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A investigação apresentada propôs-se abordar o tema da reabilitação no património edificado, tendo como enfoque garantir a acessibilidade geral à casa burguesa portuense dos séculos XVII a XIX.

Desde uma fase embrionária do trabalho, percebeu-se que não seria pos- sível tratar a problemática da acessibilidade à casa burguesa em toda a sua plenitude (da escala da cidade à da habitação), e, por isso, sabe-se que ape- nas se conseguiu tratar uma face deste problema.

Ao mesmo tempo, tem-se a consciência que este trabalho significa uma pequena fracção no universo da reabilitação como case study, bem como, apenas um leve contributo para as práticas de reabilitação no património edificado corrente.

Todavia, a realização da presente investigação permitiu aprofundar vários conhecimentos, em particular sobre a história da salvaguarda do património e sobre as teorias e práticas de intervenção no edificado existente. Ao abrir caminho a uma componente disciplinar da arquitectura que era praticamen- te desconhecida, a presente investigação constituiu, assim, um grande con- tributo para o enriquecimento do conhecimento pessoal sobre o tema, bem como da formação académica.

A análise desenvolvida ao tema da reabilitação permitiu constatar que é fundamental a alteração das prioridades ao nível do sector da construção em Portugal, passando de uma cultura assente na construção nova para a reabilitação do edificado existente, tal como já acontece noutros países eu- ropeus.

Foi também possível compreender que os Centros Históricos são consti- tuídos por valores culturais, sociais e arquitectónicos, os quais são essen- ciais para a formação da identidade das cidades e dos seus habitantes, não só no presente como também no futuro. Além disso, eles têm ainda um valor económico gerado através do turismo que atraem, sobretudo quando são classificados como património mundial.

Destacou-se, assim, a importância de uma adequada adaptação do pa- trimónio, ou seja, aquando da intervenção devem ser colocados todos os esforços na manutenção e transmissão para o futuro das suas características e valores.

102 Apesar da intervenção no património levantar sempre questões particula-

res de caso para caso, conclui-se (através da incursão realizada pelos prin- cipais conceitos e documentos internacionais) que é possível estabelecer uma matriz de intervenção comum a todo o património, fundamental para o aperfeiçoamento do processo projectual. Importa, assim, não esquecer aspectos essenciais, tais como:

− Autenticidade: identificação e preservação dos valores patrimo- niais;

− Conhecimento: da formação e evolução das soluções tipológicas e construtivas;

− Intervenções mínimas: através da reutilização ao máximo do exis- tente (sustentabilidade);

− Reversibilidade e compatibilidade: para que não se impeçam inter- venções futuras e se assegure a coexistência entre materiais origi- nais e novos.

Relativamente à aplicação da legislação aos edifícios existentes, foi pos-à aplicação da legislação aos edifícios existentes, foi pos- aplicação da legislação aos edifícios existentes, foi pos- sível concluir, através da análise do D.L. 163/2006, de 8 de Agosto, com as reformulações introduzidas pelo Projecto de revisão do D.L. 163/2006, o seguinte:

− Em equipamentos colectivos e espaços e edifícios públicos existen- tes, cuja construção seja anterior a 22 de Agosto de 1997, é estabe- lecido um prazo para a sua adaptação. No entanto, a sua adaptação deixa de ser exigível se as obras forem muito difíceis, ou exigirem meios financeiros desproporcionados ou inexistentes, ou afectarem os valores do património cultural ou histórico.

− Os edifícios habitacionais existentes não têm um prazo para adap- tação, e em caso de reabilitação não é exigível o cumprimento das normas, desde que não se originem ou agravem as desconformi- dades. Todavia, se a intervenção envolver a construção de novas partes, essas devem satisfazer as normas técnicas de acessibilidade. Aquando da adaptação de um edifício existente às normas técnicas, o Decreto-Lei apenas prevê a protecção dos seus valores patrimoniais quan-protecção dos seus valores patrimoniais quan- do revistem especial interesse histórico e arquitectónico (designadamen-

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te, imóveis classificados ou em vias de classificação), deixando, assim, os edifícios que não são abrangidos por esta classificação e que também são património sujeitos à especulação imobiliária.

Seria, assim, importante que a legislação engloba-se neste âmbito de pro- tecção todos os edifícios com interesse cultural e histórico, desde o ex- cepcional ao mais humilde, estando ou não classificado, pois todos fazem parte do património arquitectónico. Desta forma, seria possível proteger os valores de todo o património arquitectónico aquando da sua adaptação às normas técnicas de acessibilidade.

Por outro lado, foi possível constatar que as normas técnicas de acessibi- lidade definidas no Anexo servem de referência tanto para as construções novas como para as intervenções no existente, actuando com o propósito de melhorar as condições de acessibilidade. Contudo, assegurar estes parâme- tros num espaço existente revela-se bastante mais difícil do que numa obra realizada de raiz, pois os limites físicos e espaciais já estão estabelecidos.

