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SESSÃO 4 O pequeno comércio garante um atendimento mais personalizado e mais humano, em que a

4 EVOLUÇÃO DO COMÉRCIO NO CRAJUBAR E CONSOLIDAÇÃO DE JUAZEIRO DO NORTE COMO EMPÓRIO COMERCIAL

4.3. Configuração do Segmento Comercial no Crajubar (1980-2010).

No último quartel do século XX, no contexto em que as grandes superfícies comerciais são implantadas nas cidades, as estruturas menores não desaparecem, nem tampouco reduziram em termos quantitativos. O comércio tradicional de pequena dimensão se constitui parte integrante da vida na cidade, sendo formas comerciais mais próximas das famílias, o que justifica, em parte, o seu processo de expansão e proliferação. Nesse sentido, por mais que as grandes redes provoquem o fechamento de alguns estabelecimentos, a proliferação se insere como característica fundamental dessas tipologias comerciais. A esse respeito, Santos (1989, p. 93) afirma que:

A proliferação do pequeno comércio se explica pelo fato de ele vender em pequenas quantidades, adaptando-se, assim, às entradas insuficientes e irregulares de dinheiro da maioria das famílias; mas explica-se, sobretudo porque ele fornece produtos de primeira necessidade a crédito. Desta forma, sua clientela pode ter acesso aos estabelecimentos comerciais modernos e comprar produtos de consumo durável, que têm de ser pagos à vista ou a prazo fixo.

A década de 1970 foi um marco no processo de expansão do comércio no Aglomerado Urbano Crajubar. Em Juazeiro do Norte, a partir dos anos 198017, já era perceptível à relevância desse segmento para e economia regional tendo em vista a ampliação

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De acordo com o REGIC, a influência de uma cidade numa determinada área do espaço, na classificação hierárquica dos centros urbanos, de acordo com o IBGE (2007), é considerada, além da centralidade de gestão territorial e da intensidade de relacionamentos, a dimensão da região de influência de cada centro urbano. O IBGE chama atenção para o fato de que as diferenças nos valores obtidos para centros em diferentes regiões não necessariamente implicam distanciamento na hierarquia, pois a avaliação do papel dos centros dá-se em função de sua posição em seu próprio espaço. Nesse sentido, os centros localizados em regiões densamente menos ocupadas, em termos demográficos ou econômicos, ainda que apresentem indicativos de centralidade mais fracos do que os de centros localizados em outras regiões, podem assumir o mesmo nível na hierarquia. (IBGE, 2007)

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A cidade de Juazeiro do Norte, até meados dos anos 1980 apresentava uma estrutura monocêntrica, com um forte poder de concentração e de centralização espaciais do centro da cidade em relação ao restante da estrutura urbana. A partir de meados da década de 1980 é que a estrutura locacional do comércio e dos serviços passa a se modificar, condicionando o aparecimento de novas áreas de centralidade, que teve reflexos na alteração da morfologia da cidade, produzindo uma cidade mais complexa. Ver Pereira (2014, p. 161).

do número de empreendimentos e pessoas ocupadas, tendência manifesta também nas demais cidades do aglomerado. Nesse sentido, verificou-se que, concomitantemente, o setor comercial influenciou na organização espacial do aglomerado e assumiu papel fundamental na estruturação das cidades a partir da criação de novas áreas comerciais18.

Dentre as cidades do aglomerado, Juazeiro do Norte foi a que registrou o maior crescimento no número de empreendimentos comerciais, entre 1985 e 2014, destacando-se no âmbito da porção Sul do Estado do Ceará.

No contexto de ampliação do segmento, houve um considerável aumento de estabelecimentos atacadistas e varejistas (Tabela 03), o que intensificou os fluxos entre as cidades do aglomerado Crajubar.

