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A acessibilidade nas casas burguesas do Porto. Tipificações de propostas de intervenção

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A ACESSIBILIDADE NA CASA

BURGUESA DO PORTO

TIPIFICAÇÃO DE PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO

ARMÉNIO ANDRÉ PEREIRA DA SILVA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA

À FACULDADE DE ARQUITECTURA DA UNIVERSIDADE DO PORTO EM

ARQUITECTURA

M

2013

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AGRADECIMENTOS

Quero agradecer de forma especial ao Prof. Arq. Joaquim Teixeira, meu orientador nesta dissertação, por toda a atenção, cooperação e conselhos partilhados durante este processo, os quais foram fundamentais para a rea� lização deste trabalho.

À Arq. Susana Machado, da OASRN, e ao Arq. João Branco Pedro, do LNEC, agradeço a atenção demonstrada, bem como a a�uda e opinião cr�ti�agradeço a atenção demonstrada, bem como a a�uda e opinião cr�ti� ca prestada ao n�vel da legislação sobre as acessibilidades.

Ao Sr. Carlos Silva, da Orona Portugal, e ao Eng. Lu�s Vila, da Grupnor, por toda a disponibilidade demonstrada para colaborar e pelo apoio técnico prestado.

À Inês Marinho pelo incentivo e conforto nos momentos mais dif�ceis, bem como pela opinião e a�uda prestada durante este trabalho.

Por último, quero agradecer à minha fam�lia, especialmente aos meus pais e irmã, por me incentivarem e encora�em durante toda a vida, mas sobretudo pela compreensão.

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RESUMO

A cidade histórica do Porto – classificada como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO – resulta de um processo de consolidação dos modelos arquitectónicos e dos sistemas construtivos, sendo, fundamental� mente, constitu�da pela casa burguesa dos séculos XVII a XIX, a qual foi executada segundo padrões de conforto e utilização da época.

Actualmente, este tecido urbano encontra�se em decadência, sendo ur� gente a sua reabilitação, que passa antes de mais pela adaptação deste edi� ficado às exigências da actualidade, sendo a igualdade de acesso para todos os cidadãos um requisito incontornável.

No entanto, esta adaptação não pode ser realizada através de acções de reabilitação que não olham a meios, mas antes através de intervenções com� pat�veis com a preservação dos seus valores patrimoniais. Este património é um recurso não renovável e, portanto, qualquer intervenção desa�ustada traduz�se sempre na perda de valores arquitectónicos, culturais, sociais e económicos.

Torna�se, por isso, essencial desenvolver uma acção de pro�ecto basea� da nos critérios internacionais de intervenção em edif�cios antigos, assim como nos modelos construtivos representativos destes edif�cios, de modo a desenvolver�se a sua adequada adaptação às exigências actuais de aces� sibilidade.

Esta investigação procura, assim, desenvolver uma sistematização de propostas de intervenção que visam garantir o acesso geral de todos os cidadãos à casa burguesa portuense, baseada numa acção que respeite os principais elementos de valor, caracter�sticos deste património.

Palavras-Chave: Reabilitação; Casa Burguesa do Porto; Acessibilidade;

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ABSTRACT

The historical town of Porto - classified as World Heritage of Humanity by UNESCO - comes from a consolidation process of architectural models and building systems. It is formed mainly by the bourgeois house from the XVII to the XIX centuries, which was developed according to the standards of comfort and use of that time.

Nowadays, this urban fabric is experiencing a serious state of degrada� tion, requiring its rehabilitation, that first of all demands the adaptation of these builidings to the contemporary needs and one of the key requirements is the equal access to all citizens.

However, this adaptation can not be achieved through rehabilitation dis� regarding the means, but through interventions compatible with the preser� vation of its assets.

This heritage is a non-renewable resource and therefore any inadequate intervention means the loss of architectural, cultural, social and economic values.

It is therefore essential to develop an action pro�ect based on international criteria for old buildings intervention, as well as constructive models which are representative of these buildings, in order to develop its adequate adap� tation to current accessibility requirements.

Thus, this research intends to develop a systematic proposals of interven� tion aimed at ensuring all citizens general access to Porto bourgeois house, based on an action that respects the key elements of value, characteristic of this heritage.

Keywords: rehabilitation; Porto bourgeois house; accessibility; D.L.

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ÍNDICE

1. Introdução 1.1. Motivação

1.2. Metodologia de investigação 1.3. Estrutura da investigação 2. Para uma cultura de reabilitação

2.1. Mercado habitacional em Portugal: evolução, consequências e reabilitação como alternativa

2.2. Centros históricos como factores de identidade 2.3. Centros históricos como factores de desenvolvimento 2.4. A intervenção no existente

2.5. Os documentos internacionais e os critérios de intervenção em edif�cios antigos

3. O Decreto�Lei sobre a acessibilidade

3.1. Introdução ao D.L. 163/2006, de 8 Agosto 3.2. Articulado do Decreto�Lei

3.3. Normas técnicas de acessibilidade 4. Mecanismos para a acessibilidade

4.1. Soluções existentes no mercado português

5. Modelos da casa burguesa portuense – séculos XVII a XIX 5.1. Caracterização tipológica

5.2. Descrição do sistema construtivo: a aplicar nos modelos 5.3. Modelos representativos da casa burguesa portuense 6. Acessibilidade na casa burguesa portuense

6.1. Os problemas de acessibilidade 6.2. As soluções existentes

7. Propostas de intervenção para a acessibilidade 7.1. Estratégia de intervenção

7.2. Propostas para o acesso ao piso térreo 7.3. Propostas para o acesso entre pisos 8. Considerações finais

Bibliografia

Índice de figuras, quadros e diagramas Crédito de figuras, quadros e diagramas

11 11 12 13 17 17 19 21 23 26 33 33 34 37 43 43 55 55 62 64 69 69 71 75 75 76 86 101 107 111 115

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1. INTRODUÇÃO 1.1. Motivação

A cidade histórica do Porto – inscrita pela UNESCO na lista do Patrimó� nio Mundial da Humanidade – é, maioritariamente, constitu�da pela casa estreita e alta, de grande profundidade – a casa burguesa. Esta surge sob o impulso de factores históricos, culturais e sociais, tendo�se desenvolvido a partir do burgo primitivo e enraizado de modo quase absoluto na cidade, sobretudo, entre os séculos XVII e XIX. Traduz a �ndole e a vida dos seus habitantes, reflectindo profissões, conceitos de família, gostos e mentalida� des da época.

Hoje, é possível constatar que este conjunto edificado encontra-se numa grave situação de decl�nio, assistindo�se ao seu crescente estado de degra� dação, verificando-se que mais de 40% necessita de obras de reparação [INE, 2012, p. 68]. Daqui, resulta uma inquietação pessoal, mas também a motivação para este trabalho, o despertar para a consciência de que é necessário recuperar, reutilizar e adaptar este património, numa palavra, reabilitar.

A intervenção de reabilitação consiste em devolver a um edif�cio ou con� �unto histórico a sua capacidade funcional, através da manutenção e pro� moção dos seus valores patrimoniais, ao mesmo tempo que se garante a sua coerente adaptação às necessidades da sociedade contemporânea.

Neste sentido, levanta�se outra questão, o que pede então a sociedade actual às intervenções de reabilitação? Um dos requisitos é, certamente, a exigência da igualdade de acesso para todos os cidadãos, ou se�a, todas as pessoas, independentemente da idade, do tamanho ou de serem portadoras de deficiência, devem poder aceder e usar de forma autónoma e segura to� dos os bens patrimoniais. Só deste modo se pode garantir a sua integração na comunidade e a sua plena participação c�vica.

É do cruzamento destes dois aspectos que surge o tema da presente in�do cruzamento destes dois aspectos que surge o tema da presente in� vestigação: o estudo da acessibilidade à casa burguesa portuense. Tendo em conta a dimensão de uma tese de mestrado, foi necessário delimitar o estudo da acessibilidade à “escala do edif�cio”, ou se�a, desde o momento de transição rua�edif�cio ao interior da habitação.

A problemática da acessibilidade à casa burguesa portuense tem servido de justificação a muitas acções de intervenção, menos ou mais radicais, que

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12 têm contribu�do para destruir muitos dos valores dos edif�cios. Estas são

apresentadas como o único modo de assegurar as exigências contemporâ� neas de acessibilidade mas, na realidade, apenas escondem um processo imobiliário assente unicamente em parâmetros de rentabilidade imediata.

