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Conservaҫão do património natural e cultural da Ilha do Ibo

Parte I: Revisão da Literatura

7. Turismo em Moçambique

7.6. O Turismo na Ilha do Ibo

7.6.1. Conservaҫão do património natural e cultural da Ilha do Ibo

A pressão sobre os recursos naturais e culturais existentes na Ilha do Ibo aumentam o número de conflitos, motivados pela falta de conhecimento das regras de conservação nas comunidades locais, falta de hospitalidade por parte dos investidores que querem investir em turismo e falta de coordenação entre as partes envolvidas (sector público e o sector privado). Existem factores que dificultam ou freiam a materialização dos investimentos turísticos são os elevados custos do investimento inicial conexos como a fragilidade das redes infraestruturais por um lado e, por outro lado uma insuficiente atenção especializada, instituída disponível, imprescindível para re- gular as intervenções em áreas caracterizadas pela grande fragilidade dos ecossistemas. (Plano de Urbanização da vila do Ibo, 2008, p.96).

Não existem representações específicas locais na área do turismo, para a conservação do patri- mónio natural, cultural e ambiental na Ilha do Ibo, devendo as solitações dos investidores serem feitas a partir das direcҫões de tutela (turismo, cultura e ambiente) em Pemba. Na área do turismo os principais instrumentos legais específicos usados para a conservação do património cultural são:

 O Regulamento da Indústria Hoteleira e similar, aprovado pelo Decreto do Conselho de Ministros n° 69/99, de 5 de Outubro.

 A Resolução 14/2003 de 4 de Abril - que estabelece os objectivos gerais do governo integrando uma política nacional de turismo e onde também se definem os aspectos prin- cipais da sua estratégia de implementação;

 A Lei 4/2004, de 17 de junho - Lei do Turismo - que substituiu o Decreto-Lei n°49399 de 1969, de 24 de Novembro, em vigor no período colonial e que, tendo funcionado teoricamente até 2004, revelava-se bastante ultrapassado no actual contexto político. A ressurgência do fenómeno do turismo no país, principalmente depois da assinatura dos Acordos de Roma em 1994, determinou a necessidade da sua actualização;

 O Plano Estratégico do Desenvolvimento do Turismo, de 2004 a 2013 – aprovado em Outubro de 2004 - que substitui o anterior que foi elaborado antes de 1994 e, portanto, durante o período da guerra.

 O Decreto nº 12 de 2002, pelo qual o Conselho de Ministros de Moçambique criou o Parque Nacional das Quirimbas. Este Decreto estabelece os princípios, o zoneamento, as modalidades e os limites de gestão visando a protecção e a preservação do Arquipélago

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das Quirimbas, da zona costeira adjacente, bem como de uma importante área marinha de grande importância ecológica, ao largo das Ilhas do Parque, o Banco de São Lázaro (Plano de urbanização da vila do Ibo, 2008, p. 46).

No domínio da cultura os principais instrumentos legais usados para a conservaҫão da Ilha do Ibo são:

 A Lei n° 10 de 22 de Dezembro de 1988 - Lei do Património Cultural que se aplica a todos os bens do património cultural em geral, quer estejam na posse do Estado e dos organismos de direito público.

O Inventário Nacional de Monumentos, Conjuntos e Sítios, elaborado em 2003 pelo Departa- mento de Monumentos da Direcção Nacional do Património Cultural do Ministério da Cultura, e a proposta de Normas para a conservação e critérios de classificação de monumentos, conjun- tos e sítios (Plano de urbanização da vila do Ibo, 2008, p. 47).

Existem valores culturais que devem ser preservados e conservados e são parte da atração turís- tica. A língua, a cultura, os monumentos históricos são património da sua população e outros ultrapassam as fronteiras nacionais. A miscigenação secular de saberes e sabores diversos são oriundos de vários continentes e de ambientes longínquos, como a Ásia, a Europa e as Américas. (Plano de Urbanização da Vila do Ibo, 2008, p. 41). Embora a riqueza biológica esteja a atrair o turismo, a riqueza cultural ainda não está a atrair o turismo. Acções devem ser orientadas para o conhecimento da história e cultura local, bem como a sua proteção e valorização. Mas também é necessario dar um valor acrescentado ao turismo (Plano de Maneio, 2011-2021, p. 27). Ruschmann (1997) ressalta que é impossível desconsiderar a cultura de um povo como uma das mais importantes motivações das viagens turísticas. Singer, citado por Ruschmann (1997: p.50), conceitua cultura de um povo como:

“[...] os padrões explícitos ou implícitos do comportamento, adquiridos ou transmitidos por sím- bolos, que constituem o patrimônio de grupos humanos, inclusive sua materialização em artefac- tos. O aspecto mais importante de uma cultura reside nas ideias tradicionais - de origem e seleção histórica - e, principalmente, no de significado".