Tabela 03- Estabelecimentos Comerciais (Varejistas e Atacadistas) do Crajubar (1985-2014)

Ano Tipos de Estabelecimentos/CNPJ Total CRAJUBAR Varejista Atacadista Juazeiro do Norte

Barbalha Crato Juazeiro do Norte Barbalha Crato 1985 341 30 147 60 4 31 613 1990 400 35 193 74 2 26 730 1995 537 39 236 86 7 53 958 2000 882 75 382 77 8 35 1459 2005 1.354 126 566 94 11 29 2.180 2006 1.337 133 619 100 13 32 2.234 2007 1.458 145 634 99 14 39 2.259 2008 1.553 148 664 108 11 37 2.521 2009 1.641 160 706 112 16 39 2.674 2010 1.787 174 755 110 13 49 2.888 2011 1.924 183 817 117 17 47 2.988 2012 2.007 192 807 114 18 50 3.188 2013 2.090 192 815 109 24 43 3.273 2014 2.118 213 853 102 27 41 3.354 Fonte: CAGED (1985-2014).

No período mencionado, no conjunto das cidades do Crajubar houve um aumento no número de estabelecimentos comerciais cadastrados na ordem de 387,43%. A expansão do setor comercial, sobretudo do subsetor varejistas, a partir do cadastramento de novas lojas

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Segundo Oliveira (2014), o surgimento do bairro comercial Pirajá, em Juazeiro do Norte, nos anos 1980, se constitui um exemplo da lógica locacional das atividades terciárias. A década de 1990 é o marco da consolidação do bairro Pirajá como um importante espaço de concentração de comércio e serviços.

comerciais no aglomerado reflete a importância que este segmento adquiriu na economia das cidades desde os últimos anos do século XX, conforme revelam os Gráficos 01, 02 e 03.

Gráfico 01- Evolução do Número de Estabelecimentos Comerciais (Varejista e Atacadista) em Juazeiro do Norte/CE (1985-2014)

Fonte: CAGED (1985-2014)

Gráfico 02- Evolução do Número de Estabelecimentos Comerciais (Varejista e Atacadista) em Crato/CE (1985-2014).

Gráfico 03- Evolução do Número de Estabelecimentos Comerciais (Varejista e Atacadista) em Barbalha/CE (1985-2014)

Fonte: CAGED (1985-2014)

Entre 1985 e 2014, foi registrado em Juazeiro do Norte um crescimento de 453,61% nos estabelecimentos cadastrados, índice mais expressivo entre as cidades do aglomerado no recorte temporal em análise. No quadro geral, o setor varejista expressou maior crescimento em relação setor atacadista. De acordo com os dados obtidos, em Juazeiro do Norte o segmento varejista teve um aumento de 521,11% nos estabelecimentos cadastrados e o segmento atacadista cresceu 70%. A expansão do segmento comercial varejista na cidade reflete a importância que alguns subsetores têm assumido no mercado local, por exemplo, os minimercados, mercearias e pequenos armazéns, além de vestuários e acessórios, destacando- se como as principais atividades comerciais da cidade, conforme revelam os dados da Confederação Nacional do Comércio. (CFN, 2015).

Nesse mesmo período, o segmento comercial das cidades de Crato e Barbalha apresentou um aumento percentual de 379,77% e 605,88%, respectivamente, no número de estabelecimentos. É possível verificar por meio dos dados que o segmento varejista assume maior importância no que se refere à quantidade de lojas.

O baixo crescimento do número de estabelecimentos atacadistas nos últimos 30 anos na cidade de Crato está associado à expansão do comércio de Juazeiro do Norte. Como discutido anteriormente, a cidade de Juazeiro do Norte, no início da década de 1970, já se encaminhava para tornar-se um importante centro comercial. Nesse sentido, vale lembrar que, além de concentrar o maior número de estabelecimentos comerciais atacadistas no

aglomerado, Juazeiro passou a receber alguns estabelecimentos antes localizados na cidade do Crato (JUNIOR, 2010).

