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Parte I: Revisão da Literatura

3. Turismo em África

3.2. Países africanos com destaque no turismo

O crescimento do turismo regional dentro da África Austral é um novo fenómeno importante. Esta região do continente africano tem um potencial de turismo considerável para promover o crescimento da economia a nível regional e contribuir para a redução da pobreza (Niskala, 2015, p. 263). Eis alguns países da África Austral com destaque no turismo:

A África do Sul, é um país do continente africano onde o turismo é fortemente desenvolvido nas áreas protegidas (AP) com benefícios directos às comunidades locais contribuindo signifi- cativamente para a economia do país. As contribuições do turismo para as comunidades locais surgiram como estratégia de desenvolvimento de turismo com o potencial de proporcionar gran- des benefícios para as comunidades locais, em termos de emprego e geração de receita (Telfer & Sharpley, 2008; Munro, 2010). Os efeitos do turismo nas áreas protegidas nas comunidades locais são complexos. Para além dos impactos positivos do turismo que é desenvolvido nas áreas protegidas existem os impactos negativos ao turismo que podem ser analisados e compreendidos pelas comunidades locais (Plummer & Fennell, 2009; Munro, 2010). O turismo desenvolvido nas áreas protegidas da África do Sul é denominado por ecoturismo.

O ecoturismo é uma actividade direcionada para áreas naturais, reconhecido como sendo um potencial para criação de emprego para semi-qualificados e não qualificados com objectivo de alívio a pobreza assim como para o emprego das mulheres. O emprego pode ser directo (por exemplo em operações do turismo relacionadas com o parque), indirecto nas actividades cuja renda é derivada das empresas ou actividades com base no parque, e emprego induzido que tem com característica as baracas locais de venda de produtos locais à beira da estrada, para os turis- tas que passam de visita ao parque (Munro, 2010, p.665).

Actualmente, o turismo está a ser desenvolvido na África do Sul com restrições vistas por turis- tas ocidentais como sendo: a pobreza, o HIV /Sida e os conflitos políticos que podem afectar o número de turistas internacionais que visitam a África do Sul. Relacionadas a estas restrições estão os custos de viagem que também são bastante altos e há limitações no acesso aéreo (PEDTM 2003-2014). Na distribuição de benefícios locais do turismo, a indústria é desafiadora e as limitações podem restringir o turismo estratégico (Niskala, 2015). Apesar dos conflitos,

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pobreza e doenças endémicas que podem perigar a vida do turista, a África do Sul continua a ser um potencial para o turismo através do uso sustentável dos recursos naturais, o que torna os parques mais acessíveis para os turistas e para as comunidades locais. Uma maneira chave de direcionar os benefícios para as comunidades é através do seu envolvimento no turismo e na partilha dos benefícios (Munro et al, 2010, p. 664).

No Quénia, as áreas protegidas no meio rural são usadas para o ecoturismo. A gestão das áreas protegidas na zona rural é feita em coordenação com a participação da comunidade local que tem como expectativa os benefícios pelo ecoturismo. Para Honey (1999) e Wallace (1996, cit in Bruyere, 2008, p.50) vêm a necessidade dos benefícios pela participação da comunidade em planos de ecoturismo para a proteção das áreas protegidas. A participação das comunidades tem a ver com o acesso aos recursos naturais uma vez que elas vivem em áreas protegidas, e lhes são proporcionadas oportunidades para essas comunidades participarem em planos de gestão forne- cendo informações sobre a gestão dos recursos existentes em tais áreas. (Wallace 1996 e Bruyere et al. 2008, p. 50). Os benefícios conseguidos pelas comunidades devem-se a sua participação na gestão e planificação dos recursos de turismo nas áreas rurais protegidas.

A participação da comunidade local na tomada de decisão nas áreas protegidas para o desenvol- vimento do ecoturismo tem sido uma estratégia com benefícios para as próprias comunidades (Bruyere et al. 2008, p.50). A participação local permite aos gestores das áreas protegidas al- cançar os objectivos planificados, através das informações provenientes das comunidades locais. Posteriormente, as informações obtidas serão usadas na planificação dos recursos existentes nas áreas de conservação como também aumenta a expectativa das comunidades locais sobre os benefícios pela sua participação no ecoturismo. Um exemplo da participação das comunidades locais são os pastores Maasai que vivem perto da Área de Conservação de Eselenkai, no Quénia que participam na planificação dos recursos existentes, segundo (Instituto Internacional para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento 2002) (Bruyere et al. 2008, p.50). Com participação da comunidade na gestão das áreas protegidas reforça-se o turismo sustentável como uma estratégia de conservação nas áreas naturais.

A Tanzânia é um país da África Austral com potencial rico para o turismo (natural e cultural) que se deve aos activos abundantes de fauna e flora para atrair turistas tornando o turismo um sector de crescimento económico e de alívio a pobreza (Muganda et al, 2010). Os impactos de

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turismo no desenvolvimento socioeconómico e no alívio a pobreza podem ser sentidos em três áreas:

1- Fontes das trocas comerciais e de receitas públicas contribuindo para o desenvolvimento económico (UNCTAD, 2007);

2- As actividades de turismo geralmente são de trabalho intensivo e a expansão destas ac- tividades cria oportunidades de emprego para os locais principalmente as mulheres com diferentes capacidades (UNCTAD, 2007);

3- O desenvolvimento do turismo gera melhores oportunidades para os residentes obterem mais benefícios, quando participam na tomada de decisões (UNCTAD, 2007).

O turismo é desenvolvido na aldeia de Barabarani, Mto wa Mbu-Arusha, que se localiza a 130 km da capital regional da Arusha. Mto wa Mbu, que significa rio de mosquitos ou riacho de mosquitos. Tem como atracҫão principal a Cratera de Ngorongoro e o Parque Nacional Seren- geti. A participação da comunidade na tomada de decisão na Tanzania quase não existe continua a ser no modelo Top-down, adotado depois da independência e no sistema socialista (Dill, 2010, Muganda, 2010). Novas formas de participação foram introduzidas para os cidadãos participa- rem que necessitam de mecanismos apropriados. Mto wa Mbu refe-se como as comunidades participam na tomada de decisões e na partilha de benefícios pelo desenvolvimento do turismo (Muganda, 2010, p. 85). Para o desenvolvimento do turismo existem cinco (5) pousadas e oito (8) acampamentos, assim como restaurantes. O turismo desenvolvido é cultural e de conserva- ção. O turismo de conservação envolve a comunidade local através da partilha de benefícios turísticos, que tem como objectivo o alívio a pobreza. O turismo cultural encontra o apoio das comunidades étnicas locais como o Programa de Turismo Cultural para atrair turistas e visistan- tes (Muganda et al, 2010).

A Namíbia também um país da África Austral onde os seus habitantes percebem que o desen- volvimento do país é possível através do turismo, como também reconhecem ser o turismo um agente catalisador no crescimento da economia e na construção da nação, segundo o National Policy on Tourism for Namibia (NPTN, 2008). O governo reconhece ser o turismo uma activi- dade económica prioritária e sua contribuição para desenvolvimento nacional. Também reco- nhece o extenso efeito "multiplicador" do turismo e sua capacidade de gerar empregos e renda bem além das áreas que se beneficiam diretamente do turismo. Gera emprego não apenas em

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empresas que fornecem bens e serviços directamente para turistas, mas também nos fornecedo- res desses bens e serviços e, pelas despesas e de rendimentos decorrentes do turismo. O governo incentiva o estabelecimento do turismo em terras comunitárias como meio de envolver as co- munidades do sector do turismo e, assim, contribuir para o alívio da pobreza em terras comuni- tárias. Com o desenvolvimento do turismo na Namíbia, aumenta a percepção das comunidades locais sobre a importância do turismo na redução da pobreza e empregabilidade local (NPTN, 2008).

