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Mapa 9: Sugestão para a redivisão territorial da Amazônia Legal, segundo o trabalho

4.2 A conquista portuguesa da Amazônia

No contexto da colonização luso-espanhola, a região amazônica sempre foi alvo de cobiça, interesse e curiosidade por parte dos estrangeiros (ANTONIO FILHO, 1995), já que desde o final do século XV e início do século XVI, ela veio a ser explorada por navegantes81 em missões de reconhecimento.

Os espanhóis foram os primeiros a percorrer a malha fluvial da Amazônia, com o objetivo de explorar os territórios a leste da cordilheira Andina, cuja possibilidade de encontrar novas riquezas incentivava os conquistadores a perscrutar as “terras ignotas”, assim denominadas pelos cartógrafos.82

Apesar do reconhecimento por parte dos espanhóis, suas preocupações em ocupar efetivamente a região amazônica não surtiram efeito, um desses motivos devido às riquezas encontradas ao dominarem a civilização Inca, o que desviou o foco da colonização espanhola para aquele espaço. Tal interesse em ocupar a

81 Possivelmente em 1499, Per Alonso Niño tenha passado pela região amazônica; no mesmo ano, a

expedição de Alonso de Ojeda, em companhia de Juan de La Cosa e do florentino Américo Vespúcio alcançou o Pará e o Amazonas. No mesmo ano ainda, Diego de Lepe e Vicente Yáñez Pinzón chegaram na desembocadura do Rio Amazonas (ANTONIO FILHO, 1995).

82 Essa foi a motivação de Gonzalo Pizarro e Francisco Orellana partirem de Quito em 1540 com uma

expedição para explorar a região amazônica. Em 1541 Pizarro desiste da expedição, mas Orellana continuou até atingir foz do Amazonas em 1542. A segunda investida na região ocorreu com Pedro de Ursúa e Lope de Aguirre, que partiu de Lima em 1559 e alcançou a foz do Amazonas em 1560.

região amazônica por holandeses, ingleses e franceses também era evidente, conforme relata Antonio Filho (1995, p. 21-22):

Os holandeses, por sua vez, chegaram à Amazônia ainda entre 1599 e 1600, onde estabeleceram pequenas feitorias apoiadas por posições fortificadas. As feitorias de Orange e Nassau, por exemplo, foram estabelecidas no Xingu, isto é, no interior da bacia amazônica. A partir de 1616, os batavos, desta vez com apoio oficial, assentaram colonos (cerca de 40) na região do Tapajós, entre os rios Gorupatuba e Jenipapo, no Baixo Amazonas. [...] Os ingleses, igualmente ambiciosos, receberam apoio oficial para as suas investidas na Amazônia, a partir de 1613 [...] continuaram na região do Baixo Amazonas, ao que parece até os anos 30 do século XVII, praticando a lavoura do tabaco, do algodão, da cana e a busca de especiarias [...].

Apesar dos respectivos domínios ultramarinos estarem separados teoricamente (e não só na região amazônica), é certo que tanto espanhóis entravam sem grandes problemas em territórios portugueses, quanto os lusitanos entravam em terras espanholas e com isso, obtinham títulos de propriedade que seriam respeitados pela diplomacia posterior. Nesse jogo de forças luso-espanhol:

[...] as circunstâncias históricas e geográficas favoreceram os portugueses, no sentido de se expandirem e conquistarem o vasto território amazônico, subindo o grande vale que corresponde ao eixo hidrográfico e penetrando pelos afluentes ao norte, sul e oeste, marcando ali uma presença efetiva e permanente (ANTONIO FILHO, 1995, p. 23).

Tal favorecimento dos portugueses na colonização começa com as iniciativas de ocupação hegemônica das margens do rio Amazonas. Partindo do Maranhão, Francisco Caldeira de Castelo Branco fundou nas margens do rio Pará o “Forte do Presépio” (1616), posteriormente chamado de Santa Maria de Belém (depois só Belém), como o primeiro empreendimento na região, já que em 1621, pela divisão administrativa do espaço colonial, criavam-se as capitanias do Maranhão e Grão- Pará.

Com a “União Ibérica” (1580-1640), tornou-se interessante aos lusitanos a missão de vigiar o litoral ao longo da costa norte até as margens do rio Oiapoque, onde franceses, holandeses (e posteriormente ingleses) haviam se estabelecido desde a região das Guianas até as margens do rio Orenoco e representam uma ameaça concreta. E, de fato:

[...] ao outorgar a capitania da Costa do Cabo Norte, a Beto Maciel Parente (1567-1642), em 1637, a Coroa espanhola, que então exercia dominação sobre Portugal e, por extensão, sobre a colônia sul-americana, tinha em mente viabilizar a ocupação de uma área que, até essa data, poderia ser considerada uma espécie de terra de ninguém, do ponto de vista colonial (ALVES FILHO, 2000, p. 23).

A partir de então, “a ação dos portugueses e luso-brasileiros contra a presença estrangeira na Amazônia foi permanente e durou até 1648, quando as últimas fortificações holandesas foram destruídas na região de Macapá” (ANTONIO FILHO, 1995, p. 24). As expedições empreendidas pelos portugueses83 procuraram assegurar seu domínio na bacia amazônica por meio da criação e doação de capitanias em 1627 e a concessão de sesmarias sem muito sucesso. Mas os esforços pela ocupação da Amazônia surtiram sucesso, ao passo que:

O ato pelo qual os espanhóis passaram aos portugueses a tarefa expansivista, e lhes proporcionaram a possibilidade imediatista para a jornada de empossamento mais ou menos suave do grande vale, tem a data de 4 de novembro de 1621. Vinte e um anos depois, Portugal restaurava-se na sua dignidade de nação independente. Foi então que os espanhóis tomaram consciência exata do erro que haviam cometido. Embora, não se decidiram, prontamente, a corrigir a situação que haviam criado, contrária a seus próprios interesses de soberania territorial (REIS, 1982, p. 34).

No início do século XVIII, as forças coloniais portuguesas dominaram o Solimões, o Alto Madeira e a bacia do Napo, territórios anteriormente controlados pelas missões espanholas; “abre-se espaço, assim, para o próprio trabalho missionário do império português por todo o vale amazônico” (ALVES FILHO, 2000, p. 31). Com o “Tratado de Madri” (1750), a Espanha reconheceria a imensa perda territorial e a consolidação portuguesa sobre a Amazônia havia se concretizado, o mesmo aconteceu sobre os atuais territórios do Centro-Oeste e Sul do Brasil.