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CONFLITOS INTERNACIONAIS Diversidade de conflitos

No documento Resumos Livro Jorge Miranda(1) (páginas 46-50)

Há conflitos que se desenrolam no interior do território do estado ou sob a sua administração e que degeneram em conflitos internacionais (o que importa é a repercussão externa desses eventos).

A Carta das Nações unidas fala em situações em conflito, parecendo apontar para diferentes competências e formas de processo (arts. 11.º, n.º3; 34.º e 35.º).

A situação dir-se-ia algo que precede o conflito, o estado de facto capaz de lhe dar origem, ainda que de contornos pouco definidos. Na prática é quase impossível distinguir, até porque as intenções políticas em concreto dos estados ou dos órgãos das nações Unidas é que determina a qualificação dentro de uma ou de outra figura.

O conflito apresenta-se como jurídico (discute-se sobre a interpretação, validade aplicação de normas internacionais) ou político (entram em jogo interesses políticos).

Em razão da sua gravidade, há conflitos que ameaçam a paz e a segurança internacionais e conflitos que não ameaçam a paz e a segurança internacionais (arts. 33.º) apenas os primeiros cabem na composição do Conselho de Segurança, conquanto mais uma vez aqui as fronteiras não possam ser traçadas em abstracto. Dentro destes deve-se separar em dois momentos: o inicial, em que se procura ainda uma solução; e o momento do conflito armado.

Os conflitos armados e a evolução do seu tratamento

Os conflitos armados nunca deixaram, de ser objecto de normas de Direito internacional, e os juristas sempre procuraram atenuar os seus efeitos.

No Direito internacional clássico avultam:

a)

Reconhecimento de jus belli como uma das prerrogativas da soberania dos estados.

b) Reconhecimento também de uma faculdade discricionária de fazer a guerra em concreto, de um jus ad bellum.

c) Pequena ou nenhuma relevância da distinção entre guerra defensiva e guerra ofensiva. d) Irrelevância jurídica-internacional da guerra civil e da guerra colonial.

e) Imposição por via consuetudinária, de certos ónus ou deveres procedimentais. Ao longo dos tempos denota-se o desenvolvimento de conferências diplomáticas no sentido de: - Desenvolver a arbitragem.

- Esclarecer o regime da neutralidade.

- Estabelecer o princípio da protecção das vítimas (nomeadamente através da Cruz Vermelha). - E estabelecimento de regras restritivas sobre a condução da guerra.

O DT Internacional contemporâneo assenta na conjugação dos elementos vindos deste direito de guerra e do Direito Humanitário com os princípios proclamados na Carta das Nações Unidas.

Uso da força, legítima defesa, agressão

Existe uma contraposição entre o direito internacional clássico e o contemporâneo. No primeiro era admissível, o uso de força por qualquer Estado ou aliança de Estados e não se concebia o uso de força por parte da comunidade internacional no segundo o uso da força é excepção e prevalece o uso da força pela comunidade internacional. Tudo se passa hoje como se as Nações Unidas, através do Conselho de Segurança, se arrogassem, do monopólio do uso força (arts. 24.º e 28.º da Carta).

A Carta apenas consente o uso da força pelos estados em duas circunstâncias: - Legítima defesa, individual ou colectiva (art. 51.º).

- Em caso de assistência às próprias nações Unidas (art. 2.º, n.º5), como a participação em acções levadas a cabo ao abrigo do Capítulo VII (operações de paz e de ingerência humanitária).

A legítima defesa – contra ataque armado – decorre do Direito Internacional geral ou comum e constitui mesmo um «direito natural». Este direito não é exclusivo dos membros das nações Unidas; podem-no invocar quaisquer outros estados e até, com adaptações, outros sujeitos de base territorial. Este rege-se pelo princípio da proporcionalidade: a defesa há-de ser adequada à forma e ao conteúdo de agressão, à sua intensidade e à sua gravidade.

O agredido tem o ónus de comunicar ao Conselho de Segurança o qual deve adoptar as providências necessárias (art. 51.º, 2.ª parte). Desta disposição resulta o seu carácter subsidiário e temporário.

Diga-se que as próprias Nações unidas estabeleceram, não a título exaustivo, um conjunto de situações que se podem considerar como de agressão.

Os meios de solução de conflitos

À multiplicidade de conflitos tem vindo a responder o Direito Internacional através de formas ou meios de solução crescentemente alargados e reforçados. A Carta das Nações Unidas indica a negociação, o inquérito, a mediação, a conciliação, a arbitragem ou até a própria intervenção das Nações Unidas.

É possível discernir meios relacionais de solução (assentes em procedimentos diplomáticos clássicos) e meios institucionais (ligados ao aparecimento de instituições); e meios políticos e meios jurídicos.

Negociação – é a conversação entre as partes, o entendimento directo e imediato através dos canais diplomáticos adequados.

Inquérito – criação de comissão que vai indagar dos factos na base do conflito. Bons ofícios – há um terceiro estado que tenta a conciliação entre os dois beligerantes.

Mediação – o terceiro estado entra directamente nas negociações e pode chegar a formular um solução. Conciliação – comissão que examina a questão e propõe uma solução.

Arbitragem – há um tribunal ad hoc, com membros escolhidos pelas partes para dirimir o litígio. Decisão judicial – o tribunal é permanente e julga segundo critérios de legalidade.

Os princípios de solução de conflitos Podem ser apontados:

- O dever – de jus cogens – de procurar a solução pacífica de qualquer conflito. - A liberdade de escolha dos meios considerados adequados à solução do conflito. - O dever de agir de boa fé.