O património histórico constitui um recurso único e insubstitu�vel, que reflecte a expressão rica e diversificada das sociedades do passado, deven� do, por isso, ser alvo de atenção e cuidado. De igual modo, este é também importante enquanto espaço funcional, onde os seus habitantes devem po� der viver com mais qualidade e desempenhar as suas actividades quotidia� nas, assim como trabalhar, sobretudo, em serviços de vizinhança.

Deste modo, o ob�ectivo primordial desta investigação é realizar uma sis� tematização de propostas de intervenção que visem garantir o acesso geral de todos os cidadãos à casa burguesa portuense, baseada numa acção que respeite os principais elementos de valor, caracter�sticos deste património.

Por outro lado, é também propósito deste trabalho dar um contributo para auxiliar as acções de reabilitação neste património.

1.2. Metodologia de investigação

O desenvolvimento desta investigação inicia�se com uma abordagem teórica aos temas da salvaguarda do património em geral e da reabilitação urbana em concreto, em que se pretende mostrar a importância da salva� guarda dos tecidos históricos e dos seus habitantes. A partir desta aborda� gem, procura�se enunciar os principais conceitos e princ�pios de interven� ção no existente, que fundamentarão as estratégias e práticas pro�ectuais a desenvolver na proposta de intervenção.

A especificidade da acessibilidade aos edifícios exige a análise tanto da legislação respeitante ao tema, procurando compreender de que modo a normativa em vigor se aplica aos edif�cios existentes e quais são as suas exigências, bem como eventuais incompatibilidades; assim como dos me� canismos de acessibilidade existentes no mercado português, tomando co� nhecimento das diversas soluções disponíveis, identificando quais as suas vantagens e desvantagens, de modo a garantir uma melhor adequação das escolhas pro�ectuais.

Com o ob�ectivo de apoiar o estudo, serão elaborados três modelos da casa burguesa portuense (habitação mercantilista, habitação almadina e ha� bitação liberal), a partir do estudo de [Fernandes, 1999], que procuram re�

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gistar a evolução das tipologias habitacionais na cidade do Porto durante o per�odo compreendido entre os séculos XVII e XIX. Os modelos em causa procuram representar uma s�ntese das caracter�sticas tipológicas e constru� tivas que estão presentes nos edifícios que se pretendem identificar.

Desta forma, são desenvolvidas propostas de intervenção que procuram solucionar os principais problemas de acessibilidade identificados em cada modelo, através da aplicação e adaptação de mecanismos existentes no mercado às caracter�sticas arquitetónicas destas habitações.

Neste sentido, este trabalho procura demonstrar a viabilidade da adap� tação da casa burguesa às exigências contemporâneas de acessibilidade, sem que para isso se�a necessário proceder�se à destruição dos seus valores patrimoniais, materializados nas suas caracter�sticas tipológicas e constru� tivas.

1.3. Estrutura da investigação

A presente investigação está estruturada em oito cap�tulos:

Capítulo 1: Introdução

Consiste na introdução ao tema e apresentação do trabalho, expondo o ob�ecto de estudo, a motivação, os ob�ectivos, a metodologia e a estrutura da investigação.

Capítulo 2: Para uma cultura de reabilitação

Começa�se por analisar a dinâmica habitacional em Portugal, mostrando o estado de degradação e abandono do edificado, bem como o pouco peso que a reabilitação tem no sector da construção. De seguida, apresenta�se o Centro Histórico tanto como factor de identidade, relacionando�a à memó� ria, ao tempo e ao sentido de pertença; bem como factor de desenvolvimen� to, expondo os dois lados da sua valorização, uma assente na especulação imobiliária e outra na identidade do lugar. É, ainda, feita uma incursão pe� los principais conceitos e documentos internacionais, evidenciando�se os critérios essenciais de intervenção no património.

Capítulo 3: O Decreto-Lei sobre a acessibilidade

Apresenta�se o D.L. 163/2006, de 8 de Agosto, sobre a acessibilidade, salientando�se as principais inovações por este introduzidas. De seguida,

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14 realiza�se uma análise tanto ao Articulado, com o intuito de compreender

a forma como a legislação se aplica aos edif�cios existentes, especialmente aos antigos; bem como ao Anexo, mencionando as normas técnicas relati� vas aos edifícios habitacionais e identificando as eventuais faltas de ade� quabilidade na sua aplicação aos edif�cios existentes.

Capítulo 4: Mecanismos para a acessibilidade

É apresentada uma s�ntese da pesquisa efectuada sobre os mecanismos para a acessibilidade existentes no mercado português, procedendo�se à sua organização por tipo e descrição das suas principais caracter�sticas, assim como das suas vantagens e desvantagens.

Capítulo 5: Modelos da casa burguesa portuense – séculos XVII a XIX

Inicia�se por fazer uma caracterização da evolução tipológica da casa bur� guesa portuense, procurando enunciar os factores de ordem funcional e es� tética da sua arquitectura. De seguida, realiza�se uma descrição do sistema construtivo, salientando�se os elementos primários e secundários, aos quais se atribui uma dimensão concreta. Com base nestes aspectos, são elabora� dos três modelos da casa burguesa (mercantilista; almadina e liberal), que servirão de base às propostas de intervenção.

Capítulo 6: Acessibilidade na casa burguesa portuense

Com base na descrição e nos modelos elaborados da casa burguesa, pro� cura-se identificar as características destes edifícios que poderão constituir condicionantes à sua acessibilidade. Ainda neste capítulo, identifica-se e caracteriza�se os tipos de soluções que é poss�vel encontrar ao longo da cidade, procurando analisar os seus aspectos negativos e/ou positivos.

Capítulo 7: Propostas de intervenção para a acessibilidade

Cruzando os principais conceitos e princ�pios de intervenção nos edif�� cios antigos e as exigências de acessibilidade, procura�se desenvolver para cada modelo propostas de intervenção que visam garantir o acesso geral à casa burguesa portuense. A estas, aliam�se diferentes sugestões de uso, de modo a demonstrar a versatilidade destes edif�cios.

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Capítulo 8: Considerações finais

De todo o estudo desenvolvido anteriormente, retiram�se as conclusões e as considerações baseadas nos ob�ectivos inicialmente propostos. Também mencionam�se os assuntos que foram vagamente referidos e que podem constituir temas de futuras investigações.

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2. PARA UMA CULTURA DE REABILITAÇÃO

2.1. Mercado Habitacional em Portugal: evolução, consequências e reabilitação como alternativa

A dinâmica habitacional em Portugal entre as décadas de 70 e 90 é mar� cada por um ritmo de crescimento intenso de construção e pela elevada per� centagem de aquisição de habitação própria, a par de um fraco mercado de arrendamento e de um elevado número de habitações vagas, encontrando�se muitas delas em estado avançado de degradação.

Desde a década de 70, o sector da construção manteve um ritmo de cres� cimento intenso, com uma produção de habitação sempre superior ao nú� mero de crescimento das fam�lias, o que resultou numa oferta maior do que a necessária. Esta produção de imobiliário levou o sector da construção em Portugal a adquirir importância na economia nacional, o que terá favore� cido a cont�nua produção excessiva sem que fossem colocados entraves, verificando-se um abrandamento desta tendência só a partir de 2002.

Ao mesmo tempo, a aquisição de habitação própria continua a ser o tipo de ocupação habitacional dominante, cerca de 73% em 2011, enquanto, o mercado de arrendamento apenas representa 20% da residência habitual ocupada [INE, 2012, p. 5]. Esta situação pode ser explicada quer pela falta de procura, resultante da facilidade na obtenção de crédito à aquisição de habitação, em que o arrendatário encontra nas prestações de crédito valores semelhantes às rendas dos novos contractos, quer pela redução da oferta, fruto da falta de atractividade que o arrendamento representa para os se� nhorios.

De acordo com os Censos 2011, o número total de alo�amentos em Portu� gal é de 5.878.756, dos quais 67,9% são utilizados como residência habitual. Tendo em conta que o número de famílias é de 4.048.559, identifica-se um claro excedente de habitações, 1,45 fogos por fam�lia. O parque habitacio� nal português é constitu�do por cerca de 3,5 milhões de edif�cios, sendo relativamente recente, com 30,1% dos edifícios a serem construídos depois de 1991 e 63% depois de 1971.

