• Nenhum resultado encontrado

LINHA TEÓRICA PRÁTICAS DE INVESTIGAÇÃO

SOCIOLOGIA DA

MUDANÇA SOCIAL  Identificar os tipos de mudanças sociais e culturais que o objeto de investigação sofreu historicamente.  Estabelecer diferenças entre as forças de coerção dos poderes.

 Investir em estudos identitários, articulando as identidades sociais e individuais.

 Estudar Sujeitos e atores sociais. COMUNICAÇÃO

PARA MUDANÇA SOCIAL

 Incluir objetos de investigação que contemplem as mudanças sociais e culturais, frutos de posicionamentos de atores sociais que se constituem como cidadãos ativos, buscando ser ouvidos em sua comunidade. ESTUDOS

CULTURAIS  A depender do objeto de investigação, incluir conceitos advindos dos estudos culturais, como, entre outros: identidade e sua tradução; capitalismo cognitivo; identidade e Sujeito fragmentado, identidades e globalização, cultura nacional como discurso; historicidade dos sujeitos cognoscentes e dos objetos cognoscíveis, intersubjetividades.

LINGUÍSTICA SISTÊMICO- FUNCIONAL

 Trabalhar os aspectos linguísticos de um texto, a partir das orientações da Linguística Sistêmico-Funcional (LSF), da Linguística de Texto, entre outras, para evidenciar a materialização do discurso a partir da língua. GRAMÁTICA DO

DESIGN VISUAL  Diante dos diversos recursos semióticos que caracterizam a maioria dos textos na atualidade, também busca fundamentar suas leituras textuais respaldadas nas ‘gramáticas’ que dão conta da multimodalidade.

QUADRO 8: Conexões ASCD.

Para esta tese, a articulação com os Estudos Culturais e Sociologia para Mudança Social serão pontos de referência, o que não se fecha, uma vez que as análises serão guiadas, em determinados contextos, pela Gramática Sistêmico- Funcional, seguindo as linhas do sistema de transitividade na linguagem.

Traçamos um paralelo entre o nosso objeto de estudo, sua contextualização e o encaixe para uma Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso, apresentando as linhas gerais de análise crítica dos discursos dos docentes, das constituições de suas identidades e os modos de subjetivação na modernidade tardia.

A ASCD propõe um caminho analítico, segundo Pedrosa (2013), a fim de estabelecer o diálogo entre as categorias e os sentidos sociais contextualizados que, discursivamente, fazem parte desse percurso.

Vejamos o nosso plano de justificativa para o postulado dessa abordagem, já que se objetiva, também, com esta tese, trazer a ASCD como proposta de investigação nas Ciências da Linguagem, a partir das orientações de Pedrosa (2012a):

ABORDAGEM DA TESE APLICABILIDADE DA ASCD

A configuração de um quadro de modernidade tardia na educação e a instituição de avaliações nacionais de educação básica, proporcionando mudanças no quadro metodológico para o ensino de Língua Materna no Ensino Fundamental, consequências de mudanças sociais e culturais oriundas da Globalização.

A ASCD é uma abordagem inserida na ACD (PEDROSA, 2012a). Perspectivas alinhadas aos estudos em ACD: a globalização, a economia político cultural e o reescalonamento do estado-nação (FAIRCLOUGH, 2006).

Investigar as mudanças sociais e culturais situando os sujeitos historicamente (PEDROSA, 2012a).

Sociologia Aplicada à Mudança Social (BAJOIT, 2012). A condição do professor nesse contexto

de mudanças e seus discursos, por vezes, silenciados.

Estabelecer diferenças entre as forças de coerção, poder como hegemonia (PEDROSA, 2012a).

As identidades que são constituídas no contexto de mudanças e os atores sociais em cena.

Diálogo com os estudos Culturais (PEDROSA, 2012a). Trabalhar com atores sociais a partir das perspectivas discursivas, a exemplo dos trabalhos de Van Leeuwen (1997), retomado em Pedrosa (2008) e Resende e Ramalho (2011).

O estudo sobre os sujeitos docentes a partir das Esferas Identitárias.

O Estudo da Gestão relacional de si. A Tirania do Grande ISA (BAJOIT, 2006, 2009).

A análise e classificação os Sujeitos, segundo as esferas identitárias pessoais:

(a) atribuída (b) desejada (c) comprometida (PEDROSA, 2012a).

A análise discursiva textualmente orientada. A Transitividade como caminho para análise linguística a partir da gramática da experiência.

A ASCD, como abordagem inserida na ACD, buscará atender às materialidades linguísticas, seja através da LSF ou outro tipo de perspectiva linguística (PEDROSA, 2012a).

QUADRO 9: Abordagem da Tese e aplicabilidade da ASCD.

Dentro das linhas específicas de análises propostas pela ASCD, vimos pelo quadro, que esta tese caminha para os diálogos com os Estudos Culturais, a LSF e a Sociologia Aplicada para Mudança Social, evidenciando os estudos sobre o Sujeito e suas configurações identitárias, aqui demonstradas pelas representações discursivas dos professores.

