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Parte I: Revisão da Literatura

1.4. Teoria da Dependência

A teoria de dependência surgiu na América Latina no início dos anos 60, como crítica a teoria da modernização implantada nos países periféricos porque estes países não conseguiram manter índices satisfatórios de crescimento económico, reduzir as desigualdades sociais e atingir o de- senvolvimento (Faria, 2012, p. 8).

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Dependência é comumente entendida como teoria do subdesenvolvimento (Lepp, 2008). Se- gundo esta teoria, o sistema económico global definiu duas áreas importantes: a “periferia e o centro.” A região metropolitana o “centro” e a “periferia” os países subdesenvolvidos. As maté- rias-primas são exportadas da periferia para o centro, onde se tornam produtos manufaturados e, por sua vez, são exportados de volta a periferia. A periferia torna-se dependente do centro para compra de matérias-primas e receber bens manufaturados do centro. Isto resulta no cons- tante fluxo de capital da periferia para o centro, também conhecido como vazamento de capitais para satisfazer as necessidades da periferia em bens e serviços que não podem ser providencia- dos localmente.

A Teoria da dependência tem sido usada para descrever o relacionamento entre o ocidente, tu- rismo gerando '' centro '' e '' periferia ''destinos no mundo em desenvolvimento (Britton 1982, 1996). Os destinos turísticos do mundo estão localizados na periferia onde existem os recursos para o turismo (Frank 1967, Lepp, 2008). No entanto, estes destinos dependem dos mercados e do capital localizado no centro onde é gerado o turismo. Os turistas que se deslocam do centro para a periferia para lazer e recreação exigem as mesmas facilidades que existem no centro, na região de origem. É neste contexto que o dinheiro gasto pelo turista, na periferia volta para o centro para satisfazer as necessidades dos turistas em termos de equipamentos, mobiliário, pro- dutos alimentares, bebidas e outras facilidades inexistentes na periferia, resultando desta maneira o turismo de leakage.

Segundo Sharpley, (2009, p. 41) a teoria de dependência é caracterizada por relações políticas e económicas entre as nações ricas industrializadas “centro” e a periferia “nações pobres. A teoria da dependência nasce da necessidade de se buscar novos rumos teóricos ao estabelecer uma contundente crítica aos pressupostos do desenvolvimentismo e dentro do entendimento do pro- cesso de integração da economia mundial que buscava “compreender as limitações de um de- senvolvimento iniciado num período em que a economia mundial já estava constituída sob a hegemonia de enormes grupos económicos e poderosas forças imperialistas” (Santos, 2000: 26). A teoria explica que existe uma estreita dependência entre as nações ricas e as nações pobres (Sharpley, 2009, p. 41). As nações ricas exercem poder e autonomia sobre as nações pobres, explorando-as e impedindo o seu desenvolvimento. A dependência das nações pobres em relação as nações ricas traduzem-se na redução do papel do Estado-Nação, agravado pela globalização,

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comércio internacional e pelos investimentos que acontecem nas nações periféricas. Estabelece- se uma relação de subordinação entre os países do “centro” e da “periferia” relação desigual de controlo hegemônico dos mercados pelos países do “centro aos países da “periferia” sobre seus recursos. A integração dos países “periféricos” ao sistema capitalista internacional ocorre em um contexto de subordinação em que estes, logo se transformaram em importadores dos novos bens de consumo dos países “centrais” (Furtado, 1978 e 1985; Hidalgo, 2008; Elizalde, 2008; Telfer, 2004).

Na teoria da dependência, o desenvolvimento do turismo nos Países em desenvolvimento assim como nas Ilhas, também segue a mesma perspectiva, caracterizando-se pela relação centro-pe- riferia entre países, sendo a “periferia” o centro de “prazer” e de desenvolvimento do turismo dependente dos factores externos. Apesar do desenvolvimento do turismo nas nações em desen- volvimento gerar os efeitos multiplicadores, estes não respondem as necessidades do ponto de vista dos países em desenvolvimento. Os modelos de dependência constituem bases para explo- rar o desenvolvimento de turismo de uma forma global, principalmente, entre o centro e a peri- feria (Sharpley et.al, 2009, p. 42). Nos modelos de dependência, o destaque vai para dependência cultural uma característica do turismo internacional nas zonas periféricas onde a planificação e as políticas do turismo refletem o modelo das nações ricas industrializadas.

As regiões periféricas são caracterizadas de alguma forma pela falta de experiência no exercício da actividade turística nos destinos turísticos como na planificação do sector e de forma privada nos resorts e lodges, no desenho das políticas e no marketing para o turismo. Estas regiões estão dependentes do interesse do investidor e da proveniência do investimento (Lepp, 2008). Na perspectiva da teoria da dependência aplicada ao turismo, os países do centro exercem influ- ência sobre a “periferia” através de turistas que se deslocam para a “ periferia” para lazer nos destinos turísticos, gerando divisas, os efeitos multiplicadores, a existência de empresas trans- nacionais para a implantação e gestão de empresas turísticas (especialmente cadeias hoteleiras); contratação de mão-de-obra estrangeira para a gestão dos negócios; na importação de produtos para atender as necessidades dos turistas, entre outros, reduzindo o impacto económico local e favorecendo a permanência da dependência dos países em desenvolvimento em relação aos pa- íses desenvolvidos. Pode-se concluir que o efeito multiplicador a nível local é reduzido, sendo

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que estes países periféricos não conseguem dinamizar a economia local a partir do turismo, de- vido a inexperiência do sector a nível local na gestão do turismo (Streeten, 2006, p.408; Sinclair e Stabler, 2009, p 172; Sharpley, 2009, p.106 e Cooper et al, 2001, p.177).

Outros são os aspectos negativos do turismo na teoria da dependência tais como: perda de iden- tidade; efeito de imitação sobre o consumo; aumento das importações de bens improdutivos; iniquidade nas oportunidades; pouco impacto sobre a pobreza; tendência inflacionária que acom- panha o crescimento da demanda turística; incluindo o preço da terra e, sobretudo, o preço da habitação (Faria, 2012, p. 9). No entanto, esta teoria continua a ser usada para explicar as rela- ções de centro e periferia, como também continua a influenciar correntes intelectuais diversas, entre elas o desenvolvimento alternativo (Hidalgo, 2008; Elizalde, 2008). Para inverter a situa- ção da dependência dos países pobres em relação aos países desenvolvidos, o desenvolvimento local através do turismo deve ser considerado e privilegiado para alavancar as economias locais.