“Por outro lado, em três décadas, entre 1970 e 2001, verificou-se um forte abandono dos edif�cios antigos, deixando�se de utilizar como residência habitual quase 750.000 fogos, constru�dos antes de 1919, o que evidência a absoluta necessidade de reabilitação.” [Freitas, 2012, p. 22]

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18 Ao caminhar pelos centros urbanos é facilmente observável o grande nú�

mero de edif�cios antigos que se encontram em estado de degradação, con� firmando os dados estatísticos esta ideia. Os resultados dos Censos 2011 (Quadro 1) mostram que cerca de 63% (128.997 edifícios) do parque edi� ficado construído antes de 1919 carece de obras de reparação, sendo que 22% precisam de grandes obras de reparação ou encontram-se muito de� gradados.

Os dados mostram também que cerca de 250 mil pessoas com mobili� dade reduzida viviam em habitações consideradas inadequadas em termos de acessibilidade, estando esta falta de condições fortemente relacionada à idade e estado de conservação do edificado.

As intervenções de reabilitação são ainda muito pouco comuns em Por� tugal comparativamente ao panorama europeu. Em 2009, nos pa�ses inclu� �dos na zona da EUROCONSTRUCT1 as intervenções de reabilitação re�

presentavam cerca de 52% do sector da construção, enquanto em Portugal correspondiam a apenas 23%. Apesar da importância deste sector da cons� trução ter crescido, não se equipara ainda minimamente ao que se passa no resto da Europa.

Assim, mais do que produzir nova habitação, é fundamental dar prima� zia às intervenções de recuperação e reabilitação do edificado existente, sobretudo, do mais antigo. Trata�se de usar o mais poss�vel os recursos existentes através da reabilitação do edificado, com o objectivo de ajustar e dinamizar a oferta entre o mercado de arrendamento e venda de forma mais

Estado de

conservação Totais antes de 1919 1919-1945 1946-1970 1971-1990 1991-2011 Sem necessidade de reparação 2 519 452 77 346 125 924 445 240 892 688 978 254 Pequenas reparações 624 322 49 023 81 697 212 113 208 228 73 261 Reparações médias 244 303 34 993 52 281 92 974 51 351 12 704 Grandes reparações 97 157 22 600 28 039 32 117 11 395 3 006 Muito degradado 59 155 22 381 17 755 13 727 4 041 1 251 Totais 3 544 389 206 343 305 696 796 171 1 167 703 1 068 476

Quadro 1. Estado de conser� vação do parque edificado em Portugal, por ano de constru� ção. Fonte: INE, 2012.

1. Instituto de pesquisa e análi� se do sector da construção que engloba 19 pa�ses europeus. Dados consultados em Freitas, 2012, p. 23.

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sustentável, aumentar a oferta de habitação (sobretudo de arrendamento) a custos mais baixos, melhorar as condições de habitabilidade e conforto dos alo�amentos em mau estado de conservação, adaptar as habitações com condições de acessibilidade.

2.2. Centros históricos como factores de identidade

Para lá do problema do abandono funcional dos centros históricos, o rápi� do processo de transformação do mundo moderno leva a que, todos os dias, se assista à progressiva perda da identidade das cidades. Este problema é uma consequência da crescente homogeneização dos lugares e das arqui� tecturas, resultante do abandono da cultura dos materiais e técnicas locais em prol da cultura expansionista de produção em massa.

Como José Aguiar frisou, “as sociedades do passado, que introduziram as cidades históricas que ho�e tanto admiramos, manifestavam, a todos os n�� veis, fort�ssimas diferenças entre si. Possu�am realidades pol�ticas e sociais muito distintas, capacidades culturais e economias fortemente diferencia� das, o que se exprimia numa forte diferenciação na arquitectura dos seus espaços urbanos. Por comparação, a sociedade moderna é muito mais in� diferenciada pol�tica e culturalmente (a aldeia global), o que pode explicar uma arquitectura e um urbanismo fortemente homogeneizadores.” [Aguiar, 2002, p. 125]

A identidade das cidades é formada por um con�unto diverso de caracte� r�sticas, como a história, as tradições, as memórias, os sistemas produtivos, as técnicas e os materiais empregues, estando a sua percepção dependente de inúmeros factores.

As questões de identidade podem estar relacionadas com a memória. Segundo [Choay, 2010, p. 194], John Ruskin estabelece, de forma implí� cita, em Seven Lamps que “ao longo dos séculos e das civilizações, sem que aqueles que a edificavam ou a habitavam tivessem essa intenção ou disso estivessem conscientes, a cidade representou o papel memorial de monumento.2 Neste aspecto, não passava de um ob�ecto paradoxalmente

não elevado a esse fim, e que, tal como todas as antigas aldeias e todos os estabelecimentos colectivos tradicionais do mundo, possu�a, num grau mais ou menos constrangedor, o duplo e maravilhoso poder de enraizar os seus habitantes no espaço e no tempo.

Mas Ruskin não consegue perspectivar historicamente esta descoberta in�

2. F. Choay, em A Alegoria do

Património, refere que o pa�

pel memorial do monumento advém da intenção de uma co� munidade de recordar aconte� cimentos, sacrif�cios, ritos ou crenças, sendo por isso cons� tru�do com esse propósito.

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20 signe.” Todavia, fica patente a concepção de que os tecidos urbanos antigos,

não sendo constru�dos com essa intenção, adquirem, ao longo do tempo, um papel memorial, fundamental para o processo de auto�reconhecimento dos seus habitantes e, portanto, para a criação de uma identidade. Neste sentido, a preservação do património edificado adquire extrema importância, pois se este desaparecer ou for corrompido também a memória se desvanecerá, e consequentemente dar�se�á a perda da identidade.

Noutro sentido, [Aguiar, 2002, p. 127] evidência a hipótese levantada por Francesco Lo Piccolo, “ (…) de que a identidade dos lugares urbanos de� pende directamente da frequência, do ritmo e da velocidade, mais ou menos acentuada, das mudanças.”

Aqui, a problemática da identidade está fundamentalmente ligada ao factor tempo, ou se�a, a permanência ou não da identidade dependente da velocidade, mais lenta ou mais rápida, a que ocorrem as transformações na arquitectura da cidade. Este tipo de fenómeno dá�se quando acontecem processos históricos desequilibrados, tal como se sucedeu no per�odo pós 2ª Guerra Mundial, com as vastas e rápidas acções de renovação e demolição de centros históricos.

As variações demasiado rápidas ou frequentes na arquitectura das cidades podem também afectar o sentido de pertença a um lugar, tal como teorizou Noberg�Schulz. Este defende a importância da intimidade na relação en� tre espaço e significado, ou seja, os acontecimentos ligados à vida do Ho� mem têm um lugar onde se desenrolam, tornando vida e lugar inseparáveis. Quando o Homem se apodera do lugar, através de um acto de identificação, este cria a sua própria identidade.

Hoje verifica-se uma perda do sentido de lugar. As novas relações entre tempo e espaço conduziram a formas dispersas, que resultam numa perda da coerência dos espaços urbanos. Passou�se de uma cultura de concen� tração para uma de dispersão; habita�se num lugar, mas pouco mais a� se faz, relegando�se os outros acontecimentos da vida quotidiana para lugares distantes do habitat.

Neste sentido, dá�se um desaparecimento do carácter local (ou ambien� tal), pois deixam de existir as particularidades que identificavam o lugar. “Com o desaparecimento do carácter ambiental, desvanece�se o sentido de presença e, portanto, a sensação de estar num lugar em vez de outro. A perda da definição figurativa do espaço urbano e do carácter local concorre para a perda do lugar. E a perda do lugar leva à perda de orientação e de

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identificação ou seja, à perda do habitar.” [Norberg-Schulz in Aguiar, 2002, p. 115]

Por outro lado, é necessário compreender a identidade da cidade como um con�unto de caracter�sticas que permanecem ou evoluem por relação com a memória, com o tempo e com as alterações f�sicas, sendo importan� te, por isso, perceber a sua evolução, para que na hora de intervir no tecido urbano se possa dar continuidade aos elementos básicos que reflectem a sua identidade.

2.3. Centros históricos como factores de desenvolvimento

O património urbano histórico representa para muitas regiões e munic�� pios uma importante fonte económica, da� que a sua valorização se�a vista, cada vez mais, como um investimento valioso. Todavia, o termo valoriza� ção é amb�guo, cobrindo uma multiplicidade de casos e tipos de interven� ção sobre os tecidos urbanos antigos.

A exploração dos centros históricos deu origem a uma indústria patrimo� nial profundamente consumista, que para lá do benefício financeiro imedia� to, acarreta também efeitos nocivos. Actualmente, assiste�se nalguns casos a um fluxo excessivo de turistas que invadem os centros históricos e os entopem, de tal modo, que retiram o espaço urbano aos seus próprios habi� tantes, levando ao abandono gradual das expressões culturais locais. Parece também existir uma tendência para assemelhar cada vez mais os centros históricos, para que os turistas se sintam igualmente em casa, tornando�se, assim, a valorização num instrumento de banalização.

Além disso, este fenómeno atrai os holofotes de interesses meramente ca� pitalistas, que ameaçam os valores dos centros históricos e os seus habitan� tes. Disto, são exemplo a exploração do solo baseada sobretudo no seu va� lor económico, que resulta numa desadequação dos usos, ve�a�se o número de lo�as de bugigangas ou de restaurantes com as suas esplanadas de rua que preenchem os centros históricos; e a especulação imobiliária que, sob falsos pretextos de reabilitação, traduz�se sempre numa forma incorrecta de intervenção no património urbano, fazendo�se preceder da expulsão das populações locais ou não privilegiadas financeiramente para bairros perifé� ricos, longe dos olhares dos turistas. Daqui decorre, como salienta [Choay, 2010, p. 241], o desaparecimento das actividades tradicionais e modesta� mente quotidianas, e consequentemente a perda dos valores identitários.

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22 Se, como referido anteriormente, a identidade da cidade pressupõe sem�

pre um processo de auto�reconhecimento entre população e lugar, então, “ (…) da segregação, ou mesmo da expulsão, desses habitantes resultará a substituição das suas vontades por novos interesses exteriores, que con� duzirão inevitavelmente a um processo de mudança. Da perda do interesse das comunidades locais pela manutenção da sua própria identidade resulta� rá, igualmente, um processo de adulteração dessa imagem que nenhum pla� no ou pro�ecto impostos do exterior poderão conseguir destacar.” [Aguiar, 2002, p. 135]

Assim sendo, o desenvolvimento dos centros históricos deve, antes de tudo, adoptar uma lógica de protecção das populações locais e, ao mesmo tempo, regularizar o mercado de venda e arrendamento, para que depois não ha�a acertos excessivos que impossibilitem a sustentabilidade econó� mica dos sectores sociais de menores rendimentos. É preciso compreender que ao proteger as populações residentes está�se também a proteger a iden� tidade desse local.

Por outro lado, a identidade do património urbano histórico pode cons� tituir um importante recurso para um novo processo de desenvolvimento, sustentado numa nova economia, mas também em novos sistemas integra� dos de uso. [Aguiar, 2002, p. 129]

Segundo Gustavo Giovannoni3[Choay, 2010, p. 207-213],os centros his�

tóricos devem ser vistos como lugares de utilização diversificada, convivial e de permanência, capazes de restabelecer as funções de proximidade e de encontro. Este defende também que a sua escala torna�os aptos para rece� beram novas actividades, sob a condição de que as mesmas se�am compat�� veis com a sua morfologia. Estas concepções permitem atribuir aos antigos tecidos urbanos um valor de uso, enquanto conservam o seu valor art�stico e histórico, bem como o seu valor pedagógico.

Neste sentido, é fundamental que os espaços urbanos antigos se�am alvo de requalificação que lhes garanta de novo a qualidade de estabelecer rela� ções. É importante que as pessoas voltem a apropriar�se desses espaços e a� manifestem expressões do quotidiano.

Ao mesmo tempo, é necessário readquirir o valor de uso dos centros his� tóricos (como sustentou Giovannoni), através da implementação de novos sistemas de usos, onde o espaço de habitação e de trabalho podem voltar a coexistir.

Em consonância, deve ser desenvolvida uma economia ligada às activida�

3. G. Giovannoni (1873�1943) é o primeiro a designar os con� �untos urbanos antigos como

património urbano, atribuin�

do�lhes ao mesmo tempo um valor de uso e museológico.

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des terciárias, que ho�e não requerem tanto espaço, mas não deixam de ser indiferentes à qualidade referencial dos lugares. No entanto, estas devem ser cuidadosamente implantadas, para que não se criem fluxos humanos e comerciais excessivos.

Este “ (…) património urbano está adaptado à permanência e à implemen� tação de serviços de vizinhança (pequeno comércio, escolas, dispensários) que lhe estão associados e que, com a condição de serem dominantes, são compat�veis com um m�nimo de actividades de investigação e de difusão do saber ou da arte. Considerados sob este ângulo, centros e bairros urba� nos representam uma fonte rara, sendo ob�ecto de uma procura simultanea� mente social e societária.” [Choay, 2010, p. 251]

2.4. A intervenção no existente

Quando se intervém no património arquitectónico é obrigatório garantir a sua transmissão, para o futuro, em toda a sua autenticidade, ou se�a, de todos os seus valores art�sticos, históricos, arquitectónicos e culturais. O conceito de autenticidade, alvo de discussão internacional durante décadas, alcançou alguns consensos que se fixaram no Documento de Nara, que adiante se abordará. Daqui, importa reter o seu entendimento como um conceito que varia de cultura para cultura, sendo necessário compreender e respeitar os valores patrimoniais presentes em cada contexto.

Ainda que caiba a cada cultura a definição do que para si é ou não genu� �no, “ (…) a autenticidade do património arquitectónico enquanto testemu� nho art�stico e histórico reside, em grande medida, na própria materialidade dos ob�ectos que até nós chegaram, na corporização com que nos foram transmitidos.” [Aguiar, 1999, p. 9]

Entender e identificar os valores patrimoniais inerentes a um contexto torna�se, assim, fundamental para o desenvolvimento de qualquer estudo científico sobre o património ou projecto de conservação e reabilitação, que se pretenda rigoroso e respeitador para com o existente.

Como refere [Aguiar, 2002, p. 58], Brandi afirmava que “o restauro cons� titui o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua consistência f�sica e na dupla polaridade estética e histórica, com vista à sua transmissão ao futuro”. Neste sentido, o pro�ecto de intervenção no patri� mónio urbano deve ser sempre precedido de estudos prévios, que identifi� quem e caracterizem a lógica que presidiu à formação e evolução do tecido

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24 urbano, assim como as soluções tipológicas e construtivas, não esquecendo

os factores de �ndole sócio�cultural inerentes à evolução das formas de ha� bitar.

Contudo, a qualidade do pro�ecto não depende exclusivamente da quali� dade dos estudos, mas também da capacidade cr�tica e pro�ectual do arqui� tecto. Isto leva à discussão das escolhas de pro�ecto e a sua legitimidade, onde estão sempre presentes decisões baseadas nos valores patrimoniais e de aspecto idiossincrático. “ Como não há interpretações que não se�am também sugestivas em face do património, importa reduzir os riscos da eventual arbitrariedade na tomada de decisões.” [Aguiar, 2002, p. 134]

Para tal, é preciso passar de uma atitude invasiva e distante dos princ�pios de protecção e conservação, resultantes da vontade de afirmação do «eu» do arquitecto, para uma atitude de intervenção pro�ectual, apoiada num co� nhecimento científico preciso e rigoroso sobre o objecto em que se incide. Pois, tal como salientou [Jokilehto, 1999, p. 312], “os arquitectos, geral� mente, esperam deixar a sua marca criativa no edif�cio em que intervém, contudo, quando se lida com uma estrutura histórica, o princ�pio a seguir deve ser o da humildade e respeito.”

Neste contexto, é fulcral que se opte pela intervenção m�nima em vez da máxima, ou se�a, deve�se promover a máxima reutilização dos diversos elementos existentes no edif�cio, antes de se prever a sua substituição por materiais e soluções técnicas contemporâneas. “A ideia é nunca demolir, extirpar ou substituir, para sempre melhorar, transformar e usar. Actuar com precisão, delicadeza, brandura e com atenção, para com as pessoas, os usos, as construções, as árvores, o terreno, para com o que �á existe. A ideia é ser generoso, dar mais, tirando vantagem do que existe e eficientemente transformá�lo para criar novas capacidades e qualidades duradouras (…) ”. [Lacaton, Vassal, 2009, p. 153]

Por outro lado, as intervenções no património devem assegurar sempre o suficiente grau de reversibilidade das soluções aplicadas, para que não im� peçam a possibilidade de futuras intervenções ou a sua remoção posterior. Deste modo, deve ser evitado qualquer tipo de transformação profunda e pesada nas estruturas e elementos primários, que signifiquem a perda defi� nitiva dos valores arquitectónicos do edif�cio.

