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Considerações finais

No documento Estudo experimental da pedra de xisto (páginas 76-81)

2. Caracterização das construções de xisto existentes no concelho de Peso da Régua

2.14. Considerações finais

Foi proposta uma ficha de levantamento para o estudo de edifícios tradicionais de pedra de xisto. A ficha foi adaptada e melhorada de outros trabalhos de investigação realizados num contexto semelhante.

O levantamento de informação foi efetuado no concelho de Peso da Régua, que se localiza no Norte do país e na região de Trás-os-Montes e Alto Douro.

O trabalho de campo necessário ao levantamento de informação foi uma tarefa que mesmo sendo facilitada pela ficha de levantamento foi de extrema complexidade por ter sido executada por uma só pessoa, porque para além de ter sido exaustiva implicou gastos avultados em termos financeiros e foi condicionada em certos momentos. Esses momentos correspondem à medição de elementos construtivos de xisto e à recolha de amostras de pedra de xisto e material de enchimento da junta de assentamento das pedras.

O trabalho de campo decorreu durante vários meses. Primeiro, foi necessário percorrer o concelho de Peso da Régua e tentar localizar edifícios tradicionais de pedra de xisto. Em seguida, procedeu-se ao levantamento de informação no local. Esta tarefa foi a mais crítica pois era condicionada por vários fatores tais como: os acessos ao local e em redor do edifício, a presença do proprietário ou de outras pessoas que autorizassem o acesso, a presença de animais hostis, entre outros.

51 A informação depois de recolhida foi agregada numa folha de cálculo de modo a facilitar o seu tratamento e a produção de resultados.

Conseguiu-se identificar um total de 56 edifícios tradicionais de pedra de xisto no concelho de Peso da Régua. Considera-se que o número de edifícios identificado é suficiente ao ponto de se poder extrapolar conclusões que possam ser generalistas para os edifícios tradicionais de pedra de xisto existentes no concelho de Peso da Régua. Os edifícios estudados neste trabalho de investigação são destinados a arrumos, 51,3%, a habitação unifamiliar, 41,0%, e a garagem, 7,7%.

Dos edifícios estudados, o mais comum foi encontrar edifícios com dois pisos, 52,9%, os restantes edifícios tem apenas um piso, 47,1%. Verificou-se que a utilização predominante nos edifícios com um piso é arrumos, 76,5%, seguida da utilização para garagem, 17,6%, existindo ainda uma percentagem residual de edifícios para habitação unifamiliar, 5,9%. No caso dos edifícios com dois pisos a utilização destes é maioritariamente para habitação unifamiliar, 68,2% e para arrumos, 31,8%.

Nas coberturas dos edifícios tradicionais de pedra de xisto verificou-se que todas estas são inclinadas. Também se atestou que as coberturas são constituídas maioritariamente por duas e uma água, com uma distribuição de 38,5% e de 36,5%, respetivamente. Os restantes casos, 25,0%, são coberturas com quatro águas.

Por sua vez, a estrutura da cobertura apresentada nos edifícios foi de madeira em 95,7% dos edifícios identificados, sendo os restantes, 4,3%, relativos a estruturas de betão armado.

O revestimento da cobertura apresentado nos edifícios foi do tipo telha cerâmica em 95,8% dos edifícios e os restantes 4,2% representam os edifícios com cobertura revestida em chapa de zinco.

Os pavimentos do rés-do-chão dos edifícios tradicionais de pedra de xisto são geralmente de terra batida, 92,7%. Os restantes edifícios apresentam pavimentos em betonilha com tijoleira como acabamento, 7,3%.

Por sua vez, ao nível do segundo piso, apurou-se que a madeira é o material preferencial para usar como pavimento, 94,7%. Também se encontraram alguns casos pontuais em que esse pavimento é constituído por betão armado revestido a tijoleira, 5,3%.

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Pensa-se que a solução construtiva típica das paredes exteriores de xisto de edifícios antigos do concelho de Peso da Régua é constituída por dois panos de alvenaria de pedra de xisto e um miolo formado por um material terroso e pequenas pedras de xisto. Apurou-se que as paredes exteriores dos edifícios tradicionais de pedra de xisto do concelho de Peso da Régua possuem elevadas espessuras com valores médios de 0,68 m para edifícios com um piso e de 0,74 m para edifícios com dois pisos.

O facto das paredes exteriores dos edifícios em pedra de xisto apresentar elevadas dimensões em termos de espessura faz com que este fator seja uma condicionante em termos de aproveitamento de espaço da área de implantação do edifício em comparação com outro tipo de parede mais recorrente como a alvenaria de tijolo.

