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PROTECÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS DO HOMEM 1 – Conceitos e problemas

No documento Resumos Livro Jorge Miranda(1) (páginas 50-56)

Protecção internacional dos direitos do Homem e institutos afins

É uma das modalidades de protecção das pessoas através do Dt. Internacional – a mais importante, embora não a única. Mas a seu lado subsistem a protecção diplomática humanitária e dos refugiados.

Protecção Internacional dos Direitos do Homem – visa assegurar direitos dos homens e assegurá-los perante o próprio Estado de que são membros.

A protecção diplomática destina-se a permitir a cada estado através dos seus representantes diplomáticos e consulares, defender as pessoas e os bens dos seus cidadãos relativamente aos estados estrangeiros em cujo território se encontrem ou residam.

A protecção humanitária surgiu para proteger em caso de guerra militares postos fora de combate e civis e refere-se a situações de extrema necessidade em que não se trata da defesa contra poderes jurídicos ou fácticos, mas da própria sobrevivência das pessoas.

Próxima fica a protecção dos refugiados, na grande maioria são vítimas de conflitos armados ou de situações de violência.

No confronto de subjectividade internacional do indivíduo, há que discernir sucessivamente: - Protecção internacional sem subjectividade internacional.

- Subjectividade internacional do indivíduo sem protecção dos direitos do homem.

- Protecção internacional com subjectividade internacional (indivíduo não apenas objecto de protecção mas também sujeito na promoção dessa protecção).

O desenvolvimento da protecção

Tem tido um papel decisivo no desenvolvimento da protecção as Nações Unidas e como grandes marcas avulta a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948. Também tem sido importante a obra das organizações especializadas das Nações Unidas e ainda a actuação de estruturas importantes a nível regional.

A protecção das minorias

A problemática das minorias e da sua necessária protecção vem de muito longe: recordem-se o tratamento dos Judeus na Idade Média.

Está em causa, antes de mais, o reconhecimento aos cidadãos pertencentes a uma minoria dos mesmos direitos e das mesmas condições de exercício dos direitos dos demais cidadãos.

Mas não basta evitar ou superar a discriminação. É necessário assegurar o respeito da identidade do grupo e propiciar- lhe meios de preservação e de livre desenvolvimento.

Foram numerosas e alcançaram alguma efectividade os preceitos sobre minorias constantes de tratados bilaterais e multilaterais celebrados sob a égide da SDN. O órgão competente, para essa área, era o Conselho, chamado a intervir por qualquer dos seus Estados-membros e ao qual podiam ser dirigidas petições.

As normas do Direito Internacional sobre direitos do homem e as suas fontes

Estas normas têm por objecto não já ou não apenas relações interestatais, como no Dt. Internacional clássico, mas relações entre os estados e os respectivos cidadãos ou outras pessoa sujeitas ao seu poder. Pode distinguir-se, em termos gerais:

a)

Uma função de garantia e de reforço de normas já consagradas no Direito interno. b) Uma função directiva

Ressalta mais uma vez a diferenciação entre direitos, liberdades e garantias (auto-exequíveis) e direitos sociais (aplicáveis na medida do possível).

Aos tratados de direitos do Homem aplicam-se os princípios gerais com as adaptações decorrentes do seu objecto e fim, o que implica, designadamente:

a) Interpretação à luz do princípio do tratamento mais favorável.

c)

Quando se trate de reservas respeitantes aos órgãos de protecção ou de fiscalização do cumprimento dos tratados, é necessária aceitação por esses órgãos.

À semelhança do que sucede em Direito interno, também os tratados de direitos do homem admitem a suspensão de dts em estado de necessidade sob o nome de derrogações que estão sujeitas ao princípio da proporcionalidade e não podem atingir certos dts fundamentais.

As formas internacionais de protecção

Nas formas internacionais de protecção, cabe distinguir entre formas não institucionais (corresponde à acção recíproca dos estados e às relações internacionais da coordenação) e formas institucionais (correspondentes às organizações internacionais).

