/2007, Projeto de Lei nº 114/2007, Projeto de Lei nº 120/2007, Projeto de Lei nº 165/2007, Projeto de Lei nº 173/2007, Projeto de Lei nº 177/2007, Projeto de Lei nº 179/2007, Projeto de Lei nº 184/2007, Projeto de Lei nº 241/2007, Projeto de Lei nº 322/2007, Projeto de Lei nº 395/2007 e Projeto de Lei nº 565/2007.

O crime praticado por quatro jovens, sendo um deles menor de idade, contra o menino João Hélio, com perfil de crueldade, trouxe novamente a sensação

que a disseminação da prática criminosa entre jovens, especialmente menores de idade, ocorre em razão do abrandamento da punição prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Trataremos aqui das alterações propostas ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Classificaremos núcleos centrais dos projetos, agrupando-os conforme semelhança: tempo de internação, cumprimento da sentença em estabelecimentos prisionais, reincidência, incomunicabilidade.