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5. DISCUSSÃO DO MATERIAL BIBLIOGRÁFICO

5.5. Conflitos Pela Decisão da Maternidade Tardia

AUTORES CONFLITOS IDENTIFICADOS Carvalho (2014) Persistência pela busca de autonomia e realização individual.

Rodrigues (2008) Conflito vivenciado devido à tripla jornada de funções como trabalhadoras, mães e esposas. Dificuldade de conciliar o trabalho remunerado com a maternidade.

Lima (2012) Querer ter um filho com um parceiro adequado e o medo de perder sua liberdade e individualidade, além do medo de precisar ter ainda mais responsabilidade na vida. As mulheres não querem viver como viviam suas avós, mas vive-se em conflito em função dos próprios valores e sob muita pressão social, diferente de antigamente. Dificuldade de conciliar a maternidade com o trabalho em regime de tempo integral. Conflito ao se dar conta de estar na idade limite para ser mãe e pela necessidade de viver essa experiência. Rios-Lima (2012) Ambivalência em relação ao desejo pela maternidade; Frustração e alívio devido a não

gravidez. Conflito devido à sobrecarga de funções.

Jacobsen (2014) Desamparadas, inseguras e até mesmo incapazes de lidar com seus filhos entra em contradição quando fala que a idade avançada proporcionaria maturidade e experiência para com a maternidade. Por um lado, a idade avançada produz na mulher a segurança pelos anos de experiência de vida, por outro, provoca uma insegurança, levando-a a questionar-se se terá energia e saúde suficientes para acompanhar o desenvolvimento de seu filho, assim como à preocupação com a aparência física e o envelhecimento do corpo. Barbosa e Coutinho

(2007)

Dificuldade de lidar com as exigências sociais; Dificuldade em conciliar trabalho e maternidade, acabar tendo que optar por uma e excluir outra. Escolha pelo adiamento ou por não exercer a maternidade acompanhadas de dúvidas e conflitos.

Lopes, Zanon e Boeckel (2014)

Se, por um lado, a mulher se vê como uma profissional muito competente, por outro, ela teme em assumir a maternidade; Para realizar todas essas tarefas quanto ao trabalho e ao estudo a mulher precisa de tempo. O mesmo tempo que ela precisaria para se dedicar à maternidade.

Parada e Tonete (2009) Ambivalência entre querer e não querer a gravidez.

Oliveira et al. (2011) O sonho de ser mãe implica decisões difíceis para a mulher como ter que abdicar de escolhas profissionais e diminuir o padrão de vida.

Sousa e Maia et al. (2016)

Não mencionam a presença de conflitos.

Fonte: Própria pesquisadora

Diversos estudos apontam que o adiamento da maternidade é uma decisão permeada por conflitos (GOMES et al., 2008; RODRIGUEZ; CARNEIRO, 2013; CORREIA, 1998; SOUSA et al., 2011; ALDRIGHI, 2016; OLIVEIRA, 2014; MALUF, 2009). Essa constatação é confirmada em 9 dos 10 textos elegidos desse estudo. Apenas os autores Sousa e Maia et al. (2016) não mencionam a presença de conflitos relacionados a maternidade tardia.

Em geral, a literatura aponta o fenômeno do adiamento da maternidade como cada vez mais recorrente na vida das mulheres, que implica diversas questões relacionadas à tomada de escolhas muito difíceis para a mulher e que com frequência são geradoras de sentimentos conflitantes (GOMES et al., 2008; RODRIGUEZ; CARNEIRO, 2013; CORREIA, 1998; SOUSA et al., 2011; ALDRIGHI, 2016; OLIVEIRA, 2014; MALUF, 2009).

A não menção da presença de conflitos advindos da escolha pelo adiamento da maternidade no estudo de Sousa e Maia et al. (2016) pode ter sido em decorrência dos objetivos do estudo terem sido focados em aspectos muito específicos. No estudo realizado pelos autores eles buscaram averiguar possíveis relações entre o apoio social e variáveis sociodemográficas e gestacionais em gestantes tardias.

Sousa e Maia et al. (2016) reconhecem que os estudos sobre a temática da maternidade tardia costumam elucidar os aspectos negativos que acompanham a postergação da maternidade, diante desse fato, os autores procuram considerar os aspectos positivos relacionados ao adiamento da maternidade, para tanto, acreditam que o apoio social seja um recurso para o enfrentamento de possíveis dificuldades que acompanham o período da gestação.