O Ghana é um país de África que tem como atracҫão turística, o Lago Basin, que surgiu a partir de uma cratera como impacto de meteoritos. É totalmente fechado, não tem saída para o mar e com maiores probabilidades de poluição devido algumas das actividades do turismo. Com a introdução de embarcações, para o transporte de passageiros, assim como por navios modernos usados para a pesca surgiram outros problemas como o derramamento de óleo e a descarga de combustível, que eram incomuns no lago, no passado, acabando por poluir o meio ambiente (Amuquandoh, 2010, p. 224). A percepção das comunidades sobre o lago deveu-se as poluições provocadas pelas actividades do turismo. Para Liu, Sheldon; Var 1987; Amuquandoh, 2010), a percepҫão das comunidades locais na avaliação do impacto ambiental do turismo é geralmente alto uma vez que as actividades do turismo que se desenvolvem no lago poluem o lago, o que pode afectar a vida das próprias comunidades que usam os recursos existentes no lago (Amuquandoh, 2010, p. 224). As comunidades percebem que o turismo pode trazer benefícios, mas os impactos nefastos ao meio ambiente são maiores o que pode afectar as comunidades que dependem e sobrevivem dos recursos existentes no lago.

Percebe-se que tal como a África do Sul outros são os países africanos em que a contribuição do turismo nas áreas protegidas é direcionada para beneficiar as comunidades locais de forma di- recta ou indirecta, contribuindo para a redução da pobreza através dos benefícios que incluem o emprego, e outras oportunidades geradoras de renda (directa e indirecta), formação, desenvolvi- mento de habilidades e melhoria do bem-estar social, como também para o desenvolvimento económico nos países onde existem recursos naturais para o efeito. (Jamieson, Goodwin e Ed- munds, 2004; Mitchell & Ashley, 2010; Spenceley, 2008; Snyman 2012, p. 396).

As chegadas de turistas internacionais em destinos como Moçambique, África do Sul e Tanzania revelam o seguinte quadro: São países da África subsahariana com as mesmas características em

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recursos turísticos, culturais, ambientais e paisagísticos, mas que diferem nas proporções de or- dem de chegada assim como de receitas produzidas por destino.

O fluxo do turismo internacional em Moçambique em 2018 foi na ordem de 11.7% com uma produção de receitas de 0.6%. A África de Sul também país da África Subsahariana as chegadas internacionais foram na ordem de 15.6% com receitas fiscais na ordem de 23.3%. A Tanzania é um país com mesmas condições climatéricas que Moçambique onde as chegadas internacionais representaram 3.4% com uma produção de receias na ordem 6.4%. (UNWTO, 2019). O presente quadro revela disparidades nas proporções relacionadas com as chegadas internacionais de tu- ristas por país assim como as receitas provenientes do turismo. Benchmarking é um indicador de sustentabilidade e monitoria que permite verificar o desempenho de sustentabilidade em re- lação aos destinos comparáveis. Isso pode ajudar a mostrar pontos de fraqueza relativa que pre- cisam ser priorizados. Esse exercício de benchmarking exige que os destinos cooperem no uso de indicadores e processos de monitoria semelhantes. Os governos estão preocupados para faci- litar o benchmarking em nível internacional ou nacional. O benchmarking internacional pode ocorrer entre países ou entre tipos de destinos comparáveis que apresentam as mesmas similari- dades em atrações e outros recursos. Em nível nacional, exercícios de benchmarking podem ser realizados entre destinos de um país, talvez coordenados por departamentos governamentais na- cionais que trabalham com um grupo de autoridades locais (UNEP, 2005, WTO, 2005). Percebe- se que os dados sobre o fluxo de turistas internacionais por país de destino diferem, assim como as receitas provenientes da actividade mostram um desiquilibrio, principalmente porque Mo- çambique e Tanzania tem as mesmas características para o desenvolvimento do turismo (as praias para mergulho, Ilhas, e parques para safari). África do Sul apesar de ser um país compa- rável em relação a Mocambique e Tanzania o destaque vai para o turismo de cidade e um turismo natural desenvolvido no Krugger Parque com as seguintes actividades: observação de animais selvagens, safari, pássaros e natureza bravia.