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Este capítulo traz, para o conjunto da tese, o caminho de construção da pesquisa, abordando os aspectos metodológicos para realização do estudo.

Como já colocado no capítulo anterior, este trabalho de investigação acessa

as orientações da LA, hoje, articuladora de múltiplos domínios do saber e em diálogo constante com vários campos que têm preocupação com a linguagem, uma vez que esta permeia e constrói as práticas sociais. A metodologia para configuração desta pesquisa é qualitativa, endossada pelos postulados teóricos da ACD, que preconiza teoria e método como facetas de um mesmo processo.

A tese se propõe a analisar os discursos de professores do Ensino Fundamental em Sergipe, a partir das representações discursivas dos atores sociais, dos processos de subjetivações e suas identidades fragmentadas, no contexto de avaliações estandardizadas, ante os requerimentos de práticas pedagógicas globalistas, pautadas pela gestão de resultados.

Para apresentar o trajeto e os critérios de teorização, geração e análise dos dados, o capítulo está, assim, configurado:

 as motivações, os questionamentos, objetivos e a natureza qualitativa da pesquisa;

 caracterização do espaço e dos professores entrevistados;  o corpus;

 a abordagem;

 a geração dos dados, o instrumento e a meta.

Os trabalhos de Bauer e Gaskell (2011), Gill (2011), Moita Lopes (1998, 2006), Celani (2005), Pedrosa (2012), Triviños (1987) dão o aporte teórico- metodológico para empreender o percurso que aqui se desenha.

3.1 Começando a História...

O estudo nasceu de nossas vivências enquanto formadora de professores de Língua Portuguesa da Educação Básica na Secretaria de Estado da Educação em Sergipe (SEED/SE); os anos de 2009 e 2011 foram um celeiro de formações e

debates acerca das metodologias exigidas pelas avaliações externas em larga escala. Esse conjunto de ações da SEED/SE suscitou alguns questionamentos nos docentes e em nós formadores diretamente ligados a esses contextos. Foi o momento em que percebemos o impasse não só pedagógico, mas, também, de natureza ideológica e, por assim dizer, discursiva.

Diferente de estudar elementos físicos ou da natureza que não trazem consigo uma historicização e uma cultura, estudar fenômenos humanos requer um cuidado com a sua complexidade, o que torna improvável a observação neutra. Os métodos qualitativos foram um divisor de águas nas Ciências Humanas, uma vez que trouxeram à tona o fim das certezas para os estudos em Humanidades.

Durante esses anos de formação com os professores da rede estadual, as atividades eram direcionadas ao monitoramento. As práticas de Leitura e Escrita na sala de aula pediam o repensar do fazer pedagógico, a busca de mais informações e a familiaridade com a nova abordagem das avaliações externas.

Esses aspectos nos levaram a perceber que os docentes estavam participando de um processo sobre o qual ainda não entendiam, realmente, o seu conjunto maior: uma conjuntura que nasceu nos anos 90 do século XX e, hoje, desembocou no quadro de saberes e práticas docentes globalizadas pela gestão de resultados em países emergentes.

O cenário propiciava um ambiente de produção, pois o conhecimento centrado na resolução de um problema de contexto de aplicação específico para prática social torna-se fértil para debates e pesquisas. “Isto significa dizer que a resolução do problema gerará conhecimento útil para participantes do mundo social e que seus interesses e suas perspectivas são considerados na investigação” (MOITA LOPES, 1998, p.106). O Conhecimento, nesse sentido, é contextualizado e procura princípios e modos de investigação também para resultados que se contextualizem.

Dessa forma, e especificamente voltando para a formação continuada dos professores de Língua Materna, percebemos, ainda, que as orientações oficiais locais eram reproduções de uma política de educação globalista, que visava apenas duas áreas: Língua Portuguesa e Matemática, já que as outras áreas do conhecimento não eram contempladas nos exames para o Ensino Fundamental.

