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2.2 AS MEDIAÇÕES DA TUTORIA ONLINE

2.2.1 O Papel das Mediações, Cognitiva e Didática, na Prática Educativa

estabelecer relações, estar entre duas partes, relacionando-as. No entanto, num contexto socioeducativo, Lenoir (2009) salienta que a mediação não deve ser entendida como uma simples intervenção, negociação ou resolução de conflitos, utilizando-se de um método para alcançar resultados.

Para Lenoir (2009), a mediação deve ser concebida numa perspectiva dialética e sociohistórica. É dialética porque se realiza por meio da interação, por processos mediadores entre o sujeito cognoscente, produtor do conhecimento, o saber construído, restrito e desejado, assim como com um ou mais educadores.

É sociohistórica porque considera o ser humano como um ser capaz de atuar individualmente ou em sociedade, de forma reflexiva, criativa, responsável, assim como

interagir com o mundo à sua volta, defendendo a ideia de que o sujeito pode agir de maneira crítica e autônoma para a construção do seu próprio conhecimento.

Não se quer dizer com isto, salienta Lenoir (1996; 2009; 2011), que a ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento lhe dê um resultado direto e imediato quanto à ascensão desse objeto. Para isso, faz-se necessário um sistema mediador.

A relação cognitiva de objetivação (o processo de aprendizagem) que se estabelece entre o sujeito e o objeto por intermédio de um sistema objetivo de regulação (a mediação) fundado sobre a palavra como discurso e sobre a ação humana como processo de produção social. (LENOIR, 2011, p.14)

Este sistema mediador, regulador da prática educativa, possui uma natureza de dupla dimensão quanto à relação com o saber. Há uma dimensão que é intrínseca e intencional, quanto à relação que se estabelece entre o sujeito e o objeto desejável, e outra dimensão extrínseca e intencional, constituída por aspectos psicopedagógicos (relação com o aprendente) e de natureza didática (relação com o objeto de conhecimento). Tais dimensões são denominadas por Lenoir (2009; 2011) de mediação cognitiva (interna e pressupõe a aprendizagem) e mediação didática (externa e pressupõe o ensino).

Uma mediação cognitiva corresponde às mediações mentais que ocorrem quando o sujeito é colocado, por meio de um sistema mediador, em contato com o objeto de conhecimento. Para tal, é preciso que o sujeito interaja com o meio, com o saber a ser acessado, dentro de um contexto e espaço social, mediado por outro sujeito capaz de tornar desejável o objeto de conhecimento e de colocá-lo em interação com o aprendente. De acordo com Lenoir (2011, p. 15), “a mediação cognitiva liga o sujeito aprendente ao objeto do saber e a mediação pedagógico-didática liga o professor à mediação cognitiva.”

É importante compreender que o objeto de conhecimento torna-se desejável ao aprendente por meio da mediação didática que se estrutura no desejo de saber do professor, o qual busca nas dimensões psicopedagógicas e didáticas condições propícias para que o aluno construa seu próprio conhecimento. Dessa forma a mediação pedagógico-didática é concebida, segundo Lenoir (2011, p.18) como:

Um sistema de regulação de sentido amplo, pois ela intervém, ao mesmo tempo, como modalidade de regulação essencial na determinação de uma estrutura exterior, para além de si, e como ação

que procura dar sentido ao objeto, tornando-o, assim, desejável ao sujeito.

Nesse contexto, o professor não é considerado o detentor do saber, mas sim como um mediador, um articulador do processo de ensino-aprendizagem que busca recursos e métodos que conduzam o sujeito cognoscente ao conhecimento científico. É relevante corroborar com Lenoir (2009), quando defende que tais recursos não podem, sozinhos, satisfazer os objetivos das mediações, cognitiva e didática, fora do contexto real, sem considerar outras dimensões pertinentes ao processo de mediação, de intervenção educativa.

Lenoir (2011, p. 13) entende a intervenção educativa como “uma atividade relacional que vem modificar um processo ou um sistema.” Intervir é, antes de tudo, interagir. É por meio da interação que o professor, interventor, interfere entre diversas situações e seus aprendentes.

Por intervenção educativa, entendemos, do ponto de vista operacional, o conjunto de atos e discursos singulares e complexos, finalizados, motivados e legitimados, mantidos por uma pessoa com mandato de interventor numa perspectiva de formação, de autoformação ou de ensino num contexto institucionalmente específico – neste caso a instituição escolar – com o fim de perseguir os objetivos educativos socialmente determinados. Esta intervenção inscreve-se num processo interativo intencional situado temporalmente, espacialmente e socialmente, com um ou diversos sujeitos, e implementa as condições julgadas as mais adequadas possíveis para favorecer o estabelecimento, pelos alunos, de processos de aprendizagem apropriados. Sua finalidade é a modificação, tida como benéfica, de um processo (de uma maneira de fazer ou de pensar), de uma situação socioeducativa ou a aquisição de saberes e de conhecimentos. (LENOIR, 2011, p.14)

Lenoir (2011) adota a perspectiva operacional para definir intervenção educacional e defende a necessidade de se levar em conta as dimensões que a constituem ao se desenvolver pesquisas sobre a prática docente. Essa abordagem operacional possui 11 dimensões descritas por Lenoir (2011, p.8, grifo nosso)

(...) didática (relativa aos saberes, a ensinar a propósito da aprendizagem com os processos de ensino específicos das diferentes matérias escolares), organizacional (relativa à gestão do tempo, do espaço, da disciplina, das rotinas, dos fatores externos e internos), psicopedagógica (relativa aos alunos, à ordem relacional:

características psicológicas, formas pedagógicas etc.), socioafetiva (relativa à identidade profissional, à formação anterior, à motivação, às opções de opinião pessoal) e a dupla dimensão mediadora (a interna, relativa à relação do aluno com o saber – processos cognitivos mediadores internos – e a externa, relativa à relação com os processos mediadores externos, de ordem pedagógico-didática – situações-problema, dispositivos de formação, etapas, modalidades interativas, avaliação). A esses dez componentes da intervenção educativa, é importante acrescentar a dimensão temporal, que é central.

A conceitualização realizada por Lenoir (1996; 2011) sobre mediação cognitiva, mediação didática, assim como sobre as dimensões em torno da intervenção educativa, pode contribuir com pesquisas que buscam compreender a prática docente, que é ampla e complexa. No conteúdo das sessões de chat identificamos as Relações Didática, Pedagógica e Organizacional, referentes à prática docente, extremamente, relevantes para se compreender tal prática. A aplicabilidade da teoria consiste em nos ajudar a identificá-las no conteúdo das interações das tutorias.

Outro aspecto que justifica nosso interesse nesta discussão é o fato de não podermos visualizar como o professor está intervindo no espaço educativo, pois nossa pesquisa está inserida em um ambiente de ensino e aprendizagem que é virtual, o da tutoria online, em que as ações de todos os participantes, inclusive do tutor, ficam registradas por meio da escrita no

chat. Neste, as falas que compõem conversas se entrelaçam e apresentam diversidade quanto à

natureza e algumas poderão ser compatíveis com as que Lenoir descreveu, numa perspectiva operacional da intervenção educacional.

2.2.2 Configuração do Ensino à Distância e suas Implicações para a