Importa também que as soluções construtivas e os materiais a aplicar se�am devidamente ponderadas, por modo a que se assegure a sua total compatibilidade com as caracter�sticas construtivas e os materiais pré�exis�

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tentes, sobretudo a n�vel f�sico, qu�mico e mecânico, mas também ao n�vel formal, através de uma clara identificação do que é novo e do que é antigo.

Depois de se conservar e reabilitar é imprescind�vel manter, ou rapida� mente se dará o retorno à situação de degradação. Para isso, é necessário consciencializar os residentes para a importância dos pequenos e simples trabalhos de reparação e manutenção, que os próprios podem e devem rea� lizar, tal como a pintura periódica das �anelas e portas. No entanto, importa estabelecer um adequado enquadramento e acompanhamento técnico e fi� nanceiro, para que se mostre o “como fazer” e não se deixe de manter por causa da fragilidade financeira.

Em sentido oposto, tem�se assistido à vulgarização (não só entre nós) de uma prática que coloca em perigo todos os valores presentes no património urbano histórico, o fachadismo. Este fenómeno consiste na demolição do interior dos edif�cios antigos, substituindo�o por uma nova construção na qual a fachada deixa de ter funções estruturais, o que acarreta profundas mudanças a n�vel tipológico, estrutural e construtivo.

Em certos casos, esta prática permitiu a agentes imobiliários realizar adaptação dos edif�cios antigos às exigências contemporâneas através de construções novas, escondendo os interesses puramente comerciais, sob as fachadas antigas. Ho�e, tem sido também tomada, por muitos intervenien� tes, como a solução ideal para a resolução do problema da integração dos novos programas no património edificado. Não é por isso de admirar, que o fachadismo chegue a ser apresentado ao público como hipótese de pre� servar a memória dos centros históricos, ao mesmo tempo, que adapta�os para o futuro.

No entanto, isto não passa de um acto ludibrioso, que para além de re� presentar uma falsificação histórica, também encobre o aumento volumé� trico descontrolado, arrasa as tipologias fundiárias e esconde o aumento de áreas por agregação de parcelas e o assalto aos logradouros – ve�a�se, por exemplo, o que aconteceu no quarteirão das Cardosas, no Porto, onde o logradouro foi transformado numa “praça” pública com estacionamento subterrâneo.

Esta prática não representa apenas uma ameaça à identidade da cidade histórica, ela é também dispendiosa. Primeiro, implica que se montem es� truturas provisórias para o apoio da fachada antiga e dos edif�cios envol� ventes e, ao demolir�se para depois se reconstruir, perdem�se recursos in�

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26 substitu�veis (muitas das vezes as estruturas e os materiais presentes ainda

se encontram em condições de serem reutilizados, sendo apenas necessário a sua manutenção ou o seu reforço estrutural) e despendem�se energias des� necessárias (tanto no processo de demolição como na limpeza do entulho resultante).

Enquanto prevalecerem os interesses da rentabilidade, “só subsistirá en� tão uma concha esvaziada do seu conteúdo por «raspagem»: procedimento discut�vel se se trata de preservar a morfologia de um tecido urbano. Pro� cedimento inadmiss�vel quando se resume ao sacrif�cio de estruturas e da decoração do interior do edifício.” [Choay, 2010, p. 236]

2.5. Os documentos internacionais e os critérios de intervenção em edifícios antigos

Durante as décadas de 50 e 60, fruto da renovação urbana descontrolada baseada na substituição do antigo pelo novo, verificou-se por toda a Europa uma destruição massiva do património urbano. Todavia, nos anos 60 começa� ram a surgir as primeiras contestações a estes processos de renovação, dando� �se in�cio a uma progressiva alteração dos modelos produtivos e sociais.

É neste contexto, que emerge o interesse pela salvaguarda dos tecidos urbanos antigos4 e ressurge a ideia de retorno à cidade histórica como local

privilegiado para habitar, o que conduziu à reformulação dos instrumentos e estratégias de intervenção urbana e à inclusão do edificado corrente no conceito de património. Desde então, foram elaborados uma vasta quanti� dade de cartas, resoluções e declarações que procuraram esclarecer formas de actuação nas cidades antigas.

Assim, através dos estudos de outros autores, como [Aguiar, 2002] e [Jus� ticia, 2008], pretende�se realizar uma breve passagem pelos documentos internacionais mais relevantes para a evolução dos conceitos de salvaguar� da do património urbano histórico, evidenciando�se os principais critérios de intervenção enunciados pelos mesmos.

Carta de Veneza (1964)

Do II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos dos Monumen� tos Históricos, decorrido em Veneza em 1964, resulta a redacção de um novo documento internacional, a Carta de Veneza. No mesmo congresso fundou�se o ICOMOS.5 Comparativamente à Carta de Atenas (1931), a 4. Ainda no século XIX,

Ruskin foi o primeiro a des� tacar o edificado corrente per

si, contudo, no per�odo que se

seguiu�o este foi sempre con� siderado numa perspectiva de contextualização do monu� mento.

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influência da Carta de Veneza atingiu uma maior amplitude, tendo�se re� flectido em inúmeras recomendações.

Na formulação desta carta, existe uma grande adesão às teorias de restau� ro brandianas, realçando�se alguns princ�pios como:

� o conceito de monumento histórico é alargado, passando a incluir tanto o edif�cio isolado como os con�untos;

� as envolventes devem ser sempre protegidas, não se devendo per� mitir novas construções, demolições ou modificações;

� o monumento está vinculado ao contexto, pelo que a sua conserva� ção deve ser realizada sem desmontagens, salvo caso extremo; � é importante utilizar o monumento para assegurar a sua conserva� ção, mas sem alterações, devendo o programa adequar�se ao mesmo; - a falsificação histórica não é aceite como método de substituição das partes em falta;

- toda a intervenção deve ser acompanhada de documentação gráfica e depois arquivada, recomendando�se a sua publicação.

Contudo, a redacção final da Carta de Veneza centra�se no edif�cio singu� lar ou no con�unto arquitectónico limitado, enunciando de forma algo vaga a aplicação dos princ�pios aos centros históricos. [Aguiar, 2002, p. 65]

Carta del Restauro (1972)

A Carta del Restauro surge, em Itália, sobre forte influência das teses de Brandi, sendo uma nova formulação dos princ�pios das cartas anteriores. Pelo facto de representar um considerável avanço na metodologia desta disciplina, este documento ainda que de âmbito nacional, teve uma grande repercussão europeia.

Esta carta é constitu�da por doze artigos e quatros anexos, os quais con� tém instruções para (i) a salvaguarda e restauro de antiguidades, (ii) o res� tauro arquitectónico, (iii) o restauro escultórico e pictórico, e (iv) a tutela dos centros históricos.

“Em termos teóricos, o aspecto mais inovador da Carta de 1972 foi a introdução do conceito de reversibilidade [todas as intervenções devem realizar�se de tal forma e com tais materiais que permitam a sua fácil remo� ção].” [Aguiar, 2002, p.67]

Dos princ�pios formulados destaca�se ainda:

� o alargamento da sua aplicação à pintura, escultura e aos con�untos de interesse histórico e ambiental;

5. Conselho Internacional de Monumentos e S�tios.

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28 � a distinção entre salvaguarda (medidas de conservação que não im�

pliquem intervenção directa sobre a obra) e restauro (qualquer inter� venção que visa manter as qualidades e perpetuar a vida da obra); � a exigência de um trabalho multidisciplinar;

� a admissão do uso de novos materiais para efeitos de reforço, quan� do os tradicionais não sejam suficientes.

Nos anexos são dadas instruções metodológicas mais precisas, salientan� do�se do anexo iv (tutela dos centros históricos) o ponto onde se conside� ra fundamental o respeito pelas qualidades tipológicas e construtivas dos edif�cios, não sendo permitido os esventramentos ou alterações funcionais profundas.

Todavia, o conteúdo conservador desta carta sofreu fortes cr�ticas, tendo sido questionada a aplicabilidade prática de alguns princ�pios, quando apli� cados ao restauro arquitectónico e à conservação urbana. [Aguiar, 2002, p. 69]

Carta de Amesterdão (1975)

O Ano Europeu do Património Arquitectónico de 1975 é uma das muitas iniciativas levadas acabo pelo Conselho da Europa, desde a década de 60. Durante este ano, em Setembro, foi publicada a Carta Europeia do

Patrimó-nio Arquitectónico, cu�os princ�pios foram, pouco depois, reforçados numa Declaração, vulgarmente conhecida como Carta de Amesterdão.

Esta carta pode resumir�se em dez princ�pios fundamentais: “ (1) o patri� mónio arquitectónico é formado, não apenas pelos monumentos mais impor� tantes, mas também pelos con�untos que constituem as cidades antigas e as aldeias com tradição no seu ambiente cultural ou constru�do; (2) o patrimó� nio arquitectónico é indispensável para o equil�brio e desenvolvimento do homem, (3) constituindo um capital espiritual, cultural, económico e social de valor insubstitu�vel; (4) a estrutura dos con�untos históricos favorece o equil�brio harmonioso das sociedades, ao mesmo tempo que (5) tem um valor educativo determinante; (6) o património encontra�se ameaçado pela degra� dação, pelo abandono, pelo urbanismo destruidor, pela especulação imobiliá� ria, etc., (7) devendo ser levada a cabo uma conservação integrada6, (8) a qual

exige que se ponha em práctica meios jurídicos, administrativos, financeiros e técnicos; (9) é necessário o contributo de todos, pois todos somos responsá� veis pela transmissão do património às gerações futuras, que é (10) um bem comum a toda a Europa.” [Justicia, 2008, p.382�383]

6. A conservação integrada é definida como o resultado de uma acção con�ugada das técnicas de restauro e da in� vestigação das funções apro� priadas, no sentido de adaptar o património às necessidades da sociedade actual, sem que se proceda à sua gentrificação. [Justicia, 2008, p. 383]

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Também nesta carta fica definitivamente reconhecido o termo Reabilita� ção (que havia surgido no Simpósio de Avignon de 1968), sendo entendido como a possibilidade de adaptar os edif�cios antigos de habitação às exi� gências da vida contemporânea, sem que se percam os principais valores arquitectónicos e urban�sticos.

Carta de Granada (1985)

A Carta de Granada não se trata de uma carta de princ�pios como as re� feridas anteriormente, trata�se antes de um acordo que vincula os Estados signatários a adoptar medidas de salvaguarda e protecção do património arquitectónico. Medidas que deveriam ser desenvolvidas em torno do con� ceito de conservação integrada.

Este documento estende�se por 27 artigos, sendo importante registar o facto de contratualizar os Estados a:

- adoptarem medidas de carácter legislativo, administrativo e finan� ceiro para o apoio às intervenções de conservação e restauro do patri� mónio arquitectónico e para a promoção da investigação científica; � considerarem a protecção do património arquitectónico um ob�ecti� vo prioritário do planeamento urbano e da educação;

� promoverem programas de desenvolvimento das técnicas e mate� riais tradicionais, bem como a formação das diversas profissões en� volvidas na conservação do património;

� consciencializarem a opinião pública da importância do património como elemento de identidade cultural e incentivarem a sua participa� ção;

� coordenarem as pol�ticas de conservação com os outros pa�ses que ratifiquem este documento, favorecendo a troca de experiência e co� nhecimento.

Carta de Aalborg (1994)

Em 1994, em Aalborg, realizou�se a Conferência Europeia sobre Cidades Sustentáveis, da qual resultou a redacção da Carta de Aalborg, que repre� senta um compromisso pol�tico para com os ob�ectivos de desenvolvimento sustentável apresentados.

“A Carta de Aalborg considera as formas actuais de vida urbana respon� sáveis por graves desequil�brios ecológicos, questionando os modelos ter�

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30 ritoriais actuais, que dividem e separam funções, por exemplo a residência

do trabalho, questionando os critérios de utilização e ocupação dos solos, os sistemas de transportes e de produção industrial ho�e instalados, assim como as formas de consumo ilimitado de bens não renováveis.” [Aguiar, 2002, p.100]

Importa referir que este documento defende que:

� os princ�pios de sustentabilidade devem integrar todas as pol�ticas e fazer das qualidades de cada centro urbano a base das estratégias locais adequadas (ponto 3);

� uma gestão assente na sustentabilidade, não só, deve representar os interesses das gerações presentes, mas também das gerações futuras (ponto 4);

� a con�ugação de diferentes funções (habitar, trabalho, etc.) permite reduzir a necessidade de deslocações (ponto 8);

� deve�se assegurar a informação ao público e incentivar a sua parti� cipação nos processos de decisão local, bem como promover a educa� ção e formação com vista à sustentabilidade (ponto 13).

Documento de Nara (1994)

Três décadas depois da sua referência na Carta de Veneza, o conceito de autenticidade voltou a ser uma preocupação central na discussão sobre a conservação do património, resultando, após os debates de Bergen e Nara sobre o tema7, a formulação do Documento de Nara sobre a Autenticidade.

Este documento refere alguns aspectos fundamentais como:

� a diversidade cultural é uma fonte insubstitu�vel de riqueza espiritual e intelectual, que deve ser protegida e promovida como um aspecto essencial ao desenvolvimento humano (ponto 5);

� todas as culturas estão enraizadas a diferentes formas de expressão (tang�veis ou intang�veis) que constituem o seu património, as quais devem ser respeitadas (ponto 7);

� ainda que a responsabilidade pela conservação e gestão do patrimó� nio caiba primeiramente à cultura que o produziu, devem ser cumpri� dos os princ�pios e responsabilidades impostas pelas cartas interna� cionais (ponto 8);

� o entendimento da autenticidade desempenha um papel fundamen� tal em todos os estudos científicos sobre o património e nos projectos

7. Em 1994, foram promo� vidos dois encontros pela UNESCO, ICCROM e ICO� MOS com o intuito de discu� tir o tema da autenticidade, o primeiro realizado em Bergen, na Noruega, e o segundo em Nara, no Japão.

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de conservação, que terão tão mais qualidade quanto maior for o rigor das fontes (ponto 10);

� a avaliação da autenticidade não pode ser realizada com base em critérios fixos – o que é autêntico para uma cultura não é para outra –, passando a depender dos diferentes contextos culturais em que cada património se insere (ponto 11).

“ (…) De Nara resultou uma interpretação mais ampla e flexível dos va� lores patrimoniais, sobretudo dos valores ligados à “memória viva”, onde ganha um novo realce a importância da permanência das artes, das técnicas e dos materiais tradicionais, onde o “saber�fazer” assume uma nova subs� tância que o pode tornar tão (ou mais) importante como a preservação pura e simples dos materiais constitutivos.” [Aguiar, 2002, p. 103]

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3. O DECRETO-LEI SOBRE MOBILIDADE 3.1. Introdução ao D.L. 163/2006, de 8 Agosto

O Decreto�Lei 163/2006, de 8 de Agosto, começa por defender que “a promoção da acessibilidade constitui um elemento fundamental na quali� dade de vida das pessoas, (…) contribuindo decisivamente para um maior reforço dos laços sociais, para uma maior participação c�vica de todos aqueles que a integram (…)”, cabendo “(...) ao Estado acções cuja fina� lidade se�a garantir e assegurar os direitos das pessoas com necessidades especiais (…)”. [D.L. 163/2006, de 8 Agosto]

No con�unto de pessoas com necessidades especiais8 estão inclu�das as

pessoas com mobilidade condicionada, isto é, as pessoas em cadeiras de rodas, as pessoas incapazes de andar ou que não conseguem percorrer gran� des distâncias, as pessoas com dificuldades sensoriais (como cegas ou sur� das) e as pessoas que passam por uma fase condicionada (como grávidas, crianças e idosos).

Apesar de todas estas pessoas estarem inclu�das no mesmo grupo, cada uma tem diferentes necessidades. As barreiras f�sicas com que uma criança é confrontada não são as mesmas de um idoso, tal como as de um cego não são as mesmas de uma pessoa em cadeira de rodas, nem as de uma grávida são iguais às de um surdo. Porém, e como será abordado mais à frente, as normas técnicas de acessibilidade do Decreto-Lei definem parâmetros espaciais m�nimos com base na antropometria de uma pessoa em cadeira de rodas ou com base nas necessidades de uma pessoa com dificuldades sensoriais. Então, podem estes parâmetros espaciais m�nimos gerar situa� ções de falta de adequabilidade entre pessoas com diferentes tipos de mo� bilidade condicionada? Ainda que, não faça parte dos ob�ectivos da análise ao Decreto�Lei responder a esta questão, faz�se a sua exposição para que possa ser alvo de atenção e discussão futura.

