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Parte II: Metodologia

8.1. Estratégia Metodológica

A pesquisa teve como objectivo estudar as percepҫões das comunidades na Ilha do Ibo, sobre o desenvolvimento do turismo. Para compreender este fenómeno foi usada a pesquisa qualitativa que tem como características específicas as interações sociais, podendo ser descritas e analisadas fora dos contextos estatísticos e quantitativos. Kirk e Miller, (1986 cit in, Creswell,2007) enfa- tizam que o paradigma da pesquisa qualitativa tem as suas raízes na antropologia cultural e na sociologia norte-americana. É técnica em que o investigador sempre faz alegações de conheci- mento com base principalmente ou em perspectivas construtivistas (ou seja, significados múlti- plos das experiências individuais, significados sociais e historicamente construídos, com o ob- jectivo de desenvolver uma teoria ou um padrão) ou em perspectivas reivindicatórias/ participa- tórias (ou seja, políticas, orientadas para a questão ou colaborativas, orientadas para a mudança) ou em ambos os casos (Creswell, 2007, p.35).

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O objetivo da pesquisa qualitativa é entender determinada situação social, facto, papel, grupo ou interação (Locke, Spirduso e Silverman, 1987 cit in Creswell, 2007). Através da pesquisa qua- litativa, o pesquisador gradualmente vai compreendendo o fenômeno social que ocorre num de- terminado meio permitindo contrastar, comparar, reproduzir, catalogar e classificar o objecto do estudo (Miles e Huberman, 1984 cit in creswell 2007). Para perceber o fenómeno social os pes- quisadores qualitativos interagem com os informantes de forma contínua procurando perspecti- vas, percepções e significados dos fenómenos com maior profundeza e de forma detalhada para daí se terem as conclusões sobre o objecto em estudo. Ao mesmo tempo, a pesquisa qualitativa muitas vezes não se restringe à produção de conhecimento ou a descobertas com propósitos científicos. Com frequência, a intenção é mudar a questão em estudo ou produzir conhecimento relevante em termos práticos, ou seja, produzir ou promover soluções para problemas concretos. As abordagens de pesquisa participativa ou pesquisa-ação envolvem pessoas (ou instituições) no planeamento e, às vezes, na condução de pesquisas que pretendem produzir resultados rele- vantes a pesquisa (Flick, 2009, p. 21).

A pesquisa qualitativa é a pesquisa não quantificada ou não padronizada, com características próprias. Usa o texto como material empírico (em vez de números), parte da noção da construção social das realidades em estudo, está interessada nas perspectivas dos participantes, em suas práticas do dia-a-dia e em seu conhecimento cotidiano relativo à questão em estudo (Denzin e Lincoln, 2005). Isto significa que a pesquisa qualitativa está preocupada com o que dizem as pessoas em relação ao conhecimento sobre a área em estudo, assim como explora as relações, valores culturais e realidades sociais que não podem ser quantificáveis.

Minayo (2001, p. 14) afirma que a pesquisa qualitativa responde às questões muito particulares que acontecem numa determinada realidade que não podem ser limitadas ao uso de variáveis. Nas ciências sociais, a pesquisa qualitativa assume um nível de realidade que não pode ser quan- tificada. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, va- lores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenómenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Percebe-se que os procedimentos a usar devem ser mais abertos de modo a captar maior número de informações em relação ao fenómeno em estudo. Denzin e Lincoln (2005a, p. 3, cit in Flick, 2006, p.16) definem a pesquisa qualitativa como sendo:

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“Uma actividade situada que posiciona o observador no mundo. Ela consiste em um conjunto de práticas interpretativas e materiais que tornam o mundo visível. Essas prá- ticas transformam o mundo, fazendo dele uma série de representações, incluindo notas de campo, entrevistas, conversas, fotografias, gravações e anotações pessoais. Nesse ní- vel, a pesquisa qualitativa envolve uma postura interpretativa e naturalística diante do mundo. Isso significa que os pesquisadores desse campo estudam as coisas em seus con- textos naturais, tentando entender ou interpretar os fenômenos em termos dos sentidos que as pessoas lhes atribuem”.

Os autores, acima citados reafirmam que a pesquisa qualitativa se preocupa com a posição do observador perante o fenómeno por ele descrito visíveis ao mundo, que não podem ser quantifi- cáveis, mas percebidas de forma natural. Na pesquisa sobre as percepções o observador fará uso das seguintes prácticas: notas de campo, entrevistas, conversas, fotografias, gravações e anota- ções pessoais para perceber o fenómeno num contexto natural visto pelo pesquisador. Um outro posicionamento sobre a pesquisa qualitativa é aqui apresentado como sendo:

“A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. Os pesquisadores que adoptam a abordagem qualitativa opõe-se ao pressuposto que de- fende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Assim, os pesquisadores qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida social, uma vez que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa” (Goldenberg, 1997, p. 34 cit in Gerhardt &Silveira, 2009). A pesquisa sobre as percepções das comunidades locais em relação ao turismo na Ilha do Ibo visa a compreensão aprofundada deste grupo social, em relação ao fenómeno em estudo, usando para este efeito a abordagem qualitativa, como uma metodologia própria, que difere das corren- tes positivistas que tem um enfoque baseado na medição numérica, recusada pelos pesquisadores qualitativos quando aplicado ao estudo da vida social. Através da pesquisa qualitativa, os dados obtidos dos informantes darão para perceber como o fenómeno em estudo tem impacto nas co- munidades locais do Ibo.

Para Flick (2009, p.16), o perfil da pesquisa qualitativa “usa o texto como material empírico (ao invés de números) parte da noção da construção social das realidades em estudo, está interessada nas perspectivas dos participantes, em suas práticas do dia-a-dia e em seu conhecimento cotidi- ano em relação ao estudo”. A autora dá enfase ao uso das informações trazidas pelos participan- tes sobre o conhecimento do fenómeno. Para isso a pesquisa terá como base o material empírico sobre as realidades que se vivem na Ilha do Ibo a partir do desenvolvimento do turismo e as

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implicações que acontecem na vida social das comunidades locais. A pesquisadora nesta pes- quisa é o sujeito principal, que está em contacto com o objecto de estudo, o que Merriam (1998, p. 4) indica, que dentre o conjunto de atributos da pesquisa qualitatita destaca o pesquisador como principal instrumento de colecta de dados e de sua análise; esta abordagem usualmente envolve a pesquisa de campo empírico; onde o investigador despende um longo período de tempo no campo em contacto com o objecto investigado, sendo esta uma das características da pesquisa qualitativa.