Como pode ser observado na Tabela 10 os conflitos que permeiam a decisão pela maternidade tardia são diversos, os estudos de Rodrigues (2008); Lima (2012); Rios-Lima (2012); Barbosa e Coutinho (2007); Lopes, Zanon e Boeckel (2014) citam que o acumulo de funções tem sido um importante motivo gerador de conflitos nas mulheres, pois elas estão inseridas em um contexto com uma rotina que exige que elas sejam donas de casa, mães, esposas, e profissionais qualificadas em tempo integral.

Segundo Maluf (2009) a sociedade ainda vive num modelo de padrões tradicionais na esfera doméstica, com divisões de funções estabelecidas, mas para a autora, esse tipo de modelo precisa ser mudado, pois na atualidade ele não funciona mais. Ainda conforme essa autora, nos casamentos onde há participação igualitária do casal nas atividades domésticas e no cuidado com os filhos, toda a família é beneficiada, pois isso implica diminuição na sobrecarga de trabalho da mulher e maior convivência do parceiro com os filhos o que pode ser motivo de estreitamento das relações e do bem estar emocional para a família.

Sabendo dessa gama de funções que elas têm que desempenhar, as mulheres entram em conflito ao pensar na maternidade, pois já são donas de casa e trabalhadoras e a maternidade representaria mais uma função a ser

desempenhada. Conforme aponta Maluf (2009) houve evoluções nas tarefas desempenhas pelas mulheres, mas as atividades que se referem à esfera doméstica como o cuidado com a casa e os filhos parecem não acompanhar de modo proporcional às mudanças em virtude da maior participação feminina no mercado de trabalho.

O conflito entre o acumulo de funções é tão expressivo, que dos nove estudos que mencionam a existência de conflitos, cinco trazem como motivador desses conflitos a sobrecarga de funções (RODRIGUES, 2008; LIMA, 2012; RIOS-LIMA, 2012; BARBOSA; COUTINHO, 2007; LOPES; ZANON; BOECKEL, 2014).

Conforme aponta a pesquisa feita pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística sobre as condições de vida da população brasileira em 2016 as atividades relacionadas aos afazeres domésticos ainda são desempenhados de forma expressiva pelas mulheres, e a articulação entre essas duas funções ocasiona impactos negativos no bem estar social das mulheres.

Conforme os resultados da PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2015, ainda segundo IBGE, existe um engessamento relacionado aos padrões de gênero no desempenho das funções doméstica, segundo IBGE em 2015 a jornada masculina de com os afazes domésticos permanece em dez horas semanais, valor igual ao encontrado em 2005, enquanto que a feminina nessas atividades é o dobro.

Maluf (2009) discorre sobre as funções exercidas pela mulher ao logo da história e constata que de modo geral os papeis femininos são divididos em três conjuntos que ela define como a esposa, a profissional e a mãe. Desse modo, a autora menciona que a vida das mulheres é acompanhada pelo exercício de múltiplos papeis e que é cobrado dessas mulheres perfeição na execução de todas essas funções.

Sobre a execução de múltiplos papéis:

Isso se dá, em grande parte, porque, muitas destas mulheres, de um lado foram submetidas ou influenciadas pela socialização tradicional – que as treinou durante sua infância para pensar, agir e sentir de maneira apropriada a suas funções de esposa, mãe e dona-de-casa,

funções estas que continuam a ser amplamente reforçadas pela cultura – e, de outro, foram levadas a buscar sua satisfação pessoal também fora da família, como decorrência do questionamento destes valores tradicionais e da integração da mulher nos últimos anos ao mundo da produção, através de seu trabalho e carreira profissional (ROCHA-COUTINHO, 1994, p. 62).

A imposição dos papeis atribuídos à mulher marca um cenário permeado por conflitos entre as funções tradicionais e o desempenho de novas tarefas que fogem a essas determinações, fazendo “com que sua vida se realize no conflito de expectativas contraditórias como ter uma formação profissional e uma carreira ou adaptar-se ao ciclo familiar, ter ou não ter filhos, entre outras” (ROCHA-COUTINHO, 1994, p. 62).

Desse modo, as mulheres precisam eleger prioridades, e isso implica ter que fazer escolhas relacionadas à vida profissional ou pessoal, aspectos fundamentais na vivência das pessoas. Os estudos de Barbosa e Coutinho (2007); Oliveira et al. (2011) apontam como motivador de conflitos terem que fazer escolhas profissionais e diminuir o padrão de vida em detrimento da maternidade decisão muito difícil para as mulheres que possuem funções importantes e têm um padrão de vida econômico alto e ter que abdicar disso pra conciliar com a maternidade.