A cultura de um povo constitui um vector ao desenvolvimento turístico que não pode ser esque- cida. Conforme Ruschmann (1997), o turismo favorece o intercâmbio cultural, estimula a con- servação e a preservação do patrimônio histórico e cultural, desperta maior interesse pela arte e artesanato local e ajuda a recuperar antigas manifestações culturais, valorizando tradições e cos-

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tumes. Os aspectos positivos relacionados com impactos culturais contribuem para o desenvol- vimento do turismo e devem ser conservados e preservados. Percebe-se que os impactos sócio culturais criados pelo desenvolvimento do turismo, melhoram a qualidade e vida das comunidades através do estímulo à conservação e à preservação do património histórico e cul- tural, desperta maior interesse pela arte e artesanato local e ajuda a recuperar antigas manifesta- ções culturais, valorizando tradições e costumes locais.

Na área do ambiente existe um acervo de legislação importante e abrange os seguintes instru- mentos legais para diferentes áreas, conexas com problemáticas particulares do ambiente, no- meadamente, a das águas marinhas e interiores, a das florestas e fauna bravia, a dos recursos minerais e energéticos, a das pescas, a dos resíduos, a da saúde pública, para além do que está consignado no código penal relativamente aos crimes ambientais. Os principais instrumentos legais são:

 A Lei n° 20 – Lei do Ambiente, a qual estabelece como seu objecto geral a definição das bases para uma utilização e gestão correctas do ambiente e seus componentes, com vista à materialização de um sistema de desenvolvimento sustentável.

 A Resolução n° 5/95, de 3 de Agosto de 1995, que aprova a Política Nacional do Ambi- ente, e a Resolução nº 4/2000, de 22 de Março de 2000 que aprova o Plano Quinquenal do Governo para 2000 – 2004. Para além destes instrumentos existem aqueles que defi- nem os órgãos com competência ambiental. (Plano de urbanização da vila do Ibo, 2008, p. 47).

Com estes instrumentos legais percebe-se a fraca capacidade de gestão própria do poder local em relação a estas três importantes áreas de trabalho, que se reflecte na quase inexistência de recursos e competências técnicas e administrativas locais para contribuir para uma correcta ges- tão, quer das iniciativas turísticas quer das iniciativas que envolvam o património cultural. É neste âmbito que devido a inexistência destas competências locais, os investidores deslocam-se a Pemba para solucionar os problemas nas áreas de investimento no turismo numa distância de 300Km por via terrestre e cerca de 30 a 40 minutos para atravessia de barco.

Para a proteção do património natural, o PNQ estabeleceu como medida importante o zonea- mento para reduzir a destruição ambiental. Representa uma ferramenta essencial na gestão de

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uma área de conservação. A Ilha do Ibo faz parte do PNQ e também é abrangida pelo zonea- mento e pertence a zona de desenvolvimento comunitário. Zonear uma área de conservação (as- sim como outras áreas com diferentes tipos de usos) é providenciar vários níveis de protecção bem como permitir níveis de utilização dos recursos naturais. Outras medidas são: actividades reguladas através de instrumentos próprios como, o Plano de Maneio e Plano de Desenvolvi- mento de Turismo. As actividades são licenciadas pelas autoridades do PNQ ou outras autorida- des governamentais relevantes (exemplo, Ministérios ou Direcções Provinciais), sendo, neste último caso, vinculativo o parecer do parque. Exemplos de actividades licenciadas são os em- preendimentos turísticos, através de licenças especiais, a pesquisa científica através de Creden- cial de Pesquisa, mas também actividades extractivas tais como o uso de recursos madeireiros para carpintaria pelas comunidades locais. (Plano de Maneio, 2011-2021, p.36). Depois temos actividades não permitidas pela lei, são totalmente proibidas, especialmente aquelas ligadas ao uso industrial e semi-industrial dos recursos e que prevêem a utilização de métodos destrutivos e poluentes do meio-ambiente (Plano de Maneio, 2011-2021, p.42). Estas medidas permitem que os recursos naturais do PNQ, assim como da Ilha do Ibo sejam usados de forma sustentável.