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O processo indutivo segue os seguintes passos para elaboração do planejamento orçamentário: audiências públicas, consolidação dos projetos, apresentação da proposta orçamentária, fechamento

visão incremental do orçamento.

26 O processo indutivo segue os seguintes passos para elaboração do planejamento orçamentário: audiências públicas, consolidação dos projetos, apresentação da proposta orçamentária, fechamento

do orçamento, entrega à Câmara Municipal. O processo dedutivo elabora: os projetos na secretarias, consolida os projetos, submetem a audiências públicas, apresenta a proposta orçamentária, fecha o orçamento e entrega à Câmara Municipal (Ribeiro & Simon, 1993:34-5).

Os critérios de avaliação sugeridos por Ribeiro & Simon (1993:38) têm por base os critérios ou pressupostos elaborados por Crosby, os quais podem assim serem descritos:

a)

a seleção dos participantes

deve ser feita de modo a conferir a maior representatividade possível ao grupo, e, ao mesmo tempo, impedir qualquer possibilidade de manipulação. Sugere-se que a participação não deva ser aberta a todos os interessados, pois isso pode inviabilizar o processo ou facilitar sua manipulação; no entanto, a representação de todos os interessados deve estar garantida, para que o processo seja legítimo;

b)

os procedimentos participativos

devem estar integrados ao processo decisorio, ou seja, os procedimentos não devem ser ‘para inglês ver’, implicando tanto o levantamento de questões novas como a oportunidade de discutir todo e qualquer tema relevante, levando inclusive a uma eventual mudança de rumos, após a consulta aos cidadãos. A questão da discussão de problemas relevantes tem a ver, por exemplo, com o fato de ser discutido o lugar onde deve ser feita uma obra, sem que seja questionada a realização da obra, em si mesma;

c)

a flexibilidade

está relacionada com a possibilidade de utilização de diferentes combinações de instrumentos de participação popular, ou seja, o processo de participação pode funcionar melhor se métodos diferentes forem utilizados, isolada ou combinadamente, possibilitando a adaptação do processo a situações diversas;

d)

a avaliação do programa participativo

deve ser feita sistematicamente, ano a ano, em termos de produtividade, efetividade, eficácia ou relação custo/benefício; nas práticas participativas adotadas pelas cidades analisadas na seção 5, as mudanças fundamentais em direção ao aperfeiçoamento dos métodos foram proporcionadas pela avaliação anual.

Acreditam, os autores, que a avaliação é um “pressuposto para o sucesso de

um programa participativo” (Ribeiro & Simon, 1993:38-39), devendo haver

preocupação em buscar-se sua efetiva participação. Sugerem que:

Ao elaborar um programa de participação popular, a fim de que seja possível avaliá-lo deve-se definir

a)

o objetivo da participação

- por exemplo, se o objetivo é informar a população acerca de uma dada questão, ou obter a participação da população na elaboração de um projeto, ou em sua implementação etc.; b)

as metas quantitativas

— estabelecido um determinado objetivo, deve-se quantificá-lo. Por exemplo, se o objetivo é informar a população, qual a

percentagem da população ou o número de pessoas que se deseja informar? Se o objetivo é obter a participação na elaboração (ou implementação, ou avaliação) de um projeto, deve-se definir 1) o modo pelo qual se espera que a população participe, 2) de quem se espera a participação (de toda a população da cidade, ou do bairro, ou somente dos representantes de associações de bairro ou de classe etc.) e 3) como as pessoas serão selecionadas; e

c)

a relação entre a participação e a obtenção de efeitos desejados

— deve ficar claro para a população envolvida no programa de que forma e em que medida os resultados de uma dada questão (elaboração, implementação, ou mesmo informação sobre o projeto) serão determinados pela sua participação.

É oportuno esclarecer que, na presente pesquisa, priorizou-se a avaliação com enfoque no processo. Ressalta-se que foram priorizadas as questões que direta ou indiretamente abordassem a mobilização e a participação para o PEP. Muito embora, mesmo a avaliação do processo do PEP não sendo objetivo deste trabalho, a pesquisa produziu indicativos do processo como um todo, os quais serão apresentados no decorrer deste trabalho.