Ainda não existe uma solução satisfatória para os dilemas entre trabalho e família vivenciados pela mulher, esse fato têm levado muitas mulheres “a reduzir o número de filhos ou fazer sua opção pela carreira profissional, desistindo de outros projetos como o casamento e a maternidade” (ROCHA-COUTINHO, 1994, p. 63).

Segundo Maluf (2009) o adiamento da maternidade é um recurso utilizado por um grupo específico de mulheres, que têm em comum nível econômico alto, escolarização superior e são moradoras de zonas urbanas. Essa informação não é passível de generalizações, pois as pesquisas de Parada e Tonete (2009); Sousa e Maia et al. (2016) foram realizadas com mulheres de baixa renda que tiveram filhos em idade avançada, pode-se inferir que, embora esses sejam os motivos mais frequentes, as causas do adiamento da maternidade são diversas e estão para além dos aspectos de escolarização e renda.

A liberdade alcançada pelas mulheres se tornou algo tão importante, que pensar na maternidade implica o medo da perda dessa liberdade que elas lutaram tanto para conquistar e que, portanto o temor pela não liberdade que a presença de uma criança em suas vidas tem sido motivo de conflitos evidenciados nos estudos de Lima (2012).

O exercício da maternidade ainda é acompanhado de visões tradicionais, um estudo realizado por Rocha-Coutinho (2004) revela que a sociedade ainda espera que a mulher exerça a maternidade, desse modo, muitas mulheres que não tem o desejo de serem mães se veem pressionadas por ter que exercer a maternidade para cumprir com as exigências da família e sociais.

Esse dado foi observado nos estudos que revelam sentimentos ambivalentes sobre a maternidade, ora um alívio por não engravidar ora uma decepção ou tristeza, os estudos mostram que algumas mulheres não sabem se querem ou não ser mães, nesse sentido, a maternidade aparece como uma função para cumprir as exigências sociais, onde nos estudos aparece como algo que elas não sabem como lidar (RIOS-LIMA, 2012; BARBOSA; COUTINHO, 2007; PARADA; TONETE, 2009).

O adiamento da maternidade é uma realidade de maior expressividade entre as mulheres com maior escolarização e maior nível econômico (MALUF, 2009) de modo geral, essas mulheres são qualificadas e competentes, mas mesmo com a idade avançada e conhecimento adquirido, alguma mulheres se sentem inseguras, despreparadas e desamparas pala lidar com a maternidade, o que entra em contradição com a ideia de que ser mãe em idade mais avançada lhes proporcionaria maior segurança para exercer a maternidade, esses aspectos estão presentes nos estudos de Jacobsen (2014).

Além disso, há preocupação em relação às questões de saúde, se por um lado a idade proporciona experiência por outro há dúvidas se elas terão saúde para acompanhar o crescimento do filho (JACOBSEN, 2014). Além da preocupação com a saúde, há também a preocupação com a aparência física e o envelhecimento do corpo. Em relação à preocupação das mulheres com a aparência e saúde do corpo:

A valorização do corpo pelo viés do discurso social da importância da saúde surge em oposição ao mero “culto ao corpo”, que evidencia somente seu caráter estético [...] Isto porque a preocupação estética é [...] situada como um padrão em grande parte delimitado externamente, ou seja, se impõe à mulher como uma exigência do outro, reforçando a antiga imagem da mulher tomada como objeto (ROCHA-COUTINHO, 2004, p. 10).

Com as mudanças vinculadas a figura feminina, elas se veem ainda sob muita pressão social, pois querem se diferenciar do modo como viviam suas avós e mães, que dado o histórico tinham como função cuidar da casa, do marido e dos filhos (LIMA, 2012).

Ainda há preocupação com a formação de uma família, elas ainda procuram por um parceiro adequado para terem os filhos (LIMA, 2012) e a realidade do casamento atualmente tem mostrado que assim como as mulheres tem tido os filhos mais tarde, os casamentos também tem demorado mais a acontecer (RIOS-LIMA, 2013; SOUSA, 2015).

Para Rios-Lima (2013) mesmo com a presença de sofrimento e angústias, é possível que a vivência da maternidade tardia ocorra de modo relativamente saudável, o que dependeria “dos recursos psíquicos individuais e do legado geracional de cada uma delas” (RIOS-LIMA, 2013, p.127).

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