Como a Prova Brasil era o exame de ordem pela interferência direta nos resultados do Ideb, a nossa função era prover capacitação acerca dos descritores já

expostos aqui, quando tratamos do Ensino de Língua Materna. Isso acarretou dilemas e conflitos próprios da natureza contemporânea no ambiente complexo da Educação Pública. Escolas diferentes, alunos diversos, professores com perfis distintos, realidades heterogêneas e formação homogênea para atingir metas estipuladas. Mais um motivo que impulsionou a nossa pesquisa, pois “na pesquisa educacional informada pela teoria crítica, questões fundamentais são as relações

assimétricas de poder, o papel dos participantes e a responsabilidade social”

(CELANI, 2005, p. 109).

Nasce, então, a proposta de análise das práticas sociais desses docentes por meio da linguagem, a partir de seus pronunciamentos acerca das avaliações externas a que seus alunos e a escola eram submetidos e, por consequência, eles também. Dentro de um contexto de modernidade tardia, a Educação se configura pela ação globalizada e pelas intenções de um conjunto maior que é a ordem econômica. Educar para contemplar os arranjos produtivos dos países em emergência, trazer educação de qualidade a partir do diagnóstico de avaliações estandardizadas e determinar políticas nas áreas de cunho social desses blocos econômicos são características desses tempos.

Estudar os discursos de docentes a partir de uma vertente sociológica e linguística nos daria um arcabouço maior dessas impressões e nos levaria a possíveis conclusões e desdobramentos. A partir de então, a pesquisa se configurava.

Tratar desse âmbito complexo que engloba saberes docentes, discursos, práticas sociais, identidades e subjetivações é uma agenda que requer diálogos disciplinares, trocas, articulações conceituais e metodológicas que podem evidenciar a natureza interdisciplinar desse estudo. Isso porque “A linguagem na prática social e em um contexto de ação procura subsídios em várias disciplinas que possam iluminar teoricamente a questão em jogo, ou seja, que possam ajudar a esclarecê-la” (MOITA LOPES, 1998, p.102).

Esse estudo é, portanto, um conjunto de diálogos teóricos para embasar a análise crítica dos discursos dos professores de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental, a partir da perspectiva da Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso (ASCD). Para tanto, o percurso de natureza Sociológica, Linguística e Discursiva será, metodologicamente, orientado pela pesquisa qualitativa.

Abordar a temática sob o viés interdisciplinar implica em trazer para o contexto de investigação aportes que sustentem uma proposta que se vincula à LA e dialoga com outras áreas de conhecimento. É necessário que os diálogos aconteçam com o mundo contemporâneo e:

[...] as práticas sociais que as pessoas vivem, como também os desenhos de pesquisa em LA que considerem diretamente os interesses daqueles que trabalham , agem, etc. no contexto de aplicação – uma dimensão que o campo da LA raramente contempla (MOITA LOPES, 2006, p.23).

3.2 A Pesquisa: caracterização do espaço e dos docentes

As análises dos discursos de 13 professores das séries iniciais (5º ano) e

finais (6º ao 9º anos) do ensino fundamental, atuantes na Rede Estadual em

Sergipe, em específico na Diretoria Regional de Educação – DRE 2, são o foco

central desse trabalho.

Segundo o censo de 2010 do IBGE, o Estado de Sergipe possui 21.910,348

Km² de superfície, população estimada em 2.068.017 habitantes. A taxa de urbanização do estado é de 81,7%, a maior do Nordeste, estando acima da média da região que é de 71,8%. Além da localização geográfica estratégica, Sergipe possui o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Nordeste e promissores indicadores de saúde e

educação31.

A Rede Estadual de Educação em Sergipe abrange 75 municípios agregados em 10 diretorias regionais para oferecer ensino fundamental, médio, profissionalizante, educação especial e demais programas de 378 escolas a 184.768 alunos, assim distribuídos no ano de 2012:

31 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE. Disponível em: