• Nenhum resultado encontrado

conflito que existe no seio da própria classe traba lhadora não elimina as relações de oposição que se estabelecem en

No documento A pirita humana : os mineiros de Criciúma (páginas 120-123)

E, continuando, falou do procedimento dos mineiros no subsolo:

conflito que existe no seio da própria classe traba lhadora não elimina as relações de oposição que se estabelecem en

tre os trabalhadores diretos e encarregados. Acontece, porem,que, à medida em que os operários consideram os chefes em níveis mais altos na hierarquia, não os acusam mais. 0 patrão e visto, em âJL guns c a s o s , como um "homem bom, que fala com a gente, mas que não pode saber do todos os problemas na mina, porque não dá pra ele ficar em todo lugar". Esta linguagem, que faz parte do dis - curso de trabalhadores, ë denunciada por outros que têm maior Vi_ vência com a organização da classe. Estes falam da aliança que os dirigentes têm com a companhia e não com os companheiros; di­

zem que os dirigentes representam o patrão, que em geral nâo ë atingido pelos trabalhadores quando são injustiçados. Confessam

que as rivalidades e os conflitos ocorrem em todos os escalões.O mineiro João diz o seguinte:

"0 mineiro consciente não trata o encarregado com confiança. Geralmente não pode confiar,de jeito ne nhum. Quando existe um problema, o encarregado não assume. Ele descarrega nas costas do operário.Exi¡3

te um provérbio na mina: "encarregado ë cachorro do patrão; mandou morder, ele morde". Geralmente o operário tem pouco contato com o patrão; e se es­ quece de que por trás do encarregado está o patrão. Os mais conscientes sabem que por trás está O p a ­ trão. Entre os próprios encarregados hã tambem mui ta rivalidade, e um prejudica o outro. A não ser que o encarregado queira eliminar o capataz. Daí ele se une aos outros encarregados para conseguir. Ele isola o capataz e vai direto com o engenheiro". 0 mecanismo que se instala, pois, entre os trabalhado - res, por política da empresa, é de competição, procurando cada um melhorar sua posição, mesmo prejudicando os companheiros. To­ dos os níveis seguem a mesma política de policiamento recíproco, e este mecanismo desenvolve um compromisso de fidelidade não com os companheiros, mas com o chefe imediato, visando a mostrar efi ciência e alcançar promoção. Parece que, quanto mais a empresa traça sua política dentro dos moldes capitalistas, menos ela se defronta ccm os problemas de reivindicação trabalhista. Este a s ­ pecto deveria ser aprofundado, confrontando as nuances da políti ca empresarial adotada nas várias companhias carboníferas.

Os trabalhadores das carboníferas, independente do tipo de empresa, afirmam que os "encarregados são bons". 86% dos o pe­ rários fazem esta afirmação. Esta alta percentagem entra em desa cordo, quando os mineiros dão suas opiniões sobre os castigos nas companhias. Ha, então, muita acusação dos operários aos en-

carregados. As punições são consideradas, em geral, injustas sen do o encarregado o responsável pelo fato. Falam os mineiros:

"O encarregado, normalmente, ë um opressor. O meu encarregado ê um falso. Bom para mim, mas judiava dos outros. Elogiava na frente, mas falava mal p e ­ las costas".

"Hã capatazes que, para prejudicar o operário b o ­ tam ele pra rua. 0 pessoal novato sofre muita press são, passam um trabalhão danado".

"O encarregado agride sempre. Rouba do trabalhador. Se o operário reclama na justiça, vai pra r u a " . Jorge, ex-mineiro, diz que:

"A relação mineiro-encarregado depende sempre do patrão.. Se um patrão ê mais humanitário, não acei­ ta a deduração do encarregado. Depende mais da ori . entação da empresa do que do encarregado".

Esta afirmação ë exemplificada com um depoimento do m i ­ neiro João, hoje "encostado", que foi encarregado da mina União- Metropolitana:

"A empresa ë que exige que o encarregado trate mal os companheiros de serviço. Veja o meu caso: em três anos de encarregado que fui, não aconteceu ne nhuma advertência, nenhuma punição. Falava com os operários. Se tinha um muito cansado, âs vezes não dormia direito em casa, por motivo de uma doença na femília, eu deixava ele descansar uma hora e trabalhava no lugar dele. A nossa frente sempre ti nha produção, atê mais que as outras. Mas eu fui advertido pela empresa, porque não dava advertên -

^ r

cia e punição no meu conjunto.

Na mina, jã vi um diretor chamar um operário que apresentou queixa e advertir o encarregado na presença do operário. Mas depois chamou de novo o encarregado e apoiou ele e disse pra continuar

assim. As punições que os encarregadòs têm que aplJL car ë política da empresa".

Fica bem evidente que o conflito se dã entré os traba - lhadores, mas por interesses antagônicos entre o capital e traba lho. O capital parece estar ausente, mas ë ele que alimenta o conflito e estã muito atuante através da organização e controle que estabelece, cujas normas contrariam os interesses dos operá­ rios.

Embora as rivalidades ocorram entre os trabalhadores, e o capitalista esteja numa posição b em distante das investidas dos operários, estes, quando falam da postura dos mineradores em re­

lação aos trabalhadores, caracterizam-na como uma relação de opressão. Dizem uns que "o patrão tem nojo dos operários". O m i ­ neiro Paulo tem suas conclusões; diz ele:

"Mineiro nunca gostou do dono da mina. Todos os do nos ficaram muito ricos nas costas dos mineiros.Fa lam que agora o S r . X (minerador) pinta com panca de bom. Tem operário que vê o patrão como um salva dor; enquanto que a mina sõ rende se tem operário, 0 ünico interesse que a empresa tem em cima do tra balhador é o lucro. Porque desde a hora que o- ope­ rário perdeu sua saüde náo interessa mais â compa­ nhia e serã dispensado. Isso em todas as minas. A União (Metropolitana) utiliza a técnica do melhor salário para ficar com o operário melhor".

No documento A pirita humana : os mineiros de Criciúma (páginas 120-123)