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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 NECESSIDADES BÁSICAS

4.1.1 Conhecimento e Compreensão

A necessidade básica de Conhecimento e Compreensão foi apontada como a primeira na busca da educação superior para os idosos participantes deste estudo. Os motivos investigados foram relacionados com a procura por significado como: adquirir conhecimento atualizado, ocupar o tempo de maneira produtiva, aprender a pensar cientificamente, ter acesso a informações, aprender teorias e entender e resolver problemas técnicos e científicos.

Segundo Olievenstein (2001, p. 34) a falta de conhecimento atualizado é o mesmo que “ser designado como não estando mais à altura. É entrar, por bem ou por mal, em um outro mundo, o mundo da inutilidade”. É assustador imaginar uma pessoa que, durante o processo de vida teve participação ativa, se sinta inútil por

não conseguir acompanhar as mudanças rápidas que ocorrem à sua volta. Para os idosos participantes desta pesquisa, a busca pela educação superior está vinculada ao conhecimento que os ajude a acompanhar as mudanças.

Adquirir conhecimento atualizado, motivo 9, foi escolhido como

essencial por 23 (44,23%) dos respondentes, sendo 14 homens e 9 mulheres dos quais 12 possuem ensino médio e 11 têm curso superior anterior. A classificação muito importante foi escolhida por 17 (32,69%) respondentes, sendo 10 homens e 7 mulheres. Destes 17 idosos, 10 atingiram o ensino médio e 7 o curso superior anterior.

O Gráfico 2 apresenta a frequência relativa das escolhas para esse motivo. 1,92% 3,85% 17,31% 32,69% 44,23%

Não tem impo rtância Po uco importante Importante M uito impo rtante Essencial

Gráfico 2 – Adquirir conhecimentos atualizados

Para Britto (2003) o adulto volta para a escola em busca de habilidades necessárias para o momento presente. A manifestação de um dos idosos é coerente com a literatura, demonstrando a importância que o conhecimento atualizado proporciona para a pessoa sentir-se inserida no mundo que vive:

Estou na faculdade em busca do saber atualizado porque não consigo acompanhar muita coisa que acontece no mundo. É uma pena que muitos dos meus colegas, que ainda são novinhos, não aproveitam essa oportunidade. Eu não pude estudar antes e sei que é importante entender as coisas direito e a gente só consegue isso se estiver se atualizando (Idoso 3).

No motivo 13, ocupar o tempo de maneira produtiva, os graus essencial e muito importante foram escolhidos por 12 (23,08%) e 31 (59,62%) dos idosos, respectivamente. Nenhum dos respondentes optou por não ter importância, sugerindo que um dos aspectos da velhice, como fase de enriquecimento pessoal, é

aproveitar o tempo livre, realizando projetos que lhes tragam significado (GOLDMAN, 1999).

O Gráfico 3 apresenta a frequência relativa das escolhas para esse motivo. 0,00% 1,92% 15,38% 59,62% 23,08%

Não tem impo rtância Po uco importante Importante M uito impo rtante Essencial

Gráfico 3 – Ocupar o tempo de maneira produtiva

Duas manifestações merecem destaque. Um dos participantes está aposentado há mais de dez anos e concluiu estudo anterior, ensino médio, em 1968. Em suas palavras,

Acho melhor aproveitar o tempo nos bancos universitários do que nos bancos dos bares (Idoso 19).

Outro idoso relatou que levava e buscava o neto na faculdade porque tinha “pena do tempo que o menino” desperdiçava em transporte coletivo. Embora já tivesse educação superior, resolveu aproveitar a oportunidade “para pegar carona”, referindo-se ao estudo do neto. Acrescentou:

Descobri duplo prazer: dar carona para meu neto e ocupar o meu tempo de maneira produtiva (idoso 24).

Com os resultados apurados observa-se o quanto são relevantes, para esses idosos, as informações atualizadas. Para eles o significado de novas aprendizagens vem acompanhado da perspectiva de viver o tempo presente e não só de viver no passado, reforçando a abordagem de Freire (2003) em relação à competência adaptativa da parte de quem envelhece. É descabido ter a mesma visão sobre velhice que se tinha há uma geração porque os idosos de hoje buscam o conhecimento e interagem de maneira diferente (ALVES, 2007). Os idosos participantes desta pesquisa tendem a acompanhar as mudanças para não ficarem desatualizados, além de procurarem conhecimento que lhes traga significado. Seria

interessante que essa nova postura dos idosos estimulasse uma nova maneira de olhar quem envelhece. Proporcionar a transformação desses conhecimentos em oportunidades pode ser uma maneira de auxiliar na reorganização de suas atividades, estimulando o idoso a desenvolver novas capacidades.

4.1.2 Auto-realização

O segundo lugar foi atribuído para a necessidade básica de Auto-realização. Os motivos investigados foram relacionados com desenvolvimento do potencial: desenvolver as próprias potencialidades; ajudar na construção de um mundo melhor; manter a mente trabalhando; realizar um sonho adiado; trocar idéias que possibilitem ações para melhorias sociais e ter uma nova profissão.

