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3 3 Considerações Gerais

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa foi mais uma demonstração dos recorrentes limites apresentados pelo mimetismo das técnicas adotadas na administração pública latino americana. Não obstante, o PEP ter recebido algum tratamento em sua adequação às particularidades nacionais, pode-se verificar lacunas que ainda necessitam de uma resposta. Aqui, a partir da análise de duas experiências municipais, nos ocupamos com um dos principais problemas para a representatividade, legitimidade e efetividade do PEP, notadamente a mobilização.

Os dados trabalhados permitiram a identificação de algumas estratégias que, resguardadas em seu caráter propositivo, devem ter a sua apresentação acompanhada de alguns pressupostos e comentários.

Em primeiro lugar, a mobilização pretendida requer que sejam atendidos alguns pressupostos básicos, quais sejam:

- a abrangência do processo do PEP estabelecido entre as lideranças políticas locais e os organizadores do PEP, tendo em vista os seus objetivos;

- a qualificação dos segmentos sociais que se pretende mobilizar com o intuito de viabilizar a participação de seus representantes no processo de PEP.

Dadas essas condições, a mobilização pretendida é a das lideranças políticas, visando uma participação mais legítima, representativa e efetiva da população no PEP. O caráter mais democrático ou autoritário deste processo dependerá da transparência com que o mesmo é conduzido, isto é, da qualidade e da fidedignidade das informações prestadas pelos promotores do PEP,

esclarecendo seus limites, seus objetivos, e do respeito ao processo participativo na construção do planejamento em si.

Procurando responder à pergunta central da pesquisa, “Como integrar a mobilização a um processo de PEP em nível municipal?”, sugere-se como estratégias:

- que a etapa de mobilização para o PEP situe-se após o acordo político inicial. Uma vez que o trabalho mobilizatório não se encerra com os trabalhos de PEP, a equipe mista deve prever esforços mobilizatórios ao

longo de todo o processo de formulação e implementação do projeto;

- realizar um planejamento cuidadoso dos passos a serem seguidos durante o processo de mobilização e adequação das técnicas de mobilização a serem utilizadas. Devem ser observados, assim, dentre outros, os seguintes aspectos: o tempo de duração, o local, a cultura, as condições sócio-econômicas da população, a linguagem, o nível organizacional da população, o tamanho do município, as formas possíveis de divulgação, as condições políticas (conflitos entre grupos, etc.), os movimentos sociais existentes, a flexibilidade das estratégias e a diversidade dos segmentos sociais;

- constituir uma equipe mista, composta por representantes da universidade, dos administradores públicos e entidades organizadas do município, que será responsável pelo planejamento e pela implementação das ações de mobilização. Neste caso, a universidade pode assumir um papel determinante na realização do processo mobilizatório para o PEP, seja pelo suporte técnico que pode oferecer, seja pela credibilidade emprestada por ela a este processo enquanto uma entidade pretensamente “neutra”. Naturalmente que essas noções são passíveis de várias ponderações. Ao se iniciar um trabalho estratégico e participativo

não se pode desconhecer a realidade em que o município está inserido, pois a mobilização e o planejamento dependem da identificação da realidade e das condições/oportunidades existentes no local a fim de se definir ações coerentes com o contexto. Sugere-se, portanto, a realização de um pré-diagnóstico ou diagnóstico estratégico do município como instrumento da equipe para o conhecimento do município e a definição de ações mobilizatórias. É importante que a equipe de mobilização discuta a motivação necessária para a mobilização da população em geral, das entidades organizadas e das lideranças políticas e comunitárias. Segue-se o estabelecimento de estratégias de mobilização de acordo com a realidade local, para cada segmento social, de acordo com o nível de participação pretendida. Isto é, à população em geral fornecer os esclarecimentos necessários ao entendimento do processo de PEP e seus objetivos. Às lideranças e aos representantes das entidades organizadas, estas informações devem ser mais detalhadas, incluindo metodologias, relatos de outras experiência etc.

finalmente, é preciso estabelecer, de comum acordo, a avaliação do processo de mobilização, objetivando sua continuidade, tanto no planejamento, quanto na implementação.