Assim, através da avaliação, não se teve o objetivo de fazer uma análise comparativa entre o PEP levado a efeito nos municípios de Palhoça e Santo Amaro da Imperatriz, e, sim, utilizando-se das duas experiências enquanto complementares, valer-se da avaliação com a finalidade de servir de diagnóstico da mobilização para o PEP, levada a efeito nos dois municípios analisados, permitindo, assim, colher informações para processar a melhoria do PEP na ótica da mobilização.

Desta forma, no próximo item, a atenção volta-se para a questão da mobilização.

2. 2. 3 Mobilização

Assumindo a mesma importância da participação no planejamento, tem-se a mobilização.

As avaliações da equipe técnica sobre as experiências utilizando o PEP nos municipios de Palhoça/1993 e Santo Amaro da lmperatriz/1993 (ANEXO 03) referendam esta importancia, à medida em que apontam a necessidade de urna etapa de sensibilização e/ou mobilização comunitária, buscando o maior envolvimento desta no processo de PEP.

De fato, as avaliações realizadas até o momento sobre os processos de PEP, a tradição autoritária-burocrática do País, bem como observações teórico-empíricas realizadas, apontam a necessidade de maior aprofundamento de estratégias de mobilização, objetivando um envolvimento legítimo, representativo e efetivo da população no planejamento e na gestão municipal.

Neste sentido, Bierrenbach (1981:23) afirma que:

Na medida em que o direito à participação tem que ser conquistado, deve ser precedido de um processo de mobilização, organização e conscientização, devido à alienação e anestesiamento em que a população é mantida pelo próprio sistema.

Por outro lado, Prates & Andrade (1985:147) enfatizam que:

Não basta planejar com eficiência e eficácia, produzindo decisões que levem a uma alocação ótima dos recursos escassos e atendam a imperativos da eqüidade social, é preciso ir além, envolvendo as comunidades beneficiárias do planejamento tanto na elaboração quanto na implementação do plano.

Disso decorre a importância de uma mobilização durante o processo de PEP, de forma a oferecer oportunidades e condições para a população conhecer e participar na administração pública, identificar e organizar ações voltadas à consecução de seus interesses.

No entender de Bierrenbach (1981:25), “(...) a mobilização caracteriza-se por

ser o primeiro passo de toda e qualquer ação política, [podendo ser concebida

como] o alerta, o despertar para urna tomada de posição no contexto social, a etapa

inicial do processo de engajamento politico. ”

A característica específica da mobilização, segundo esta autora (1981:25), é a sua transitoriedade. Afigurando-se, nesta mesma perspectiva de instabilidade, o seu contrário, a desmobilização, “(...) caracterizase por distanciamento, desligamento e

alienação no contexto político-social. ”

De acordo com Arias apud Silva (1986:771), “pode-se fazer referência ao

termo mobilização nos planos político e social, excluindo outras conotações - militares, bélica, etc.” A mobilização social “comporta a incorporação de individuos, grupos ou classes sociais a um movimento social”, diferenciando-se dos movimentos

sociais pois que a mobilização é fator integrante destes, consistindo na “ação social

que os quadros e as massas correspondentes levarão a cabo, tanto para realizar imediatamente o seu programa, como para aumentar gradualmente as bases do poder. ”

Já a mobilização política, segundo o mesmo autor, constitui-se num componente da mobilização social, tendo por objetivo a incorporação das massas à ação política.

Pasquino apud Bobbio (1986:765) diz que a mobilização política indica “(...)

uma atividade de incitamento à ação imposta do alto, em oposição às atividades espontâneas provenientes da base e que caracterizam a participação genuína. ” Por

outro lado, a mobilização social, significa um “processo complexo que implica a

passagem de um tipo de comportamento para outro.” Tal processo pode ser melhor

definido, segundo o mesmo autor, “(...) se concebido em três estágios: ruptura dos

velhos modelos de comportamento, isolamento e disponibilidade, indução de novos padrões de comportamento e sua aceitação e interiorização. ”

Em contraposição à mobilização, a desmobilização, de acordo com Pasquino

apud Bobbio (1986:766), pode ser definida como aqueles processos que “implicam tentativas de restrição da participação das classes inferiores.”