Para Maslow (1954), muitas vezes é necessário capacitar o potencial existente para conseguir realizar os atos. Nos argumentos apresentados por Abramowicz (2001), conseguir realizar projetos frustrados permite plenitude humana e velhice bem-sucedida, entretanto, as potencialidades de cada indivíduo nem sempre se tornam atos, impedindo-o de ser tudo do que é capaz. Conforme Deps (1993), a perspectiva de tempo futuro é uma das dificuldades enfrentadas pelo idoso, fazendo-o renunciar a projetos, por supor que não tem mais tempo ou competência para realizar nada. No entanto, Roel e Sanchez (2001) abordam o processo de envelhecimento como o tempo de realizar sonhos e desejos postergados. O alcance dos argumentos destes autores conduz à importância do quanto é necessário desenvolver os potenciais, pois a carência dele pode adiar ou até mesmo frustrar as ações que se pretende realizar.

O levantamento do motivo 8, realizar um sonho adiado, aponta 31 respostas tendo grau de importância entre essencial para 18 (34,62%) idosos e muito importante para 13 (25%) deles. Dos 18 idosos que responderam como sendo essencial buscar a educação superior para realizar um sonho adiado, 11 tem ensino médio e 7 possuem curso superior anterior. Deste grupo de 18 idosos, 10 são mulheres e 8 são homens. Os graus de concordância não tem importância e pouco importante foram assinalados, respectivamente, por 3 (5,77%) e 2 (3,85%) participantes.

A fala de dois participantes, em relação a esse motivo, foi:

Tinha outro curso e “até” exerci minha profissão, mas não era o que queria. Hoje me sinto realizada e estou com a “corda toda” para exercer, assim que me formar, a profissão que sempre quis ter (idoso 30).

Passei a vida toda me sentindo frustrada por não ter estudo. Hoje me sinto realizada. É como se tivesse ganhado a oportunidade de mostrar que “ainda” sou capaz de sonhar. Ser filha, ser esposa e ser mãe é muito bom, mas ser eu mesma é muito melhor (idoso 11).

O Gráfico 4 apresenta a freqüência relativa para o motivo 8.

5,77% 3,85%

30,77%

25,00% 34,62%

Não tem impo rtância Po uco importante Importante M uito impo rtante Essencial

Gráfico 4 – Realizar um sonho adiado

Néri e Cachioni (1999, p. 115) enfatizam a educação como instrumento para a ascensão social e a promoção do conhecimento. A lista apresentada por Terra (2002, p. 85) oferece algumas dicas para envelhecer bem, dentre as quais se encontram “Preserve a função mental [...]”. “Uma vida ativa, intelectualmente alerta e variada é útil. Use e abuse do cérebro sempre que puder [...]”. Esses autores fornecem amparo para o motivo 12 manter a mente trabalhando. Este item apresentou 11 (21,15%) opções por essencial e 23 (44,23%) por muito importante. Para 6 mulheres é essencial e para 10 é muito importante. O resultado apresentado para os homens é: 5 opções para essencial e 13 para muito importante. Nenhum dos entrevistados optou por não ter importância. Dos 17 idosos que possuem ensino médio, manter a mente trabalhando é muito importante para 13 e essencial para 4 deles. Para os portadores de curso superior anterior 10 responderam ser muito importante e 7 escolheram essencial.

Leão Júnior e Resende (2004, p. 128) explicam que, no processo de envelhecimento, a crença na memória tem função adaptativa porque ajuda o indivíduo a definir e a compreender o mundo e a si mesmo, chamando-o para uma ação “em relação a um evento futuro que, assim, assume um papel de agente

motivador e auto-regulador no comportamento presente”. Essa explicação foi identificada na fala de um dos idosos:

Meu maior medo é não conseguir fazer minha cabeça funcionar. O que mais me motivou a fazer faculdade foi fugir do “alemão” (referência à

doença de Alzheimer) (Idoso 1)

O medo de não conseguir manter a cabeça funcionando o motivou à busca pela educação superior.

O Gráfico 5 apresenta a frequência relativa para o motivo 12.

0,00% 7,69%

26,92%

44,23% 21,15% Não tem impo rtância Po uco importante Importante M uito impo rtante Essencial

Gráfico 5 – Manter a mente trabalhando

Conforme Abramowics (2001), a renovação da identidade na velhice é sinônimo de auto-realização e possibilita dar sentido e significância à existência. A argumentação de um dos idosos demonstra a necessidade de desenvolver as próprias potencialidades, motivo 29. Esse idoso completou o ensino médio em 1987, montou uma pequena gráfica e atualmente possui um jornal de tiragem significativa:

Sou dono de um jornal há 14 anos e não assino as matérias, pois não tenho o diploma. Quando me formar quero fazer uma tiragem especial só pra poder colocar o meu nome como jornalista e não mais o pseudônimo que uso (idoso 5).

O Gráfico 6 apresenta a frequência relativa para o motivo 29.

1,92% 5,77%

19,23%

42,31% 30,77%

Não tem impo rtância Po uco importante Importante M uito impo rtante Essencial

Os resultados apontam que a necessidade de auto-realização, apesar de não ser a prioritária para os participantes da pesquisa, é a oportunidade que muitos buscam para aprimorar as suas capacidades. Se há algum tempo as pessoas com mais idade não eram dirigidas para o processo educativo, atualmente essa postura tem sido substituída. Esses idosos continuam a percorrer um caminho com a possibilidade de (re)descobrir o seu potencial, buscando realizar sonhos, fazendo e concretizando projetos.

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