A informação recolhida indica que 55,6% dos edifícios identificados apresentam uma material de enchimento entre as juntas de assentamento das pedras de xisto das paredes exteriores, os restantes 44,4% dizem respeito a edifícios que não apresentam qualquer tipo de material de enchimento nas juntas de assentamento.

Após a análise da relação entre existência ou não de enchimento nas juntas de assentamento das pedras de xisto com a utilização do edifício presume-se que esta solução construtiva possa estar relacionada com preocupações com o comportamento térmico das paredes exteriores.

Efetuou-se uma análise material por difracção de Raio-x análise em amostras do material de enchimento de três edifícios distintos. Esta análise revelou que a composição mineralógica elementar apresenta o Quartzo e a Moscovite como os principais elementos do material de enchimento. Apesar da análise referida não dar informações completas sobre o tipo o material de enchimento, pensa-se que este material se trate de terra argilosa simples, pois é facilmente desagregável através da pressão dos dedos da mão.

A disposição construtiva dos cunhais das paredes é semelhante em todos os edifícios identificados. É caracterizada por se aplicar pedras de xisto de maiores dimensões do que as dimensões das pedras dos panos de parede e que são intercaladas em termos de dimensões nas duas paredes exteriores ortogonais a ligar. Esta disposição permite a ligação de panos de paredes ortogonais entre si.

53 As patologias mais recorrentes em paredes de alvenaria de pedra de xisto são a desagregação das pedras de xisto, as pedras fissuradas, as pedras em estado de decomposição material, a existência de fissuras nas paredes, a existência de material biológico e o colapso das pedras de padeiras nas aberturas de vãos de janela e de porta. Nas aberturas de vãos de janela e porta verificou-se que são usadas pedras de maiores dimensões e dispostas sobretudo de duas formas, para definir a área das referidas aberturas. Também se verificou o uso de dois ou mais elementos de padieira de acordo com a dimensão da espessura da parede exterior.

Nos materiais usados como elementos de padieira, atestou-se que o mais utilizado é pedra de xisto, em 97,1% dos casos observados seguido de pedra de granito, 2,3%, e por fim a madeira em 0,6%.

Por sua vez, o material mais usado nas ombreiras e nos peitoris das aberturas é a pedra de xisto, com uma utilização de 94,9% no caso das ombreiras e 97,7% no caso dos peitoris das aberturas. Nos restantes casos o material usado é a pedra de granito.

As aberturas de vão de porta dos edifícios tradicionais de pedra de xisto apresentam-se orientadas preferencialmente SE (27,1%). As restantes encontram se orientadas a NW (16,9%), a W (6,7%), a SW (16,9%), a S (5,6%), a E (3,4%), a NE (19,1%) e a N (4,5%).

Em relação às aberturas de vão de janela, conclui-se que estes se encontram preferencialmente orientados SW (34,3%). As restantes apresentam-se orientadas a SE (25,7%), a S (3,8%), a E (16,2%) a NW (17,1%) e W (2,9%).

Em relação à caixilharia das aberturas, na maioria das portas (73,5%) e das janelas (86,9%) dos edifícios analisados apresentam caixilharia ou corpo de madeira. O ferro também tem alguma relevância (25,0% em portas e 9,8% em janelas). Ainda foram observados alguns casos pontuais relativos à aplicação do material PVC (1,5% em portas e 3,3% em janelas.

O levantamento efetuado neste trabalho de investigação demonstrou que existem muitos edifícios de pedra de xisto, no concelho de Peso da Régua em estado de ruína ou degradado. Este facto evidência a necessidade urgente de se efetuar trabalhos de conservação e/ou reabilitação deste tipo de edifícios neste concelho. Deste modo este

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trabalho ganha maior relevância porque compila um conjunto de informação técnica valiosa e que pode auxiliar em futuros processos de reabilitação.

Através de uma análise aos resultados do levantamento conclui-se que a madeira é o segundo material de construção mais aplicado neste tipo de edifícios, sendo que o primeiro é obviamente a pedra de xisto. É usada em elementos estruturais tal como a cobertura e os pavimentos, nas portas e janelas, e ainda em alguns casos como elemento de padieira.

Considera-se que se conseguiu reunir um conjunto de informação significativo e representativo, e que permite caracterizar as construções tradicionais de pedra de xisto existentes no concelho de Peso da Régua. Por esse motivo, pensa-se que este estudo possa também ser útil, em termos informativos, para outros trabalhos de investigação a desenvolver neste âmbito tal como as alvenarias de pedra de xisto.

3.

RELAÇÕES

PARAMÉTRICAS

DE

DETALHES

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