São formas não institucionais de garantia: - As informações recíprocas dos estados.

- Os processos diplomáticos de comunicação ou chamada de atenção para violações de direitos fundamentais. São formas institucionais:

- Os inquéritos.

- O conhecimento de queixas de estados contra outros a propósito de obrigações internacionais sobre direitos do homem.

- O conhecimento de petições comunicações ou queixas de indivíduos.

Pode ser obrigatória ou facultativa a natureza das cláusulas respeitantes à apreciação por órgãos internacionais de queixas de Estados contra outros estados ou de petições, comunicações ou queixas de particulares contra os respectivos Estados, por violação de obrigações internacionais.

A queixa de um cidadão contra o seu próprio estado diante de um órgão internacional, a indagação a que este proceda e a eventual decisão contra o estado que venha a decretar abalam de uma maneira irreversível o dogma da soberania (basta pensarmos no Dt. Internacional Penal).

2 – Os sistemas das Nações Unidas e das organizações especializadas Da carta das Nações Unidas à Declaração Universal

A Carta das Nações Unidas já por si contém normas substantivas sobre direitos do homem (art. 1.º, n.º3, 55.º, alínea c), 56.º). Mas é a Declaração Universal dos Dts. do Homem (DUDH), elaborada no seu imediato seguimento, que enuncia e precisa os grandes príncipios de respeito pela pessoa e pela sua dignidade (art. 1.º, 2.º, 28.º e 30.º).

Não se trata de um tratado, pois foi aprovada sob a forma de resolução da Assembleia Geral da N.U., não vinculativa para os Estados (art. 10.º da Carta). O que resta saber é se o conteúdo da Declaração não pode ser desprendido dessa forma e situado noutra perspectiva.

Parte da doutrina contesta tal possibilidade, por não atribuir às cláusulas da Declaração senão o valor da recomendação. Outra, pelo contrário, vê nela um texto interpretativo da Carta, pelo que participaria de suas natureza e força jurídica. E há ainda aqueles que perscrutam nas proposições da Declaração a tradução de princípios gerais de Dt. Internacional.

É esta última posição que parece ser preferível, por mais atenta aos «sinais dos tempos», à convicção crescentemente generalizada da inviolabilidade dos direitos do homem e Às repetidas referências à declaração que se deparam em Constituições, tratados, leis e decisões de tribunais.

Os Pactos internacionais de direitos

Logo a seguir à aprovação da DUDH entendeu-se que devia concretizar-se o seu conteúdo através de um ou mais instrumentos com carácter de tratado e, além disso, estabelecer formas e processos de garantir os direitos enunciados.

Preferiu-se desdobrar a regulamentação por dois textos: para tornar mais fácil a vinculação dos Estados. O trabalho de preparação dos dois pactos – de Direitos Civis e Políticos e de Direitos Económicos, sociais e Culturais – levou vários anos, e apenas em 1976 entraram em vigor. Portugal ratificou em 1978.

A estrutura dos dois pactos é semelhante em certa medida:

- Preâmbulo longo, com uma parte primeira em que proclamam o direito à autodeterminação e o direito dos povos à disposição de recursos naturais.

- Parte II, com regras gerais, entre as quais a igualdade do homem e da mulher. - Parte III vem a enumeração dos direitos, em termos bastantes pormenorizados. - Parte IV, dedicada à garantia dos direitos.

Os órgãos competentes no domínio dos direitos

Os órgãos previstos na Carta das Nações Unidas com competência no domínio dos direitos do Homem são: - Conselho Económico e Social – através de recomendações (art. 62.º, n.º2), projectos de convenção (art. 62.º, n.º3) conferências (art. 62.º, n.º4), acordos com organizações especializadas (art. 63.º).

