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vigário de uma comunidade mineira dizia que:

No documento A pirita humana : os mineiros de Criciúma (páginas 123-128)

E, continuando, falou do procedimento dos mineiros no subsolo:

vigário de uma comunidade mineira dizia que:

"Os :;minèradores não têm uma política humanitária, mas- ao contrário, oprimem, tratam mal os operários, deixam na rua, no desemprego muitos mineiros que estragaram a saüde na mineração. Esta realidade é um tropeço no caminho dos proprietários de minas, não para resolver os problemas do mineiro, mas sim plesmente por causa da opinião pública, que estã

crescendo, de que a mina prejudica a saúde.

E fala ainda que o Sr. X, patrão de mina,disse que^ "se fosse possível, acabaria com esta raça de mir- • neiros, que so serve para armar confusão".

5 . 3 . As Punições

As empresas, para manter a disciplina no trabalho em vista da produção, alêm dos mecanismos inerentes ao próprio pro cesso de trabalho empregam meios persuasivos, como os incentivos salariais e promoção, e, finalmente, meios corretivos, como a advertência, a punição, a suspensão, a demissão e pagamento por

danos caus a d o s . ,

!

De acordo com a opinião dos trabalhadores,os:meios dis ciplinares mais usados nas empresas são, em: primeiro -lugar a suspensão, e logo em seguida a advertência e a demissão.A gran­ de maioria é de opinião de que os métodos disciplinares utiliza dos pelas empresas trazem consequências prejudiciais ao proces­ so de trabalho. Os castigos aplicados pelas empresas,na opinião de 86% dos trabalhadores, só servem para "revoltar o trabalha - dor e piorar a situação". 22% consideram que tal técnica não adianta nada; 18% dizem que os castigos resolvem os problemas dac empresa; somente 16% dizem que as suspensões corrigem os traba­ lhadores.

Dizem, igualmente, que a maioria dos castigos são injus tos e aplicados em situações difíceis e até impossíveis de se evitar, tal como quebra de alguma maquina, problema de falta ao serviço por doença e recusa do operário em fazer horas extras aos sábados. Afirmam também que o operário que recebeu suspensão

ou desconto na folha de pagamento se torna um operario revoltado, que não tem mais disposição para o trabalho, se torna um traba -

lhador "marcado".

Hã muitos depoimentos como este:

"Os operários recebem castigos que não merecem.São punidos injustamente por quebra de máquinas, por não fazerem hora-extra. Os novatos são os mais in­ justiçados; tem encarregado que dá prensa, dá g an­ cho, porque quer subir. Com os mais antigos eles se cuidam, porque eles podem botar questão contra a companhia. 99% das punições são injustas. Falta compreensão por parte da administração. Fica ruim pra empresa é pior pro trabalhador. Mas a corda ar rebenta na parte mais fraca. Custa ele voltar a trabalhar a sério. SÓ pensa em sair da firma. Tem muita gente revoltada".

A opinião dos trabalhadores, é de que em vez de punições as empresas deveriam utilizar mais o diálogo com o empregado.Dl zem que os dirigentes deveriam conversar, orientar e ouvir mais o trabalhador. Cerca de 80% dos operários partilham desta propo sição; 14% são do parecer de que a empresa deve continuar com a política de suspensões, "que é a ünica capaz de controlar os operários"; 6% não têm opinião sobre o assunto. A política da empresa de so "dar ouvidos" aos encarregados e aos dirigentes permite a estes se "prevalecerem do cargo que ocupam", dizem-os trabalhadores. A consequência é a possibilidade de tratarem os subordinados de forma discriminada, favorecendo uns e prejudi -

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cando outros. O operário não tem oportunidade de colocar suas razões, de prestar sua versão nas ocorrências e não tem liberda de de dispor de seu tempo.

te aos sábados ou feriados. A falta a esta exigencia resulta,em geral, em suspensão. O engenhèiro-chefe da CBCA diz que sõ i aplicada a suspensão ao operário que se compromete c o m p a r e c e r i a ra a hora extra, e falta. Já os operários afirmam que não há 11 berdade. Os encarregados não dão opção, porque,se "fosse para escolher, ninguém compareceria para horas extras, e então seria o encarregado que receberia advertência da empresa e estaria até sujeito a perder o cargo. Na empresa "não há liberdade para o trabalhador". "A empresa quer é produção e o operário que se dane", é a queixa comum da classe trabalhadora.

