• Nenhum resultado encontrado

2. 1 Planejamento

A todo instante o homem está optando por uma de várias possibilidades, consciente ou inconscientemente, toma atitudes, empreende ações segundo suas necessidades, seus desejos e aspirações.

Como forma de solucionar seus problemas, o homem foi criando, ao longo do tempo, estruturas organizacionais que permitissem tornar esse processo decisório cada vez mais racional e estas organizações “(...) tão inevitáveis quanto a morte e os

impostos, pois nascemos nelas e, usualmente, morremos nelas, ou seja, é impossível delas escapar” (Hall, 1984:2).

As organizações cumprem um papel de prover as necessidades humanas em suas diversas dimensões e, segundo sua natureza, podem ser públicas ou privadas. As organizações públicas destinam-se a racionalizar as ações empreendidas que, por direito, destinam-se a coletividade, sendo, portanto, públicas e do conhecimento de todos (não secretas). As organizações privadas intermediam os interesses individuais ou de grupos e se caracterizam por não terem a obrigatoriedade de empreenderem ações que se destinem a toda a coletividade, como também não necessitam que suas ações sejam do conhecimento de todos.

O reordenamento dessas organizações torna-se uma constante. Ramos (1989) afirma que elas devem ser vistas como estruturas sociais adaptativas em permanente tensão com o ambiente que a circunda, o que exige a racionalização de suas ações segundo necessidades que vão se alterando ao longo do tempo. O homem defronta-se sempre com o dilema: qual o tipo de organização e como deve ser estruturada para que possa prover, de forma mais racional, suas necessidades? Dada a abrangência das ações e a complexidade dos interesses a serem exigidos

este dilema ganha enormes proporções nas organizações públicas que buscam, no planejamento, formas de minimizar as incertezas do processo decisório.

O processo de planejamento busca sistematizar um conjunto de informações que têm por objetivo orientar as estratégias decisórias e antecipar as possíveis ações a serem empreendidas, optando entre um conjunto de possibilidades de acordo com as necessidades e expectativas dos tomadores de decisão.

Para Banfield (1962:1) planejamento é o processo pelo qual seleciona-se um curso de ação (um conjunto de meios) para atingir um fim. Podendo ser considerado um “bom” planejamento aquele:

...em que os meios propostos provavelmente atingem os fins, ou maximiza as chances de atingi-los. A melhor adaptação dos meios aos fins pode ser alcançado através de um processo de escolha racional.

Neste conceito pode-se perceber que não se tem como premissa atingir a melhor racionalização dos meios aos fins. Advoga-se a melhor adaptação dos meios aos fins, o que nos remete ao entendimento da racionalidade limitada proposto por Hebert Simon. Souto-Maior (1988b: 10-1), ao explorar o tema, enumera que as principais características deste modelo de racionalidade são:

a) os administradores dividem problemas complexos em partes e lidam com uma delas de cada vez;

b) os administradores não consideram todas as alternativas e selecionam aquela com melhores conseqüências. Em vez disso, procuram uma alternativa que corresponda a certo nível de aspiração, isto é, uma que satisfaça, parando a busca com a primeira alternativa que lhe pareça satisfatória. Assim o administrador, como todos os seres humanos, é um animal que se satisfaz, não que maximiza;

c) os administradores evitam incertezas, relutam mesmo em basear suas ações em estimativas de probabilidades das conseqüências das alternativas. Por isso, eles preferem objetivos de curto prazo, reduzindo assim a necessidade de apostar no futuro;

d) tanto o administrador como o ‘homo economicus’ simplificam o mundo real para poder abordar e resolver problemas, mas enquanto o último simplifica drasticamente, para poder otimizar, o primeiro simplifica retendo mais detalhes do mundo real, procurando tomar uma decisão satisfatória (ponto máximo), e não uma decisão que se aproxime do ótimo ‘maximumn maximonum '.

A racionalidade que permeia as organizações públicas e privadas se diferencia dada as funções e objetivos a que se destinam. As organizações privadas são regidas majoritariamente por uma racionalidade de mercado que busca minimizar os custos e maximizar a produção que normalmente é mensurável, quantificável em forma de lucro. As organizações públicas são submetidas a uma racionalidade política e nem sempre seus produtos podem ser mensurados quantitativamente. Dadas as suas próprias singularidades, o planejamento em cada uma dessas esferas, pública e privada, também possui suas características próprias, decorrendo daí dois tipos básicos de Planejamento: o governamental e o empresarial.

