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Configuração do Ensino à Distância e suas Implicações para a Mediação na Tutoria Online

2.2 AS MEDIAÇÕES DA TUTORIA ONLINE

2.2.2 Configuração do Ensino à Distância e suas Implicações para a Mediação na Tutoria Online

A tutoria online tem por finalidade sanar as dúvidas dos estudantes quanto aos conhecimentos específicos de cada disciplina, no caso dessa pesquisa, da geometria analítica. Cabe ao tutor, informá-los quanto à dinâmica da sala de aula virtual e formá-los por meio de uma mediação que contemple os aspectos didáticos e pedagógicos que permeiam o ambiente educativo.

Mediações desenvolvidas em ambientes educativos devem, essencialmente, favorecer estruturas cognitivas dos estudantes para que possam ascender aos objetos matemáticos (LENOIR, 1996). Nesta perspectiva, acreditamos que as mediações promovidas pelos tutores

devem proporcionar tal ascensão aos estudantes participantes das tutorias online, embora precisemos conhecer melhor as limitações da ferramenta, ambiente de ensino e aprendizagem em que as tutorias são realizadas.

Além disto, entendemos que necessitamos, também, conhecer melhor o cenário educativo em que as tutorias online estão inseridas, pois acreditamos que este influencia a prática docente do tutor, podendo trazer implicações às mediações desenvolvidas por este.

As tutorias online ocorrem por meio da ferramenta chat, que são interfaces integradas à ambientes virtuais de aprendizagem, conhecidos como LMS (Learning Management

Systems). Segundo Alves (2009), esses ambientes são construídos em plataformas que

possuem uma variedade de recursos e ferramentas que permitem à comunicação síncrona e assíncrona.

A plataforma moodle uma das mais utilizadas por instituições públicas que fomentam o ensino à distância, integradas ao Sistema UAB. É gratuita e foi traduzida para 60 idiomas, possui código aberto, permitindo acesso ao código de programação, e é um ambiente livre, podendo ser configurado e personificado. O moodle é uma plataforma que disponibiliza ferramentas síncronas, tais como o chat e a webconferência, e assíncronas, fórum, webquest,

wikis, blog, correio eletrônico etc., atendendo às mais variadas necessidades de seus usuários.

Com os recursos deste software é possível interagir, publicar, gerenciar, comunicar, compartilhar e administrar as atividades desenvolvidas no ambiente, entre muitas outras ações. Por sua natureza open source (livre e de código aberto), está sempre sendo modificado e melhorado. O moodle também é considerado o AVA mais completo para oferecer suporte às atividades educacionais. Esta plataforma tem uma interface amigável e de fácil navegação. Além disto, oferece ferramentas síncronas e assíncronas que, “em harmonia com as propostas didático-pedagógicas, podem potencializar o processo de ensino e aprendizagem” (ALVES, 2009). Edição de texto, fórum, chat, wikis, blogs, sistema de gestão de tarefas, entre outros, são exemplos de recursos que podem ser utilizados pelos professores para configurar a sala de aula virtual e modelar sua prática. Para Silva e Santos (2009, p.2),

Pensar a prática pedagógica para a educação online é antes de qualquer coisa pensar um desenho didático interativo como arquitetura que envolve o planejamento, a produção e a operatividade de conteúdos e de situações de aprendizagem, que estruturam processos de construção do conhecimento na sala de aula online.

Neste processo, também são consideradas as expectativas didático-pedagógicas estabelecidas para cada curso e componentes curriculares, desde a sua organização à sua operação, pois tais plataformas de ensino são configuradas em consonância com o Projeto Político Pedagógico – PPP de cada instituição. Para tal, as instituições contam com uma equipe multidisciplinar formada por especialistas.

No entanto, corroboramos com Garbin e Dainese (2010, p.4) quando afirmam que “a gestão dos processos educativos pode determinar diferentes fatores que interferem de forma direta e indireta no contexto da aprendizagem.” Além disto, entendemos que o modelo de gestão adotado na EaD é complexo, principalmente no que diz respeito ao nível organizacional.

