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Os condomínios horizontais no espaço urbano da América Latina

CAPÍTULO 2: Condomínios Horizontais: Origem e Contexto 2.1 Introdução

2.4 Os condomínios horizontais no espaço urbano da América Latina

A América Latina adota modelo análogo ao o que ocorre nos Estados Unidos, com empreendimentos inseridos nas periferias das cidades e que, inicialmente, também eram utilizados pela classe mais rica como segunda opção residencial. Porém, após a década de 1950, passaram a ser moradia principal devido ao alto crescimento populacional, ocorrido a partir do intenso processo imigratório campo-cidade e o consequente inchaço das áreas centrais, como também às facilidades de locomoção, através da disseminação do automóvel particular. Segundo Moura (2008), os primeiros empreendimentos legalmente reconhecidos como condomínios horizontais na América Latina surgiram no México, nas cidades de Guadalaraja, em 1967, de Toluca, em 1969 e de Puebla, em 1987.

No México, os termos “urbanizaciones cerradas” ou “cotos cerrados”, sendo mais usual a primeira terminologia, são designados para caracterizar grandes áreas residenciais muradas, dotadas de serviços e equipamentos urbanos, com certa autonomia em relação à cidade, e conforme Hidalgo (2003 “Corresponden a conjuntos de viviendas unifamiliares de más de 100 viviendas, con perímetro cerrado y accesos controlados”. 30

O crescimento das urbanizaciones cerradas está relacionado aos problemas da estrutura social e econômica local, bastante comum no contexto latino-americano, como os altos índices de pobreza, a violência urbana, a assimetria social e a baixa qualidade de vida urbana. Diante desta conjuntura, as pessoas que têm condições financeiras optam por se fechar em lugares com maior segurança, conforto e privacidade. Um processo que vem se repetindo, como foi exposto anteriormente em outros lugares - mais uma evidência de que é, de fato, um fenômeno de proporções mundiais.

A cidade de Guadalajara possui atualmente cerca de 150 condomínios horizontais. Inicialmente estes empreendimentos eram destinados apenas às camadas mais ricas e se localizavam geralmente nas bordas periféricas, fora do perímetro urbano, guardando uma distância de cerca de 20 km do centro urbano (MOURA, 2008). Estas tendências de crescimento e adensamento residencial obrigavam os empreiteiros a proverem a infraestrutura necessária, já que para o governo local era bastante oneroso munir de infraestrutura um lugar com grandes vazios urbanos e baixa densidade urbana. Porém, após a década de 1980, com a crise econômica e os consequentes problemas urbanos relacionados à segurança pública e à falta de provimentos de serviços e infraestrutura, a construção destes empreendimentos se intensificou, adequando-se às novas exigências do mercado – as dimensões diminuíram e ficaram mais próximas às áreas mais urbanizadas. Deste modo, a nova produção de condomínios começou a abarcar também as classes médias, transformando-as em seu público alvo.

Nas cidades de Toluca e Puebla ocorre algo mais semelhante às gated communities americanas. Estas cidades estão passando por intenso processo de sprawl urban, devido, ao prolongamento das bordas urbanas, através da expansão de condomínios residenciais destinados à população mais rica. Assim como ratifica Chumillas e Gómez (2003) “En los últimos años están tomando auge en las dilatadas periferias las ”urbanizaciones cerradas" y son

30 radução realizada pela autora desta dissertação: “Correspondem a um conjunto de casas unifamiliares

uno de los principales elementos de la fragmentación física y social de los inacabados territorios metropolitanos.” 31

As periferias dessas cidades, bem como da maioria das latino-americanas, não possuem infraestrutura satisfatória e nem equipamentos urbanos. O cenário que vem sendo construído é o de condomínios com grandes infraestruturas implantados em extensas áreas precárias e com baixa qualidade de vida.

Porém, na cidade do México ocorre uma forma de ocupação peculiar, os condomínios fechados pontuam várias áreas distintas - zonas rurais habitadas por camponeses, bairros populares e bairros históricos mais valorizados ou áreas deterioradas que estão em processo de revitalização.

Na Argentina, existem vários termos para designar os condomínios horizontais, sendo os mais frequentes "barrios cerrados ou privados", "urbanizaciones cerradas ou privadas" e "countries". Em linhas gerais, os condomínios horizontais argentinos podem ser classificados em três tipologias: os countries antigos, os countries recentes e os barrios privados.

Os countries antigos, denominação mais condizentes com os primeiros conjuntos fechados que surgiram entre as décadas de 1930 a 1970, constituíam as casas de campo da alta sociedade, funcionando quase que exclusivamente para lazer e prática de esportes elitistas. Já, os countries recentes, também conhecidos como countries-clubs são empreendimentos surgidos a partir da década de 1970 e destinados também para as classes mais abastadas, porém, as residências passam a ser moradia permanente. Localizam-se, geralmente, em áreas não urbanizadas e contam com uma ampla infraestrutura de lazer e de esporte. Os barrios privados são empreendimentos que começaram a se proliferar na década de 1980 e atualmente são os mais difundidos entre as modalidades privé. São conjuntos de moradias individuais que apresentam desenhos exclusivos e se separam fisicamente do tecido urbano através de dispositivos de segurança, como muros e guaritas. Distinguem-se dos demais, por apresentarem poucos equipamentos coletivos e terem como principal característica, a segurança.

