• Nenhum resultado encontrado

PARTE IV- AS RELAÇÕES ENTRE AS CRENÇAS DOS APRENDIZES E AS

3.4.1 Conflitos entre as crenças da professora e alunos de língua inglesa na

3.4.1.3 Conflitos em relação aos papéis do aluno e do professor

As crenças de Andréa quanto ao papel do professor de línguas está em consonância com os princípios da AC, ou seja, o professor deve ter características essenciais para o bom resultado nas aulas. Para a participante, o professor deve ser participativo, investigativo, questionador e eficiente. As crenças de Andréa corroboram a idéia de um professor facilitador e mediador da informação entre o mundo e o aluno. Os alunos, no entanto, ainda persistem na crença de que o bom professor de LI é o transmissor do conhecimento e mantenedor da disciplina em sala de aula.

[108] “O professor deve ser fonte de consulta, organizador, negociador, questionador, ajudante, autoridade, facilitador, etc.”

Andréa, QE [108] “O papel do bom professor é aquele que tenta descobrir qual seria o interesse do aluno, descobrir qual o objetivo dele em aprender aquela língua, e buscar trabalhar em cima desses pontos colocados pelo aluno.

O professor também deve elaborar atividades que estejam de acordo com o que ele está trabalhando, diversifica, tenta facilitar.”

Andréa, EI

[109] “Um bom professor é aquele capaz de controlar a sala de maneira que consiga ensinar, negocia com os alunos o andamento da aula, envolve os alunos nas atividades, é criativo e aberto a novas idéias, é responsável.”

Andréa, QE [110] “... Eu acho que o papel do professor é estar no colégio ensinando e o

mais importante é manter a disciplina.”

Lúcio, 12 anos, EI [111] “ O papel do professor é o de passar os conteúdos certos, dar visto nos

cadernos. O professor dominando a língua, ele sabe ensinar.”

Breno, 12 anos, EI [112] “O professor deve nos ensinar e sempre atualizar a matéria.”

Peter, 13 anos, QE [113] “ O papel do professor é ensinar e corrigir o que o aluno fizer de

errado.”

Suzy, 12 anos, QE Acredito que as crenças dos aprendizes em relação ao papel do professor de línguas tenham se originado das experiências vivenciadas em aulas de LI ou mesmo de outras disciplinas da grade escolar. Alunos que não tiveram a oportunidade de experimentar outros contextos educacionais não possuem parâmetros de comparação, e, portanto, assumem o que conhecem como certo. Apesar de conhecer e acreditar no papel ideal do bom professor de línguas, a prática de Andréa em sala de aula se parece bastante com o papel descrito pelos alunos, ou seja, a sua prática não corresponde as suas crenças. Andréa acredita que um dos papéis do bom professor é o de saber se ajustar a diferentes contextos. Nesse ambiente, em especial, a professora acredita que não lhe é permitido assumir o papel ideal, porém deve desempenhar o papel real, i.e., o papel que corrobore as expectativas dos alunos, dos pais dos alunos e das autoridades escolares. Andréa acredita em um ensino voltado para o desenvolvimento da autonomia do aluno, enquanto os alunos acreditam no tradicional e centralizador paternalismo do professor.

Os aprendizes desempenham um papel tão importante quanto o papel do professor no processo de EALE. Assim, de acordo com o levantamento das crenças da professora e dos alunos em

relação ao papel do aprendiz de línguas, foi verificado que os conflitos consistiam em desencontros entre as crenças e ações (WOODS, 1996, 2003). Os alunos acreditam que o bom aprendiz de línguas é também responsável pela sua aprendizagem, além de precisar ter interesse na língua-alvo e dedicar-se aos estudos. Além disso, de acordo com eles, para serem bons aprendizes de LE, devem acatar as ordens da professora, aprender o conteúdo, ser educado e receptivo, prestar atenção às aulas e cumprir os seus deveres escolares. Contudo, observa-se que apesar de acreditarem no desempenho das atividades descritas, a maioria dos alunos, não cumpre o seu papel de aprendiz na prática. Em consonância com as crenças dos alunos estão as crenças da professora Andréa que, ao ajustar-se ao contexto em que se encontra, acredita na participação ativa nas aulas, no questionamento e na transformação da informação, além de receptor do conteúdo. O conflito surge no momento de transformar as crenças em ações, visto que durante as aulas, os alunos não agem como acreditam. É importante ressaltar que a dissonância entre crenças e ações pode prejudicar o desenvolvimento da aula, uma vez que pode abalar a motivação profissional do professor e dos alunos (REEVE, 1998 E REEVE, BOLT E CAI, 1999).

[114] “ O papel do aluno é o de receptor, transformador da informação aprendida, precisa respeitar regras, questionador, ‘protagonista da história’, participante ativo e principal da aula e ter interesse em aprender.”

Andréa, QE [115] “O bom aluno é aquele responsável e consciente da sua aprendizagem (que precisa aprender), interessado, aberto a atividades diversificadas, que não tem medo de errar, mas quer tentar!”

Andréa, QE [116] “O bom aluno, eu acho... que está faltando eles quererem aprender! Porque é aquele que realmente participa das aulas demonstrando interesse, tenta se envolver com o que o professor está passando, apresentando, realiza as atividades. Aquele que se dedica ao estudo pelo menos um pouquinho em casa.”

Andréa, EI [117] “Ah, o papel do aluno é o de participar, respeitar o professor, ouvir, gostar da aula, achar a aula interessante, legal. Em primeiro lugar, o aluno deve entender e levar a sério a aprendizagem da LE.”

Lúcio, 12 anos, EI [118] “O aluno deve prestar atenção nas aulas e depois das tarefas, quando terminar, conversar baixo, se a professora permitir, porque também a professora cansa!”

Verônica, 12 anos, EI [119] “Ouvir, repetir o que o professor fala e prestar atenção.”

Júlia, 12 anos, QE [120] "Prestando atenção, fazendo os deveres. A responsabilidade da

aprendizagem é 50% dos alunos e 50% dos professores.”

Breno, 12 anos, EI

Ao triangular os dados coletados na narrativa, questionários e entrevistas com as notas de campo das observações das aulas e as gravações em vídeo, pude confirmar as afirmações de Woods (1996, 2003) com relação às dissonâncias entre crenças e ações. Os alunos investigados possuem crenças bastante similares às da professora, contudo, essas crenças não são colocadas em ação na prática de sala de aula. A maioria dos alunos não participa das aulas ativamente, não realiza suas tarefas, desrespeita as regras de convivência dentro de sala de aula, muitas vezes obrigando a professora a assumir um papel autoritário (NOVAIS, 2004), contrariando as suas próprias crenças.