Esta complexidade se deve à divisão e racionalização do trabalho da EaD na modalidade da UAB. Numa sala de aula presencial, as ações didático-pedagógicas concentram-se numa única pessoa: o professor. Porém, na EaD, os papéis constitutivos da prática docente são distribuídos entre vários personagens. Interessa-nos discutir, ainda que brevemente, tal fragmentação da prática docente e suas implicações à tutoria online.

No que concerne à produção do material didático, Mattar (2011) afirma que, no Brasil, o modelo de produção de material didático adotado para EaD é formado por: conteudista –

designers instrucionais – webdesigners – tutor. Este modelo parte do trabalho do conteudista,

o qual elabora o conteúdo que posteriormente será aperfeiçoado por designers instrucionais e

webdesigners, para finalmente ser distribuído aos estudantes que receberão o apoio do tutor

para compreender o conteúdo a ser apreendido.

Quanto à prática didático-pedagógica, o modelo geralmente adotado na EaD parte do professor-executor ou professor-formador, como também é conhecido. Este é quem configura a sala de aula; determina a metodologia a ser adotada; escolhe as ferramentas e recursos a serem utilizados; elabora as atividades e provas, sendo as últimas corrigidas por ele.

Neste contexto, o tutor é aquele que irá operacionalizar o cenário criado pelo professor-executor, ou seja, ele é responsável direto pela mediação entre o estudante e o conhecimento, seja de forma assíncrona (fórum, wikis) ou de forma síncrona (tutoria

online/chat), seja no espaço virtual ou no físico (aula presencial/polo).

O conteudista elabora o material sem a participação do professor-executor e do tutor, quando o ideal seria a articulação entre esses profissionais na produção de um material que atendesse aos objetivos didáticos do professor e do tutor, quanto ao ensino e à aprendizagem

do componente curricular. Para Silva e Santos (2009, p.4), “há uma separação entre os que pensam e produzem o desenho didático (equipe de produção) daqueles que o executam (professores-tutores)”.

Na tutoria online, a complexidade da estrutura organizacional da EaD fica mais evidente se considerarmos, por exemplo, que as dúvidas levantadas pelos estudantes ao tutor são referentes aos materiais produzidos pelo conteudista ou pelo professor-executor. Entretanto, é ele, o tutor quem precisa encontrar formas de mediar o conhecimento inserido nestas produções, elaboradas de forma desarticulada, em tempo real. Além disto, tais mediações precisam garantir que os estudantes ascendam ao conhecimento em foco, ainda que os materiais e atividades propostos não contribuam muito para isto.

Se houvesse conexão entre conteudista – formador – tutor, de acordo com Mattar (2011, p. 2), “o professor teria liberdade para modificar o conteúdo, estender por mais tempo uma discussão, propor novas atividades, enfim, refazer o design durante o próprio curso.” A indicação da necessidade de tais ações, por parte do professor–executor, poderia partir do professor-tutor que, por acompanhar os estudantes de forma mais efetiva na realização das atividades propostas, conhece bem as necessidades e as dificuldades dos mesmos, reveladas, em geral, na tutoria online.

A não participação do tutor, neste contexto, não fica restrita à elaboração dos materiais didáticos e das atividades, mas também à configuração da sala de aula. Acreditamos que isto também se refletirá quando em situação de ensino, uma vez que ele fará uso de recursos que, frequentemente, poderão (ou não) contribuir com as mediações que irá desenvolver.

Daí a relevância de se investigar a prática docente das tutorias online de geometria analítica, tendo em vista que este é o campo da matemática que escolhemos para estabelecer nossa investigação, buscando identificar os entraves e potencialidades desta para as mediações realizadas pelos tutores, revelando seu cenário didático-pedagógico e como ocorre sua operação por meio dos inúmeros recursos disponibilizados em um ambiente altamente tecnológico, como o moodle. Para entender a dinâmica da atividade docente, em um ambiente tecnológico como este sobre o qual temos discutido, escolhemos a Teoria da Orquestração Instrumental (TROUCHE, 2004; DRIJVERS et al, 2010).