Neste sentido, propõe-se uma reformulação das normas técnicas de aces- sibilidade através de uma diferenciação entre os parâmetros exigidos para as construções novas e as existentes, com a finalidade de garantir-se uma maior adequabilidade ao contexto do edificado existente, sobretudo, o anti- go. Para tal, propõe-se as seguintes alterações:

1) Ponderar-se uma largura mínima de 1,1 m (em vez de 1,2 m) para os corredores dos espaços comuns das habitações existentes, espe- cialmente das antigas, onde a sua ocupação é geralmente de baixa densidade e, por isso, o tráfego nos espaços comuns é menor.

2) Para a dimensão da cabine interior dos ascensores, manter-se a actual dimensão de 1,1 x 1,4 m para as construções novas, passando a considerar-se uma dimensão de 0,95 x 1,25 m (ou idêntica) para as construções existentes.

3) Nas plataformas elevatórias recomenda-se a diferenciação entre as não encerradas das encerradas numa cabine. No caso das primei- ras sugere-se que a plataforma mantenha as dimensões mínimas em vigor (0,75 x 1 m), enquanto nas encerradas propõe-se que a pla- taforma tenha dimensões mínimas idênticas às propostas para os ascensores no ponto anterior, variando em função da sua aplicação ser feita em construções novas ou existentes.

104 4) Considerar-se uma zona de manobra de 180º (1,2 x 1,5 m) em vez

de 360º (1,5 x 1,5 m) para os vestíbulos das habitações existentes, à semelhança do que é exigido para os patamares de acesso às ha- bitações.

5) Propõe-se a não obrigatoriedade de um bidé nas instalações sani- tárias acessíveis dos edifícios habitacionais existentes, de modo a garantir-se com maior facilidade uma zona de manobra de 360º. Sobre a adopção de modelos construtivos, conclui-se que estes consti- tuem uma importante ferramenta para a concepção de projecto, tendo per- mitido conhecer as características dos edifícios a intervencionar. Estes ser- viram também de apoio à fase de identificação das características destes edifícios que podem constituir condicionantes à sua acessibilidade, tendo- -se elaborado um quadro identificativo dos principais problemas existentes em cada tipologia. Por último, os modelos construtivos serviram ainda de base a todas as peças desenhadas representativas das diferentes soluções de intervenção propostas, permitindo uma melhor compatibilidade a nível construtivo e formal.

Nas propostas de intervenção, procurou-se encontrar um equilíbrio entre a necessidade de proteger os valores destes edifícios e a garantia de igual- dade de acesso para todos os cidadãos.

As propostas apresentadas baseiam-se no grau de acessibilidade e na localização dos mecanismos, de onde decorrem três estratégias gerais de intervenção: (i) acesso ao piso térreo; (ii) acesso entre pisos através da apli- cação de um mecanismo de comunicação vertical no espaço de uma das alcovas; (iii) acesso entre pisos através da aplicação de um mecanismo de comunicação vertical no espaço da bomba da escada.

Às mesmas propostas, ainda, se associou a sugestão de diferentes programas, onde se propôs manter a função original, pensar novas formas de habitação e diferentes usos. A atribuição de um uso específico permitiu identificar os espaços interiores que precisavam de ser adaptados e quais as suas exigências de acessibilidade, possibilitando, assim, complementar o estudo da acessibilidade geral à casa burguesa portuense.

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de cada uma das tipologias, abrindo o leque de opções de uso que estes edi- fícios podem ter em resposta às diferentes dinâmicas de habitar e trabalhar da sociedade actual.

Espera-se, assim, que este trabalho tenha permitido demonstrar que é pos- sível conjugar as principais características destas habitações com as exi- gências actuais de acessibilidade, e, ao mesmo tempo, criar uma fonte de informação, traduzida por soluções de intervenção que possam auxiliar a prática projectual de reabilitação da casa burguesa portuense.

Temas para futuras investigações

No decurso desta investigação, podiam-se ter abordado outras linhas que ficaram por tratar de modo mais aprofundado, e as quais podem constituir possíveis temas em próximas investigações.

Um possível tema de trabalho seria o estudo da acessibilidade à escala urbana, através da identificação das zonas do centro histórico do Porto em que as características físicas do espaço urbano não permitem a locomo- ção de pessoas com mobilidade condicionada. A partir daqui poderiam ser lançadas propostas de intervenção para a acessibilidade no espaço urbano, bem como a formulação de uma rede de possíveis percursos acessíveis den- tro do centro histórico.

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ÍNDICE DE FIGURAS, QUADROS E DIAGRAMAS