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Condomínios horizontais no contexto mundial

CAPÍTULO 2: Condomínios Horizontais: Origem e Contexto 2.1 Introdução

2.3 Condomínios horizontais no contexto mundial

O fenômeno dos empreendimentos privés tem suscitado estudos em diversas regiões do mundo. Apesar de muitos não abordarem quantitativos, são observados relatos do seu crescimento em países como Canadá, México, Colômbia, Argentina, Venezuela, Peru, Chile, França, Portugal, Inglaterra, Espanha, Alemanha, Holanda, Rússia, África do Sul, Arábia Saudita, Líbano, Turquia, China, entre outros. Assim como nos Estados Unidos, observa-se um crescimento do número de casas dentro de perímetros de segurança, porém, cada região apresenta diferentes níveis de crescimento e motivações.

Em alguns países os condomínios fechados surgiram com objetivos bastante claros de segregar segundo critérios étnicos e políticos. Na Arábia Saudita, por exemplo, os primeiros condomínios fechados, manifestados na década de 1970, alojavam pessoas de origem ocidental contratadas pelas companhias petrolíferas, empresas locais ou mesmo pelo Estado.

Na África do Sul, muitos estudos mostram que a motivação maior para a proliferação de condomínios é a procura por segurança. Após o término do apartheid, aconteceu uma série de transformações nos campos político, econômico e social, que acabaram culminando no aumento da criminalidade e no sentimento de insegurança da população. Neste contexto, começa a expandir de forma intensa, sobretudo, na capital Johanesburgo, complexos habitacionais seguros e homogêneos, conhecidos como “zonas de conforto”. O seu p blico alvo é, majoritariamente, a população branca de classe média e alta, que diz recorrer a tais empreendimentos para preservar a sua identidade em um país onde é considerada minoria política e étnica. Entretanto, em proporção bastante reduzida, são também procurados por indivíduos negros que possuem cargos administrativos ou trabalham em empresas privadas multinacionais (MIGUEL, 2008).

Um dos primeiros indícios do fenômeno da condominização horizontal ocorreu na década de 1970, em Cingapura, leste asiático. Conforme Miño (1999) apud Becker (2005), na tentativa de promover o uso mais intenso do solo e sanar os problemas de déficit habitacional, o governo de Cingapura adotou uma política urbana que objetivava a construção de condomínios habitacionais populares. Em meados da década de 1980, ocorreu, neste país, um súbito crescimento econômico e da densidade demográfica. Com o aquecimento em diversos setores, a construção civil e o mercado imobiliário, em intensa

atividade, fomenta a construção de arranha-céus e de condomínios fechados. Diante de tal crescimento, o projeto inicial do governo é deixado de lado, dando lugar a empreendimentos mais luxuosos. Hodiernamente, observa-se ainda, a influência do “boom” da condominização, com uma grande demanda por empreendimentos privés dotados de itens como piscina, playground, quadras de squash e tênis, segurança 24 horas, club-house, minimercado, entre outros serviços.

Já na Europa, essa tendência se manifesta de forma mais cautelosa, todavia, já chama a atenção de estudiosos. Suas primeiras manifestações datam da década de 1980, principalmente nas regiões mediterrâneas da Espanha e França. Em seguida, paulatinamente, este fenômeno começa a multiplicar-se abrangendo cidades como Lisboa, Viena, Berlim, entre outras localidades.

Na França, os condomínios fechados surgiram no início da década de 1980, concentrando- se no sul do país. Estes empreendimentos começaram a surgir como segunda opção residencial para fins recreativos destinados especificamente para a camada social mais rica. A partir de 1990, estes empreendimentos começam a expandir, além da região sul, abrangendo os mercados imobiliários de cidades como Provença, Lavandou e Camargue. Mas, segundo Charmes (2003) estes empreendimentos começaram a suscitar atenção midiática a partir da década de 2000, principalmente, na cidade de Toulouse.

Atualmente, os condomínios fechados são um fenômeno encontrado em diversas cidades francesas, como destaca Goix (2003) ao relatar que estes empreendimentos representam cerca de 13% dos novos imóveis parisienses. Os condomínios franceses, especialmente os mais recentes – década de 2000 – possuem porte pequeno, não excedendo 40 casas. E, assim como na maioria dos países europeus, surgem, não devido à maior segurança, mas à possibilidade de auto-segregação. Conforme Charmes (2003), esta prática não ocorre apenas pelo fechamento de uma determinada área, mas também entre bairros, que embora abertos, apresentam rigorosa homogeneidade social.

Assim como na França, os condomínios fechados espanhóis surgem em contextos semelhantes - surgiram a partir de 1980, nas cidades turísticas do sul, caracterizando-se como empreendimentos de lazer e casas de veraneio para turistas espanhóis e estrangeiros. A partir da década de 0, estes empreendimentos, conhecidos localmente como “barrios cerrados”, se instalaram em outras regiões, nas proximidades de Madri e Valencia.

Estudos realizados por Rita Raposo (2008) na região metropolitana de Lisboa apontam que tal fenômeno começou a surgir, em solo português, no final da década de 1980. A proliferação se deu de forma mais intensa nos principais municípios circunscritos na região metropolitana de Lisboa e do Porto, com destaque às zonas turísticas, como a cidade de Algarve. No panorama local, os condomínios horizontais surgiram em um contexto distinto ao que é recorrentemente relatado - associado à crescente violência e degradação urbana. As motivações recursivas são, geralmente, a possibilidade de segunda residência, destinados à habitação temporária expressamente com caráter recreativo, bem como a distância dos centros urbanos e a qualidade paisagística.

Figura 12. Condomínio horizontal Vieira do Minho, Braga, Portugal. Fonte: <http://vieiradominho.olx.pt/aluga-se-t3-em-condominio-fechado-iid-127881769> Acessado em 11 de dezembro de 2011.

Figura 13. Condomínio Horizontal Belas, em Lisboa, Portugal. Fonte: <http://belas.olx.pt/excelentes- moradias-em-condominio-fechado-iid-262563140>. Acessado em 11 de dezembro de 2011.

Ainda segundo Raposo, entre os períodos de 1985 a 2004 foram identificados 198 condomínios fechados na região metropolitana de Lisboa, distribuídos em 14 municípios. A proliferação destes empreendimentos se deu de forma mais intensa no final da década de 1990, justamente em um período de conjuntura econômica particularmente favorável para muitos países europeus. Neste sentido, entre 1998 e 2001, os condomínios horizontais representaram um produto bastante difundido pelo mercado imobiliário português.

No contexto europeu, como foram acima relatadas, as principais motivações que culminam no surgimento destes empreendimentos sempre estão associadas à recreação ou à homogeneidade social. Em contrapartida, estudos consolidados referenciam uma única exceção. Na Inglaterra, existe cerca de mil condomínios fechados, concentrados

principalmente em Londres, cujas principais motivações relatadas pelos residentes foram a procura por proteção contra crimes e vandalismo (ATKHISON e FLINT, 2004).

Figura 14. Condomínio horizontal Mutiara Seputeh,

na Inglaterra. Fonte:

http://www.secondhomemalaysia.co.uk/mutiara- seputah-luxury-gated-community-kl/ Acessado em 12 de dezembro de 2011.

Figura 15,16: Condomínio horizontal Paradise

Palm, Inglaterra.

Fonte:<http://www.holidaycentals.co.uk/p4274 86> Acessado em 12 de dezembro de 2011.