No que se refere a Barbalha, nesse período, embora a cidade apresentasse o menor número de estabelecimentos comerciais no aglomerado, se destacava pela intensidade do processo de expansão do setor comercial, em ambos os segmentos. Os estabelecimentos varejistas e atacadistas de Barbalha registraram um aumento de 610% e 575% respectivamente.

A diminuição do ritmo de expansão dos pequenos estabelecimentos comerciais predominantemente voltados para a venda de produtos alimentícios, a partir dos anos 2000, até o momento atual, pode estar associada à instalação das grandes redes globais de atacado e varejo, que provocaram forte rebatimento na estrutura do comércio de pequena dimensão, ocasionando o desaparecimento de algumas unidades, o que será tratado a posteriori.

A ampliação dos estabelecimentos atacadistas e varejistas das cidades de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha reflete o aumento de vínculos ativos no segmento comercial de seus núcleos urbanos. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados- CAGED, desde a década de 1980 (Tabela 04), houve um crescente aumento de vínculos ativos/ocupações de pessoas no segmento comercial do Crajubar.

Tabela 04- Vínculos Ativos no Setor Comercial do Crajubar (1985-2014)

Fonte: CAGED (1985-2014).

De acordo com os dados obtidos, principalmente a partir dos anos 2000, houve um aumento no número de pessoas empregadas no setor de comércio do Crajubar. Este fato está associado a um conjunto de fatores, tais como: expansão de lojas varejistas de artigos de vestuário e acessórios, mercadinhos de bairro (mercearias, mercantis e pequenos

Ano

Quantidade de Vínculos Ativos

Total CRAJUBAR

Juazeiro do Norte Crato Barbalha

Varejista Atacadista Varejista Atacadista Varejista Atacadista

1985 1.775 405 811 160 84 17 3.252 1990 1.963 496 955 200 99 08 3.721 1991 1.797 449 777 226 81 08 3.338 1992 1.717 436 760 224 91 07 3.235 1993 1.720 440 788 229 100 12 3.289 1994 1.827 431 716 383 87 17 3.461 2005 6.558 953 2.063 172 368 106 10.220 2010 9.114 1.552 3.169 347 586 363 15.131 2014 12.309 1.518 3.763 402 675 1.269 19.936

supermercados), bem como o surgimento das novas formas comerciais implantadas nas cidades, como as lojas de conveniência e os grandes investimentos privados das redes globais de atacado e varejo, que ampliaram o número de vagas e contratações.

A evolução do número de vínculos ativos no segmento comercial das cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha pode ser visualizada nos gráficos 04, 05 e 06, respectivamente.

Gráfico 04- Evolução do Número de Vínculos Ativos no Segmento Comercial (Varejista e Atacadista) em Juazeiro do Norte/CE- 1985-2014

Fonte: CAGED (1985-2014).

Gráfico 05- Evolução do Número de Vínculos Ativos no Segmento Comercial (Varejista e Atacadista) em Crato/CE- 1985-2014

Gráfico 06- Evolução do Número de Vínculos Ativos no Segmento Comercial (Varejista e Atacadista) em Barbalha/CE- 1985-2014

Fonte: RAIS (1985-2014).

Nas duas últimas décadas do século XX, o aumento do número de empregados na atividade comercial em Juazeiro do Norte deu-se de forma bastante equilibrada nos segmentos varejista e atacadista. A partir dos anos 2000, a cidade já apresentava uma forte tendência ao aumento de pessoas empregadas no setor comercial devido à instalação das grandes redes globais de comércio (atacado e varejo). A implantação dessas unidades provoca rebatimentos nos estabelecimentos menores, causando o fechamento ou reduzindo a lucratividade do pequeno comerciante, ao mesmo tempo em que amplia o número de contratados a partir da geração de empregos em maior quantidade.

Entre 1985 e 2006, Juazeiro do Norte registrou um aumento equivalente a 22,3% de pessoas ocupadas no segmento comercial. Todavia, o maior aumento do número vínculos ativos no comércio do município verificou-se entre os anos de 2007 e 2014, quando passou de 7.534 para 13.827, o que representa 83,5%. A ampliação dos estabelecimentos comerciais na cidade de Juazeiro do Norte, bem como o registro cada vez maior de pessoas ativas nesse segmento não pode ser analisada isolada ou fora do contexto e da influência dos núcleos urbanos circunvizinhos. A cidade estabelece relações diretas com o seu entorno, atraindo tanto comerciantes que se estabelecem permanentemente, quanto trabalhadores que se deslocam diariamente para o mercado local.

No que diz respeito a Crato e Barbalha, que integram Crajubar, registrou-se um elevado crescimento no número de empregados, porém numa proporção bem inferior em relação a Juazeiro do Norte. Entre 1985 e 2014, o número de empregados no segmento

comercial varejista e atacadista desses municípios passou de 981 para 4.165 e, 101 para 844, respectivamente (CAGED, 2014).

No Crato, entre 1985 e 2014, o comércio varejista ampliou-se de 811 para 3.763 pessoas vinculadas, representando um crescimento percentual igual a 363,99%. Em 2014, do total de empregados na cidade, 90,34% estavam inseridos no segmento varejista. No setor atacadista, o número de pessoas empregadas era de 402, ou seja, 9,6% do total.

Já em Barbalha, conforme os dados, o destaque é para o setor atacadista que registrou em 2014, 1.269 vínculos ativos, equivalente a 65,27%, enquanto no setor varejista contabilizou-se 675 empregados, 34,72% do total.

O aumento do número de empregados no segmento comercial da cidade do Crato, já podia ser verificado no setor varejista desde a década de 1995, quando esse já contabilizava, 527 estabelecimentos a mais do que o setor atacadista. Entretanto, o grande boom do varejo na cidade ocorreu somente no final da primeira década do século XXI, quando o número de estabelecimentos alcançou, em 2010, o total de 3.189 e, em 2014, 3.763. Esse crescimento produziu impactos na organização espacial da cidade, visto que estabelecimentos varejistas especializados como supermercados, farmácias, lojas de matérias de construção e pequenas lojas de vestuário e acessórios, antes concentrados no centro histórico, passaram a se dispersar pela cidade.

No que se refere a Barbalha, esta apresentou o maior crescimento no número de estabelecimentos comerciais atacadistas dentre as cidades do Crajubar, o que sinaliza a importância que esse setor vem assumindo na economia local. Mesmo os vínculos ativos do setor varejista estando sempre à frente do setor atacadista, o aumento de empregados nos setores ocorreu de forma equilibrada até o final da primeira década do século XXI. No setor varejista, os vínculos ativos passaram de 84, em 1985, para 586, em 2010. Nos respectivos anos, o setor atacadista foi ampliado de 27 para 363 estabelecimentos.

A expansão do comércio de Barbalha e o consequente aumento de empregados no setor atacadista a partir de 2010 estão atrelados à instalação de grandes estabelecimentos na cidade. Um exemplo é a Ceasa Cariri, uma grande distribuidora de produtos hortifrutigranjeiros que abastece os principais mercados dessa natureza de Crato e Juazeiro do Norte, além de municípios de outros municípios cearenses, pernambucanos, piauienses, baianos e paraibanos. (DIÁRIO DO NORDESTE, 2012).

O aumento contínuo de empregados no setor comercial no Crajubar, desde o início dos anos 2000, foi bastante significativo, refletindo a forte relevância desse segmento nas cidades que o formam. Conforme o Instituto de Pesquisas Econômicas do Ceará- IPECE,

os três municípios, em 2014, possuíam 11.131 pessoas formalmente empregadas no setor comercial. Desse total, 6.021 (54,09%) estavam em Juazeiro do Norte, que registrou o maior contingente; 4.165 (37,41%) em Crato e 943 (8,47%) em Barbalha. (Tabela 05).

Tabela 05- Crajubar: Empregos Formais por Atividade Econômica, 2014

Atividades Econômicas