• Nenhum resultado encontrado

Para esta pesquisa, adotou-se como critério para definição das variáveis latentes, ou construtos, não apenas a interpretação dos mesmos, mas também a presença de cargas (carregamentos) fatoriais cruzadas e variância total explicada. O objetivo foi confirmar traços de personalidade, caracterizar o ambiente e identificar comportamentos sem ambiguidade entre os itens presentes, explicando a maior parcela de variância dos dados de forma clara e precisa.

Os resultados dos questionários relacionados aos traços de personalidade “busca de sensações” e “escala de raiva do condutor” mostraram-se coerentes com as estruturas definidas na literatura (DEFFENBACHER; OETTING; LYNCH, 1994; IVERSEN; RUNDMO, 2002; YAGIL, 2001). O questionário de “habilidades do condutor”, mesmo não sendo avaliado quanto a sua estrutura fatorial no estudo original (DELHOMME, 1991) e tendo incluído dois itens especificamente para esse estudo, mostrou-se coerente com os objetivos do estudo original.

Em relação aos itens de “caracterização do ambiente”, foram identificadas estruturas que caracterizam o ambiente viário urbano e rodoviário (rural), possibilitando a avaliação quanto à densidade, qualidade de infraestrutura e tipo das vias, conforme planejado durante a elaboração das questões e itens para este estudo. O ambiente

110 Capítulo 5. Variáveis latentes e validação do questionário

viário representado pelo volume de tráfego, o traçado das vias e presença de infraestrutura são associados à exposição e consequente risco de envolvimento em acidentes de trânsito (ELVIK et al., 2009), bem como as áreas urbanas e rurais mostraram-se significativas para explicação da variância do comportamento de risco (KOMBA, 2016).

Na definição dos comportamentos de risco, o uso dos itens DBQ, além daqueles elaborados para este trabalho, permitiu associar a estabilidade do questionário DBQ, com as condições locais pertinentes aos condutores de Brasil e Portugal, contempladas nos 20 itens elaborados para esta pesquisa, conforme recomendado por Lajunen, Parker e Summala (2004). A identificação dos comportamentos foi realizada sob os critérios de encontrar comportamentos claramente definidos, ou seja, sem ambiguidades e que permitissem uma análise precisa acerca dos fatores que influenciam os países amostrados neste estudo.

Os comportamentos “Erros” e “Expressão de raiva do condutor” identificados neste

trabalho e comumente avaliados com a aplicação do DBQ mostraram-se relacionados ao envolvimento de acidentes de trânsito em diferentes estudos (ÖZKAN et al., 2006). Os demais comportamentos identificados (“excesso de velocidade”, “conduzir sob efeito de álcool”, “não usar cinto de segurança enquanto conduz”, “usar o celular no modo viva voz durante a condução”, “sonolência e cansaço”) são considerados como fatores de risco para o envolvimento e severidade de acidentes de trânsito (ELVIK et al., 2009; PEDEN et al., 2004; SHINAR, 2017).

O uso da Análise de Componentes Principais Categórica possibilitou confirmar os construtos referentes aos traços de personalidade, corroborando os resultados presentes na literatura. Também foi possível definir as variáveis latentes acerca dos itens elaborados para este estudo, de acordo com o embasamento teórico e investigação exploratória realizada durante a elaboração do questionário. A validade foi alcançada por meio dos pesos das cargas fatoriais elevados, pelo percentual da variância explicada, pelo indicador de confiabilidade de escala Alfa de Cronbach e a correlação de Spearman, que nos casos em que foi avaliado apresentou valores elevados e com níveis de significância de 0,01.

Dessa forma, a técnica se mostrou adequada para análise de validação de construtos e variáveis latentes relacionadas à investigação do comportamento do condutor, respeitando as condições inerentes da escala Likert como um dado ordinal. As

Capítulo 5. Variáveis latentes e validação do questionário 111

distribuições dos escores individuais das dimensões são apresentados no Apêndice D deste trabalho.

O Quadro 5.1 sintetiza as variáveis latentes obtidas a partir da aplicação da CATPCA.

Quadro 5.1 – Sumarização das variáveis latentes obtidas com a CATPCA

Conjunto de itens avaliados Número de itens utilizados

Número de dimensões obtidas

Nomenclatura das dimensões obtidas

Variância Total explicada

(%) Habilidades de condução 6 2 1 – Habilidades dos demais condutores

2 – Eu mesmo como condutor 62,5

Escala de raiva do condutor 9 3

1 – Impedimento para prosseguir viagem

2 – Demonstração direta de hostilidade do outro condutor 3 – Imprudência de outros condutores

59,0

Busca de sensações 6 1 1 – Busca de sensações 50,1

Percepção de risco 17 3

1 – Ações que prejudicam a concentração e vigilância ao conduzir

2 – Tarefas secundárias ao conduzir 3 – Comportamentos perigosos

78,7

Ambiente viário 15 4

1 – Elementos urbanos 2 – Rodovias confortáveis

3 – Rodovias com defeitos no pavimento 4 – Áreas urbanas com edificações altas

59,6

Comportamento do condutor 22 7

1 – Erros

2 – Excesso de velocidade 3 – Conduzir sob efeito de álcool 4 – Não usar o cinto de segurança 5 – Usar o celular no modo viva voz 6 – Sonolência e cansaço 7 – Expressão de raiva do condutor

68,7

Os escores individuais dos comportamentos serão utilizados para classificá-los de acordo com o envolvimento de acidentes de trânsito com auxílio da Árvore de Decisão (próxima etapa metodológica). Os escores individuais das demais dimensões serão utilizados como variáveis independentes dos modelos para análise dos fatores de influência dos comportamentos de risco dos condutores de Brasil e Portugal.

113

6 CLASSIFICAÇÃO DE COMPORTAMENTOS DE RISCO

Neste capítulo é apresentado o resultado da classificação dos comportamentos de risco que foram identificados a partir da Análise de Componentes Principais Categórica (CATPCA). A classificação foi realizada com a aplicação do algoritmo CART da Árvore de Decisão (AD), contido no software IBM SPSS 25.

6.1 Considerações iniciais

Para a geração da Árvore de Decisão (AD), utilizou-se a frequência de acidentes de trânsito que o participante se envolveu nos últimos 3 anos como variável dependente. A variável independente corresponde aos escores individuais de cada um dos sete comportamentos obtidos a partir da Análise de Componentes Principais Categórica (CATPCA). A classificação obtida com os nós terminais da AD caracterizam a variável dependente, a ser utilizada na etapa posterior de modelagem paramétrica.