A história do planejamento para o setor público e, em menor grau, para o setor privado, na opinião dos maiores estudiosos do assunto, é que este “(...)

consiste de um grande número de fracassos e de pouquíssimas experiências bem sucedidas” (Souto-Maior, 1994:2). Há que se considerar, no entanto, que o

planejamento evoluiu no decorrer dos tempos. Em decorrência, inúmeras abordagens de planejamento foram desenvolvidas de acordo com a formação dos autores e dos valores predominantes à época, apresentando uma evolução diferenciada nos setores público e privado.

O planejamento governamental é subdividido em tradicional e/ou econômico e participativo, enquanto que o planejamento empresarial teve uma fase primeira, dita artesanal (tudo que era fabricado era vendido, pouca concorrência, início da era industrial) que, devido o aumento de competitividade e dos recursos tecnológicos (tanto de gestão quanto da linha de produção), levou ao planejamento organizacional que evoluiu para o planejamento estratégico.

Na área empresarial, o planejamento tradicional orientava-se para as decisões de longo prazo, sem levar em conta as mudanças do ambiente externo, sendo estático e conservador. Para Drucker (1984:131):

A idéia existente era de que as decisões estratégicas eram aquelas ligadas ao longo prazo, pois o longo prazo compõem-se em grande parte de uma série de decisões a curto prazo.

A evolução do planejamento organizacional para o planejamento estratégico, ocorrida nos anos setenta, dá-se num contexto em que o ambiente externo à organização está em constante mudança, enquanto que o planejamento organizacional:

...tende a assumir um ponto de vista estático, mesmo quando visa o longo prazo (5 a 10 anos). Parte de uma definição estática da missão da organização, que freqüentemente não explicita nem muito menos questiona. Baseia-se numa análise (as mais das vezes de natureza exclusivamente quantitativa) da estrutura e funcionamento internos da organização que não toma em consideração as alterações do meio exterior e a adequação da organização às solicitações atuais e futuras desse meio

(Castro, 1988:35).

De acordo com Ansoff e McDonnell (1993:16), o:

...primeiro passo na evolução da administração estratégica foi dado no final da década de 50, quando as empresas inventaram uma abordagem sistêmica para decidir onde e como operariam no futuro. A parte analítica dessa abordagem recebeu o nome de formulação de estratégias, e o processo pelo qual os administradores conjuntamente formulam estratégias tem sido chamado de planejamento estratégico.

O planejamento estratégico se apresenta como um:

processo contínuo de, sistematicamente e com o maior conhecimento possível do futuro contido, tomar decisões atuais que envolvam riscos; organizar sistematicamente as atividades necessárias à execução dessas decisões; e, através de uma retroalimentação organizada e sistemática, medir o resultado dessas decisões em confronto com as expectativas alimentadas (Drucker, 1984:136).

Desta forma, o planejamento estratégico complementa o planejamento tradicional incorporando-o no novo contexto.

Analisando o contexto atual, Michel Porter coloca que:

A necessidade para (sic) o pensamento estratégico nunca esteve (sic) tão grande (...) o que está sob ataque não é esta questão ‘sobre a direção da

planejamento estratégico foram:

- o crescente complexo da administração do meio ambiente;

- a intensificação da competição global;

- o crescente complexo da organização das companhias;

- o crescimento da competição interna (nas organizações) por recursos, necessitando de um novo e mais racional sistema de alocação de recursos.

No nível governamental, a preocupação com o planejamento evoluiu de forma incrementai. O planejamento tradicional ou econômico, durante muito tempo, transformou-se na elaboração do orçamento, realizando previsões de despesas e receitas a cada exercício, dada a obrigatoriedade constitucional, tornando-se:

...um fim em si mesmo. Isto é, passou a ser uma atividade de tecnocratas, cuja preocupação maior era e em muitos países ainda é de produzir documentos volumosos, cheios de tabelas, gráficos e mapas, que hoje preenchem as prateleiras das estantes governamentais, mas cujo índice de realização de metas é baixíssimo (Souto-Maior B, 1994:02).

O planejamento tradicional ou clássico foi o primeiro modelo formal de planejamento, tendo proliferado muito após a Segunda Guerra Mundial. Considerado como um procedimento lógico e capaz de auxiliar os esforços de desenvolvimento econômico e social, este serviria de aporte racional à tomada de decisão, na escolha do melhor meio para se alcançar determinados fins e se obter os melhores e mais eficientes resultados.

6 Basicamente, o planejamento estratégico está tornando-se o mais holístico à medida em que orienta