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Consequências da natureza e contexto do tema e da opção de abordagem, para o

PARTE I APRESENTAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA TESE E DA ABORDAGEM DE

CAPITULO 2 DO CONTEXTO ONTOLÓGICO, EPISTEMOLÓGICO,

2.4. Consequências da natureza e contexto do tema e da opção de abordagem, para o

volta da opção por uma determinada perspectiva de investigação vai condicionar a concepção, organização e implementação de todo o processo de investigação.

Em primeiro lugar, afecta o próprio entendimento que se tem do papel da teoria e do conhecimento existente e produzido; em segundo lugar, a escolha da própria estratégia de investigação e opções metodológicas feitas ao abrigo daquela estratégia, seja na escolha dos casos, dos dados a mobilizar, das técnicas de recolha e das opções de análise e interpretação dos mesmos; em terceiro lugar, como se problematiza a questão da validação do conhecimento produzido, como definir e produzir uma síntese de avaliação da própria investigação e, finalmente, como salvaguardar as questões éticas e problematizar o papel do próprio investigador.

2.4.1. O papel da teoria/conhecimento neste estudo

A questão de que conhecimento e de que teoria poderão emergir coloca-se a vários níveis.

Em primeiro lugar, qual o papel que a revisão do estado da arte/literatura assume no contexto desta tese. Já se disse anteriormente, no ponto 2.2. que a temática em estudo revelava múltiplas fontes de produção, algumas delas não académicas ou resultantes de publicação científica reconhecida.

Baert (2005) situa precisamente nesta contradição uma das vantagens da abordagem pragmática, o reconhecimento de que, no contexto das Ciências Sociais, existe um pluralismo de origem do conhecimento que deve ser valorizado.

Trata-se então de, pela descrição, comparação, crítica, sistematização e interpretação do investigador, lançar novos olhares sobre a conceptualização dos assuntos em estudo.

Assim, neste caso, como se verá na Parte II, não se trata apenas de rever o que existe, mas de lançar novos olhares sobre o que existe, triangulando diversas perspectivas científicas.

Ao mesmo tempo, a aceitação de pontos de vista oriundos, quer de vários estudos desenvolvidos pelas DMOS, quer de estudos provenientes de associações científicas ou institucionais (caso do WTO) permite ainda enraizar o conhecimento existente precisamente nas práticas e vida dos práticos, como forma também empírica de construção de um conhecimento social passível de se converter em teoria (Glaser e Strauss, 1967; Strauss e Corbin, 1998; Charmaz, 2000; Prasad e Prasad, 2002).

A revisão da literatura/ estado da arte no contexto deste estudo qualitativo assume uma outra função – através da produção do quadro conceptual de síntese, fornecer as linhas gerais de orientação do estudo, em termos de produção dos objectivos e em termos de moldura mental de referência para todos os passos seguintes de recolha, tratamento, análise e interpretação dos dados. Permite, assim, municiar, quer o olhar, quer a acção do investigador que na sua mentalidade de arqueólogo (Baert, 2005), simultaneamente, tem referências de actuação sobre o que quer encontrar e descobrir mas, ao mesmo tempo, mantém aberta a sua capacidade de observação para o que pode emergir de novo.

A revisão da literatura/estado da arte pode ter ainda uma última função – formar um quadro de referência para a interpretação, comparação e discussão do conhecimento

produzido perante o que já existe ou se conhece.

Se a revisão da literatura/estado da arte constitui essencialmente uma estratégia dedutiva de produção de teoria, a intenção já anteriormente descrita de compreender as práticas dos actores/ informantes, o contexto onde se inserem, quer social, quer organizacional, em ordem a se construir uma teoria local ou quadro de compreensão dos diversos casos em apreço neste estudo, assume um carácter marcadamente indutivo.

Assim, surge um segundo nível de apreciação do papel da teoria/conhecimento neste estudo, radicado no próprio output a emergir. Como construir teoria a partir das práticas, dos constructos e discursos dos actores sociais e por que tem validade esse processo de construção? Estamos, pois, no coração da contribuição da Investigação Qualitativa para a investigação em geral e para o estudo em apreço.

Abordemos então em que consiste a teoria que pretendemos construir.