Não é demais lembrar que as sugestões apresentadas para a mobilização não têm a intenção de ser um modelo. Constituem-se como indicativos a serem considerados na metodologia do PEP.

O estado autoritário tem se perpetuado na desarticulação e na desmobilização dos movimentos organizados da sociedade civil. É a partir desta compreensão que a ação mobilizatória deve ser entendida como uma forma de se contrapor a esta estrutura de “mobilização” individualista que tem predominado, fundada nas relações de compadrio, clientelistas, e mesmo nas relações de mercado.

No que se refere ao objeto de estudo da presente pesquisa, pode-se dizer que não basta a abertura de canais de participação para que a população tome ou faça parte de programas participativos, tornando-se necessária a mobilização para o planejamento, tendo em vista reverter o quadro de desmobilização e de atomização a que a população foi levada e o descrédito em relação ao setor público.

Porém, os limites de ordem política ou metodológica impostos às iniciativas mobilizatórias em uma sociedade predominantemente autoritária tornam de grande importância a criação de novos canais que ampliem os níveis de participação popular, pelo menos, como meio de constatação dos limites destas experiência e de possíveis medidas para a superação dos mesmos. É claro que, nestes casos, é grande o risco de se criar um desgaste da idéia de participação e dos instrumentos que se propõem a viabilizá-la, à medida em que os resultados concretos não sejam constatados e seu significado não seja avaliado junto aos sujeitos envolvidos, como foi o caso, marcadamente, do PEP em Santo Amaro da Imperatriz.

Mesmo no caso do município de Palhoça, onde se observou um maior grau de resultados propositivos derivados do PEP, verificou-se que as questões estratégicas que mais avançaram foram aquelas que iam ao encontro dos interesses imediatos do poder executivo, não indicando, portanto, qualquer avanço concreto no nível de organização de participação e mobilização da sociedade civil durante o processo de implementação do planejamento.

Portanto, o PEP realizado nos municípios acima citados, apresentou uma diferenciação em sua preparação, formulação e implementação, posto que, se em sua formulação ele apresentou-se, embora de forma limitada, como uma maneira inovadora de planejar, a incipiente mobilização no processo de planejamento, a falta

de implementação das ações, bem como, pelo fato das raras ações implementadas não contarem com a efetiva mobilização e participação da população, levaram-no a caracterizar-se mais como um levantamento de dados destes municípios, feito de forma tradicional, do que propriamente uma experiência democrática e participativa de planejamento.

Não se tem a ingenuidade de pensar que a mobilização seja capaz de resolver os conflitos que se manifestam na esfera local. Importa, contudo, demarcar o caráter político-pedagógico positivo implícito ao processo mobilizatório, dado que este pode permitir a explicitação de interesses conflitantes e as várias formas de neutralizar e “engavetar” o PEP. O desafio que se coloca na administração desses conflitos políticos, econômicos, financeiros, ou mesmo pessoais, é a produção de um consenso em torno da importância da participação no PEP.

Não obstante os obstáculos postos por uma cultura política autoritária e pelos limites metodológicos do PEP, a pesquisa produziu indicativos para se afirmar que a operacionalização de um processo de mobilização produz uma participação mais representativa, legítima e efetiva.

A mobilização não é um fim em si mesma. Como um processo educativo que permeia todo o trabalho de planejamento, ela tem compromisso com a implementação do planejamento e a organização social daí decorrente. Assim, pode- se inferir que a mobilização levada a efeito antes do PEP e durante, bem como o trabalho de PEP desenvolvido, propiciam elementos para que a conscientização da população se processe, favorecendo, assim, a implementação do planejamento.

Urge reafirmar a importância da mobilização como uma frente de trabalho essencial para a superação dos limites de ordem estrutural das iniciativas democráticas, que requerem ações coletivas e organizadas.