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PARTE II – NO CAMINHAR A BUSCA DE ABORDAGENS TEÓRICAS:

2 CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL: UMA NECESSIDADE DE FORMAÇÃO

2.3 CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL: NOVO OLHAR PARA A PEDAGOGIA

O contexto atual lança desafios à Educação e, principalmente, à Pedagogia como ciência responsável pelas práticas educativas, pois encontramo-nos num processo histórico-cultural e epistemológico de incertezas e de transformações paradigmáticas. Assim, analisamos como dimensão positiva as crises humana, social e epistemológica, porque somente dessa forma torna-se possível a superação da racionalização e da dogmatização instalada nas consciências.

A Pedagogia, como outras ciências humanas, submeteu-se às concepções da episteme positivista-cartesiana, a qual, ao buscar a plausibilidade e objetividade científica a partir da metodologia newtoniana-cartesiana (método experimental) encontrou sérias dificuldades, entre elas: a generalização, a matematização, a neutralidade e a objetividade. Então, sendo a Pedagogia a área que estuda a prática educativa e deparando-se com as regras do método científico experimental, viu-se na encruzilhada com as questões da objetividade e da subjetividade.

Para a ciência moderna, a objetividade é constituída quando é possível a neutralidade, ou seja, o afastamento da subjetividade humana do objeto ou fenômeno a ser investigado. Como seria possível à Pedagogia, enquadrar-se ao método experimental, se seu objeto de pesquisa (prática educativa) requer a interação entre as subjetividades humanas?

A partir desse dilema entre os aspectos objetividade, neutralidade e subjetividade, a Pedagogia ficou marginalizada na academia, como tantas outras áreas do conhecimento, tanto que, a postura dogmática de ciência subordinou a Pedagogia à Filosofia e às ciências vinculadas ao método experimental, como: a Sociologia, a Psicologia, a Biologia, etc. Para tanto, ao submeter-se às outras áreas do conhecimento deixou de autoafirmar-se como ciência e de apresentar compreensões para a prática educativa e, principalmente, de possibilitar reflexões pedagógicas para o desenvolvimento da consciência espiritual, emocional, cognitiva, psicomotora e social.

No mundo acadêmico, as ciências que constituem um status epistemológico devido a seu desenvolvimento positivista, são como “jaula de ferro”23 para a Pedagogia e outras ciências humanas e sociais. Assim, analogicamente, estando a Pedagogia “aprisionada”, lhe foi difícil apresentar contribuições teóricas e práticas para o pedagógico escolar, para a formação e desenvolvimento das consciências.

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A Pedagogia é uma ciência da educação que investiga a prática educativa e tem condições de contribuir epistemológica e pedagogicamente para o desenvolvimento das consciências, de modo especial para o desenvolvimento das consciências social e espiritual, as quais ainda necessitam de estudos e práticas a serem concretizadas nas instituições escolares e acadêmicas.

Para tanto, na Pedagogia a racionalidade e a objetividade passam a ter uma conotação diferente das ciências exatas e naturais. De acordo com Mazzotti (2001, p. 23), “o racionalismo contemporâneo, ao reconhecer que a razão é histórica, ou seja, se faz no curso da história das Ciências, assume que há tantas racionalidades quantas são suas manifestações”.

Nesse sentido, podemos afirmar que a Pedagogia constitui-se como ciência, não a partir dos modelos clássicos de racionalidade, nos quais as proposições concorrem para a relação sujeito-objeto, mas através da racionalidade que concebe o processo interativo entre sujeito- sujeito. Assim, é a intersubjetividade dos sujeitos que promove a comunicação: a fala e o agir, manifestando a compreensão dos objetos ou fenômenos.

A Pedagogia como ciência, não encontra seus fundamentos na racionalidade da consciência “solitária”, mas na racionalidade da práxis, que envolve o processo dialético entre a teoria e a prática sob o diálogo intersubjetivo dos sujeitos. Segundo Marques (1990, p. 5):

A partir do horizonte de sentido em que se situa a práxis histórica, a linguagem abre- se, por sua própria estrutura, a um diálogo de sujeitos na intenção de fundamentar criticamente um consenso à base de pretensões de validade diversas e fundamentáveis argumentativamente. [...] A verdade não se constrói na reflexão isolada ou no interior de uma consciência, mas de forma dialógica, processual, tendo como referenciais básicos o grupo e a linguagem.

A ciência é constituída a partir da interação entre as diferentes consciências: cognitiva, emocional, psicomotora, social e espiritual. É na relação entre os sujeitos, objetos ou fenômenos que as consciências manifestam-se e abrem possibilidades de compreensão. Não podemos mais permitir na produção do conhecimento científico a separação/fragmentação entre as consciências. Portanto, o conhecimento científico não é somente racional.

Conforme Morin (2005), a ciência fundamenta-se na dialógica entre imaginação e verificação, empirismo e realismo. Deste modo, a esse princípio dialógico é necessário juntar o princípio hologramático (o todo está na parte que está no todo). Temos, então, para as

ciências humanas e sociais não uma objetividade metódica, mas dialógica; a qual é possibilitadora da interconexão entre as consciências.

Podemos afirmar que a Pedagogia, como mais uma das ciências da Educação, assume a função de promover, a partir da prática educativa, o diálogo investigativo da manifestação das consciências na relação entre os sujeitos. Acreditamos, desse modo, que a Pedagogia como ciência do reencantamento da vida tem condições de constituir compreensões sobre o que se mostra da Consciência Espiritual inerente ao ser humano e proposições pedagógicas para a ampliação dessa consciência e, consequentemente, das demais.

A Consciência Espiritual é energia vital para a constituição da relação e da comunicação. Através dela acionamos ou mobilizamos as consciências para a interconexão entre as partes e o todo dos elementos de cada consciência. Ela também pode ser considerada como vibração energética e intuitiva que emerge da conexão entre matéria, espírito e Energia Cósmica.

A Pedagogia através do método dialógico e hologramático constitui-se não como uma ciência técnica, meramente, mas como ciência humana que busca o desenvolvimento das consciências na perspectiva do cuidado com a vida. Assim, por meio dela é possível a constituição de conhecimentos teóricos e práticos para os espaços educativos, especialmente para o escolar, que instiguem ações pedagógicas voltadas à formação da consciência espiritual, a qual, é promotora da cultura da paz, da justiça social e da harmonização do Self com o Cósmico.

A Ciência da Educação, a Pedagogia, é a área do conhecimento que tem condições de promover a comunicação inter e transdisciplinar entre as diversas áreas do conhecimento, com base nas teorias sistêmica ou da complexidade, holística ou da espiritualidade. Essa integração e interação das diferentes ciências, num processo articulador da consciência espiritual, constitui-se em teoria e prática humanizante e ética.

Academicamente percebemos que é necessário às aprendizagens e aos conhecimentos, novos redimensionamentos e significados. Tais perspectivas são desafios à Pedagogia na abordagem do paradigma da espiritualidade ou holístico, sistêmico ou da complexidade. Nesse sentido, consideramos que cabe, também, à Pedagogia proposições de experiências de reconciliação entre ciência e espiritualidade, educação e espiritualidade e, ser humano e espiritualidade.

Pela Pedagogia cremos ser possível promover a educação mobilizadora das dimensões da autoformação (conhecimento de si e do outro) e da transformação social, as quais possibilitam

a ampliação das consciências dos sujeitos. Nesta perspectiva, trataremos a seguir da formação das consciências social e espiritual na educação, principalmente, na rede escolar de ensino.

3 FORMAÇÃO HUMANA: DA AUTOFORMAÇÃO À AMPLIAÇÃO