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Configurações estruturais selecionadas por predicados causativos e perceptivos: Predicado complexo, predicado ECM e infinitivo flexionado

Organização da Tese

133 3.3.2 As configurações estruturais do predicado volitivo e suas acepções

3.4 Configurações estruturais selecionadas por predicados causativos e perceptivos: Predicado complexo, predicado ECM e infinitivo flexionado

Estruturas de perceptivos e causativos (P&C) no PE podem se apresentar como marcação excepcional de caso, infinitivo flexionado e construções de predicado complexo fazer-inf, expostas respectivamente nas sentenças em (153).

(153) a. O João mandou-o estudar b. O João viu suas filhas sairem c. O João mandou estudar o Pedro

O sujeito normalmente recebe Caso nominativo da flexão do verbo. No entanto, nem sempre isso é possível, como na construção ECM, em que o verbo matriz atribui Caso acusativo ao sujeito da encaixada, configurando uma marcação excepcional de

Caso, como mostra (153a). Nesses casos, o predicado causativo/perceptivo selecionará um infinitivo simples e o verbo matriz atribuirá Caso acusativo ao seu argumento interno, ao causado. A outra construção selecionada por P&C é a de infinitivo flexionado; nesse contexto, o verbo da encaixada atribui Caso nominativo ao causado, seu argumento externo.

Um outro tipo de construção formada por P&C é a de predicado complexo, que pode ser definido como aquele formado por mais de um elemento predicador na sintaxe. Um tópico bem debatido na literatura sobre essas construções diz respeito ao tipo de configuração selecionada por elas, que ora são tratadas como bi-oracionais, ora como

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mono-oracionais. Tomar os predicados complexos como mono-oracionais, em termos estruturais, indica que estas construções se caracterizam por exibir sujeito independente nas orações encaixada e matriz, como está ilustrado em (154a), que se assemelha em termos semânticos à construção ECM, em (154b).

(154) a. Mandei estudar [a matéria] [aos alunos] (Português Europeu) b. Mandei os alunos estudar a matéria

A sentença (154a) ilustra a causativa românica fazer-inf. Assume-se que nesse contexto o complexo verbal (verbo matriz, causador e o verbo infinitivo) atribui caso acusativo ou dativo ao argumento que lhe segue. Em termos semânticos, o verbo ‘estudar’ faz referência ao DP ‘os alunos’, mesmo este se posicionando logo após o complexo verbal. Uma questão interessante que se coloca é porque o argumento externo de estudar recebe caso dativo, em (154a), posiciona-se após o complexo verbal, mas mesmo assim ainda é semanticamente o ‘sujeito’ de ‘estudar’. Uma tentativa de solucionar esse problema seria tomar, como propomos, causativos como denotadores de traço [obv]. Nesse sentido, o verbo matriz transmitiria ao argumento encaixado o traço [obv], o que faz com que ele funcione como disjunto ao sujeito matriz.

A análise bi-oracional implica dizer que os dois verbos da construção são independentes sintaticamente, o que, em termos estruturais, é interessante na medida que essa mesma análise pode ser tomada para as outras construções formadas por P&C, satisfazendo também a necessidade de marcação de caso do argumento externo encaixado.

Algumas teorias linguísticas podem ser tomadas na tentativa de analisar o tipo de complemento subcategorizado por verbos P&C, dentre elas: A Teoria da Small Clause – SC (cf. Stowell, 1983), a Teoria da Predicação (cf. Williams, 1983; Schein, 1995) e a Teoria do Predicado Complexo. O ponto principal da Teoria da SC é tratar o NP sujeito e o XP predicado como um único constituinte em todos os níveis de representação [NP XP]. Por outro lado, adeptos da Teoria da Predicação defendem que os itens que compõem a sequência em questão não formam um único constituinte e NP e XP são argumentos do verbo principal. Com relação à Teoria do Predicado Complexo, o XP em questão forma um predicado complexo com o verbo matriz, que toma como argumento o NP.