Traçaremos, à frente, o contexto teórico da contribuição dos estudos do sociólogo belga Guy Bajoit para nossa pesquisa, o que, mais uma vez, endossa uma análise crítica do discurso pelas orientações da ASCD.

2.5 As Contribuições da Sociologia para Mudança Social e o Estudo dos Sujeitos

A contribuição para os estudos em ACD é uma condição fundamental para a ASCD. O núcleo de nossa abordagem é trazer uma análise crítica do discurso conexa às contribuições dos Estudos Culturais e da Sociologia Aplicada para Mudança Social.

Muitos trazem a questão do sujeito para as análises de discurso. Vale-nos, aqui, um panorama desses conceitos e dessas representações para chegarmos a

uma conclusão já exposta por Possenti (2009, p.82): “A questão do sujeito é uma

questão aberta”. O autor já pontua que essa conclusão tem seu ponto crucial no nascedouro da linha francesa, momento do consenso sobre o fim do sujeito cartesiano, e, assim, ainda coloca que mesmo os não marxistas e não freudianos reconhecem a abertura dessa questão, já que não se pode conceber um sujeito sem as circunstâncias. Nessa premissa, é a análise de diversos corpora que pode nos guiar para apresentar essas condições do sujeito em uma análise discursiva.

Fairclough (2001) acrescenta, em seus estudos sobre a ACD, que os sujeitos podem contrapor e, de forma gradativa, reestruturar a dominação e as formações mediante a prática, isto é, os sujeitos sociais são moldados pelas práticas discursivas, mas, também, são capazes de remodelar e reestruturar essas práticas.

A noção de sujeito assujeitado e monitorado diretamente pelas implicações ideológicas tem outra perspectiva em ACD que coloca o discurso:

[...] como uma prática social reprodutora e transformadora de realidades sociais e o sujeito da linguagem, a partir de uma perspectiva psicossocial, tanto propenso ao moldamento ideológico e linguístico quanto agindo como transformador de suas próprias práticas discursivas, contestando e reestruturando a dominação e as formações ideológicas socialmente empreendidas em seus discursos; ora ele se conforma às formações discursivas/sociais que o compõem, ora resiste a elas, ressignificando-as, reconfigurando-as (MELO, 2009, p. 15).

Na relação entre a AD e a ACD, há uma arena definida pela relação do sujeito/ator. Podemos inferir que, de um lado, a intencionalidade das práticas discursivas, no outro, uma constituição dos sujeitos, condição social representada no discurso. Na concepção francesa, a interpelação ideológica é direta, como nos moldes do estruturalismo, assim, o sujeito tende a desaparecer ou ser diretamente determinado pela aparelhagem ideológica. Já na visão de Fairclough (2001), a posição do sujeito é um entremeio entre a estrutura e a ação consciente. O sujeito, dessa forma, as trabalha, modificando-as, quando necessário, pois há um risco material em função das práticas sociais cotidianas.

A ASCD, a partir desses diálogos e debates acerca do Sujeito, busca na Sociologia para Mudança Social um caminho de análise e de orientação para um estudo do Sujeito na contemporaneidade, o que nos permite problematizar a questão do descentramento das suas práticas sociais na modernidade tardia.

As crises de identidade já mencionadas neste quadro teórico estão diretamente ligadas às reformas institucionais e às mudanças proporcionadas por esse fato. Segundo Bajoit (2006), quando um contexto de mudança aparece, há um movimento paralelo de mudanças nas relações sociais transitadas entre o novo e o velho. Nesse contexto, os Sujeitos passam por processos de escolhas entre as práticas sociais que mais coadunam com as suas vivências, o que acarreta uma gestão relacional que o Sujeito faz dele mesmo. Há uma hipótese acerca da mudança social de que:

[...] as nossas sociedades não só passam de um modelo cultural para o outro, mas, ao mesmo tempo, elas estão em vias de se repolarizar progressivamente em redor de uma tensão central, em torno de duas leituras opostas dos princípios de sentido do modelo cultural identitário (BAJOIT, 2006, p. 298).

Essa afirmação nos faz repensar as figuras dos Sujeitos na modernidade tardia e suas fragmentações, ou melhor, como seus discursos representam essas

identidades em contexto de mudança sociocultural no ocidente contemporâneo. Trazer um estudo sociológico para uma tese na área da Linguística Aplicada é questionar a produção da mudança social, como ela ocorre, e analisar como os Sujeitos se posicionam, discursivamente, nesse contexto transitório.

Vejamos o que trazemos como mudança sociocultural, segundo Bajoit (2006):  mudança das coações pelas quais se resolvem os problemas vitais da vida

comum;

 mudança dos princípios de sentido invocado para legitimar estas coações;  mudança das identidades coletivas que resultam da prática das relações

sociais;

 mudança das lógicas de gestão de si, pelas quais os indivíduos resolvem as tensões que atravessam estas identidades coletivas e constroem suas identidades pessoais;

 mudança das lógicas de ação nas quais se comprometem, individualmente ou coletivamente (PEDROSA, 2012b).