Van Maanen, Sorensen e Mitchell (2007) citando Weick (1995), afirmam que “a teoria, em princípio, pode ser uma intuição, conjectura, especulação, suposição, proposição, hipótese, concepção ou modelo e acrescentam que “teorizar é como pensarmos acerca da relação entre elementos no mundo que ocupa a nossa atenção investigativa”.

Os criadores e principais representantes da “grounded theory” (Glaser e Strauss, 1967; Strauss e Corbin, 1998; Charmaz, 2000; Alan, 2003; entre outros), para além de toda a ruptura paradigmática que desenvolvem com essa teoria, conduzem-nos precisamente, por um caminho de construção de teoria, ao descreverem todo o processo como partindo

de constructos, pressupostos e preconceitos dos actores sociais, para a sua estruturação progressiva e hierárquica emideias, temas e conceitos ou modelos que transbordam de sucessivos níveis de codificação (aberta – axial – selectiva), num processo de comparação permanente.

Este processo de construção teórica que pretendemos gizar necessita ainda do contributo de Novak e Cãnas (2006) que teorizam a construção de “mapas conceptuais” que, a seu tempo, também utilizaremos e que, para além dessa construção interpretativa do saber, sugerem ainda, aliás como Lofland et al (2006) a utilização de “proposições” como conceito aglutinador de conceitos produzidos - “propositions and statements about some object or event in the universe, either naturally occurring or constructed. Propositions contain two or more connected using linking words or phrases to form a meaningful statement.”

Figura 2.5 - Lógica de articulação conceptual

Em síntese, o nosso processo de produção de conhecimento, basear-se-á numa hierarquia conceptual (constructos – categorias – conceitos – temas – proposições) e, ao mesmo tempo, numa lógica dedutiva/indutiva e articulada que se retrata na figura anterior.

Independentemente de uma discussão mais alargada de validação do conhecimento que se produzirá num dos pontos seguintes, interessa justificar aqui por que razão este processo de construção de teoria é considerado pertinente e robusto.

Os mesmos Glaser e Strauss (1967), Strauss e Corbin (1998) e Charmaz (2000) descrevem todo o processo de produção do conhecimento, que descrevemos, como um processo social enraizado nas práticas e comportamentos dos actores e, como tal, fundamentado e justificado.

Por outro lado, esta mesma estratégia de construção do conhecimento a partir dos constructos e percepções dos actores sociais não é senão o que Nonaka e Takeuchi (1995) designam de “tacit knowledge of experts” quando introduzem o seu conceito, hoje tão divulgado e aceite de “knowledge creating company”, destacando a importância de captar e usar o conhecimento tácito dos peritos das organizações.

Novak e Cãnas (2006) reforçam esta posição, ao afirmarem que “experts know many things that very often cannot articulate well to others”. Este conhecimento tácito feito de experiências adquiridas ao longo dos anos deriva, em parte, dessas mesmas actividades do perito que envolvem pensar, sentir e agir.

Trata-se ainda de um processo em que se pretende compreender práticas localizadas no tempo e no espaço e em contextos organizacionais distintos, de onde resulta que o carácter da teoria produzida é eminentemente local (Gummesson, 2000; Johns e Lee Ross, 1998, Eisenhardt, 2002).

Esta forma de ver o processo de construção do conhecimento é que fundamenta, valida a escolha dos informantes chave e a possibilidade de se construir proposições e teoria a partir de uma análise qualitativa e aprofundada dos dados, mais do que a partir de uma perspectiva quantitativa.

A produção de conhecimento neste estudo assume, assim, uma vertente que deriva das características enunciadas na opção paradigmática – fazer emergir comportamentos/práticas/olhares complementares dos actores sociais e interpretações do investigador sobre essas práticas e contextos que se pretende descrever, compreender e interpretar (Denzin e Lincoln, 2005; Charmaz, 2000). Resultam, pois, dessa produção de conhecimento dois outputs essenciais:

- a concepção, descrição, construção dos casos em análise, como mosaicos complexos da realidade multifacetada que se pretende retratar (Yin, 2003a; Stake, 1995; Eisenhardt, 2002);

- a conversão desses constructos/práticas dos actores, a emergência de constructos/práticas/padrões de actuação que conduzirão essencialmente à construção de modelos de interpretação e dinâmica dos casos e, por fim, ao esboço de proposições interpretativas da realidade observada, sintetizadas à volta dos objectivos de investigação, que preservem a riqueza de pontos de vista e dos fenómenos observados (Denzin e Lincoln, 2005).