O actual Decreto�Lei 163/2006, de 8 de Agosto, que veio substituir o an� terior D.L. nº 123/97, de 22 de Maio, foi aprovado com o intuito de comba� ter de forma mais eficaz a exclusão social que as barreiras físicas impõem às pessoas de mobilidade reduzida. Segundo o referido Decreto�Lei, o seu antecessor falhava pela insuficiência das soluções propostas e pela “(...) sua fraca eficácia sancionatória, que impunha, em larga medida, apenas coimas de baixo valor (…)”. [D.L. 163/2006, de 8 Agosto]

8. “(…) pessoas que se con� frontam com barreiras am� bientais, impeditivas de uma participação c�vica activa e in� tegral, resultantes de factores permanentes ou temporários, de deficiência de ordem inte� lectual, emocional, sensorial, f�sica ou comunicacional.” [D.L. 163/2006, de 8 Agosto]

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34 No entanto, a sua grande novidade reside, sobretudo, no alargamento da

aplicação das normas técnicas de acessibilidade aos edif�cios habitacionais. E, desde logo, é claro o ob�ectivo face à construção nova: “(...) evitar a entrada de novas edificações não acessíveis no parque edificado português (...)”. [D.L. 163/2006, de 8 Agosto] Mas, de que forma encara a legislação em vigor a resolução do problema da acessibilidade nos edif�cios habita� cionais existentes?

É precisamente sobre este ponto que se enquadra a leitura anal�tico�cr�tica do presente Decreto�Lei, através da qual se procurará compreender de que forma se aplicam as normas técnicas no âmbito das intervenções de reabi� litação, bem como identificar eventuais problemas, excessos ou incompati� bilidades existentes face à sua aplicação.

3.2. Articulado do Decreto-Lei

A análise dos artigos do D.L. 163/2006, de 8 de Agosto, que na sua tota� lidade é constitu�do por 26 artigos, não pretende ser uma cr�tica�anal�tica exaustiva de cada um, quer�se antes salientar aqueles que parecem ser mais relevantes à investigação e os que de alguma maneira suscitaram dúvidas e questões.

Em dois artigos do Decreto�Lei é poss�vel ler o seguinte:

� nº 3 do artigo 2º, âmbito de aplicação: “as normas técnicas sobre aces�âmbito de aplicação: “as normas técnicas sobre aces�mbito de aplicação: “as normas técnicas sobre aces� sibilidades aplicam�se ainda aos edif�cios habitacionais.” [D.L. 163/2006, de 8 Agosto]

� nº 1 do artigo 3º, Licenciamento e autorização: “as câmaras municipais indeferem o pedido de licença ou autorização necessária ao loteamento ou a obras de construção, alteração, reconstrução, ampliação ou de urbani� zação, de promoção privada, referentes a edif�cios, estabelecimentos ou equipamentos abrangidos pelos n.ºs 2 e 3 do artigo 2.º, quando estes não cumpram os requisitos técnicos estabelecidos neste decreto�lei.” [D.L. 163/2006, de 8 Agosto]

Segundo estes artigos, as normas técnicas de acessibilidade aplicam�se aos edif�cios habitacionais, devendo as mesmas ser satisfeitas nas obras de construção, alteração, reconstrução ou ampliação.

No nº 2 do artigo 3º é definido que as obras de alteração ou reconstrução em edif�cios referidos no nº 1 do mesmo artigo, �á existentes à data de en�

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trada em vigor do Decreto�Lei, não podem ser recusadas com fundamento na desconformidade com as normas técnicas de acessibilidade, desde que cumpram duas condições cumulativas: “(…) que tais obras não originem ou agravem a desconformidade com estas normas e se encontrem abrangi� das pelas disposições constantes dos artigos 9.º e 10.º.” [D.L. 163/2006, de 8 Agosto]

Ora, o artigo 9º estabelece o prazo que as instalações, edif�cios, estabele� cimentos e espaços circundantes �á existentes têm para se adaptar às nor� mas estabelecidas no D.L. 163/2006, de 8 de Agosto. Todavia, os prazos de adaptação às normas técnicas de acessibilidade apenas são referentes aos nºs 1 e 2 do artigo 2º, ou se�a, equipamentos colectivos e espaços e edif�cios públicos, não existindo nenhuma referência quanto à obrigatoriedade de adaptação das normas técnicas de acessibilidade nos edif�cios habitacio� nais. A mesma situação é também constatável no artigo 10º, Excepções.

Assim, atendendo a que as disposições dos artigos 9º e 10º não abrangem os edifícios habitacionais verifica-se que o definido no nº 2 do artigo 3º não se aplica aos edif�cios habitacionais �á existentes, tendo as obras de altera� �á existentes, tendo as obras de altera�, tendo as obras de altera� ção ou reconstrução de cumprir as normas técnicas de acessibilidade.

No entanto, aquando do Projecto de revisão do D.L. 163/2006, o nº 2 do artigo 3º foi reformulado, deixando as duas condições referidas de serem cumulativas, para agora ler�se: “(…) desde que tais obras não originem ou agravem a desconformidade com estas normas no caso dos edif�cios ha� bitacionais, ou se encontrem abrangidas pelas disposições constantes dos artigos 9.º e 10.º” [Pro�ecto de revisão do D.L. 163/2006]

Deste modo, as obras de alteração e reconstrução em edif�cios habitacio� nais, �á existentes à data da entrada em vigor do Decreto�Lei, não podem ser recusadas com fundamento na desconformidade com as normas téc� nicas de acessibilidade, desde que essas obras não origem ou agravem as desconformidades com as normas.

No artigo 10º (excepções), o nº 8 refere que aplicação das normas técni� cas a imóveis classificados ou em vias de classificação, é avaliada caso a caso e adaptada às características do edifício em causa, ficando a sua apro� vação dependente do parecer da Direcção Regional da Cultura. Ou se�a, estabelece�se a protecção dos valores destes edif�cios face à sua adaptação às normas técnicas. Contudo, os edif�cios que não estão abrangidos por esta classificação e que também são património ficam sujeitos a intervenções

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36 especulativas, visto não se prever a protecção dos seus valores aquando da

sua adaptação às exigências normativas.

Um ponto que suscitou algumas dúvidas foi o nº 4 do artigo 2º, onde se refere que “as presentes normas aplicam�se sem pre�u�zo das contidas em regulamentação técnica específica mais exigente.” [D.L. 163/2006, de 8 Agosto]

Tal como foi poss�vel esclarecer, as situações de maior exigência pren� dem�se a questões de uso(s) dos espaços, variando em sua função a regu� lamentação a aplicar. Por exemplo, um corredor até 1,5 m de comprimen� to pode, segundo o definido no D.L. 163/2006 sobre acessibilidades, ter uma largura m�nima de 0,9 m, contudo, se esse corredor coincidir com um percurso de evacuação é exigido uma largura m�nima maior, passando a ser aplicado a regulamentação mais exigente, neste caso, o Decreto�Lei 220/2008 sobre segurança contra incêndios.

Por último, salienta�se que os espaços e edif�cios públicos existentes (que constam nos nºs 1 e 2 do artigo 2º), cu�a construção é anterior a 22 de Agos� to de 1997, devem ser adaptados às normas técnicas num prazo de 10 anos, contado a partir do momento em que o Decreto�Lei entra em vigor (nº 1 do artigo 9º).

Perante estes casos, o nº 1 do artigo 10º prevê três situações em que não é exig�vel a sua adaptação às normas técnicas de acessibilidade: “(…) quando as obras necessárias à sua execução se�am desproporcionadamente dif�ceis, requeiram a aplicação de meios económico-financeiros desproporcionados ou não dispon�veis, ou ainda quando afectem sensivelmente o património cultural ou histórico, cu�as caracter�sticas morfológicas, arquitectónicas e ambientais se pretende preservar.” [D.L. 163/2006, de 8 Agosto]

Isto é fundamental relativamente à actuação nos espaços e edif�cios histó�é fundamental relativamente à actuação nos espaços e edif�cios histó�fundamental relativamente à actuação nos espaços e edif�cios histó� ricos não habitacionais, pois permite a protecção dos seus valores patrimo� niais, ainda que estas excepções devam ser devidamente justificadas.

3.3. Normas técnicas de acessibilidade

O Anexo do D.L. 163/2006, de 8 de Agosto, define as normas técnicas de acessibilidade, sendo composto por quatro cap�tulos: 1 – Via pública;

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2 – Edif�cios e estabelecimentos em geral; 3 – Edif�cios, estabelecimentos e instalações com usos específicos e 4 – Percurso acessível.

Tendo em conta que este estudo desenvolve�se à “escala do edif�cio”, a análise das normas técnicas abordará unicamente as secções que dizem respeito aos edif�cios habitacionais (a partir do momento de entrada no edif�cio até ao interior do fogo) e que se mostrem relevantes ao desenvol� vimento da investigação. Para tal, primeiro são analisadas as secções res� peitantes aos espaços comuns e em seguida às secções relativas ao interior das habitações.

