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CAPÍTULO 2 COSTURA TEÓRICO-METODOLÓGICA: PESQUISA NARRATIVA

2.3 CONSIDERAÇÕES PERTINENTES À PESQUISA NARRATIVA

2.3.3 Considerações analítico-interpretativas

Tão importante quanto às considerações teóricas e considerações práticas e orientadas para o texto de campo, são as considerações sobre a análise e intepretação. Conforme destacam Clandinin e Connelly (2015, p. 176), “à medida que passamos dos textos de campo para os textos de pesquisa, nossos textos de campo são textos sobre os quais nos perguntamos sobre seu sentido e significância social”.

Depois que transcrevemos as 14 entrevistas, compomos os textos de campo, e os organizamos em arquivos de modo que pudéssemos acessá-los facilmente. Leituras e releituras dos textos de campo nos permitiram identificar cada um dos elementos norteadores que havíamos mencionado ao longo da realização da entrevista, assim que este foi nosso primeiro movimento de análise. Cada um dos textos de campo foi organizado de modo a contemplar as questões abordadas na entrevista. Sentíamos a necessidade de visualizar os elementos, vislumbrando potencialidades de análise.

Imediatamente averiguamos que este movimento não era interpretativo, mas compunha uma importante fase de sistematização da análise. A partir deste momento, sentimos ainda necessidade de organizar os textos de campo em três grandes eixos que compõem a estrutura da matriz da entrevista, quais sejam: trajetória formativa, concepções de docência e modos de atuação. Desde nossa compreensão da pesquisa narrativa e com base nos pressupostos apontados por Clandinin e Connelly (2015), era preciso reconhecer as particularidades da composição de cada um dos textos de campo. Cada uma destas fases organizativas resultou em anotações de tópicos e assuntos abordados pelos orientadores.

A última fase deste processo foi organizar estas anotações por área de conhecimento. Este arranjo organizativo objetivava possibilitar que as histórias orais individuais de cada um dos participantes pudessem ser vistas também a partir de um conjunto delas, composto pelos demais professores de uma área específica do conhecimento.

Clandinin e Connelly (2015) nos esclarecem que este processo que nomeamos de movimento organizativo, nada mais é que um mapeamento do que há sobre o fenômeno que investigamos, é trabalhar com o posicionamento dos textos de campo dentro do espaço tridimensional da pesquisa narrativa. Segundo estes autores, quando realizamos questionamentos de posicionamento dos textos de campo e os organizamos de acordo com estes, fazemos com que questões para a análise emerjam. As incontáveis releituras dos textos de campo realizadas ao longo deste processo são indispensáveis.

Em termos analíticos, podemos afirmar que é uma busca por “tematizar narrativamente (CLANDININ e CONNELLY, 2015, p. 177)” o conjunto de nossos textos de campo. Dito de outro modo, procuramos elementos das histórias que se entrelacem ou interconectem, indicando temáticas a serem exploradas interpretativamente.

As perguntas de sentido e significância social de nossa pesquisa modelaram nossas escolhas, nossa análise e nossas interpretações. Os textos de campo falavam por si, mas como pesquisadores narrativos precisávamos ir além da representação dos excertos da narrativa, precisávamos construir sentidos a partir das histórias orais de professores orientadores de estágio que participaram conosco da pesquisa. Como nos alertam Clandinin e Connelly (2015, p. 178-179) “textos de campo têm um vasto e rico potencial de pesquisa. Retornamos a eles muitas e muitas vezes trazendo nossas próprias vidas recontadas como pesquisadores, trazendo novos questionamentos de pesquisa e (re)pesquisando os textos”.

Neste sentido, houve momentos em que parecíamos estar submersos por textos de campo, principalmente antes de organizarmos os arquivos de pesquisa, parecia que não sobreviveríamos à imersão narrativa que empreendíamos. Ainda que demorado e bastante trabalhoso, o processo de organização dos textos de campo em arquivos organizativos é importante para a pesquisa narrativa.

Nossas compreensões e interpretações, a partir do que lemos e relemos do conjunto dos textos de campo, começaram a tomar forma no momento que, pela composição de novos sentidos, elaboramos dimensões temáticas que nos auxiliaram na escrita de um relato que é apresentado nesta narrativa de pesquisa de doutoramento.

As dimensões temáticas emergem de um processo intenso e complexo de construção analítica interpretativa que realizamos ao longo de nossa investigação. Estas dimensões são constituídas de princípios que as fundamentam que denominamos de elementos temáticos. Analogamente, podemos mencionar o processo de alinhavo realizado pela costureira. Esses princípios são nossos alinhavos para a construção das dimensões. A Figura 1, objetiva explicitar o processo de análise interpretativa e a composição da compreensão narratológica que realizamos:

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Fonte: As autoras

Importante, no entanto, do processo analítico-interpretativo no qual estivemos imersos, é a ressalva que fazemos a respeito da elaboração dos sentidos que construímos ao longo de nossa pesquisa. Conforme lemos em Clandinin e Connelly (2015, p. 179),

Quer leiamos os textos de campo sozinhos ou com novos leitores, a busca por padrões de linhas narrativas, tensões, e temas, que dão forma aos textos de pesquisa, é criada pelos escritos das experiências quando eles lêem e relêem os textos de campo e os colocam lado a lado, de diferentes maneiras; quando trazem as histórias de suas experiências passadas e as colocam ao lado dos textos de campo; e também quando leem os textos de campo considerando o contexto de outra pesquisa e outros trabalhos teóricos.

Sobre este aspecto, e com base nos estudos de Shulman (1986) mencionamos que ao enfocarmos a prática docente de professores orientadores de estágio, nos propomos a explicitar uma pedagogia que deve e precisa ser revisitada, tanto na prática quanto na teoria. Uma literatura teórica científica que fora construída sob orientação de nossas leituras teóricas, nossas escolhas analíticas interpretativas e uma compreensão narratológica.

É sobre este aspecto que nos movemos quando trabalhamos no campo da pesquisa narrativa e afirmamos que nossa colaboração é sobre os novos olhares possíveis sobre um mesmo fenômeno. Assim, não relatamos a descoberta de nenhum fenômeno, mas conseguimos sensivelmente e a partir de nossas próprias histórias e das histórias orais que ouvimos e registramos, construir possibilidades de sentidos que podem ser reelaboradas a qualquer instante, mas representam uma compreensão sobre a Pedagogia Específica de orientadores de estágio.

CAPÍTULO 3 – COSTURA DE NOVOS SENTIDOS PARA AS NARRATIVAS