Segundo Svampa (2001) o fenômeno dos condomínios em Buenos Aires começou a se proliferar de forma mais concreta a partir da década de 1980. Desde então, Buenos Aires

31 radução realizada pela autora desta dissertação: “"Nos últimos anos estão ganhando força o crescimento

periférico marcado pelos grandes "condomínios fechados", e são um dos principais elementos da fragmentação física e social das áreas metropolitanas em expansão.”.

tem apresentado intensa concentração de condomínios fechados nas bordas urbanas, sobretudo, no setor norte da cidade. Porém, muitos moradores se queixavam da distância entre os condomínios e as áreas centrais, – em torno de 25 km -. Assim, entre 1995 e 1998, houve um aumento na proliferação destes empreendimentos, em outros setores como as regiões oeste e sul.

Apesar da recessão econômica que ocorreu no país, os números de novos empreendimentos cresceram bastante, cessando apenas em 2001, onde foi observado uma queda nas transações imobiliárias. Entretanto, nos últimos anos, houve uma retomada na oferta de empreendimentos residenciais fechados. Além da cidade de Buenos Aires, as regiões metropolitanas de Córdova, Rosário e Mendoza também tem apresentado uma grande produção de condomínios horizontais. Esse crescimento tem como principal motivo o aumento da violência urbana, problema bastante acentuado, principalmente na região de Mendoza, que atualmente apresenta cerca de 50 condomínios fechados.

Figura 17. Condomínio em Guadalajara, México. Fonte: <http://www.ub.edu/geocrit/-xcol/78.htm#_edn4>. Figura. 18: Entrada da urbanización cerrada Palmares em Mendoza, Argentina. Fonte: <http://www.ub.edu/geocrit/-xcol/78.htm#_edn4>. Acessado em 22 de outubro de 2011.

Conforme os estudos de Svampa (2001) o atual crescimento de condomínios na Argentina apresenta três motivações principais: a procura por um estilo de vida verde, estratégias de distinção e a busca de segurança. Pode-se observar como foram citadas, no primeiro capítulo e no tópico a seguir, certas semelhanças com o modelo difundido no Brasil, que também tem sua disseminação baseada nesses três fatores.

Os condomínios fechados no Chile são conhecidos como condominios cerrados e, segundo Hidalgo (2003) se expandiram nas regiões metropolitanas e nas cidades médias, principalmente a partir dos anos 1980. Na capital chilena Santiago, por exemplo, estes empreendimentos se encontram distribuídos na região periférica da cidade, caracterizada por apresentar muitos bairros pobres.

De acordo com Hidalgo (2003) entre os condominios cerrados de Santiago existem dois que podem ser caracterizados como “condomínios ideológicos”. O primeiro, Comunidad El Aromo, data de 1987. Este condomínio surgiu quando sete famílias compraram um terreno e contrataram os serviços do arquiteto Castillo Velasco para planejá-lo. Este empreendimento é atualmente composto por população de média e alta renda, sendo composta por profissionais como professores, engenheiros, empresários, músicos, filósofos, arquitetos e artistas plásticos.

O outro condomínio, Comunidad Ecológica de Peñalolén Alto, é considerado um bairro ecológico e foi implantado em 1984. Ele surgiu quando 20 pessoas conhecidas entre si compraram um terreno com 100 hectares localizado em uma área da periferia de Santiago, conhecida como Peñalolén. Atualmente este condomínio possui cerca de 200 famílias e possui uma série de restrições para nele residir, tal como adquirir a permissão para morar em tal local apenas mediante recomendações. O discurso ecológico pode ser observado tanto nos materiais recicláveis utilizados na construção das casas, na preservação das árvores, como no caráter multifuncional desta área da periferia, com incentivo de vários usos urbanos.

Os condomínios da América Latina caracterizam uma realidade urbana que passa por grandes transformações sociais e estruturais. Essa nova tendência expandiu-se face aos problemas socioeconômicos – aumento da criminalidade e violência urbana e consequentemente o sentimento de insegurança, além da abstenção do governo e decadência dos seus serviços, bem como a “obsolescência” dos centros urbanos. As semelhanças existentes entre os diferentes condomínios dos países latino-americanos estão impressas no direcionamento para classes mais abastadas e consequente segregação social, na localização periférica e no padrão arquitetônico dotado de dispositivos de segurança e controle. (SVAMPA, 2001; HIDALGO, 2003; CHUMILLAS e GÓMEZ, 2003)