Existem, segundo Bajoit (2006), cinco campos relacionais de mudanças e os sujeitos sociais, buscando a legitimação destas, que vive uma lógica de ação. Essas mudanças geram conflitos, contradições e competições, o que desembocam nas mudanças de práticas discursivas.

Essas práticas, de acordo com o sociólogo, são apresentadas por meio de intercâmbios:

 cooperativos: é necessário que as identidades coletivas dialoguem;  conflitivos: criam uma conjuntura que proporciona a busca de inovações;  competitivos: competência dos atores sociais para escolhas de suas condutas

ante as demandas na modernidade tardia;

 contraditórios: na mesma conjuntura dos competitivos, trazem a questão das escolhas, mas sem o monitoramento das regras. São mais complexos, uma vez que nem todos os indivíduos têm competências para escolhas e oportunidades de sobrevivência e mudanças.

Esses intercâmbios proporcionam o equilíbrio da vida social. Trata-se de um contexto de mudanças por ruptura ou escolhas próprias, em que as reformas, as evoluções e as revoltas são deflagradas. Mudam-se as leis, as instituições, os indivíduos. Mas tudo isso não acontece sem as resistências comuns aos processos de movimentos e debates na sociedade.

Adaptamos a ilustração que Bajoit (2006, p. 299) nos apresenta para uma visão mais ampla desse processo enquadrado nesta tese:

FIGURA 7: Tipos de poder e produção da mudança.

Fonte: Elaboração da autora, adaptação de Bajoit (2006).

Para sua sobrevivência, no tempo e no espaço, os Sujeitos e as coletividades necessitam de soluções para os seus problemas, como a administração da produção das riquezas, administração da ordem interna, gerenciamento de socialização de seus membros e a solidariedade. Esse administrar passa por questões de poder: a hegemonia, o Estado, as regras de autoridade das hierarquias, as diferenças entre os grupos sociais e suas influências.

Gerenciar um processo de subjetivação implica em trabalhos com esferas que identificam os desejos, as frustrações, expectativas e os modos identitários

TENSÕES SOCIAIS EM TORNO DO DESAFIO DO SUJEITO DOCENTE GESTÃO DO DOMÍNIO GESTÃO E PRODUÇÃO DAS RIQUEZAS. AS AGÊNCIAS FINANCIADORAS DA EDUCAÇÃO. GESTÃO DA INFLUÊNCIA GRUPOS MINORITÁRIOS E AS DESIGUALDADES DO SISTEMA EDUCACIONAL. GESTÃO DO PODER AS LEIS E OS DOCUMENTOS OFICIAIS QUE NORTEIAM AS MUDANÇAS NO SISTEMA EDUCACIONAL. GESTÃO DA AUTORIDADE AS HIERARQUIAS DE UM SISTEMA EDUCACIONAL . GESTÃO DA HEGEMONIA ORDEM SOCIAL DA MUDANÇA NA GESTÃO EDUCACIONAL.

emergentes nesse processo. Como categoria analítica, o Sujeito nesta tese será analisado a partir de uma gestão relacional de si e de uma perspectiva da correlação entre Indivíduo, Sujeito e Ator (ISA), linhas teóricas apontadas por Guy Bajoit (2006, 2009) serão as nossas bases.

Isso, para contemplar, a partir dos discursos dos professores, um estudo sobre estes em tempos de mudanças globalizadas, especificamente, quando a gestão parte de um contexto maior de poderes e saberes de ordem hegemônica, já apresentado aqui no capítulo sobre as origens e estratégias das avaliações estandardizadas.

A abordagem sociológica de um paradigma identitário é apresentada aqui pela gestão relacional que o Sujeito faz de si. A construção de identidades individuais perpassa pela concepçção de que os indivíduos trabalham sobre si mesmo a partir de três premissas: a realização pessoal, o reconhecimento social e a consonância existencial.

FIGURA 8: O Sujeito e as Esferas identitárias.

Fonte: Elaboração da autora, com base em Bajoit (2006).

Vejamos:

 realização pessoal: procura conciliar o que ele é, os compromissos que ele assume consigo mesmo (identidade comprometida), com o que ele gostaria de ser (identidade desejada);

 reconhecimento social: tenta conciliar o que os outros esperam dele (identidade atribuída), com os compromissos assumidos consigo mesmo (identidade comprometida);

SUJEITO

Capacidade do indivíduo de gerirsuas tensões existenciais, ser capaz de gerir a si mesmo na relação com os outros – Gestão Relacional de “i GR“

Objetivando reconstruir constantemente a sua identidade pessoal e conciliar as três esferas da identidade:

 consonância existencial: produto da realização entre a realização pessoal e o reconhecimento social (identidade desejada + identidade comprometida + identidade atribuída).

Esses objetivos nem sempre ou nunca são alcançados plenamente, na verdade, um indivíduo vive em uma busca constante desses processos que fazem emergir Sujeitos em tensões existenciais. Pedrosa (2012c, p.7) nos apresenta, com base em Bajoit (2006), as principais características dessas tensões: