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SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL 1 – Aspectos gerais

No documento Resumos Livro Jorge Miranda(1) (páginas 33-46)

A subjectividade internacional

No campo dos direitos estatais, é o indivíduo, sempre sujeito de dt., sempre pessoa. No Dt. Internacional sobrelevam o Estado e algumas categorias de entes de natureza mais ou menos próxima. No Dt. internacional a actividade jurídica decorre entre um n.º pequeno de sujeitos. O Estado é uma pessoa colectiva de Dt. Interno; a comunidade internacional não é sujeito de Direito internacional.

Diz-se sujeito de Dt. quem é susceptível de exercer dt. e estar sujeitos a deveres, quem pode entrar em relações jurídicas, quem pode ser destinatário de normas jurídicas. Esta noção carece de ser conformada de dois elementos, que podem ser tomados como seus corolários:

1.º A possibilidade de actividades jurídico- internacionalmente relevantes.

2.º A virtualidade de uma relação directa e imediata com outros sujeitos, agindo nessa qualidade.

Não basta a atribuição de dts por regras de Dt das Gentes para que haja personalidade internacional do indivíduo. Tem ainda que ocorrer a possibilidade de acesso a instâncias internacionais para a realização ou garantia desses dts.

Há sujeitos de Direito interno que não são sujeitos de Dt internacional e vice-versa. Mas quando determinado ente é simultaneamente sujeito de ambos os sistemas tem de se registar a coincidência do substracto: é a mesma pessoa colectiva Estado a agir no âmbito interno, ou o mesmo indivíduo. O que variará é a capacidade.

Personalidade e capacidade internacional

Tal como em Dt. Interno, personalidade jurídica não se identifica com capacidade – de gozo e exercício. Na ordem interna os indivíduos, as pessoas singulares têm capacidade genérica e as pessoas colectivas capacidade limitada segundo o princípio da especialidade. Já na ordem internacional é o estado que beneficia de uma capacidade genérica e todos os direitos que essa ordem venha a prever, e todos os demais sujeitos se encontram submetidos a uma

regra de especialidade ou de limitação (não nos podemos esquecer que à capacidade segue a responsabilidade, a qual varia consoante a primeira).

Atribuição de personalidade e reconhecimento

Cabe distinguir entre atribuição em geral da personalidade jurídica e a atribuição em concreto a certo ente, entre a previsão de certa categoria de sujeitos de Dt. Internacional e reconhecimento a certo ente dessa qualidade, por subsunção na categoria. São dois fenómenos e dois momentos que se recortam com clareza.

O reconhecimento do Estado e de entidades afins desempenha um papel não despiciendo numa comunidade internacional relativamente fechada e desprovida de órgãos supremos. A sua importância terá diminuído um pouco com a institucionalização actual, mas não desapareceu, por causa dos factores políticos dele incidíveis e por terem surgido novos sujeitos dele carecidos. Só não há reconhecimento, pela natureza das coisas, no referente aos indivíduos e às organizações internacionais para- universais

Quadro dos sujeitos de Direito Internacional Temos:

- Estado e sujeitos não estatais.

- Sujeitos de base territorial e sujeitos sem base territorial. - Sujeitos originários de Direito internacional e não originários

- Sujeitos de fins gerais e de fins não gerais – consoante visam ou não uma pluralidade não determinada de fins. - Sujeitos permanentes e não permanentes – dependendo da estabilidade ou de duração sem limites.

- Sujeitos de reconhecimento geral e sujeitos de reconhecimento restrito.

- Sujeitos de capacidade plena e sujeitos de capacidade não plena – consoante gozem de todos os Dts de participação previstos em normas jurídico-internacionais.

- Sujeitos activos e passivos – conforme lhes são atribuídos direitos e outras situações activas ou ficam adstritos a deveres ou a outras situações passivas de Dt. Internacional.

Os sujeitos de Dt. Internacional poderão ser agrupados em quatro grandes categorias: Estados e entidades afins (manifestação de elementos relacionais próprios da identidade humana); organizações internacionais (manifestação do fenómeno da institucionalização da vida internacional); instituições não estaduais (instituições de fins especiais, inconfundíveis com os interesses prosseguidos pelos Estados); indivíduos e, em determinadas hipóteses, pessoas colectivas privadas (demonstra o ultrapassar do quadro interno e a consequente projecção de Dts. e deveres perante instâncias internacionais).

Não são as mesmas as fontes normativas da personalidade jurídica internacional. Assim: - Quanto aos Estados e Santa Sé, o Dt. Internacional geral ou comum.

- Quanto às organizações internacionais e ao indivíduo o direito internacional convencional. - Quanto a movimentos de libertação, decisões de organizações internacionais.

Os Estados

A vida internacional que se desenvolveu a partir dos séc. XVI-XVII pretendeu assentar num sistema de Estados livres e iguais, mas nunca foi nem uma ordem puramente equilibrada de potências soberanas (basta pensarmos nas dependências de facto ou de direito entre Estados).

Classicamente revelavam a existência de soberania plena quatro direitos dos Estados: - Jus tractuum ou direito de celebrar tratados.

- Jus legationis ou direito de enviar e receber representantes diplomáticos.

- Jus beli ou de fazer a guerra como direito de legítima defesa (art. 2.º, n.º4 da Carta das Nações Unidas). - O Direito de reclamação ou de impugnação internacional destinado à defesa dos interesses dos Estados. Ao lado dos estados soberanos temos também:

- Estados protegidos, vassalos, confederados, ocupados ou divididos.

Tomando a soberania como capacidade internacional plena os estados classificam-se em:

- Soberanos – os que têm esse estatuto, sem que as restrições, cada vez mais numerosas, que lhe impõem as realidades do mundo contemporâneo os afectem qualitativamente, mas só quantitativamente.

- Com soberania reduzida – Estados protegidos, vassalos, exíguos, confederados, ocupados e divididos. - Não soberanos – Estados federados e membros de uniões reais.

As entidades pró-estatais

Abrangem os rebeldes beligerantes e os movimentos nacionais de libertação nacional. São entidades transitórias, ao contrário do que acontece com os Estados, mas entidades que pretendem assumir, na sua totalidade ou quase totalidade, atribuições afins dos estados

Quanto aos rebeldes trata-se da situação emergente em certos estados, em que se verifica uma guerra civil, e em que os rebeldes ocupam uma porção de território, e lá exercem uma autoridade identificável com o poder estatal e conseguem manter essa autoridade durante um tempo prolongado. Por princípio nenhum estado deve interferir noutro em que ocorra uma rebelião.

O movimento nacional de libertação age em nome de uma nação ou povo, que se pretende erigir em estado. Caso especial de entidade pré-estatal é a Autoridade Nacional Palestiniana, decorrente de acordos em 1993 entre Israel e a OLP. Embora tendente a evoluir para um estado soberano, ela goza apenas de poderes e autonomia, e muito precários.

As entidades infra-estatais são comunidades de base territorial, em alguns casos dotadas de autonomia que obtêm por si ou através das entidades administrantes, um acesso mais ou menos limitado à vida internacional.

Incluem aqui as colónias autónomas (formas específicas de administração britânica – a Austrália – e alguns mandatos que eram territórios à Alemanha e à Turquia vencidas na 1.ª guerra mundial (ver art. 22.º da carta das nações).

Os territórios sob regime internacional especial ou territórios internacionalizados podem ter por meio do Estado com que tenham vínculos mais próximos ou por vias um acesso, embora circunscrito, à vida internacional (o Sarre entre 1919 e 1935 e 1945 e 1955).

Citemos Timor-Leste que depois das dramáticas vicissitudes ocorridas entre 1975 e 1999, recebeu uma «administração transitória», a cargo das Nações Unidas. Como o Administrador Transitório dispunha de jus tractuum, justifica-se que se conceba uma personalidade jurídica internacional de Timor, enquanto sob administração da ONU.

Diferente são os territórios internacionalizados sem capacidade jurídico-internacional (Antárctida, os fundos marinhos).

Os poderes internacionais das regiões autónomas portuguesas

As regiões autónomas gozam, constitucionalmente, de alguns poderes de incidência internacional, uns com característica de poderes de prossecução por elas próprias de interesse regionais, outros com a natureza de poderes de participação. Estes poderes de incidência internacional encontram-se constitucionalmente no art. 227.

Estes poderes, embora originais e significativos, não envolvem a transformação da RA em sujeitos de direito internacional (mesmo na cooperação com regiões estrangeiras e na participação em organizações de cooperação inter-regional, pois trata-se de uma cooperação com entidades também desprovidas de personalidade jurídica).

As entidades supra-estatais

As federações e uniões reais são entidades supra-estatais, que se erigem em novos estados enquanto tais, assimiláveis a quaisquer outros Estados.

As confederações, pelo contrário assumem particular relevo no Dt. das Gentes e podem ter personalidade jurídico-internacional a par dos estados confederados. Do pacto confederativo resulta uma entidade a se, com órgãos próprios, mas não emerge um novo poder político ou uma autoridade com competência genérica.

As organizações internacionais

Organizações internacionais são instituições criadas por estados e algumas vezes por outros sujeitos (como a Santa Sé) destinadas a prosseguir com permanência e meios próprios, fins a elas comuns. Elas estão para os estados como as pessoas colectivas de tipo associativo estão em Dt. Interno para os indivíduos. E tal como estas, adquirem um grau maior ou menor de autonomia relativamente aos sujeitos que as constituem

Nas organizações internacionais internacionais, domina uma ideia de solidariedade, mas uma solidariedade que conduz a fins tendencialmente de carácter geral ou não particularista, a fins que se assumem como inerentes à comunidade internacional.

Se as organizações internacionais não são, por certo, órgãos da comunidade internacional, apresentam-se já como expressões de uma comunidade organizada e de um Direito das gentes que vai ultrapassando o mero domínio das relações de reciprocidade a caminho de novos estádios de desenvolvimento.

As principais classificações de organizações internacionais são: - Quanto aos fins:

- Plurais – Organização das Nações Unidas.

- Especiais – económicas, jurídico-políticas, sociais, militares. - Quanto ao âmbito geográfico

- Para-universais – ONU. - Regionais ou continentais. - Quanto ao acesso:

- Relativamente abertas.

- Restritas por razões geográficas. - Quanto à duração:

- Perpétuas. - Temporárias. - Quanto aos poderes:

- De cooperação.

- De integração (as Comunidades europeias até Maastricht; o Mercosul).

As Comunidades Europeias e a União Europeia

As comunidades Europeias – CECA, a CEE e a EUROTOM – são indiscutivelmente, sujeitos de Direito Internacional.

Em 1992, o Tratado de Maastricht criou uma União Europeia e reviu os tratados institutivos das Comunidades. A ele se seguiram em 1998 o Tratado de Amesterdão e em 2000 o Tratado de Nice.

A União Europeia funda-se nas Comunidades Europeias (art. 1.º) dispõe de um quadro institucional (art. 3.º), competindo ao Conselho Europeu – que reúne os Chefes de Estado ou de Governo dos Estados-Membros, bem como o Presidente da Comissão – dar-lhe os impulsos necessários ao seu desenvolvimento e definir as respectivas políticas gerais (art. 4.º). O Parlamento Europeu, o Conselho, a Comissão, o Trib. De Justiça e o Trib. De contas são órgãos das comunidades todas desde 1965.

A U.E será ainda um organização internacional, se bem que de integração? Ou será já um federação?

Por agora aproxima-se mais de uma confederação – com notas inéditas por conter elementos provenientes de outras estruturas. Se a soberania dos estados surge diminuída ou reduzida pela extensão das atribuições comunitárias e das matérias de interesse comum, pela unidade monetária, pela convergência económico-financeira e pelo peso acrescido das decisões maioritárias, não fica substituída por um poder próprio da União.

O próprio projecto de Constituição, apesar do nome e de conter elementos federalizantes, continua a atribuir prevalência aos elementos intergovernanetais.

As instituições não-estatais

As instituições não estatais que são sujeitos de Dt Internacional existem:

- A Santa Sé – membro fundador da comunidade internacional, esteve até 1870 ligado a um estado, mas com personalidade jurídica internacional. A sua capacidade traduz-se sobretudo no jus legationis e no jus tractuum, bem como na participação em organizações internacionais. Desde 1929 que o território do Vaticano garante a sua independência.

- A Cruz Vermelha – remonta a 1863, não tendo sido criada por tratado e com as sociedades nacionais a terem estatutos de Direito interno, a sua qualificação a nível internacional aponta para a sua qualificação com capacidade limitada.

- A Ordem de Malta – continuadora da ordem de S. João de Jerusalém. Em 1446 um bula papal reconhece-lhe soberania; mas foi transferida, a sua sede para Roma, desenvolvendo, hoje, apenas fins de assistência espiritual e social.

Têm como pontos comuns:

- Formação independente de tratado.

- Natureza não político-temporal dos seus fins. - Base não territorial

- Independência em relação a outros estados.

Destas se distinguem as ONGs, que são meras organizações privadas de âmbito internacional que colaboram na prossecução de fins de cooperação, promoção e desenvolvimento vizinhos dos daquelas instituições e organizações (Greenpeace – art. 71.º da Carta das nações Unidas).

O indivíduo

O Direito Internacional nunca deixou de se ocupar dos indivíduos das pessoas singulares, pelo menos quando inseridas em certas situações. Basta recordar a protecção diplomática ou as imunidades diplomáticas.

Todavia, relevância jurídica não equivale a personalidade jurídica; não é por haver normas que estabeleçam direitos e deveres para o indivíduo que ele se torna sujeito de relações internacionais. Para que exista personalidade internacional do indivíduo tem de haver ainda a possibilidade de uma relação com outros sujeitos de Dt. Internacional, nomeadamente organizações internacionais.

São as seguintes as circunstâncias em que se justifica falar em subjectividade internacional do indivíduo:

- Quando membro de minoria nacional seja conferido dt. de petição perante qualquer organização internacional – art. 87.º, alínea b) da Carta das nações Unidas.

- Quando cidadão de Estado que possa dirigir-se a órgão internacional invocando violação.

- Quando cidadão de qualquer dos estados das comunidades tem direito de queixa perante o provedor de Justiça (arts. 21.º, 194.º e 195.º do tratado da Comunidade Europeia).

- Quando seja titular de órgão de organização internacional.

Direito e deveres fundamentais dos estados

O Dt. Internacional tem procurado definir Dt. e deveres fundamentais dos estados. Há por um lado princípios e regras atinentes à existências, à independência e à participação jurídico-internacional dos Estados; há, por outro lado, princípios e regras que estabelecem ou procuram estabelecer condições concretas dessa existência, do seu desenvolvimento e dos eu acesso.

No essencial, os primeiros princípios e regras constam da Carta das nações Unidas e os outros da carta de Direitos e Deveres Económicos dos Estados, aprovada pela Assembleia Geral das nações Unidas e a Carta dos Dts. e Deveres Económicos dos estados.

Direitos e Deveres políticos

Do art. 2.º da Carta das nações Unidas constam verdadeiros Direitos:

- O Direito à igualdade (n.º1); o Direito à independência política (n.º4); o direito à integridade territorial (n.º4). Do mesmo passo contém o n.º2 um elenco de deveres do estado:

- Dever de agir em boa fé (n.º2); dever de solução pacífica de conflitos (n.º3); dever de se abster do uso da força (n.º4). O princípio da igualdade dos estados é algo de homólogo do princípio da igualdade dos cidadãos perante a lei. O segundo não sofre qualquer limite, mas já no primeiro existem restrições ou distorções no âmbito do Direito Internacional (basta pensarmos no Estatuto excepcional dos cincos estados que são membros permanentes do Conselho de Segurança e gozam de direito de veto).

Domínio reservado e intervenção

No Direito internacional clássico a soberania de cada Estado precisava apenas de ser garantida frente aos demais estados. No Dt. internacional contemporâneo precisa de ser garantida também frente às organizações para-universais de fins políticos.

Logo na Sociedade das nações houve consciência do problema (art. 15.º, n.º8). Hoje a Carta das Nações Unidas também versa sobre esse problema (art. 2.º, n.º7).

À letra a Carta reforça a garantia dos Estados, porquanto em vez de «competência exclusiva, fala em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição dos Estados». Em contrapartida, deixa de se fazer referência ao Direito Internacional e veda-se a invocação do princípio em caso de medidas tomadas para reagir a situações de ameaça à paz, ruptura da paz e agressão.

Tem sido uma questão recorrente a interpretação desta figura, dita de domínio reservado dos estados, tanto à face do pacto como à face da Carta não se tem conseguido consenso sobre o que seja intervenção: se mera decisão obrigatória do Conselho de Segurança, ou se abrange qualquer tipo ou forma de acto das nações Unidas ou no seu âmbito. A prática tem alargado as áreas e matérias acerca das quais as nações Unidas se pronunciam, ou formulam recomendações ou deliberações, ou aceitam debates nos seus órgãos com ou sem consequências jurídicas imediatas.