2.4.2. A escolha da estratégia de investigação

Como se retrata na figura 2.2 a estratégia de investigação assume-se como o instrumento fundamental da concretização da temática da tese.

Estamos no campo da escolha metodológica como forma de coligirmos o conhecimento acerca do mundo (Goodson e Phillimore, 2004), ou seja, que práticas e procedimentos efectivos são preferidos e rejeitados pelo investigador (Hollinshead, 2004).

Para Denzin e Lincoln (2000) uma estratégia de investigação compreende um leque de capacidades, pressupostos e práticas que o investigador utiliza quando se move da opção paradigmática para o mundo real. Mas esse conjunto de procedimentos e práticas deve vir enquadrado por uma visão mais ampla dos objectivos a atingir e do caminho para lá chegar.

É esta necessidade de visão mais ampla que nos conduz à valorização da estratégia de investigação como moldura geral para a concepção, organização e implementação da investigação. Ou como diz Patton (2000), uma estratégia geral da investigação permite que actividades, técnicas de recolha e de análise de dados se encaixem de modo a assegurar uma coerência geral de acção.

Estamos, assim, muito próximos do conceito de estratégia também amplamente utilizado na Gestão. Neste caso, esta ideia geral de aproximação à realidade permite concretizar a ligação entre o contexto e a natureza do tema e os seus próprios objectivos de investigação.

2.4.2.1. A escolha da estratégia para o projecto em curso

Como já se disse anteriormente aquando da contextualização e natureza do tema, este estudo revela-se como um estudo de gestão de um sistema complexo, dinâmico e aberto, mas delimitado, como é o caso dos destinos turísticos.

Ao mesmo tempo afirmámos que se trata de obter uma visão holística de como é feita a gestão nesses destinos a partir das práticas dos actores no terreno que a realizam. Ainda no ponto anterior justificámos a nossa opção paradigmática, com a necessidade de construir uma teoria local alicerçada na prática dos actores.

O estudo de caso emergiu, precisamente, como a estratégia adequada para responder a esses objectivos enunciados anteriormente (Yin, 2003; Gummesson, 2000; Miles e Huberman, 1994; Remeyni et al, 2005). O estudo de caso surge cada vez mais como uma estratégia de investigação utilizada precisamente com o objectivo de “investigar um fenómeno contemporâneo dentro do seu contexto de vida real, especialmente quando as fronteiras entre fenómeno e contexto não são claramente evidentes” (Yin 2003). Ou ainda como dizem Johns e Lee-Ross (1998): se a complexidade é uma característica aceite de sistemas como aqueles que produzem serviços, então o estudo de caso surge como “ideally suited to pragmatic studies of actual service management situations”.

É objectivo dos estudos de caso, no quadro de uma investigação qualitativa, permitir uma abordagem flexível dos fenómenos sociais tal como são interpretados pelos actores (Stake, 1995), o que se adequa perfeitamente às opções qualitativas anteriormente manifestadas.

O estudo de caso é ainda pertinente quando as questões de investigação são de natureza descritiva ou exploratória (Reto e Nunes, 95) ou ainda quando, no dizer de Yin (2004), “you may want to illuminate a particular situation, to set a close understanding of it”.

Complementarmente, Yin (2003) classifica os estudos de caso em quatro tipos básicos, de acordo com dois eixos de análise: o numero de casos, estabelecendo a diferença entre simples e múltiplo e, como segundo critério, a existência de uma ou de várias unidades de análise. Configurar-se-iam assim quatro tipos de desenho de estudos de caso representados na Tabela 2.4 e cuja justificação e adequação se desenvolve em detalhe.

Tabela 2.4 - Tipos de casos

Caso simples Multi-casos

Holístico Contexto

Contexto

Embedded Contexto Contexto

Fonte: Adaptado de Yin (2003)

Stake (1995) prefere falar em casos intrínsecos e instrumentais, pondo simultaneamente o enfoque no caso singular ou no estudo de múltiplos casos a que chama “collective

case study”.

Coloca-se, assim, também um problema adicional – o de que tipo de casos escolher. Caso com

unidades de analise

Caso Caso Caso

Caso Caso

Caso Caso Caso

Esta questão não é de somenos importância, tanto mais que essa opção encerra duas interrogações fundamentais – que compreensão queremos ter dos temas e processos em estudo e, dado o carácter delimitado da unidade de análise, o destino turístico, que tipo de destino, que representatividade pode enformar o(s) destino(s) escolhido(s) para corporizar uma(s) unidade(s) de análise adequada(s) ao tema e aos objectivos de investigação em vista.

