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Consequências registrais da Cumulação de paternidades;

III. DA DUPLA PATERNIDADE.

3.4 Consequências registrais da Cumulação de paternidades;

Embora sabemos que existem vários tipos de paternidade, como a biológica socioafetiva e a jurídica o que se espera é que essas três formas de vínculo se concentrem em uma só pessoa. Mas conforme analisamos até agora, pode acontecer dessas figuras paternais serem realizadas por pessoas diferentes, isto é, ter dois pais: um afetivo e outro biológico.

Por muito tempo, o que aconteceu foi que os juristas não aceitaram o duplo efeito de duas paternidades, e, acabava acontecendo da criança ficar somente com o pai afetivo, já

que existem várias vertentes que consideram o vínculo afetivo mais relevante que o biológico.

No entanto, é muito difícil concluir que a figura afetiva é mais importante que a biológica. Como podemos ver, no caso da adoção, mesmo que a pessoa seja adotada e amada, isso não lhe tira o direito de procurar seus pais biológicos. Assim, como dizer a uma criança que conhece, e, até mesmo convive com o seu pai consanguíneo, que teria que escolher entre quem lhe deu a vida ou então quem lhe cria e proporciona todo suporte educacional?

Não há, na Constituição Federal, referência de primazia entre afetividade e consanguinidade. Existem, assim, duas verdades reais: a biológica e a socioafetiva. Com isso, percebe-se que não se deve afirmar, em abstrato, que existe prevalência de um critério sobre o outro, sob risco de violar os interesses dos sujeitos e privá-los de extraírem o máximo das relações familiares. (ANDRIGH e KRÜGUER 2008, p. 84).

Diante deste cenário, diversos doutrinadores começaram a acreditar na possiblidade da multiparentalidade ou dupla paternidade, e, ambas, surtirem os mesmo efeitos e obrigações de uma paternidade “comum”.

Hoje em dia, já está pacificado esta possibilidade, pois, conforme demonstrado acima, existem diversas leis e vários julgados decidindo de maneira positiva acerca da dupla paternidade ou dupla maternidade.

Quando uma família é formada, uma pessoa passa a ter responsabilidades sobre a outra, ou seja, a criança que fora reconhecida, com base na afetividade, terá os mesmos direitos e deveres daquela que é considerada filha biológica.

A doutrina vem admitindo, nesse sentido, a possibilidade da multiparentalidade, ou seja, uma pessoa possuir mais de um pai e/ou mais de uma mãe simultaneamente, produzindo efeitos jurídicos em relação a todos eles, ou seja, incide a obrigação alimentar e sucessória entre as partes. (MALUF E MALUF, 2016, p.532).

Esse entendimento decorre do princípio da igualdade de tratamento entre filhos, isto é, todos serão tratados da mesma maneira, independentemente de como foi gerado, quando

foi gerado, e, se é biológico ou não. Portanto, todos os direitos que os filhos biológicos têm, o filho socioafetivo também terá.

a) Das relações de parentesco;

O primeiro efeito que iremos perceber será o do parentesco. É importante salientar que, por mais que demos importância à paternidade ou maternidade, os efeitos do parentesco se estendem para toda a família, ou seja, avós, avôs, tios, tias, sobrinhos, sobrinhas, enfim a criança entrará para a família e terá os mesmos impedimentos, direitos e deveres de um filho consanguíneo.

b) Direito ao sobrenome Paterno/Materno

Conforme previsto na legislação, o direito ao uso do sobrenome da genitora ou genitor, é direito fundamental e não poderá ser negado, conforme assegurado pela constituição federal, sendo decorrente do princípio da dignidade humana.

O nome é, portanto, uma forma de individualização do ser humano na sociedade, mesmo após a morte. Sua utilidade é tão notória que há exigência para que sejam atribuídos nomes a firmas, navios, aeronaves, ruas, praças, acidentes geográficos, cidades etc. O nome, afinal, é o substantivo que distingue as coisas que nos cercam, e o nome da pessoa a distingue das demais, juntamente com os outros atributos da personalidade, dentro da sociedade. É pelo nome que a pessoa fica conhecida no seio da família e da comunidade em que vive. Trata-se da manifestação mais expressiva da personalidade. (VENOSA, 2004, p. 209).

Portanto, depois reconhecido o vínculo jurídico, poderá ser adotado pela criança o sobrenome paterno ou materno socioafetivo.

c) Direito aos alimentos;

Como hoje não existe mais nenhum tipo de diferença entre os filhos, será devida a prestação de alimentos ao filho socioafetivo reconhecido e ao pai biológico. Assim, ambos os pais deverão prestar alimentos ao filho, e, futuramente, caso seja necessário, esse filho deverá amparar ambos os genitores, conforme demonstrado no Art. 1696 do Código Civil “O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os

ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros”. (BRASIL, 2002).

d) Sobre a guarda de filho menor;

Neste caso, sempre será necessário observar o princípio do melhor interesse da criança, ou melhor, cada caso deverá ser analisado particularmente, porque é óbvio que um caso é muito diferente do outro. Os Tribunais, muitas vezes, quando a criança tem o discernimento necessário, podem chamá-la para opinar acerca de sua guarda. No entanto, isto é realizado somente quando for possível e não trouxer nenhum problema à criança.

Hoje em dia, o Tribunal vem entendendo que, no caso de problemas sobre a questão da afetividade, esta vem ganhando bastante importância, chegando a ser mais importante que o vínculo consanguíneo.

Entretanto será escolhida a pessoa que tiver melhores condições financeiras e psicológicas para cuidar da criança, levando em conta também a afetividade.

