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Parte I: Revisão da Literatura

7. Turismo em Moçambique

7.2. Parque Nacional das Quirimbas

O Parque Nacional é uma área protegida destinada a proteger a integridade ecológica de um ou mais ecossistemas para estas e futuras gerações, impedir a exploração e ocupação contrária aos propósitos da criação da área e fornecer uma base para oportunidades espirituais, científicas, educacionais, recreacionais e de lazer as quais devem ser compatíveis ambiental e culturalmente (IUCN, 2003). A IUCN apresenta categorias específicas para a classificação dos Parques. O Parque Nacional encontra-se na categoria II da IUCN que conceptualiza o Parque como sendo ‘uma área de conservação de ecossistemas e fins de recreio’ (IUCN, 2003)

O Parque Nacional das Quirimbas (PNQ) foi criado em 2002 através do Decreto nº 4/2002, de 6 de Junho, representando assim a segunda, em ordem temporal, das cinco áreas de conservação criada pelo Governo da República de Moçambique após a independência em 1975. O Arquipé- lago das Quirimbas em Cabo Delgado é uma cadeia de 28 ilhas, que se estendem ao longo de quase 400 km. As 11 Ilhas na parte meridional constituem uma extensa zona de floresta e mata- gal no continente, incluídas no PNQ que tem uma área total de 9.130 km2, dos quais 1.185 km2 constituem a parte marinha e 7.945 km2 a parte terrestre. É definida também a Zona Tampão do parque como uma faixa de 10 km ao longo dos limites do parque com uma extensão de 5.704 km2. O Parque Nacional das Quirimbas (PNQ) abrange seis distritos centrais da Província de Cabo Delgado na zona Norte de Moçambique. A parte marinha do Parque encontra-se o Arqui- pélago das Quirimbas, com as Ilhas (Ibo, Matemo, Quisiwe e Quirimba) que têm uma longa história de ocupação humana permanente, sendo a Ilha do Ibo onde os valores históricos e cul- turais se identificaram no passado (Plano de Maneio 2011-2021, p.1).

No Parque Nacional das Quirimbas, o turismo continua a ser o maior recurso económico desen- volvido, sendo assim uma das principais fontes potenciais de receitas nesta área de conservação,

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bem como para o desenvolvimento da população local esta última, uma das finalidades da cria- ção do Parque. Uma das grandes vantagens que o PNQ tem é representada pela possibilidade de conjugar três grandes produtos turísticos: a) o mar e as praias; b) a vida selvagem no continente; c) os locais de grande valor histórico e cultural, de forma que este parque representa uma poten- cialidade única em Moçambique (Plano de Maneio 2011-2021, p. 60).

O turismo no PNQ é desenvolvido com base num Plano de Desenvolvimento de Turismo (PDT), que foi elaborado por uma equipa de especialistas da Leeds Metropolitan University do Reino Unido que apresentam as potencialidades existentes no PNQ e nas Ilhas, úteis para o desenvol- vimento do turismo (Plano de Maneio 2011-2021, p. 60). O PNQ oferece aquilo que um número crescente de viajantes internacionais pretende: um destino de ecoturismo “novo,” remoto, não deteriorado, que oferece uma variedade notável de experiências. A combinação de fauna terres- tre, as paisagens, a fauna marinha, as praias, as oportunidades de mergulho de nível mundial e a pesca desportiva, tudo isso enquadrado numa cultura invulgar que combina heranças africanas, árabes e portuguesas, representa uma mistura arrebatadora que atrai turistas e viajantes (MITUR, 2009, Plano de Maneio 2011-2021, p. 60).

O Plano de Desenvolvimento de Turismo realça o envolvimento das comunidades locais no de- senvolvimento do turismo, razão pela qual foi criado o PNQ para beneficiar as comunidades locais seja em termos de gestão, como em termos de aproveitamentos dos benefícios (Plano de Maneio 2011-2021, p. 65). As medidas para materialização dos benefícios para as comunidades locais são estabelecidas através de acordos entre investidores e comunidades locais e a atribuição de uma parte das receitas das taxas de entrada e de utilização pagáveis ao PNQ aos Fundos de Desenvolvimento Comunitário. Os benefícios devem ser formalizados através do estabeleci- mento de acordos ou contratos formais, com força legal, entre comunidades e investidores/ope- radores turísticos, que também apoiam este princípio. Conforme ao PDT o acordo escrito entre comunidades e sector privado deverá ser parte integrante dos novos requerimentos de Licença Especial no PNQ (Plano de Maneio 2011-2021, p. 65).

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Percebe-se que o turismo no PNQ é desenvolvido com base num Plano de Desenvolvimento de Turismo (PDT). O desenvolvimento do turismo é feito na parte continental onde os safaris, a observação de pássaros e o passeio pela selva são as actividades com maior afluência assim

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como na parte insular onde se encontram as vinte e oito Ilhas que fazem parte do Arquipélago das Quirimbas. A Ilha do Ibo pelos seus feitos históricos é considerada propícia para o turismo natural e cultural com as actividades de mergulho, observação de baleias, passeios de barco, aspectos cénicos da cultura local e pesca em alto mar com impactos locais. As actividades turís- ticas desenvolvidas no PNQ têm um carácter de preservação e conservação dos recursos exis- tentes. A principal estratégia do desenvolvimento turístico é de manter a característica de um destino exclusivo para o Arquipélago das Quirimbas e o PNQ como “uma parte especial de África” (Plano de Maneio 2011-2021, p. 61).

A lei moçambicana, sobre a conservação da biodiversidade no seu número 1, do artigo 16, da Lei nº16/2014 de 20 de Junho conceptualiza o parque nacional como sendo uma área de conser- vação total, de domínio público do Estado, delimitada, destinada a propagação, protecção, con- servação, preservação, maneio da flora e fauna bravias bem como à proteção de locais, paisagens ou formações geológicas de particular valor científico, cultural ou estético, no interesse e para recreação pública, representativos do património nacional (Lei n˚16/2014).

Nas áreas de conservação são autorizadas o exercício das actividades de acordo com os seus objectivos que incluem: Concessão para o exercício da actividade turística, concessões para a práctica de exercício cinegético, caça, pesca e exploração de recurso florestal, captura de animais vivos e apanha de ovos, apicultura, investigação científica e outros afins (lei nº16/2014). En- tende-se nesta lei que as áreas de conservação são de domínio público com valor científico para exercício de actividades turísticas e exploração de recursos florestais.

A Ilha do Ibo faz parte do Parque Nacional das Quirimbas pelas razões citadas no Plano de Maneio, que podem ser destacadas como: “a diversidade dos habitats”; “a floresta de mangal do Ibo, a Baía de Montepuez e o recife de coral de franja” como “locais chave para a conservação da biodiversidade marinha”; o bom estado do recife de coral, na sua parte virada para o mar, que apresenta “condições de mergulho e ‘snorkelling’ de nível mundial”; a “grande diversidade de espécies de peixe, mangal, ervas marinha, moluscos e macro-algas”; a importância como “zona de alimento e nidificação de várias espécies de tartaruga marinha; a existência de “dugongos, assim como golfinhos e algumas espécies de tubarões”, bem como de “baleias e suas crias que visitam a área anualmente”; a importância da área do Parque como “local de alimento e nidifi- cação de diversas espécies de aves de rapina em perigo de extinção”; a existência de “vários

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tipos importantes de floresta e matas costeiras com alto nível de diversidade de plantas e ende- mismo”; a importância “do ponto de vista histórico e cultural” da área como zona de contacto de culturas; a existência de “habitats ainda no seu estado primitivo, com mares limpos e ambi- ente não poluído” (Plano de Maneio 2003-2008). No Parque Nacional das Quirimbas desenvol- vem-se várias actividades como: a produção de alimentos, a extração de mel e frutos selvagens que fazem parte do pequeno negócio das comunidades locais a extração de raízes e folhas como fontes de medicamentos, a existência de população com uma diversidade cultural que constitui atractivos turísticos fortes para quem visite a Ilha do Ibo parte integrante do Parque Nacional das Quirimbas.

O PEDTM (2016-2025) reconhece a importância das condições destacadas como propícias para o turismo nas comunidades locais, do Parque Nacional das Quirimbas, dai que reforça a facili- tação das parcerias entre as comunidades locais e os investidores privados para criar um ambi- ente que produza benefícios para que as comunidades participem no desenvolvimento do tu- rismo nas coutadas, através da alocação de uma parte das receitas para que tais comunidades sejam apoiadas pelas autoridades turísticas locais. Apesar das parcerias produzirem benefícios aos parceiros envolvidos, existem actividades que constituem a ameaça mais grave à integridade dos ambientes marinhos dentro do PNQ e nas Ilhas. Trata-se da sobre pesca que usa as artes e práticas destrutivas recentes que são:

a) Uso de redes de malha pequena; b) uso de rede de tubarão (rede choque, de emalhar) capaz de capturar tubarões, mantas, tartarugas e dugongos; c) arrasto para a praia, provoca especial- mente danos às camas de ervas marinhas e corais e captura peixe muito pequeno; d) uso de redes sobre os fundos de coral associado a batimento do coral; e) uso de artes de arpão na pesca arte- sanal f) pesca de camarão com redes de malha pequena. Tradicionalmente, a pesca de camarão era feita com o uso de gamboas (i.e., armadilhas com braços compridos de ambos os lados para conduzir o camarão para dentro da gaiola) e a g) destruição de coral com martelos para ter acesso aos recursos escondidos. As consequências da pesca excessiva têm estado a resultar em danos no ambiente, que resultam na diminuição do pescado e assim como a redução do nível de vida dos pescadores como também representa um dos problemas para a conservação dos recursos marinhos. A pesca é exercida localmente por pescadores residentes e migratórios vindos, estes últimos, especialmente da província de Nampula e Nacala, mas também de países vizinhos como a Tanzânia. Os pescadores locais pescam para consumo doméstico e para venda, e geralmente

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não estão tão bem equipados como os pescadores migratórios, que pescam quase exclusivamente para o mercado. Nas Ilhas, os pescadores migratórios munidos de recursos pesqueiros, excedem o volume de pescado (MITUR, 2004, p. 11).

Percebe-se que a Ilha do Ibo é uma combinação entre as potencialidades existentes como a fauna terrestre, as paisagens, a fauna marinha, as praias, que oferecem oportunidades de mergulho de nível mundial e a pesca desportiva assim como os aspectos culturais locais. A conservação das espécies marinhas tem sido inviabilizada pelo uso de técnicas destrutivas e pela presença de pescadores furtivos que pescam para o mercado em volumes superiores aos pescadores nacionais colocando em risco a conservação de espécies marinhas. A Ilha do Ibo é considerada um destino de ecoturismo que oferece uma variedade de experiências para turistas e viajantes que visitam a Ilha.