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Este capítulo condensa um conjunto de postulados teóricos capaz de nortear não só as considerações acerca das práticas discursivas, mas, também, as análises que serão empreendidas nesta tese. A partir de um universo de diálogos e conexões entre a Linguística e a Sociologia, as contribuições apresentadas aqui darão corpo ao que chamamos de um projeto interdisciplinar nos Estudos da Linguagem.

Denominamos “Diálogos Teóricos” na intenção de apresentar a proposta de análise dos discursos dos professores, pautada nas perspectivas social e linguística,

para, assim, evidenciarmos as constituições identitárias dos Sujeitos22 emergentes

nestes discursos.

Iniciamos as explanações pela Linguística Crítica, apresentando as considerações para uma Teoria Crítica do Discurso (FOWLER, 2004), no intuito de apresentarmos a ACD (FAIRCLOUGH, 2001, 2006) como ponto de partida e motivações dos estudos para este trabalho. Por conseguinte, tratamos da Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso (PEDROSA, 2012), como elo entre os estudos em ACD e a Sociologia para Mudança Social (BAJOIT, 2006, 2009), uma vez que o estudo da classificação dos Sujeitos e suas identidades fragmentadas no contexto de modernidade tardia (GIDDENS, 2002) se encaixam na linha teórica dessa abordagem, que também traz como premissa a orientação textual das análises críticas dos discursos pelas contribuições da Gramática Sistêmico-Funcional (HALLIDAY, 1985; EGGINS, 2002; HALLIDAY e MATHIESSEN, 2004; SOUZA, 2006; CUNHA e SOUZA, 2011).

A fim de traçar uma ponte e expor as representações discursivas dos docentes, a pesquisa também é atravessada no seu constructo pela teoria da Representação dos Atores Sociais (VAN LEEUWEN, 1997), não só para um direcionamento das análises, mas, também, para a questão que move esta teoria: as categorias que antes de se representarem como linguísticas são pan-semióticas, pois:

22 Apresentamos duas representações gráficas para a concepção de sujeitos. Quando tratamos dos

sujeitos apresentados pela ACD e AD, preferimos usar a convenção sujeito, pois não traz consigo o arcabouço de análise proposto pela ASCD (PEDROSA, 2012) atrelada aos estudos da SMS (BAJOIT,2006). Para essa linha de análise, utilizaremos a convenção Sujeito, uma vez que aqui são traçadas também as Esferas Identitárias e os modos de gestão que o indivíduo opera para suas tensões existenciais.

[...] um dado contexto de cultura não só tem a sua própria e específica ordem de formas de representar o mundo social, mas, também, as de representar as diferentes semióticas nesta ordem, com maior ou menor rigor, aquilo que pode ser realizado verbalmente [...] e estas combinações estão sujeitas a mudanças históricas (VAN LEEUWEN, 1997, p. 171).

Segundo o autor, é o contexto de cultura que se sobrepõe à realização linguística, daí, esse aspecto adentrar na tese, já que os discursos dos professores estão diretamente voltados a um panorama determinado pela globalização, pós- neoliberalismo, gestão de resultados e modernidade tardia nas ações para a educação como apresentados no capítulo anterior.

Destarte, as representações discursivas dos docentes nos permitem apresentar elementos culturais de grande relevância para o entendimento dessas fragmentações identitárias dos docentes, a exemplo das conjunturas sistemáticas da educação, da condição do aluno e da condição do próprio professor.

2.1 As Origens e os Postulados para uma Análise Crítica do Discurso

Foi nos anos 80 do século XX, com a publicação de Linguagem e Controle, que Gunther Kress e Roger Fowler levantaram questões centrais sobre a teoria crítica de discurso como um instrumento de mudança social, privilegiando os textos como materialização desses discursos dentro de uma posição pós-estruturalista, trazendo como evidência as correlações entre estrutura linguística e estrutura social, já que as relações sociais influenciam as práticas linguísticas e não linguísticas dos sujeitos. A nova teoria citava:

[...] uma linguística voltada para questões práticas. Não é a simples aplicação da teoria para fins práticos, mas pensar a própria teoria de forma diferente, nunca perdendo de vista o fato de que o nosso trabalho tem que ter alguma relevância. Relevância para as nossas vidas, para a sociedade de modo geral (RAJAGOPALAN, 2003, p.12).

Esse modelo de Linguística passou a defender a tese de que os significados sociais e suas realizações em textos devem ser representados pelo modelo de análise linguística para entender os processos ideológicos. Significava teorizar a linguagem como prática social, como uma intervenção na ordem social, econômica e reprodução ideológica que perpassa pelo arcabouço central de uma Linguística Crítica (LC). Tratava de postular índices distintos da Linguística Funcional, que

entende a linguagem pelas funções e formas diferentes de se realizar, não abrangendo todo o contexto das possibilidades de “equipar leitores para fazer leituras desmistificadoras dos textos ideologicamente marcados” (FOWLER, 2004, p.211).

Nos anos de 1990, depois do Congresso de Amsterdã23, outros linguistas

críticos acreditavam que as relações entre a linguagem e a sociedade são tão complexas e multifacetadas que adotaram um foco interdisciplinar de pesquisa: o desenvolvimento de uma tradição crítica na análise do discurso, a partir do diálogo da linguística hallidayana, da sociolinguística de Bernstein e, também, do trabalho de críticos literários e filósofos como Pêcheux, Foucault, Habermas, Bakhtin e Voloshinov (WODAK, 2003).

Os estudiosos que passaram a se dedicar à análise linguística, semiótica e discursiva, a partir de diferentes campos acadêmicos, compartilhavam uma perspectiva particular, dentro da qual, os conceitos de poder, ideologia e história e contexto eram centrais. Daí, entender que o projeto de uma ACD já nasce dentro dos embates comuns nas relações estabelecidas pelo dueto linguagem e ideologia.

Podemos depreender que a Ideologia é mediada pela linguagem, e, nesse contexto, o discurso representa, também, os embates hegemônicos. Para tanto, faz- se necessário explicitar algumas concepções acerca da realização dos discursos teorizadas por Fairclough (2001) e mapeadas por Ramalho e Resende (2006), uma vez que estas podem nortear a nossa investigação:

23 Janeiro de 1991 foi um mês importante para o desenvolvimento de uma nova perspectiva da

linguagem, tendo como pano de fundo um pequeno simpósio em Amsterdã. Vários nomes, hoje relevantes em ACD, se reuniram dois dias: Teun van Dijk, Norman Fairclough, Gunter Kress, Theo van Leeuven e Ruth Wodak. Esses autores apresentaram diferentes enfoques de estudos sobre a linguagem, e, dessa forma, a ACD surge como um tipo de análise de um grupo heterogêneo, no entanto, inter-relacionado. As bases: estudo da linguagem e o papel crucial do contexto (PEDROSA, 2008).

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