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Tipo de assentamento da pedra de xisto

No documento Estudo experimental da pedra de xisto (páginas 62-67)

2. Caracterização das construções de xisto existentes no concelho de Peso da Régua

2.10. Paredes exteriores dos edifícios

2.10.2. Tipo de assentamento da pedra de xisto

Ainda dentro da temática paredes exteriores antigas de alvenaria de pedra de xisto, foi recolhida informação relativa ao tipo de assentamento das pedras de xisto.

Dos edifícios estudados, observou-se que, aparentemente, nas paredes exteriores, as pedras assentam sobre elas próprias com junta seca, ou então com um enchimento ou guarnição de um material terroso.

Apurou-se que em 55,6% dos edifícios tradicionais de pedra de xisto analisados nesta parte (45 edifícios), os vazios existentes entre as pedras de xisto são preenchidos com

37 um material de enchimento. Os restantes edifícios, 44,4%, não apresentam nenhum material de enchimento nas faces das paredes, como traduz a Figura 2.36.

Figura 2.36 – Distribuição tipo de junta de assentamento das pedras de xisto nas paredes exteriores

Nas Figuras 2.37 e 2.38 é possível observar alguns exemplos de edifícios estudados com e sem material de enchimento entre as pedras de xisto.

a) Exemplo 1 b) Exemplo 2

Figura 2.37 – Exemplos de edifícios sem material de enchimento nas juntas de assentamento (2011/2012)

a) Edifício com material de enchimento

b) Pormenor do material de enchimento

Figura 2.38 – Edifício com material de enchimento nas juntas de assentamento (2011/2012)

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Os resultados obtidos relativos ao tipo de assentamento das pedras de xisto adotado tradicionalmente são reveladores de que essencialmente prevalecem dois tipos diferenciados e igualmente representativos, e que são a aplicação de um material terroso (junta fechada) ou a sobreposição direta das pedras de xisto (junta aberta).

O pormenor construtivo de constituição de uma parede exterior antiga de xisto apresentado na Figura 2.34.b é relativo a uma parede que apresenta junta fechada como um tipo de assentamento das pedras. Atendendo a que não foi possível encontrar um pormenor construtivo análogo ao da Figura 2.34.b mas relativo a parede de junta aberta, não foi possível saber como é tradicionalmente a constituição de uma parede exterior de xisto de junta aberta.

Paralelamente, pareceu importante estudar o tipo de material de assentamento de pedra de xisto tradicionalmente aplicado e perceber se trata-se de terra simples ou de uma argamassa terrosa bastarda. Para o efeito, algumas amostras de material de assentamento/enchimento foram recolhidas em obra para poderem ser estudadas experimentalmente posteriormente. Este estudo está descrito na secção seguinte.

No sentido de também se perceber qual é a justificação associada à opção de junta aberta ou de junta fechada relacionou-se o tipo de utilização do edifício com o tipo de assentamento e obteve-se o resultado apresentado na Figura 2.39.

a) Habitação b) Arrumos c) Garagem

Figura 2.39 – Relação entre tipo de junta e tipo de utilização

Os últimos resultados apresentados são indicadores que no caso dos edifícios destinados à habitação houve uma certa preocupação em preencher os vazios deixados entre as pedras de xisto das paredes exteriores, como revela a percentagem de 90,9% ao invés dos 9,1% de edifícios com junta aberta. Como as atividades desenvolvidas no interior

39 destes edifícios carecem de um determinado conforto térmico, este facto pode estar ligado à intenção de melhorar e colmatar o comportamento térmico destas paredes. No caso dos edifícios destinados a arrumos, confirma-se que a maior parte deles apresenta junta aberta, 58,8%, e os restantes junta fechada, 41,2%. Este resultado é contrário ao dos edifícios destinados à habitação. Se o motivo para a escolha do tipo de junta das paredes nos edifícios destinados à habitação for válido, também se justificam os resultados neste caso, pois pensa-se que para a função a que o edifício se destina o conforto térmico é irrelevante.

Nos edifícios destinados a garagem, à semelhança do caso anterior, o comportamento térmico não é o mais relevante, no entanto os resultados mostram que existem mais edifícios destinados a garagem com junta fechada do que edifícios com a junta aberta. Contudo é necessário referir que das três utilizações dos edifícios apresentadas, a utilização para garagem foi a menor e, por isso, a amostragem para esta análise é menor e menos precisa.