Ferreira (1982:220), analisando a mobilização da comunidade na perspectiva do serviço social, diz que esta é entendida como:

Trabalho de sensibilização da comunidade que tem por objetivo fundamental a realização progressiva das potencialidades intelectuais e físicas dos indivíduos, com vista, especialmente, ao progresso da comunidade e à solução de problemas de base. Comporta as seguintes etapas:

I- Definição das características sócio-econômicas da comunidade. II- Caracterização dos problemas e necessidades gerais da comunidade. III- Reconhecimento dos recursos humanos e materiais disponíveis.

IV- Execução de programas mediante estímulos à participação

comunitária.

Já Lima apud Nunes (1980:116), refere-se a mobilização popular, colocando que esta “(...) consiste na criação de movimentos de massa ante motivações

concretas, servindo ao povo como meio para tomar consciência de seu poder de união em seu processo de libertação.” Constitui-se, para o autor, “(...) num tipo especial de participação que pode levar a ou ser conseqüência da politização, [o

que, por sua vez], implica todo um processo de orientação até a participação na

tomada de decisões a respeito das questões mais importantes da vida social”, e

simboliza uma intervenção ativa e consciente em relação ao poder.

Demo (1993:130) refere-se à mobilização comunitária, traduzindo-a como

“uma arte”, pois que não é possível criar um manual de instruções, como se esse

processo fosse algo mecânico. O autor ainda refere-se ao termo como “colocar uma

comunidade em movimento. ”

Krug (1984:58) diferencia a mobilização popular da mobilização comunitária. Para este autor a mobilização popular consiste num:

Processo dirigido ou não pelas classes médias dirigentes ou não, em relação às massas, no sentido de apoio a determinadas reivindicações, construção de pressão para obtenção de concessões sócio-econômicas, ou mesmo a formação de partidos políticos, onde a massa se encontre com uma liderança geralmente carismática.

A mobilização comunitária para Krug (1984: 50-60) é um:

Trabalho de campo, realizado direta ou indiretamente por equipe interdisciplinar, em uma dada comunidade, utilizando diferentes técnicas de abordagem comunitária, com um objetivo geral preestabelecido onde os objetivos específicos vão surgindo na ação dialógica - agente x população - segundo uma operacionalidade planejada e visando (pelo objetivo geral) à arregimentação (acima da consciência e a partir dela) organizada da comunidade, dentro de uma cosmovisão de homem e realidades sociais, no sentido de plena capacidade e plena funcionalidade política.

Nunes (1980:115), ao interpretar a mobilização nos trabalhos de desenvolvimento de comunidade, nos diz que: “A mobilização é tomada no sentido

de ‘motivação’ das lideranças comunitárias e, através destas, de outras pessoas da comunidade para se engajarem na execução dos projetos propostos.’’

Diante disso o que se pode observar é que não há consenso entre os teóricos sobre o conceito de mobilização em suas diversas variantes (conotações) - social, política, populare comunitária. Observam-se, entretanto, alguns elementos implícitos que a caracterizam, tais como: é tomada no sentido de motivação, implica numa ação, movimento; relaciona-se ao poder; pressupõe, tanto continuidade, quanto ruptura com antigos comportamentos; é meio de tomar consciência e um tipo especial de participação.

Assim colocada, a mobilização consiste num trabalho de sensibilização27, numa atividade de incitamento à ação, enquanto um meio de tomada de consciência de poder, pressupondo a continuidade ou a ruptura com antigos padrões de comportamento e a motivação para a ação.

2 Sobre sensibilização da comunidade, ver p. 40. No contexto de PEP. a sensibilização corresponde, ainda, ao