- Comissão dos Direitos do Homem

- Assembleia Geral. Como órgão competente para promover estudos e fazer recomendações (art. 13.º, n.º1, alínea b)) e os Altos Comissários para os Refugiados e para os Direitos do Homem.

- Tribunal Internacional de Justiça, como órgão jurisdicional que pode ser chamado a decidir questões entre os estados atinentes a direitos do homem (art. 92.º).

As formas de protecção

De per si, a informação obrigatória que os estados prestem a órgãos internacionais é já uma forma de protecção dos direitos do homem. Mas temos formas mais intensas:

- As comunicações de estados ao Comité dos Direitos do Homem sobre o não-cumprimento por outros estados das suas obrigações (art. 41.º do Pacto de Direitos Civis e Políticos).

O papel da Organização Internacional do Trabalho

O preâmbulo da «Constituição» da Organização Internacional do Trabalho contém uma verdadeira declaração de direitos dos trabalhadores, assente na ideia de que não pode haver paz, universal e duradoura, senão na base da justiça social. Aí se fala na fixação de um limite máximo da jornada de trabalho ou na luta contra o desemprego.

A concretização destes princípios tem sido obra, ao longo de décadas, de dois tipos de actos: as convenções e as recomendações (art. 19.º da Constituição da OIT) dependentes da aprovação pela Conferência Geral, por maioria de 2/3 . as convenções internacionais do trabalho não admitem reservas e os estados ficam obrigados a ratificá-las dentro de um ano. Quanto às recomendações elas são objecto de comunicação às autoridades competentes, com vista à transformação em leis.

A UNESCO e os direitos culturais

O acto constitutivo da UNESCO estabelece uma ligação entre a construção da paz e o seu campo próprio de actividade – o progresso da educação, da ciência e da cultura.

Os Governos ficam obrigados a submetê-las às restantes autoridade internas e a enviar à Organização relatórios acerca da sua observância. Inexistem, no entanto, mecanismos de queixa ou de garantia por inobservância.

3 – Os sistemas regionais A Convenção Europeia dos Direitos do Homem

A Convenção Europeia de Salvaguarda dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, assinada em Roma em 1950, foi o primeiro texto de protecção a nível regional e o primeiro que introduziu o acesso directo do indivíduo a uma instância internacional para defesa dos seus direitos contra o próprio estado.

Com a conquista da democracia no Sul da Europa nos anos 70 e nos anos 80/90 na Europa de Leste, a Convenção vincula hoje mais de quarenta estados. Portugal viria a ratificá-la e aos protocolos até então celebrados após a entrada em vigor da Constituição de 1976.

O Tratado viria a ser complementado por onze protocolos adicionais.

Os direitos declarados são todos direitos liberdades e garantias e em número relativamente modesto.

As reservas à Convenção Europeia

A Convenção admite reservas, mas só de carácter específico e fundadas em disposições vigentes de Direito Interno (art. 57.º e 64.º). o seu efeito consiste em obstar à invocação perante os órgãos que ela prevê dos direitos a que se reportam.

Quando da aprovação para ratificação da Convenção por Portugal, foram formuladas oito reservas às seguintes matérias: prisão disciplinar de militares, incriminação e julgamento dos agentes e responsáveis da PIDE-DGS, televisão, lock- out, serviço cívico, organizações de ideologia fascista, expropriações de latifundiários e de grandes proprietários e empresários ou accionistas, ensino público e particular.

O sistema institucional da Convenção Europeia

O sistema institucional da Convenção compreendia, originariamente, dois órgãos:

- A Comissão Europeia dos Direitos do Homem, como órgão de inquérito, de conciliação e de exame de petições ou queixas de particulares (art. 20.º).

- O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, como órgão jurisdicional (art. 38.º) e como órgão consultivo (art. 1.º do protocolo n.º2).

Os particulares dirigiam-se à Comissão e o processo só desembocava no Tribunal por iniciativa da Comissão ou de outro Estado.