Em suma, pode-se apreciar que a inclusão ou não de enchimento no assentamento das pedras de xisto poderá estar relacionada com questões de ordem térmica. Esta afirmação justifica-se pelos resultados obtidos, em que uma maioria expressiva dos edifícios de habitação apresenta junta fechada. Em relação aos outros edifícios, verifica-se que ambas as soluções são usadas mas sem um domínio expressivo que permita tirar outra conclusão.

Análise do material de enchimento das juntas de assentamento

No decorrer do trabalho de campo procedeu-se à recolha de amostras de material de enchimento das paredes de alvenaria de pedra de xisto em três edifícios distintos, Figura 2.40.

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Foram então recolhidas: uma amostra do material de enchimento no edifício n.º 1; três amostras no edifício nº 5 e uma amostra no edifício n.º 11. O número de amostras recolhidas do edifício n.º 5 foi superior aos restantes pois o material de enchimento apresentava colorações diferentes em pontos distintos da parede exterior.

Efetuou-se uma análise material por difracção de Raio-x. Esta análise já foi realizada e apresentada em outros trabalhos de investigação tais como [11,20–23].

Este ensaio foi realizado na Unidade de Microscopia Eletrónica da UTAD, através do equipamento PANalytical modelo X’Pert PRO com detetor X’Celerator.

Para obtenção de difratogramas de Raios-X, as amostras foram preparadas num porta- amostras padrão. A energia usada na produção da radiação X foi de 40 kV e de 30 mA. A aquisição foi efetuada na geometria Bragg-Brentano entre 7º<2ɵ<80º.

Relativamente à composição mineralógica elementar detetada nas diferentes amostras, após indexação de todos os espectros obtidos, concluiu-se que todas elas apresentam como base a moscovite e o quartzo e de acordo com as percentagens apresentadas na Tabela 2.2.

Tabela 2.2 – Composição mineralógica elementar das diferentes amostras de material de enchimento

Identificação da amostra Quartzo (%) Albite (%) Moscovite (%)

Amostra 1 do edifício nº 1 49 - 51

Amostra 1 do edifício nº 5 43 9 48

Amostra 2 do edifício nº 5 28 8 64

Amostra 3 do edifício nº 5 50 - 50

Amostra 1 do edifício nº 11 48 - 52

Nas amostras do edifício 5, encontraram-se vestígios de clinocloro, sendo que, normalmente, quando aparecem estes hidróxidos, são indicativos da degradação natural do material. O mesmo facto foi comprovado no local, pelo que as pedras de xisto das paredes exteriores do edifício exibiam uma deterioração acentuada das pedras.

Apenas duas amostras apresentavam albite na sua composição mineralógica e que são relativas ao edifício nº 5. Por sua vez, no geral, a incidência de quartzo e de moscovite é análoga. Apenas é exceção a amostra 2 do edifício nº 5 e que apresenta uma maior percentagem de moscovite (64%) do que quartzo (28%). Estas particularidades em

41 termos de composição mineralógica elementar poderão justificar a existência de diversos materiais de enchimento com coloração distintas na parede de alvenaria de pedra de xisto do edifício nº 5.

Também é de referir que a análise deste material teria sido mais completa se tivesse sido possível realizar uma análise da microestrutura e da composição química elementar. Esta análise não foi possível efetuar neste trabalho de investigação por razões externas. Contudo, apesar da limitação expressa anteriormente, verifica-se em obra que geralmente o material de enchimento desagrega facilmente através da pressão dos dedos. Este facto poderá ser indicador de que o material de enchimento das juntas das paredes exteriores antigas de xisto seja terra argilosa simples e não do tipo argamassa terrosa bastarda como é correntemente praticado nas construções de tabique existentes na região de Trás-os-Montes e Alto Douro [24–25]. Geralmente, o material de enchimento do tipo argamassa terrosa bastarda aplicada nestas construções de tabique apresentam uma coesão e uma dureza significativa e dificilmente são desagregáveis através da pressão dos dedos.

No documento Estudo experimental da pedra de xisto (páginas 62-67)