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O presente trabalho procurou demonstrar o controle de constitucionalidade exercido pelos Tribunais de Contas, e discutir a importância desta atribuição para um controle mais efetivo da atuação da Administração Pública.

O controle de constitucionalidade resulta de dois princípios que norteiam o Direito Constitucional Brasileiro: a rigidez constitucional e a supremacia da constituição. A rigidez constitucional decorre da dificuldade de alteração do texto constitucional em relação às demais normas infraconstitucionais. O princípio é consequência da constituição rígida em que é classificada a Constituição de 1988. A supremacia constitucional é o entendimento que a Constituição é a lei máxima do Estado, dela decorrendo as diretrizes para o desempenho das atividades estatais. A Constituição confere poderes e delimita competências aos órgãos e entes estatais.

Com base nisto, o controle de constitucionalidade procura zelar pela supremacia da constituição, não permitindo afronta aos ditames constitucionais por lei o ato normativo. Entendendo que na Constituição de 1988 encontram-se elencados os fundamentados da República, na qual se constituiu em Estado Democrático de Direito, os objetivos, os direitos fundamentais e os princípios que norteiam a atividade da Administração Pública necessários para a construção de uma sociedade mais justa e harmônica, o sistema de controle de constitucionalidade é mecanismo essencial para garantir todos os preceitos constitucionalmente inseridos.

A Súmula n° 347/STF conferiu aos Tribunais de Contas a competência para apreciar a constitucionalidade de leis ou atos normativos, no âmbito de suas atribuições. No entanto, com o Mandado de Segurança n° 25.888 – DF, da relatoria do Min. Gilmar Mendes, o arcabouço contido na referida súmula foi contestado, considerando como fundamento o enunciado ter sido aprovado na Sessão Plenária de 13 de dezembro de 1963, sob a égide da Constituição de 1946, e seu conteúdo não ter sido recepcionado pela Constituição de 1988, por ter sido elaborado em contexto jurídico diferente do atual.

Os Tribunais de Contas foram inseridos constitucionalmente na Carta Política de 1891. Planejado por Rui Barbosa, então Ministro da Fazenda da recente República, como órgãos autônomos e independentes, capazes de fiscalizar com imparcialidade os gastos

públicos, objetivando controle orçamentário que conferisse estabilidade à nova forma de governo.

A partir das Constituições que se seguiram, que cominaram na atual ordem constitucional, as competências dos Tribunais de Contas foram ampliadas, auferindo um papel de maior relevância na sociedade quando lhes compete o auxílio ao Poder Legislativo na atividade de controle externo, nos termos do art. 71 da Constituição de 1988. Os Órgãos de Contas deixaram de ter um posicionamento apenas técnico, sendo sua atuação mais um mecanismo capaz de auxiliar o controle social sobre a Administração Pública.

As Cortes de Contas ao exercerem suas funções zelam pela regularidade e higidez do orçamento público. O exame das receitas e dos gastos possibilita auferir a destinação incorreta dos recursos públicos, considerando que o equilíbrio orçamentário garante a sociedade o acesso aos serviços públicos de qualidade, como saúde; educação; segurança pública, necessários à existência digna da população.

Assim sendo, apesar de os elementos que fundamentaram a Súmula n° 347/STF terem sido concebidos em outro contexto histórico já superado pelo atual e não se encontrar expressamente prevista a competência para apreciar a constitucionalidade pelos Tribunais de Contas, entende-se que essa prerrogativa se constitui um meio para garantir a atividade de controle externo da Administração Pública e, consequentemente, resguardar o patrimônio público, evitando o dano ao erário e garantindo eficiência aos serviços públicos.

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