- O dever de acatar a solução do conflito uma vez encontrada e de a executar de boa fé. A Carta das Nações Unidas completa estas disposições:

- Art. 51.º, n.º3 e 4 – proibição de recurso à força.

- Art. 33.º - Carácter não taxativo dos meios consignados para resolver o conflito. - Art. 52.º - Possibilidade de acordos regionais.

- Art. 36.º, n.º2 – Carácter supletivo das Nações Unidas.

A intervenção do Conselho de Segurança

O Conselho de Segurança intervêm nos conflitos internacionais por sua iniciativa (art. 34.º e 36.º), por iniciativa da Assembleia Geral (art. 11.º, n.º3) ou por iniciativa do Secretario Geral (art. 99.º). Intervêm também por iniciativa de qualquer estado interessado, sejam membros ou não (art 35.º).

A intervenção traduz-se num dos seguintes resultados: convite ás partes no sentido de solução pacífica; recomendação de processos adequados de solução, recomendação dos processos de solução adequada.

Um Estado membro do Conselho que tome parte no conflito deve abster-se de votar (art. 27.º), e o estado não membro do Conselho de Segurança será convidado a participar na discussão, embora sem direito de voto (art. 35.º, n.º2).

Meios de intervenção na ocorrência de conflito armado

Que acontece se o conflito não encontra solução e se dá a eclosão de conflito armado? Neste momento manifesta-se o papel determinante do Conselho de Segurança – por acção ou por omissão agindo em tempo oportuno e útil ou não agindo.

Antes de mais compete ao Conselho de Segurança verificar a existência da situação e depois tomar as medidas apropriadas. Depois a cooperação na manutenção da paz e da segurança internacionais envolve para os estados membros das nações unidas, e até para os não membros, o dever de execução das decisões do Conselho de Segurança (art. 48.º).

Na carta, as sanções económicas, diplomáticas e militares são obrigatórias. Não se confundem com sanções militares duas modalidades de intervenção das Nações Unidas previstas na Carta, mas muito importantes, uma foi a intervenção da Coreia entre 1950 e 1953, ao Abrigo da Resolução União para a Paz, outra modalidade tem sido a das operações de paz.

As operações de paz das Nações Unidas

Desenvolvidas com finalidades e em tempos e moldes muito diversos em face da variedade das circunstâncias e das possibilidades de intervenção, têm atingido todos os continentes. A par das N.U. e aplicando o princípio da subsidariedade da sua actuação (art. 52.ºda Carta), também organizações regionais têm levado a cabo operações de natureza semelhante (por exemplo a intervenção da Liga Árabe no Líbano em 1978).

As operações de paz não se confundem, obviamente com processos de solução de conflitos, porque em si mesmo não visam resolver diferendos, mas atingir os seus efeitos ou impedir que se produzam.

O regime jurídico das operações de manutenção de paz tem-se formado por costume internacional a partir da prática do Conselho de Segurança, e da Assembleia Geral e do Secretariado-Geral, e analisa-se nos seguintes princípios:

- Elas implicam o consentimento do estado em cujo território se realizem.

- Têm natureza não coerciva, só se admitindo o recurso à força em caso de legítima defesa. - Postulam imparcialidade perante as partes envolvidas no conflito.

- Tem duração limitada.

- O órgão competente para decidir a realização das operações é o Conselho de Segurança, como órgão a que cabe «a responsabilidade principal na manutenção da paz» - art. 24.º da Carta.

Antes a revisão constitucional de 1997 poderíamos perguntar se seria admissível a participação de forças de segurança portuguesas em operações de paz. Apesar de o art. 275.º ser omisso, a resposta deveria ser positiva, tendo em conta os grandes princípios e objectivos da inserção internacional de Portugal declarados pelo art. 7.º.

Hoje, esta dúvida não se põe, competindo aliás ao Governo, em concertação com o P.R (arts. 120.º,182.º e 201.º, n.º1, alínea c). e com acompanhamento pela Assembleia da república [art. 161,º, alínea j)].

As intervenções humanitárias

Diferentes das operações de paz, se bem que muitas conexas e próximas delas quando precedidas ou acompanhadas de contigentes militares ou de policia, são as acções de intervenção, ingerência ou assistência humanitária, destinadas a acudir vítimas de catástrofes e de conflitos que têm vindo a ser sido concretizadas, em várias partes do Mundo, por obra das Nações Unidas. Têm objectivos próximos dos desenvolvidos pela Cruz vermelha – ajudar as pessoas (Kosovo em 1999).

Assentes numa concepção jus-universalista e de solidariedade entre os povos, subordinam o princípio da soberania ao princípio do respeito dos Dts. do Homem, podendo-se deduzir os seguintes princípios:

- Estado de necessidade – situação que afecta toda a população, pondo em causa a sua sobrevivência. - A ausência de alternativas viáveis.

- Desnecessidade de consentimento do estado em cujo território se desenrolam as operações (ao contrário das operações de paz).

- Necessidade de autorização ou homologação pelas nações Unidas. - Adstrição dos meios aos fins e sua racionalidade.

- Por isso, limitação no espaço e no tempo. - Isenção na condução das operações.

- Subordinação dos interesses dos estados, das organizações e dos indivíduos envolvidos nas operações aos fins das Nações Unidas, designadamente o respeito pela autodeterminação dos povos.

Capítulo VII – PROTECÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS DO HOMEM

No documento Resumos Livro Jorge Miranda(1) (páginas 46-50)