Com vista a simplificar e acelerar os processos, evitando repetições e reforçando o seu carácter jurisdicional, suprimiu-se a Comissão e reestruturou-se o Tribunal.

O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem pode receber petições de qualquer pessoa singular, organização não governamental ou grupo de particulares que se considere vítima de violação por qualquer Estado vinculado pela Convenção.

O Tribunal funciona em comités de 3 juizes, em secções de 7 e em tribunal pleno de 17. o tribunal Europeu não anula ou revoga as decisões dos Tribunais internos dos estados. No essencial apenas decide se houve ou não violação de dts garantidos pela Convenção. As decisões definitivas são contudo vinculativas. O Tribunal possui igualmente uma competência consultiva: a pedido do Comité de Ministros, pode emitir pareceres sobre questões jurídicas à interpretação da Convenção e dos seus protocolos (art. 47.º).

A Carta Social Europeia

Aprovada em 1961 Portugal ratificou-a em 1991. Da Carta constam, principalmente os dts dos trabalhadores a que corresponde uma relativa diversidade de obrigações dos estados (art. 20.º).

A Convenção sobre os Direitos do Homem e a Biomedicina É uma convenção que assenta em três grandes princípios:

- Primado do ser humano sobre os interesses da sociedade e da ciência. - Princípio do consentimento

- O respeito pela vida privada.

As comunidades Europeias e os Direitos do Homem

O Tratado de Roma, constitutivo da Comunidade Económica Europeia, logicamente, apenas havia contemplado a liberdade de circulação e a não-discriminação entre os trabalhadores (art. 48.º). à medida que a integração avançava foi-se sentindo a necessidade de olhar o problema de forma mais alargada. O aumento das atribuições da Comunidade viria a tornar mais forte a necessidade de subordinação dos seus órgãos a normas de garantia desses direitos.

Há também que levar em conta a acção do tribunal de Justiça das Comunidades e a declaração dos Presidentes do Parlamento Europeu, da Comissão e do Conselho Europeu sobre direitos fundamentais, e ainda várias cláusulas expressas

dos Tratados das Comunidades (Maastriccht, Amesterdão, Nice). Tudo isto parece já oferecer base solida, mas preferiu-se uma Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia, proclama em Dezembro de 1000

A Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia

A Carta é relativamente longa, com 54 artigos, dividida em sete capítulos.

Em confronto com a Convenção Europeia, ela alarga substancialmente o acervo de direitos e oferece uma melhor sistematização, embora seja menos pormenorizada ao descrever os respectivos conteúdos.

A Carta estipula que nenhuma das suas disposições pode ser interpretada no sentido de restringir ou lesar os direitos e liberdades fundamentais, reconhecidos, nos respectivos âmbitos de aplicação, pelo Direito da União ou pelo Dt. Internacional.

O Prof. faz algumas críticas à Carta (que aliás apresenta um carácter paraconstitucional e para federalista): - Se estão em causa direitos perante as Comunidades enquanto apliquem o Direito da União, não se compreende porque motivo o respectivo catálogo ficam de fora dos Tratados

- Não obstante o intuito afirmado de respeito pelas Constituições nacionais, corre-se o risco do Tribunal de Justiça, na sua tendência uniformizadora, as secundarizar.

- A Carta pode cavar um fosso entre os países comunitários e os restantes países europeus. Estes continuariam partes na Convenção Europeia – com uma lista relativamente curta de dts. Ao invés, os cidadãos dos países-membros da União beneficiariam tanto da tutela atribuída pela Convenção quanto da tutela adicionada pela Carta. Nada justifica esta separação. Se há fortes razões económicas e políticas para o alargamento da Comunidade por fases, nenhuma razão se divisa para o sistema de direitos fundamentais, a nível europeu não ser o mesmo para todos os Estados europeus.

No documento Resumos Livro Jorge Miranda(1) (páginas 50-56)