Apesar de tudo, seria exagerado considerar o domínio reservado algo de contingente, porque não poderia deixar de existir um conteúdo essencial de livre condução da vida colectiva por cada Estado sem dependência das nações unidas.

Desigualdade de facto e direitos económicos dos Estados

Nota característica da vida internacional é a existência de marcadas desigualdades de facto entre os estados. A algumas dessas desigualdades têm procurado responder, para as reduzir as N.U. e as organizações especializadas e regionais através de diversas medidas (por exemplo, o D.I. do desenvolvimento, que visa o tratamento desigual dos vários Estados).

Esta distinção de regimes e esta diversidade de atribuição de benefícios não põem em causa, só por si, o conceito tradicional de soberania. Elas são paralelas às preocupações de igualdade social. Com ligação a esta ideia encontram-se alguns dos direitos enunciados na Carta dos Direitos e Deveres Económicos dos Estados: Art. 2.º do Capítulo II; Art. 4.º; Art. 5.º; art. 13.º; art. 12.º e 14.º; e art. 29.º.

O reconhecimento de Estado

Reconhecimento – é o acto jurídico-internacional pelo qual um sujeito afirma que determinada situação é conforme com o Direito ou pelo qual afirma que se verificam os pressupostos exigidos por uma norma internacional para a produção de certos efeitos.

Pode ter natureza constitutiva (só após o reconhecimento, o Estado existiria, e passaria a ser sujeito de D.I.) ou declarativa (o reconhecimento apenas limitar-se-ia a verificar, mas não a acrescentar algo de novo, às condições de existência de um Estado). Hoje prevalece a tese da natureza declarativa do reconhecimento, por ser a que melhor traduz as relações multilaterais. Vários pontos do regime do reconhecimento de um Estado:

- Apenas é relevante o reconhecimento que outros estados façam.

- Não há nunca um dever de reconhecimento ou de ñ reconhecimento (mas trata-se de um Dt. de exercício limitado). - O reconhecimento tanto pode ser expresso como tácito.

- Pode haver reconhecimento colectivo. - O reconhecimento é irrevogável.

Muitas vezes o que está por detrás da questão do reconhecimento deste ou daquele estado, o que realmente se discute é a questão do reconhecimento do regime político ou do Governo (Angola e Camboja em 1975).

O reconhecimento de Governo

Quando se fala em reconhecimento de governo está em causa um conceito de Governo que não se assimila ao de Governo, enquanto um dos órgãos do Estado. Trata-se de um conceito atinente aos poderes e responsabilidade de condução das relações externas dos estados. O problema suscita-se quando ocorre uma quebra de continuidade e quando é necessário saber exerce os poderes de soberania interna e externa.

O princípio essencial é o da continuidade do estado, independentemente da inelutável sucessão de governantes. Mas quem é que em cada momento é o titular de órgão de representação internacional? No domínio de uma mesma CRP ou de um mesmo regime político o problema não se põe; assim como numa transição constitucional ou passagem de uma constituição material a outra.

Põe-se sim quando se dá uma revolução, uma mudança constitucional com ruptura. E põe-se não porque um estado estrangeiro tenha de se pronunciar sobre o carácter do novo sistema, mas porque é preciso saber quais as condições de que dispõe o novo poder para cumprir os compromissos internacionais do Estado.

O único critério de reconhecimento de Governo aceitável vem a ser o da efectividade, não o do juízo sobre a natureza do regime em apreço da nova Constituição. O reconhecimento de Governo tem natureza declarativa, mas não constitutiva.

Representação

Representação – consiste num processo de substituição de vontades com imputação dos efeitos dos actos praticados pelo representante na esfera jurídica do representado. Tudo está na conjugação dos interesses de ambos e do terceiro Estado que seja parte desses actos.

O Estado protegido como que atribuía ao estado protector poderes gerais de representação nas relações internacionais – são hoje situações ultrapassadas – é o que se verifica quando um estado solicita a outro que se encarregue da defesa dos seus interesses perante um terceiro com o qual não mantém relações diplomáticas.

A sucessão de Estados

Diversas vicissitudes que atingem o estado suscitam a problemática jurídica, extremamente complexa, a que se tem dado o nome de sucessão de estados. São elas:

- Cessação da soberania ou da administração de um estado relativamente a certo território – por incorporação dele no território de outro Estado.

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