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Tomando o complemento de predicados ECM como SC, questiona-se a formação de sua estrutura interna, ou seja, qual a categoria que domina a SC complemento, se é lexical ou funcional. Isso tem também dividido a opinião dos pesquisadores. Alguns defendem que verbos ECM selecionam complementos sentenciais como CP (cf. Aarts, 1992; Hornstein & Lightfoot, 1987). Outros propõem que SC complemento é dominada por IP ou AgrP (cf. Raposo e Uriagereka, 1990).

Alguns adeptos da Teoria da Small Clause argumentam que a análise padrão de verbos ECM, em atribuir Caso acusativo ao argumento sujeito do dominio inferior (oração de baixo), tomando toda a encaixada como um tipo de constituinte oracional. se assemelha a uma estrutura de SC e asssumem que o predicado ECM seleciona um complemento estruturalmente parecido com uma SC. Compare (155a) e (155b) a seguir. O tipo de construção em (155a) motivou análises de SC. (155b) ilustra contextos que podem ser tomados como de predicados ECM, envolvendo uma marcação excepcional de caso, com um sujeito explícito.

(155) a. I consider [John intelligent] b. I consider [John to be intelligent]

O domínio de predicação de uma SC é formado pela oração que contem o predicado e pelo seu sujeito e esse tipo de oração é a projeção máxima da categoria de seu predicado (Stowell, 1995). Nesse caso, o XP pode ser um NP, VP, PP, AP e IP, que podem ser domínios de predicação. Propostas na literatura tomam o complemento de perceptivo como um complemento Small Clause (cf. Stowell, 1995; Freire, 2007; Quarezemin, 2007), assumindo que o sujeito do predicado verbal (complemento) é gerado em Spec de VP. Em geral, há dois tipos de propostas que tentam explicar o complemento Small Clause: A Hipótese da Concha de VP (cf. Larson, 1988) e a Análise do Sujeito Interno a VP (cf. Sportiche, 1991).

Retomando o tópico discutido nas seções anteriores sobre pesquisas que se propuseram a dar um tratamento sintático para noções semânticas de modo e modalidade, além dos trabalhos de Rochette (1988), Hornsten, Martins e Nunes (2006),

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há outros trabalhos na literatura43, como a pesquisa de Cinque (1999) e a de Zagona (2007, 2008), que serão brevemente apresentadas na próxima seção.

3.5 Como as modalidades Raiz e Evidencial são exibidas na Sintaxe

Há várias propostas na literatura que tentam relacionar noções semânticas, como a noção de modo, de modalidade e a de expressões modais a um aparato sintático, como a proposta de Cinque (1999), Julien (2002), Cristofaro (2003), dentre outros.

Cinque (1999)44 investigou a ordem relativa de morfemas gramaticais livres (partículas) e ligados (sufixos) correspondentes às distinções de modo, modalidade, tempo, aspecto e voz em diferentes línguas do mundo. O resultado encontrado foi que os morfemas não são apenas rigorosamente ordenados uns com relação aos outros, como também cada categoria de modo, modalidade, tempo, aspecto e voz exibem, num nível mais fino (at a finer level), um número de núcleos distintos, que também parece ser rigorosamente ordenado. Cinque (1999) observa que advérbios representam categorias funcionais dentro da oração, podendo ser lexicalizados por partículas, verbos auxiliares e flexão, o que o leva a propor a cisão do nível flexional IP (split-inflection

hypothesis), argumentando que o domínio flexional pode ser dividido em uma

hierarquia de muitas categorias universais.

A postulação de categorias funcionais possibilita o desenvolvimento de propostas que tratam da estrutura de complementos de percepção física, já que estes se diferenciam dos perceptivos mentais (cf. Felser, 1999). Como os perceptivos mentais denotam leitura epistêmica deve ser tratado hierarquicamente como similar a categoria epistêmica, ratificando a hipótese de que os perceptivos físicos exibem uma configuração estrutural diferente dos mentais.

A ordem universal das categorias funcionais situadas no nível IP, no domínio flexional, sugerida por Cinque (1999) está transcrita na Tabela 14:

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Há muitos outros trabalhos na literatura que tentam relacionar noções semânticas de modo, modalidade e a de expressões modais a um aparato sintático, como o de Julien (2002), Cristofaro (2003), dentre outros.

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