3.3.1. Edifícios de habitação – espaços comuns

A secção nº 2.2.1 estipula que os edif�cios devem ter pelo menos um per� curso acessível, o qual é definido como o caminho “(…) que proporcione o acesso seguro e confortável das pessoas com mobilidade condicionada entre a via pública, o local de entrada/sa�da principal e todos os espaços interiores e exteriores que os constituem.” [D.L. 163/2006, de 8 Agosto]

Nos edifícios habitacionais ficam excluídos desta exigência, por exemplo, os espaços não utilizáveis, tal como o desvão das coberturas, ou os espa� ços e compartimentos das habitações para os quais são definidas condições específicas na secção nº 3.3, tal como os espaços de circulação horizontal e vertical.

No lado exterior das portas de acesso aos edif�cios e nos átrios interiores dos edif�cios deve ser poss�vel inscrever uma zona de manobra para rotação de 360º (secções nºs 2.2.1 e 2.2.2), ou se�a, o equivalente a um espaço de 1,5 x 1,5 m, segundo o definido na secção nº 4.4.1. As portas de entrada/ sa�da dos edif�cios (secção nº 2.2.3) devem ter uma largura útil m�nima de 0,87 m – o equivalente a um vão de 0,9 m largura.

Os patamares, galerias ou corredores (secção nº 2.3) devem ter uma lar� gura m�nima de 1,2 m de largura. Estes podem ter 0,9 m de largura, desde que o seu comprimento se�a inferior a 1,5 m e não dêem acesso a portas laterais. Quando a sua largura é inferior a 1,5 m, não devem existir troços do percurso superiores a 10 m sem uma zona que permita no m�nimo a mu� dança de direcção de 180º.

(38)

38 Na secção nº 3.2.7 refere que “os patamares que dão acesso às portas

dos fogos devem permitir inscrever uma zona de manobra para rotação de 180º.” [DL 163/2006, de 8 de Agosto] Ou se�a, o equivalente a um espaço de 1,5 x 1,2 m, segundo o definido na secção 4.4.1.

No entanto, na secção o nº 3.3.1 refere que “nos espaços de entrada das habitações [vest�bulo] deve ser poss�vel inscrever uma zona de manobra para rotação de 360º [ou um espaço de 1,5 x 1,5 m].” [DL 163/2006, de 8 de Agosto]

Se ambos os espaços dão acesso à mesma porta, então, não deveria ser considerada a mesma zona de manobra para ambos os espaços?

Como foi poss�vel esclarecer, a área de manobra exigida para um espaço está relacionada com a frequência do número de manobras que se consi� dera provável existir no mesmo. Desta forma, é entendido que uma pessoa de mobilidade condicionada realizará com maior frequência manobras no vest�bulo de entrada da sua habitação (por exemplo, circular dentro de casa, atender pessoas à porta, entrar/sair), do que no patamar comum de acesso (isto é, entrar/sair). Acrescenta�se ainda que em habitações de pequena ti� pologia onde não existe um vest�bulo a zona de manobra para rotação de 360º pode estar na sala.

Segundo a secção nº 4.9.1, as portas inseridas no percurso acess�vel (por� nº 4.9.1, as portas inseridas no percurso acess�vel (por� 4.9.1, as portas inseridas no percurso acess�vel (por� tas situadas no interior do edif�cio) devem ter uma largura útil m�nima de 0,77 m (o equivalente a um vão com 0,8 m de largura) e uma altura, pelo menos, de 2 m. Quando as portas são constitu�das por duas folhas operadas de forma independente, a secção nº 4.9.5 define que pelo menos uma delas deve ter um vão útil m�nimo de 0,77 m.

No que diz respeito à sua utilização, o nº 4.9.6 estabelece que devem pos� suir uma zona de manobra desobstru�da e de n�vel, tal como é representado na fig. 1.

As especificações para as escadas situadas nos espaços comuns são es� tipuladas na secção nº 2.4, onde são definidos vários parâmetros, entre os quais: a largura dos lanços e a profundidade dos patamares superiores e inferiores não deve ser inferior a 1,2 m; os degraus não devem ter mais de 0,28 m de cobertor e 0,18 m de espelho; os corrimões devem ser cont�nuos e ter uma altura compreendida entre 0,85 e 0,9 m.

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Fig. 1 � Zona de manobra das portas inseridas no percurso acess�vel.

Quando se instalam ascensores em edif�cios habitacionais existentes, es� tes devem seguir as disposições definidas na secção nº 2.6, que, de igual modo, também se aplicam aos edifícios novos. Entre outras especificações, esta define que as cabines interiores dos ascensores devem ter como dimen� sões m�nimas 1,1 m de largura e 1,4 m de profundidade, e as portas devem assegurar uma largura útil m�nima de 0,8 m.

Na informação disponibilizada na United Nations Enable9, é poss�vel

constatar que, antes de tudo, há uma distinção entre os ascensores que são aplicados em edif�cios novos e em edif�cios existentes. No caso dos edif�� cios existentes é definido uma dimensão mínima da cabine interior de 0,95 x 1,25 m, que permite unicamente uma pessoa em cadeira de rodas, deven� do a porta ter uma largura m�nima de 0,75 m.

Perante isto, levantam�se as seguintes questões: não deveria a normativa sobre a acessibilidade realizar a diferenciação entre os ascensores aplicados a edif�cios novos e a edif�cios existentes? Ao diferenciar, não será poss�vel

9. Site oficial que publica a informação do trabalho sobre as pessoas com deficiência desenvolvido pelas Nações Unidas.

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40 considerar, para edif�cios existentes, um ascensor com uma cabine interior

semelhante à referida na United Nations Enable, de modo a tentar garantir uma melhor adequabilidade aos espaços existentes?

As plataformas elevatórias, verticais ou sobre as escadas (secção nº 2.7) não devem ter dimensões inferiores a 0,75 x 1 m, de modo a permitirem a sua utilização por um adulto em cadeira de rodas. Nos casos em que o desn�vel entre pisos é superior a 0,75 m (nº 2.7.4) é exigido que as platafor�é exigido que as platafor�exigido que as platafor� msa possuam guardas de protecção, e que estas tenham pelo menos 1 m de altura, excepto as que permitem o acesso.

A secção nº 2.7.6 define que as plataformas sobre escadas que devem ser rebat�veis de modo a permitir o seu uso total quando a plataforma não se encontra em uso, devendo as plataformas deixar uma largura m�nima de 1 m nas habitações.

Ao comparar as zonas de manobras exigidas para os patamares diante dos ascensores (secção nº 2.6.1) e das plataformas elevatórias (secção nº 2.7.3), é poss�vel constatar que para os primeiros é exigido um espaço de 1,5 x 1,5 m, enquanto para os segundos um espaço de 1,2 m de profundidade e uma largura não inferior à da plataforma.

Segundo foi poss�vel esclarecer, a menor dimensão do espaço de acesso à plataforma prende�se ao facto de se pressupor que a pessoa com mobili� dade condicionada �á vem a circular no sentido que lhe permite entrar na plataforma e, depois de realizado o tra�ecto, efectua a sa�da continuando no mesmo sentido. Por outro lado, pretende�se também facilitar a introdução da plataforma elevatória em escadas que surgem na sequência de corredo� res ou galerias, que geralmente tem menos de 1,5 m de largura.

No entanto, tal como os ascensores, também existem plataformas ele� vatórias de cabine fechada, encerrada numa caixa, cu�o acesso é realizado de frente e a sa�da de marcha atrás. Se a plataforma apresenta as mesmas caracter�sticas de um ascensor, então, pressupõe�se que as manobras de acesso a ambos têm o mesmo nível de dificuldade para uma pessoa de mo� bilidade condicionada. Neste caso, será lógico pensar que as zonas de ma� nobra diante dos patamares de acesso devem ter dimensões idênticas.

Assim sendo, não deveria a normativa diferenciar as zonas de manobra exigidas para os patamares diante das plataformas não encerradas (tal como, as plataformas sobre escadas) das encerradas (tal como, os homelifts)?

Imagem

Fig. 1 � Zona de manobra das  portas inseridas no percurso  acess�vel.
Fig. 3 � Ascensores dentro de  caixa em estrutura metálica,  no interior.
Fig. 4 � Dimensões de um  ascensor acess�vel com guia  lateral e de um com guia tra�
Fig. 10 � Plataforma elevatória  para pequenos desn�veis, sis�
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Referências

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