Quando a guarda for devidamente compactuada, outra questão a ser resolvida será o regime de visitas, já que possivelmente a criança terá duas pessoas para realizar as visitas semanais ou quinzenais. Dessa forma, como é feito em todos os casos de separação e divórcio, precisará ser feito um acordo de visitas estabelecendo dia, horário e feriados paras as visitas.

e) Direitos sucessórios;

Para melhor entendermos esse tópico, primeiro vamos relatar, brevemente, sobre o significado da sucessão.

“Sucessão, em sentido amplo, é a substituição da pessoa física ou da pessoa jurídica por outra, que assume todos os direitos e obrigações do substituído ou sucedido, pelos modos aquisitivos existentes”. (LISBOA, 2013, p. 339).

Nesse caso, os direitos sucessórios são o direito que os herdeiros têm na sua devida vocação hereditária, de tomar posse dos bens de outra pessoa de sua família quando esta falecer ou adoecer e não tiver mais condições de cuidar de tudo sozinho.

Temos vários tipos de herdeiros, dentro da sucessão universal temos o herdeiro legítimo e o testamentário, isto é, o legítimo decorre do vínculo do parentesco, e o testamentário decorre da vontade do testador.

Neste caso, o filho afetivo entrará na sucessão como herdeiro universal legítimo, isto porque ele é sucessor legal, ou seja, o direito dele à sucessão é garantido por lei, assim como de seus irmãos.

Conforme citado anteriormente, o filho afetivo não terá nenhuma diferença dos biológicos no direito sucessório. Assim, haverá a reciprocidade dos direitos à sucessão entre pai e filho, como acontece com os filhos biológicos, conforme demonstrado na jurisprudência abaixo.

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. FILIAÇÃO. IGUALDADE ENTRE FILHOS. ART. 227, § 6º, DA CF/1988. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. VÍNCULO BIOLÓGICO. COEXISTÊNCIA. DESCOBERTA POSTERIOR. EXAME DE DNA. ANCESTRALIDADE. DIREITOS SUCESSÓRIOS. GARANTIA. REPERCUSSÃO GERAL. STF. 1. No que se refere ao Direito de Família, a Carta Constitucional de 1988 inovou ao permitir a igualdade de filiação, afastando a odiosa distinção até então existente entre filhos legítimos, legitimados e ilegítimos (art. 227, § 6º, da Constituição Federal). 2. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Recurso Extraordinário nº 898.060, com repercussão geral reconhecida, admitiu a coexistência entre as paternidades biológica e a socioafetiva, afastando qualquer interpretação apta a ensejar a hierarquização dos vínculos. 3. A existência de vínculo com o pai registral não é obstáculo ao exercício do direito de busca da origem genética ou de reconhecimento de paternidade biológica. Os direitos à ancestralidade, à origem genética e ao afeto são, portanto, compatíveis. 4. O reconhecimento do estado de filiação configura direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, que pode ser exercitado, portanto, sem nenhuma restrição, contra os pais ou seus herdeiros. 5. Diversas responsabilidades, de ordem moral ou patrimonial, são inerentes à paternidade, devendo ser assegurados os direitos hereditários decorrentes da comprovação do estado de filiação. 6. Recurso especial provido.

(STJ - Resp.: 1618230 RS 2016/0204124-4, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 28/03/2017, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 10/05/2017).

Diante disso podemos perceber que nos dias atuais o que vem prevalecendo é a afetividade, independentemente do vínculo biológico, quando se trata de filhos todos serão tratados de maneira igual.

Com a evolução mundial é normal que toda sociedade também evolua com o tempo e consequentemente a entidade familiar também passe por mutações, portanto nosso sistema jurídico é praticamente obrigado a se adaptar as mudanças.

Um grande exemplo disso é o casamento com duas pessoas do mesmo sexo e a filiação socioafetiva que são situações que ocorreram por causa da transformação da nossa sociedade, basicamente o conceito de família que existia hoje em dia não existe mais, sendo assim a entidade familiar passou por muitas mudanças, seguindo essa linha de raciocínio, com a transformação da sociedade surgiu a figura da paternidade socioafetiva, que muitas vezes surge porque o padrasto cuida de seu enteado como se seu filho fosse e com este cria laços de afetividade e familiaridade.

Sendo assim conforme demonstrado no trabalho surgiu a multiparentalidade, isto é, a possibilidade de uma pessoa ter dois pais ou duas mães reconhecidas, diversos são os efeitos desse parentesco múltiplo, como também temos vários pontos positivos e negativos.

Ao meu ver essa possibilidade é a melhor maneira de solucionar o “problema” de uma criança ou até mesmo um adulto que tem dois pais ou duas mães, muitas vezes um afetivo e o outro biológico, aí surge a grande questão qual deles deve ter o sobrenome e consequentemente fazer parte da família desse genitor. Sendo assim porque não ter dois? Deixando claro que muitas vezes falamos na paternidade que é o que mais ocorre, mais também pode-se falar em dupla maternidade, voltando então a parte inicial porque não ter dois pais ou duas mães devidamente reconhecidas, sendo assim essa foi a melhor decisão a ser tomada pelo nosso ordenamento jurídico.

Hoje em dia este tema está basicamente pacificado, podendo esse reconhecimento ser feito até mesmo extrajudicialmente, conforme provimento do Conselho Nacional de Justiça juntado no trabalho.

Portanto, temos que a dupla paternidade surgiu para estabelecer o vínculo afetivo juntamente com o biológico, não precisando em nenhum momento a pessoa escolher entre um pai ou o outro.

ANDRIGHI, Fátima Nancy; KRÜGER, Cátia Denise Gress. Coexistência entre a socioafetividade e a identidade biológica – uma reflexão. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. 84pg.

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