55% dos operários dizem que se a empresa os prejudica eles nada podem fazer, porque qualquer atitude que tomarem, o prejuízo reverte sobre eles próprios. Já 45% dizem que o operá­ rio que estã insatisfeito ou foi prejudicado, seja por "perse - guição" do encarregado, seja por não exibir atestado quando es­ tá doente, procura dar uma resposta pelos "maus tratos que so­

fre" . , '

Vejam-se os depoimentos dos que dizem que o operário rião toma atitudes contrãtias à empresa:

"0 operário não pode prejudicar a empresa. Se de i ­ xar furo, se rala. Tem muita gente pra se fichar. A empresa Metropolitana botou escrito nos corredo­ res das minas: "Não temos vagas". Porque colocou ali dentro, onde não tem estranhos, sõ quem vê is­ to é o pessoal da mina? Botou pra meter medo no pessoal". : /

"Não prejudica. Todo o mundo dá o máximo de si para não perder o emprego. 0 operário é que e o pre

judicado. Como é produção, cada um quer trabalhar mais que o outro. O encarregado também é um pobre coitado como nós. Age coagido".

Nos depoimentos dos que dizem que o operario revida quan do ë prejudicado encontra-se este tipo de opinião:

"Acontece prejuízo. Mas mais quando o cara estã pa ra sair. Aprontam desaforos: quebram maquinas, fa­ zem desordem no patrimônio da empresa, complicam. Se o encarregado vem xingando, jã metem os pés.Ago ra, isto é quando o cara quer sair e retirar a con ta, ou dã bobeira, e o cara perde a cabeça. Porque, fez desaforo, vai pra rua".

Os dois tipos de depoimentos tem algo em comum - existe o conflito - que tem desdobramentos diferentes, sempre porém em relação ao emprego; os trabalhadores que contornam as situações conflitantes ou se acomodam a elas o fazem para continuar no em­ prego, indispensável para eles; o outro grupo, que, diz que hã re vide por parte dos trabalhadores, também relaciona o comportamen to desses operãrios com o emprego, isto é, com a perda do empre­ go, com o desejo de saig da empresa.

Por tudo isto, conclui-se que as carboníferas não atuam de forma distinta das demais indústrias capitalistas. Funcionam dentro de um modelo de administração autoritário. 0 .capitalismo chamado "selvagem" dos países subdesenvolvidos é autocrático e exclui a gestão da classe trabalhadora. As proposições dos traba lhadores de se estabelecer o diálogo, "ouvindo as duas partes" - os representantes do capital e do trabalho, põem em cheque e b a ­ lançam a gestão autocrática do capital sobre o trabalho que pre valece nas indústrias brasileiras. As ,empresas reagem e tentam rejeitar a proposta da classe trabalhadora de introduzir repre­ sentantes sindicais nas unidades de produção. A proposta de diã logo democrático dos trabalhadores ê frontalmente contrária â política capitalista autoritária e centralizada do modelo econô

são dos trabalhadores sobre as empresas, â medida em que algumas delas veem-se premidas a fazer concessões, em vista da garantia de continuidade do sistema capitalista.

6 . Qualificação Profissional,

Promoção

e Rotatividade

Pensou-se que a implantação da mecanização na indústria exigiria um aumento do nível de qualificação profissional. Por muito tempo esta premissa foi divulgada e aceita como verdadeira e, até hoje, em muitos círculos faz parte da opinião convencio - nal.

Bravermann, em seu estudo sobre a qualificação profissio nal na indústria moderna, demonstra que a mecanização definiu um processo exatamente contrario a esta premissa. Diz o autor que "quanto mais a ciência é incorporada no processo de trabalho,tan to menos o trabalhador compreende o processo; quànto mais um com

plicado produto intelectual se torne a máquina, tanto menos c on­ trole e compreensão da máquina tem o trabalhador

Além de dispensar o trabalhador da compreensão global do processo de trabalho, a mecanização tende a multiplicar as ocupações técnicas especializadas, dispensando os trabalhadores

1. BRAVERMANN,H. Nota final sobre qualificaçao. In: Trabalho ¿ C a p i t a l Mono-

No documento A pirita humana : os mineiros de Criciúma (páginas 123-128)