Com o intuito de respondermos, quer à adequação do estudo de caso, quer à escolha do tipo de caso, recordemos então alguns dos considerandos já anteriormente expressos: - o lado da temática – trata-se de estudar a gestão dos destinos turísticos; como mais tarde se fundamentará, o destino é um sistema delimitado e complexo, que encontra justificação precisamente numa especificidade alicerçada num conjunto de recursos e de elementos justificativos da sua própria originalidade e autenticidade;

- o lado dos objectivos – trata-se de identificar, caracterizar, compreender práticas de gestão dos actores sociais, com várias configurações de registo documental, que possam alicerçar ou não quadros e/ou modelos de gestão, mas sempre na perspectiva de uma acção contextualizada e localizada pelo próprio quadro/moldura do destino onde se concretizam.

Dois argumentos adicionais impõem-se neste momento:

- o lado do contexto real de aplicação do estudo – ao definir-se o Algarve como grande unidade de análise e sendo o Algarve, uma das regiões mais dinâmicas e importantes do turismo em Portugal, observam-se no terreno múltiplas iniciativas e acções por parte dos vários actores locais, subregionais e regionais, numa lógica de afirmação de destinos locais, de experiências regionais de cooperação, que revelavam um potencial

rico de estudo;

- o lado do papel do investigador – como já se disse anteriormente, tendo o autor desenvolvido toda a sua vida de investigação e intervenção social aos vários níveis da região, o seu conhecimento das perspectivas local, subregional e regional não é estranho às opções feitas. Ao contrário, foi o seu conhecimento e envolvimento, quer em termos sociais, quer em termos dos estudos já realizados anteriormente, que o levaram a optar pelo desejo de, para além, da análise dos destinos aos diferentes níveis, local, subregional e regional, analisar igualmente as possíveis articulações entre esses três níveis de concretização de gestão dos destinos mesmo que estes estejam em fases diferentes de implementação organizativa.

Cada destino tem, pois, de ser olhado no seu contexto e como caso específico (Yin, 2003) pela sua tipicidade e pelo que pode proporcionar em termos de conhecimento de uma realidade (Yin, 2003; Gummesson, 2000; Stake, 1995; Eisenhardt, 2002). Como Stake (1995) afirma o primeiro critério de escolha será maximizar o que podemos aprender. Também Yin (2003) se refere à escolha dos casos singulares, quando têm um carácter único destinado a capturar circunstâncias e condições particulares numa situação localizada. Outra razão aduzida por este autor é ainda a de se poder estar perante um “revelatory case”, isto é, a oportunidade de observar e analisar fenómenos previamente inacessíveis à investigação científica.

A escolha do caso local e do caso subregional foi, precisamente, uma escolha intencional (“purposeful”) (Patton, 2000) que resultou a um tempo da riqueza potencial de análise para a temática em estudo, mas também do conhecimento que o investigador possuía no terreno.

Por outro lado, ao escolherem-se três casos – local, subregional e regional, a que tipo de estudo de caso nos estaríamos a reportar?

Estamos a meio caminho entre o que Yin (2003) chama de “embedded multi case study” (estudo de casos anichado) ou de “um estudo de caso único mas embedded”.

Com efeito, os nossos casos regional e subregional, apesar de se integrarem numa dinâmica regional, não podem ser vistos como configuradores de um estudo multicasos na dimensão do que Yin (2003) chama de estudo multicasos visando a replicação e a testagem de teoria. Os nossos casos são casos independentes, com contexto, identidade, e riqueza de informação próprias, devendo como tal terem uma tónica essencial de análise individualizada de modo a poder-se exprimir a riqueza de interpretações e de casos únicos que revestem.

Mas, por outro lado, sendo os destinos turísticos locais e subregionais parte de um destino mais abrangente, esse sim com reconhecimento internacional, não podemos deixar de estudar e compreender as múltiplas articulações verticais entre os vários planos de destinos, encontrando aqui, isso sim, um certo grau de “embeddedness” mais numa lógica de cooperação voluntarista e livre, do que numa lógica de dependência funcional que o conceito de “embeddedness” de Yin (2003) parece exigir.

Quando, a seu tempo, analisarmos e explicarmos como foram escolhidos os informantes dentro de cada caso, quer a nível individual, quer enquanto grupos de práticos, acabamos por encontrar unidades de análise susceptíveis de tratamento independente,

mas que, ao contribuírem para a percepção global do caso, assumem o carácter de

embeddedness mencionado por Yin (2003).

Em síntese, o nosso estudo poderá ser classificado como um estudo multicasos holísticos, com um certo grau de embeddedness.

2.4.2.2. Consequências da estratégia escolhida

A opção por uma estratégia como o estudo de casos nos termos referidos acarreta um conjunto diversificado de consequências (Remenyi et al, 2005).

Por um lado, temos as questões mais conceptuais da estratégia, nomeadamente o uso do estudo de casos para produzir teoria, a validação dos resultados e do conhecimento produzido ou a posição que o investigador deve assumir no processo de investigação. Estas consequências mais conceptuais, pensamos nós, não são tanto o reflexo do que dizia Yin (2003) ser uma particularidade do estudo de caso, mas antes sim, serem grandes questões essencialmente delimitadas pela problemática do que se quer estudar e opções paradigmáticas assumidas (Patton, 2000; Flick, 2006), por serem questões que se prendem com o próprio modo como o investigador aborda o conhecimento que procura (Denzin e Lincoln, 2005).

Ao mesmo tempo, Yin (2003), Remenyi et al (2005) e Gummesson (2000) retiram ilações processuais para o design e organização do estudo de casos, assinalando: a necessidade de se definir um protocolo de caso; a necessidade de se delimitar e circunscrever cada caso; os procedimentos próprios sobre a escolha dos informantes; a

escolha das técnicas de recolha de dados; o acesso à informação; o problema do tratamento e análise dos dados e comparação inter-casos.

Não nos parece que todos estes factores, com excepção do protocolo do estudo de caso, não sejam em tudo problemas igualmente decorrentes da temática da investigação, da opção da abordagem ou do carácter qualitativo do estudo. Deixemos, então, para o capítulo da organização da investigação, a sua consideração tanto à luz da perspectiva qualitativa como, sempre que for necessário, destacando alguma particularidade que emerja explicitamente do estudo de casos enquanto estratégia.

2.4.3. A afirmação e reconhecimento do conhecimento produzido

Já anteriormente se referiu que a investigação qualitativa poderá ter como finalidade a descoberta e a formação de teoria (Flick et al, 2004).

Ao mesmo tempo, discutimos as questões da epistemologia sobre o que é o conhecimento, num contexto de um processo de investigação e como construí-lo, particularmente no ponto 2.4.1. Ora esta questão remete-nos para uma outra questão fundamental no processo de investigação/produção do conhecimento – a questão do reconhecimento e consequente afirmação do conhecimento produzido. Neste ponto pretende-se precisamente reflectir sobre o problema de validação do conhecimento na investigação qualitativa e retirar ilações para todo o processo de investigação seguido, no quadro das opções de abordagem efectuadas.

2.4.3.1. O ponto de vista tradicional da perspectiva quantitativa

positivistas e pós-positivistas, com origem nas ciências exactas e naturais, devido à inerência das suas características (vide Quadro 2.1.) revela uma natureza essencialmente orientada para a verificação, para a explicação e confirmação, nos seus quadros de aproximação e conhecimento de realidade. Assim princípios como a medição dos conceitos, a busca de causalidade, a generalização, a replicação e a validação como princípios de reconhecimento do conhecimento são predominantes (Bryman e Bell, 2003; Lincoln e Guba 1995; Gummersson, 2000; Remenyi et al, 2005; Flick, 2006). Entre outras críticas, os autores citados apontam a falha em distinguir pessoas e instituições sociais do “mundo natural”, a falha em tentar medir comportamentos que muitas vezes relevam da emoção e do sentimento ou relações demasiado complexas, a visão estática que a quantificação parece revelar do mundo social.

Tal como se defende em termos de abordagem pragmática, o paradigma quantitativo e respectivos processos de validação também encontram razão de ser, dependendo da disciplina, do tema de investigação ou do campo de formação científica em que nos situamos (Patton, 2000).

O que interessa relevar é que a investigação qualitativa, ao procurar também ela o seu